Logótipo Próximo Futuro

Literatura entre Portugal e o Brasil

Publicado6 Abr 2015

Etiquetas literatura portugal brasil

Portugal e o Brasil: dois países, dois continentes, uma língua. O que aproxima e afasta estas literaturas? O Público falou com escritores e editores, como Luis Rufatto, Alexandra Lucas Coelho, Gonçalo M. Tavares e Matilde Campilho. 

Cheirava a castanhas, mas já estava calor e havia flores nas árvores. Devia ser Maio. O brasileiro Luiz Ruffato não lembra de cor a data em que se hospedou por um mês num hotel no centro de Lisboa, fora dos circuitos turísticos.

Todas as manhãs apanhava transportes públicos para a periferia e regressava à noite. “Seguia para os bairros onde estavam os brasileiros que foram para Portugal, para empregos pouco qualificados.” Ruffato fora um dos seleccionados para participar no projecto Amores Expressos que financiou viagens de escritores a várias cidades do mundo para escreverem romances sobre o amor, mas o seu projecto era mais alargado: entender melhor o curso da emigração brasileira que tinha três grandes destinos: EUA, Japão e Portugal. A sua personagem, Sérgio – natural de Cataguases, Minas Gerais, como o escritor – iria para Portugal por uma questão de língua e de geografia. Seria o protagonista de Estive em Lisboa e Lembrei de Você (Companhia das Letras) publicado no Brasil em 2009, e um ano depois em Portugal com o título Estive em Lisboa e Lembrei-me de Ti (Quetzal).

Além de sublinhar a fala mineira de Serginho, com todos os seus trejeitos regionais e cambiantes em relação à expressão do português de S. Paulo ou do Rio de Janeiro, o autor, com aquele título, punha a nu involuntariamente mais uma camada do complexo tecido da língua. Apenas por atravessar o Atlântico o português de Portugal “pedia-lhe” uma adaptação, não fosse haver uma barreira ao entendimento. “Falar a mesma língua não é partilhar a mesma cultura”, refere Luiz Ruffato sobre a relação entre as literaturas portuguesa e brasileira, que classifica de “esquisita e preconceituosa”, feita em doses semelhantes de “desprezo e arrogância”. “Eles não crescem apaixonados por nós como nós crescemos apaixonados por eles”, refere por sua vez Valter Hugo Mãe, um dos escritores portugueses que mais sucesso tem actualmente no Brasil.

Artigo de Isabel Lucas: Portugal e o Brasil: orgulho e preconceito entre duas literaturas

Mercosul - a 9ª Bienal

De 13 de Setembro a 10 de Novembro a cidade de Porto Alegre no Brasil recebe a 9ª edição da Bienal Mercosul. Se o clima for favorável, diz o título da mostra.

"A promessa da 9ª Bienal do Mercosul | Porto Alegre é identificar, propor e direcionar mudanças nos sistemas de crenças e avaliações de experiências e inovações. Pretende articular questões ontológicas e tecnológicas por meio da prática artística, da produção de objetos e dos pontos de intersecção da experiência com a arte. Esta edição da bienal pode ser considerada um ambiente para defrontar-se com recursos naturais sob uma nova luz, e especular sobre as bases que marcaram distinções entre descoberta e invenção, assim como os valores de sustentabilidade e entropia ."

São estimuladas invenções caseiras e colaborações artísticas, num programa que começa antes da mostra.

Tudo para ler aqui

Um Afródromo em Salvador da Bahia

Publicado18 Fev 2013

Etiquetas brasil Carnaval Bahia Carlinhos Brown Afródromo

Carlinhos Brown lidera um projecto em S. Salvador da Bahia: criar um Afródromo, onde desfilem, em cada carnaval, os blocos  afro dando-lhes visibilidade e recuperando a alma do Carnaval da cidade "mais negra do Brasil".

"Afródromo would be a new carnaval circuit. Salvador already has two primary ones: the long-established circuit along the downtown streets of Campo Grande, and a newer and now more prestigious route along the beachfront boulevard, from Barra to Ondina beaches. Mr. Brown hopes that with an established parade ground of their own, the blocos afro could gain prime-time media attention and also work together on merchandising and other programs. Afródromo’s advocates say it would help Salvador’s carnaval reclaim its soul."

Pode ler-se mais aqui e aqui

O silêncio da Chuva

Publicado16 Jan 2013

Etiquetas Luiz Alfredo Garcia-Rosa literatura brasil

x

Uma descoberta inesperada: autor e um livro.

Trata-se de Luiz Alfredo Garcia-Roza, formado em filosofia e psicologia; psicanalista escreveu este policial (o primeiro) aos 60 anos. O enredo de uma inteligência arrebatadora passa-se no bairro de Copacabana, o detective chama-se Espinosa e a trama decorre por camadas como se fosse um trabalho de limpeza de um palimpsesto...a leitura é compulsiva.

António Pinto Ribeiro

Adonis: Tumba para Nova York

adonis

Acaba de ser publicada, pela Companhia das Letras, a primeira antologia de poemas de Adonis selecionados e traduzidos directamente do árabe por Michel Steiman. Conta com um prefácio esclarecedor da obra de Adónis, da sua biografia e da história da poesia árabe da autoria de Milton Hatoum, conhecido escritor da Amazónia com obra divulgada em Portugal. Adónis é um poeta nascido na Síria em 1930 e considerado um dos mais importantes poetas de língua árabe que inovou a poesia a partir de uma combinação entre os clássicos árabes, a poesia moderna europeia e as teorias literárias do mundo árabe da segunda metade do século XX. É muito popular o seu poema”Tumba para Nova York” escrito em 1971.

 

Amor

Me amam o caminho, a casa

E na casa uma jarra vermelha

Amada pela água.

 

Me amam o vizinho,

o campo, a debulha , o fogo,

 

me amam braços que trabalham

contentes do mundo descontentes

e os arranhões acumulados no peito

exaurido do meu irmão atrás

das espigas, da estação, como rubis

mais rubros que o sangue.

 

Nasci e nasceu comigo o deus do amor

_ que fará o amor quando eu me for?

1957

Do Arpoador...

clarice lispector

A mulher não está sabendo: mas está cumprindo uma coragem. Com a praia vazia nessa hora, ela não tem o exemplo de outros humanos, que transformam a entrada no mar em simples jogo leviano de viver. Lóri está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque é salgado e grande, e isso é uma realização da Natureza. A coragem de Lóri é a de, não se conhecendo,no entanto prosseguir, e agir sem se conhecer exige coragem. 

Vai entrando. A água salgadíssima é de um frio que lhe arrepia e agride em ritual as pernas. 

Mas uma alegria fatal - a alegria é uma fatalidade- já a tomou, embora nem lhe ocorra sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta do seu mais adormecido sono secular. 

E agora está alerta, mesmo sem pensar, como um pescador está alerta sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda - e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido secreto. 

O caminho lento aumenta sua coragem secreta - e de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda! O sal, o iodo, tudo líquido deixam-na por instantes cega, toda escorrendo. Espantada, de pé, fertilizada.

Agora que o corpo todo está molhado e dos cabelos escorre água, agora o frio se transforma em frígido. Avançando, ela abre as águas do mundo pelo meio. Já não precisa de coragem, agora já é antiga no ritual retomado que abandonara há milénios. Abaixa a cabeça dentro do brilho do mar, e retira uma cabeleira que sai escorrendo toda sobre os olhos salgados que ardem. Brinca com a mão na água, pausada, os cabelos ao sol, quase imediatamente já estão se endurecendo de sal. Com a concha das mãos e com a altivez dos que nunca darão explicações, nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheias de água, bebe-a em goles grandes, bons para a saúde de um corpo. 

E era isso que lhe estava faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem.

"Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", Clarice Lispector

de "Sentimental", último livro de Eucanaã Ferraz

Publicado31 Out 2012

Etiquetas sentimental livro poesia eucanãa ferraz brasil

sentimental

de "Sentimental", último livro de Eucanaã Ferraz

 

Naquele instante

Amor só vem mais tarde, amar

só vem depois, amor é quando

tudo se foi, virá no próximo

trem, talvez no ano que vem

 

tudo será, por ora, pressentimento, 

presságio, bilhete em branco do bem

gratuito para depois de gastos vultuosos

tributos de desamor e de nada.

 

Amarmos começa no fim? Amor

se escreve ao contrário? Roma,

porém, não abrirá palácios senão,

quem sabe, no próximo feriado.

 

Moroso, é após tudo pronto

o amor quando, tardiamente,

já não damos por nada ou

damos só tempo ao tempo.


(Mais sobre o Eucanaã Ferraz, aqui...)

PORVENTURA, António Cicero

Publicado30 Out 2012

Etiquetas porventura livro antonio cícero brasil poemas

porventura

António Cícero não publicava poesia há dez anos. O último livro chamava-se "A cidade e os Livros" (publicou ensaio entretanto). Acaba de sair um livro notável, "Porventura" é o título. Uma obra evocando permanentemente os autores clássicos helenistas e latinos que ele tão bem conhece e manuseia com a sabedoria de quem tem estes autores como seus convivas.

Dois exemplos:


Desejo

Só o desejo não passa

e só deseja o que passa

e passo meu tempo inteiro

enfrentando um só problema.

ao menos no meu poema

agarrar o passageiro

Diamante

O amor seria fogo ou ar

em movimento, chama ao vento;

 e no entanto é tão duro amar

este amor que o seu elemento

deve ser terra; diamante,

já que dura e fura e tortura

e fica tanto mais brilhante

quanto mais se atrita , e fulgura,

ao que parece, para sempre:

e às vezes volta a ser carvão

a rutilar incandescente

onde é mais funda a escuridão;

e volta indecente esplendor

e loucura e tesão e dor.

[mais António Cícero, aqui]

Zuzu Angel em exposição na Fábrica de Santo Thyrso a partir de 26 de Outubro

Publicado3 Out 2012

Etiquetas zuzu angel design brasil fábrica de santo thyrso esad moda

zuzu angel

A exposição da designer brasileira Zuzu Angel e o desfile de moda Finalistas ESAD & Modtíssimo completam o programa de abertura da Fábrica de Santo Thyrso. A exposição de moda ZUZU ANGEL – RAÍZES DO BRASIL ATRAVÉS DA MODA propõe a articulação e intercâmbio entre designers de moda portugueses e brasileiros.

Zuzu Angel foi a primeira designer de moda brasileira a lançar uma linha voltada para as raízes do país, com identidade própria, contrapondo-se à inspiração europeia e americana que marcavam o design de moda dos anos 60 e 70. Usou as rendas do nordeste, os estampados da fauna e flora amazónicas, a inspiração baiana, o valor da cultura brasileira. Vestiu celebridades da alta sociedade brasileira e americana e, ao mesmo tempo, foi precursora dos modelos prêt-à-porter. O drama que viveu com o seu filho, assassinado pelo governo brasileiro no âmbito do movimento estudantil contrário à ditadura militar, marcou a sua trajetória, passando a usar a moda como arma e voz de todos os que se pronunciavam contra o regime, e terminando ela também assassinada, embora o facto só tenho sido dado como provado mais de 20 anos depois.

A vida e luta de Zuzu Angel inspiraram Chico Buarque a compor Angélica e o escritor José Louzeiro a escrever Em Carne Viva. Esta exposição é comissariada pela filha de Zuzu, Hildegard Angel, e resulta da ligação da ESAD com o Instituto Zuzu Angel no Brasil. Este evento insere-se na parceria da ESAD com a Câmara de Santo Tirso no âmbito do projeto da Fábrica de Santo Thyrso, integrando-se no Seminário Internacional sobre Quarteirões Culturais, a decorrer de 25 a 27 de Outubro. Integra-se assim no primeiro ato público da Incubadora de Moda e Design e o primeiro evento a decorrer na Nave Cultural da Fábrica.


Mais sobre esta iniciativa, aqui.

no percurso dos "KILOMBOS"

quilombos

KILOMBOS...

O termo quilombo é uma herança dos povos da família linguística Bantú, em particular das línguas Kimbundo (kilombo) e Umbundo (ochilombo). O seu significado no Brasil é inseparável da história das rotas do comércio transatlântico de africanos escravizados. A repressão e as más condições a que estavam sujeitos levaram a que cada vez mais escravos, revoltados com a sua condição, fugissem das senzalas para locais remotos onde dificilmente poderiam ser recapturados pelos seus antigos senhores. A fuga de escravos originava pequenas concentrações em locais de difícil acesso denominados por quilombos ou mocambos.

Por toda a América do Sul, nomes diferentes identificaram estes coletivos de resistência: palenques e cumbes (Colômbia, Panamá, Perú), marrons (Jamaica), grand maroonage (Suriname, Guiana Francesa). Com a abolição da escravatura negra no Brasil (1888), essas terras foram doadas pelos antigos senhores, compradas ou naturalmente ocupadas. Contudo, apenas um século depois, em 1988, foram as comunidades quilombolas juridicamente reconhecidas. Apesar desse reconhecimento, ainda hoje os direitos dos quilombolas são violados. Não apenas o direito à propriedade – por via de conflitos violentos – mas igualmente direitos humanos básicos no acesso à saúde, à educação ou a fontes de rendimento sustentáveis.

Kilombos não é um filme sobre a escravatura ou sobre o processo de luta pela titulação das propriedades. Não deixa sê-lo, certamente, por via dos seus protagonistas. Filmado em várias comunidades do estado do Maranhão, Kilombos procura ser o resgate de memórias e narrativas orais de uma cultura contemporânea, um contributo para uma antropologia visual de ideias, práticas e artefactos que são também o Brasil de hoje.

Kilombos é uma iniciativa do projeto “O percurso dos Quilombos: de África para o Brasil e o regresso às origens” que pretende contribuir para o dialogo intercultural.


Mais sobre Kilombos, aqui.

Novo número dos Cadernos de Estudos Africanos já disponível!

cadernos de estudos africanos

Dividido em duas secções – Artigos e Recensões – este número 23 da revista Cadernos de Estudos Africanos inclui artigos centrados não só em países africanos mas também em países onde a influência e a presença de africanos se faz sentir (Brasil e Portugal); artigos que abordam questões culturais, sociais, económicas e políticas; artigos centrados apenas em países específicos (Moçambique e Camarões) e artigos que abordam relações entre vários países e continentes; artigos produzidos por autores sedeados na Europa (Portugal), África (Camarões) e América do Sul (Brasil); e artigos escritos em língua portuguesa e inglesa por cientistas em pleno desenvolvimento da sua carreira e por outros que ainda estão em fase de conclusão dos seus doutoramentos.

Para ler todos os artigos que integram este novo número basta clicar aqui.

"Brasil abre la boca"

Publicado27 Ago 2012

Etiquetas brasil artes visuais marcelo araújo mercado antropofagia

Brasil es voraz. Y su arte es antropófago. Brasil come y se deja comer. Así lo indica la partida de nacimiento de las vanguardias artísticas en ese país, el Manifiesto antropófago, publicado por Oswald de Andrade en 1928. Fue el reconocimiento de su diversidad cultural, del valor de ese mestizaje hasta entonces menospreciado en relación a la cultura europea. Casi un siglo después —y tras duros vaivenes históricos y económicos—, el país sudamericano (que ocupa el 47% de ese continente) es una de las “nuevas centralidades” del arte contemporáneo. “Brasil está en ebullición, cada vez hay mayor actividad en torno al arte contemporáneo, museos, galerías, mucho grafiti y street art. Especialmente toda la producción urbana en las periferias es muy fuerte. Estamos en un momento muy especial”, dice Marcelo Mattos Araújo, secretario de Cultura del Estado de São Paulo, museólogo y exdirector de la pinacoteca de esa ciudad durante la última década.

Una década prodigiosa que ha significado un despegue veloz y un vuelo muy alto. Hoy Brasil crece tanto hacia dentro como hacia fuera en este sector. “Se dan dos procesos paralelos”, prosigue Araújo. “Hay un proceso de redescubrimiento, de estudio del arte brasileño y latinoamericano, pero también hay un proceso de valoración de este en el mercado del arte. Siempre hay necesidad de nuevas producciones y una parte de la producción moderna de Brasil y de América Latina es ahora de lo más buscado en los mercados internacionales”.

Por otro lado, también hay nuevos y muchos coleccionistas en estos países que han irrumpido con fuerza como compradores. Museos importantes como el MOMA o la Tate Modern están aumentando visiblemente sus colecciones de arte latinoamericano, que tiene también una fuerte presencia en ferias y bienales. “Ese es un gran cambio ocurrido en los últimos 10 a 15 años; antes, en esos museos tenían alguna que otra obra, pero eran casi invisibles”, dice Araújo. Ahora, todos ellos muestran en sus exposiciones permanentes artistas latinoamericanos, lo cual demuestra un reconocimiento importante, como conocimiento, como conservación y como divulgación. “Lo malo es que esto trae como consecuencia el encarecimiento de estos artistas y los museos latinoamericanos tienen ya problemas para tenerlos en sus colecciones. Lo que valía una obra de Lygia Clark o de Helio Oiticica hace 20 años y lo que cuesta ahora se multiplica por cientos de veces más”.

En otros países latinoamericanos también se ve cada vez más fortalecida la escena del arte contemporáneo, con exposiciones, nuevos museos, más coleccionismo privado (los Estados, en general, siguen sin reaccionar) y pequeñas bienales que se multiplican. Las más importantes, la de São Paulo y la de La Habana —salvando las proporciones—, centran su interés en el arte del continente sin olvidar su proyección internacional. La 30ª Bienal de São Paulo, que se celebrará del 7 de septiembre al 9 de noviembre, tiene este año como director al venezolano Luis Pérez-Oramas. Brasil es el país más fuerte en este sector, y lo que allí sucede tiene características e iniciativas que hay que tomar en cuenta.

Marcelo Mattos Araújo ha vivido y analizado este proceso intensamente y explica por partes cuál es la situación. Para empezar, los artistas. “La producción artística brasileña siempre ha sido muy activa, aunque muy poco conocida fuera e incluso dentro del país. Ahora, con la globalización, con el capitalismo cognitivo, esa necesidad de nuevas producciones ha ido creciendo. Y hablamos también de mercado”, afirma. Obras nuevas, pero también la persistencia de unas señas de identidad, las de una producción que logra articular una herencia híbrida de raíces indígenas, africanas y europeas. Algo que pasa en otros países de América Latina también. “Ahora hay un interés muy especial por estas cuestiones. Tal vez la gran diferencia que ha marcado la última década es la proyección que los artistas —especialmente los contemporáneos— están teniendo fuera de Brasil. Por otro lado, y eso es una novedad, nunca hemos tenido tantos artistas importantes extranjeros que van a vivir y trabajar en Brasil”, apunta Araujo. Lo cierto es que los impuestos de importación de obras de arte son tan altos en Brasil (hasta un 36%), que algunos artistas prefieren ir y hacerlas allí, para luego venderlas en ese fuerte mercado interno.

Para ler o artigo completo de Fietta Jarque basta clicar aqui.

 

Las cuerdas que atan Brasil y África

Publicado9 Jul 2012

Etiquetas música África mali brasil


El padre de Toumani Diabaté tocaba la kora. Y el padre de su padre también. E incluso multiplicando por 71 generaciones de progenitores la frase seguiría siendo cierta. Cuando Djelimady Waulé, el primer antepasado artista del músico africano, ató su destino al de este instrumento de cuerdas, Cristóbal Colón aún no había emprendido el viaje erróneo más afortunado de la historia.
Siete siglos separan Diabaté de Waulé pero ambos comparten una estrella polar. “Para mí la kora es todo. Es mi historia. Le debo lo que como, la ropa que llevo, mi casa”, asegura Diabaté. Y a su fiel aliada le debe mucho también A curva da cintura. Así se llama el álbum que el maliense acaba de componer junto con los músicos brasileños Arnaldo Antunes y Edgard Scandurra, en una colaboración transoceánica que podrá escucharse en directo hoy en Barcelona y mañana en Madrid.
“Es un encuentro mágico entre la música de Malí y la de Brasil”, resume Antunes el fruto de está fusión internacional. El big bang de un universo poblado de tambores y cantos africanos, guitarras y melodías brasileñas estalló en 2010 en Río de Janeiro. “No nos conocíamos de nada y nos propusieron que tocáramos juntos en un festival. Solo tuvimos un ensayo al día anterior pero fue maravilloso”, cuenta un entusiasta Antunes. Y Diabaté remata: “Su música me tocó. Solo eran la voz de Arnaldo, dos guitarras y un percusionista pero tenía mucha fuerza”.
Tanto que el maliense se puso a improvisar sobre la marcha. Y, según cuentan los tres (entre inglés, español, portugués y muchas sonrisas), todo encajó. De ahí que el flechazo carioca se transformara en luna de miel en el corazón de África. Diabaté invitó a los dos músicos a Malí. Y tras 10 días en Bamako, A curva da cintura ya era realidad. Gracias a su talento, de acuerdo. Gracias a la kora, faltaría más. Pero gracias también y sobre todo a un aliado precioso. “Por el día íbamos a dar vueltas por la ciudad. A las 22.00 nos metíamos en el estudio para grabar. Toumani nos daba un té verde que te hacía estar despierto hasta las cinco de la madrugada”, cuenta Scandurra.
De esas noches insomnes salió un álbum de ritmos y coros, para bailar o para escuchar, como recomienda Diabaté, durante un viaje en coche: “Es 50% Malí y 50% Brasil. Es una fusión que crea algo distinto, que jamás se había hecho antes, pero donde las partes no pierden su esencia y cada uno defiende su país”.
Aunque, más allá de etiquetas y adjetivos, en el fondo lo que se hace de Malí a Brasil, pasando por cualquier otra esquina del planeta, solo tiene una definición. “Te puede no gustar el jazz, o el house o el género que sea. Pero nadie puede decir: ‘No me gusta la música”, asegura Diabaté. Decir que a él le encanta sería un eufemismo. Para el maliense, la música es igual de importante que la religión o la medicina: “Une a la gente. En un concierto ricos y pobres están juntos y experimentan las mismas sensaciones”.
Lo que siente en cambio Diabaté respecto a su país es mucha tristeza. Más allá de ser uno de los Estados más pobres del planeta, Malí sufre desde enero una rebelión de independistas e islamistas, apoyados por Al Qaeda, que ha llegado a autoproclamar un estado independiente del Norte. “Son unos terroristas. Ya hay 300.000 desplazados en todo el país. Y ahora llega la estación de las lluvias y la gente no tiene nada”, se lamenta el músico. Y, acto seguido, anima a cualquier español que quiera ayudar a acudir a la embajada de Malí.
Los que quieran acudir a sus conciertos en cambio escucharán el sonido de un árbol genealógico que, desde 1300, nutre sus raíces con las mismas melodías. Tanto que el hijo de Diabaté, de 20 años, también se ha hecho músico. Sobra decir de qué instrumento. Baste con un indicio: ya van 72 generaciones.

in El País.

Coleção Itaú de Fotografia Brasileira

Publicado30 Mai 2012

Etiquetas brasil rio de janeiro fotografia

Exposição no Paço Imperial apresenta obras realizadas nos últimos 60 anos.

O Itaú Unibanco, o Itaú Cultural e o Paço Imperial apresentam, a partir de 1º de junho, a exposição Coleção Itaú de Fotografia Brasileira. Com curadoria de Eder Chiodetto, a mostra exibe obras pertencentes ao Acervo Banco Itaú.


Criado há quase um século pelos fundadores do Banco Itaú S.A., o acervo conta hoje com 12 mil obras, entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, instalações e peças das coleções Itaú Numismática e Brasiliana Itaú. Esse importante conjunto, que é gerenciado pelo Itaú Cultural, cobre toda a história da arte brasileira, com peças referenciais de cada movimento e estilo.


“Nesta mostra, um recorte da Coleção Itaú de Fotografia com obras realizadas nos últimos 60 anos, optou-se por reunir as obras experimentais dos fotoclubes com trabalhos contemporâneos, estabelecendo um espelhamento lúdico. Relações formais, mas sobretudo uma semelhante atitude libertária diante da representação fotográfica, ecoam entre os dois tempos. Salienta-se assim que a evolução de uma linguagem não se dá de forma linear, mas em vertiginosas espirais desenhadas pelo tempo e pela cultura”, afirma Eder Chiodetto.


A exposição é fruto de uma parceria entre o Itaú Cultural e o Paço Imperial, que já proporcionou a realização de inúmeras exposições, graças ao alinhamento da missão das instituições ao fomentar e difundir o cenário artístico nacional.


Coleção Itaú de Fotografia Brasileira

sexta 1º de junho a domingo 5 de agosto

terça a domingo 12h às 18h



in Iatú Cultural

Cubismo pop a la brasileña

Publicado25 Mai 2012

Etiquetas brasil artes visuais Romero Britto

Romero Britto tenía ocho años cuando comenzó a pintar sobre hojas del periódico de Pernambuco de su Recife natal. Se topó con el cubismo a los 20, de paso por Europa, y con el arte pop en Estados Unidos, donde hoy vive. En las últimas dos décadas ha expuesto sus pinturas y esculturas en más de 100 galerías y museos de todo el mundo. Ha retratado a Keneddy, a Bush padre, a Clinton y a Lady Di. Incluso, a los reyes Juan Carlos y Sofía y a la infanta Leonor. Por primera vez, la obra de este referente del cubismo neo-pop tiene su rincón en Madrid.

Se trata de la Pop Gallery 11 (Maldonado 11), donde esta semana se ha inaugurado la exposición permanente enteramente dedicada al artista brasileño: son más de 20 cuadros, 30 esculturas y varias decenas de objetos. Estos últimos, que van desde tazas, bolsos y termos hasta relojes, paraguas y floreros, son detalles de los cuadros vueltos objetos, se venden a precios accesibles y responden a una de las máximas del trabajo de Britto: permitir que su arte llegue a la mayor cantidad de manos posibles.

La misma lógica funciona para su arte en gran formato. Tres de sus obras más célebres, The Big Apple, emplazada en el aeropuerto John Fitzgerald Kennedy de Nueva York, la recreación de la pirámide de Guiza en el Hyde Park de Londres y la escultura Blue, en el aeropuerto internacional de Moscú, tienen sus versiones en pequeña escala para decorar espacios pequeños, incluso en el hogar. Bien lo ha puesto el propio Britto en una frase tan sencilla como contundente. “El arte es demasiado bueno para no compartirlo”.

“Cuando conocí la obra de Britto en Miami quedé absolutamente deslumbrada. No lograba entender cómo había llegado a todos lados, incluso a países fríos y nórdicos y no se conocía en España, donde tenemos un carácter más alegre y desenfadado, más acorde con el color, el optimismo y la alegría que despiden la obra de Britto”, explica la directora de Pop Gallery 11, Paola Casha. “El de Britto es un arte que permite quitar la idea de que el arte es exquisito y que hay que saber mucho para disfrutarlo”, añade enseguida.

La exposición permanente de Britto, (“nuestro buque insignia”, lo describe Casha), se combinará con muestras itinerantes que recorrerán el país. Ya ha habido una primera experiencia en Zaragoza en marzo pasado y se preparan las de Barcelona y Valencia para los próximos meses.



in El País.

Escrevo para continuar dançando

Publicado17 Mai 2012

Etiquetas dança brasil literatura

Como bailarina, a escritora e crítica Inês Bogéa sempre foi além dos movimentos da dança. Ela criava um mundo imaginário sobre cada peça, envolvida pelas narrativas dos grandes balés. Esse interesse pelas aventuras e particularidades dos personagens a levou a escrever dois livros em que reconta histórias do balé clássico. O mais recente, Outros contos do balé, será lançado amanhã, 12/05, na Livraria da Vila (Fradique Coutinho), em São Paulo. Confira, a seguir, um bate-papo com a autora.

Sua vivência no balé teve início há mais de 30 anos, como bailarina clássica. Como você passou a escrever sobre dança, tendo sido crítica da Folha de S.Paulo por um longo período e autora de livros sobre o tema?

Minha história no balé começou de ponta cabeça, na ginástica olímpica, fazendo estrelas e outros tantos movimentos desse esporte, que tem muito de dança. Depois, passei para a capoeira e, numa das curvas da vida, triste por ter levado uma benção no peito numa das rodas, assisti, na TV, ao Lago dos Cisnes, no colo do meu pai. A sensação de ver as meninas flutuarem nas pontas e as imagens de múltiplas dançarinas de tutu me marcaram. Entrei para fazer balé clássico na academia da D. Lenira, em Vitória. Me formei na metodologia da Royal Academy of Dancing, em Londres. Em 1998, entrei para o Grupo Corpo, e nele fiquei por 12 anos. Viajamos o mundo dançando. Nesse tempo, tínhamos um grupo de estudos de dança. Um texto meu foi enviado para o editor da Ilustrada (Folha de S.Paulo), na época Sérgio Dávila, que me convidou para escrever no jornal. Quando chegou o meu tempo de parar de dançar, pesquisei a história do Grupo Corpo e organizei o livro Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo. Esse foi meu ritual de passagem para o outro lado da cena.

Como se dá esse processo de transformar em narrativa escrita histórias dançadas? Como bailarina, você procurava saber as histórias por trás dos movimentos?

Reconto as histórias a partir do movimento da dança; lembro no corpo as sensações e emoções dos personagens que dancei e vivo as histórias dos outros personagens para completar a narrativa. Ao dançar alguns dos grandes balés, procurava saber a história para conhecer mais e criar um mundo imaginário sobre cada dança.

Outros contos do balé é seu terceiro livro infantojuvenil [os dois primeiros são O livro da dança (Companhia das Letrinhas, 2002) e Contos do balé (Cosac Naify, 2007)]. Por que a escolha desse público leitor para suas narrativas sobre dança?

Meus livros são para crianças de todas as idades. São minhas lembranças do prazer de dançar e da alegria de me mover que me levam a criá-los. Escrevo para continuar dançando com leitores de diferentes idades.

Assim como em Contos do balé, em Outros contos do Balé você reconta cinco histórias de coreografias de dança clássica Como você chegou a essa seleção?

Assim como no primeiro livro, a ideia é contar balés de diferentes gêneros, tempos, acentos e cores da dança clássica. Em Outros Contos do Balé você pode ler A Sílfide, marco da dança romântica; O corsário, onde a tônica está na descoberta de terra distantes e exóticas; La Bayadère, inspirada na dança indiana; O Quebra-Nozes, um marco da dança clássica; e O Pássaro de Fogo, um balé clássico moderno. O novo livro dialoga com o primeiro e traz novas perspectivas, nas próprias histórias e nas notas informativas.

Você já dançou algumas das coreografias que compõem o livro? É possível eleger uma favorita?

Dancei A Sílfide, O Pássaro de Fogo e O Quebra-Nozes, em diferentes papeis de solista e de corpo de baile. De cada um, tenho uma história diferente para contar. O bom é estar em cena, dançando.

Neste livro, você apresenta aos leitores os profissionais que normalmente ficam nos bastidores de um espetáculo, mas que são igualmente importantes para sua realização. O que caracteriza, para você, uma montagem impecável?

Para que um espetáculo aconteça, todos têm que dançar juntos. Desde o tempo de abertura da cortina ao início do movimento do bailarino, em diálogo com a música, o figurino, a luz, a cenografia, até os detalhes técnicos – por exemplo, o fechamento da caixa preta, o tempo entre uma obra e outra, movimentos de cena –, tudo tem impacto na percepção do espectador. Uma montagem impecável deve apresentar qualidade em todos esses elementos.



in Blog da Cosac Naify

Gilberto Velho (1945–2012): na selva das cidades, no Brasil como em Portugal

Publicado14 Mai 2012

Etiquetas brasil cidades urbanismo rio de janeiro

No fim dos anos 60, o antropólogo Gilberto Velho foi morar em Copacabana, num daqueles prédios de pequenos apartamentos que serviam as levas recém-chegadas à cidade. Copa, como lhe chamam os cariocas, foi a sua casa e o seu objecto de estudo durante dois anos, e isto resultou num livro chamado “A Utopia Urbana”, publicado em 1973. Para várias gerações de brasileiros e portugueses marcou a descoberta de que a antropologia podia ser também aquilo, a selva da cidade em vez do exótico da selva. E é assim, como um desbravador da vida urbana, e da autonomia dos indivíduos no meio da vida urbana, que várias gerações dos dois lados do Atlântico têm evocado Gilberto Velho desde a sua morte, dia 14, na sequência de um AVC, no Rio de Janeiro. Tinha 66 anos e sofria de problemas cardíacos.

Herdeiro dos investigadores americanos que se debruçaram sobre a cidade, não se limitou a transpôr essa herança para o Brasil. Abriu a universidade a todos os campos possíveis. “A partir dele é que se estudaram prostitutas, militares, bailes funk, astrologia ou políticos”, diz Karina Kuschnir, 44 anos, uma das suas mais próximas discípulas, e autora da fotografia que aqui publicamos, tirada nos jardins do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição onde Gilberto Velho trabalhou durante décadas.

“Não só é o fundador da Antropologia Urbana no Brasil como é talvez a voz mais importante da Antropologia Urbana em língua portuguesa, o seu expoente máximo”, resume Graça Índias Cordeiro, 51 anos, professora no ISCTE, em Lisboa. “Foi o fomentador de uma rede de relações entre Portugal e Brasil ao longo de várias gerações.”

A tal ponto que Graça fala em orfandade, lembrando como Gilberto Velho dava aos amigos o melhor que tinha: “Uma inteligência brilhante, uma perspicácia e exigência penetrante, um sentido de humor implacável, uma sensibilidade muito fina e subtil feita de imensa sabedoria e experiência. Todos os que estávamos mais próximos dele nos sentimos verdadeiramente orfãos, neste momento.”

Numa longa entrevista de vida conduzida por investigadores brasileiros e portugueses (http://cpdoc.fgv.br/cientistassociais/gilbertovelho), Gilberto Velho fala do avô paterno transmontano e da emoção que viveu ao avistar finalmente o castelo de Bragança. Isto para explicar a origem da sua relação com Portugal.

Cronista semanal do “Globo”, Hermano Vianna conta na sua última coluna como Velho “procurava o complexo onde menos se esperava”, do prédio em Copa aos consumidores de droga da classe média. “Foi esse olhar atento para o não convencional que me levou a fazer antropologia”, escreve Vianna, que se doutorou com uma tese sobre funk em 1986, quando o funk era uma aberração para a classe média brasileira. Velho ligava de manhã cedo a ver se os orientandos estavam a trabalhar. “Mas seu controle era paradoxal: no lugar de buscar resultados previsíveis, a disciplina deveria produzir o inesperado.” E acompanhou o então doutorando a bailes funk.

O inesperado também se aplicava aos jantares que Velho organizava, lembra Vianna, onde nunca estavam os convidados que ele dizia. Mas um dia prometeu investigadoras portuguesas de rap e Vianna conheceu mesmo investigadoras portuguesas de rap, conta no “Globo”.

Uma delas foi a antropóloga Teresa Fradique, 40 anos, e Gilberto Vellho acabou por prefaciar a sua tese. “Deu aulas no mestrado que eu fazia e veio do Brasil para fazer a arguição da tese. Iniciou-se aí um diálogo interessantíssimo. Ele tinha uma visão muito aberta e criativa, fez as interpelações correctas. Tinha a capacidade de ver no espaço mais vasto e fragmentado os processos culturais que a antropologia aplica a territórios circunscritos e exóticos.”

Teresa também recorda um controle rigoroso dos orientandos. “O choque que tive quando tentei negociar o prazo de entrega de um artigo e ele foi peremptório! Fiquei espantadíssima. Mas assim que recebeu o artigo foi incrível na resposta. Era leonino no acompanhamento, na vontade que as pessoas cumprissem um programa para depois haver espaço para um debate mais profundo.”

 

Inédito para Portugal

 

A antropóloga portuguesa Cristiana Bastos, que viveu no Rio de Janeiro e mantém laços fortes com investigadores brasileiros, recorda o “humor embutido” que encontrou em “A Utopia Urbana”, ao vaguear nas livrarias aí por 1980.

“O que li nessa altura ficou-me guardado e sai de vez em quando no modo como trabalho, como me atiro a coisas menos convencionais sem medo. Alguém me inspirou, deu o tom, e eu continuei a música. Anos mais tarde conheci-o em pessoa, quando fiz um estágio no Museu Nacional. Continuava criativo, estimulante, original, e ficámos muito amigos. Tinha uma relação muito interessante com os alunos e colegas, parecia que estava sempre a gozar mas ia instigando a que criássemos coisas novas, e levava-as a sério, publicava livros compilando capítulos de trabalhos dos alunos.”

“Como professor era inigualável, tinha um carisma e uma capacidade de comunicação oral única”, lembra Karina Kuschnir, que o conheceu quando era mestranda em 1991, e depois se tornou sua assistente. E como autor, os seus livros — além de “A Utopia Urbana”, por exemplo “Desvio e Divergência”, “Individualismo e Cultura” ou “Nobres & Anjos”, sobre a elite carioca consumidora de droga — contam várias edições, “são intensamente lidos”.

Portugal “estava incluído no horizonte dele de forma natural”, diz Karina. “Acho que ele não via isso compartimentado.” O derradeiro exemplo é que o último trabalho de Gilberto Velho vai ter a sua primeira publicação no próximo número da revista “Sociologia, Problemas e Práticas”, editada pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

“Foi ele que teve a iniciativa de escrever este artigo e propor a sua publicação, o que aceitámos, evidentemente, com o maior gosto”, explica o sociólogo António Firmino da Costa. “O texto é sobre as empregadas domésticas no Brasil. Nele Gilberto Velho aborda, da maneira profundamente inteligente e sensível que caracteriza a sua obra, comportamentos humanos e relações sociais, interligando a vida das pessoas e as formas de sociedade. É um texto, ao mesmo tempo, muito pessoal e lucidamente analítico, mais um contributo especialíssimo do autor para o conhecimento do universo social em que vivemos, dos seus vários mundos e das pessoas que transitam neles e entre eles.” Poderá ser lido “dentro em breve, logo que o processo de composição e impressão fique concluído”.

Professor do Museu Nacional, onde trabalhou ao lado de Gilberto Velho, e Vice-presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Luiz Fernando Dias Duarte conhece bem o manuscrito. “Estava dirigido ao público português. E tratava de examinar uma dimensão muito interessante da relação entre patrões e empregados domésticos, o que permitia fazer um exame da relação de classes.”

Quem conheça a sociedade brasaileira sabe como essas relações são vividas de uma forma extra-hierarquizada que já não é comum na Europa. Mas Gilberto Velho vai além do aspecto clássico da dominação. “Ele usa a experiência com a sua empregada de várias décadas, a Dejanira, a quem ele chamava Deja. O artigo está dedicado a ela. Estava já aposentada e ele fala do que significou a perda da relação com ela. Todos nós [colegas de Gilberto no Rio] a conhecemos muito bem. Uma empregada doméstica tem um projecto de vida diferente de um professor universitário, mas há espaço para uma mediação. Não se trata de dourar a pílula das relações mas de compreender a sua complexidade.”

Tendo sido um dos primeiros professores de Luiz Duarte, Gilberto Velho influenciou as suas teses de mestrado e doutoramento, sobre classes populares. “Ele era mais um especialista em classes médias, mas tudo isto tinha a ver com a construção social da pessoa, a ideologia do individualismo. Depois fomos colegas 30 anos em salas vizinhas e ele estava muito presente na vida de todos os orientandos e amigos, um esteio constante nos problemas académicos, de família, de saúde.”

Partilharam, por exemplo, a participação na reforma psiquiátrica brasileira. “Tratava-se de denunciar as formas autoritárias de lidar com o fenómeno da perturbação mental, de preservar a capacidade de acção dos sujeitos. A questão da autonomia, da liberdade, era muito importante para o Gilberto. Então temas como drogas, violência ou doença mental eram muito importantes para ele. A Antropologia Urbana é indissociável do Gilberto, mas a questão dos projectos de vida, da complexidade da vida social e das mediações são mais importantes que o facto dele ter criado uma área”.

Num texto de homenagem escrito no dia a seguir à sua morte, a portuguesa Graça Cordeiro resumiu assim o legado de Gilberto Velho do ponto de vista de quem trabalhou com ele: “Aulas, seminários, conferências, lançamentos de livros, projectos de investigação, jantares, conversas, passeios, excursões; onde já não se sabia quem era o historiador, o sociólogo, o antropólogo, o arquitecto, num confortável e bem-humorado diálogo em que todos eram pares.”

Ponte entre Portugal e Brasil será isto.

 

Alexandra Lucas Coelho, Público, 27–4-2012

"Why Shakespeare is … Brazilian"

Publicado24 Abr 2012

Etiquetas brasil teatro

In the first of a new series celebrating the World Shakespeare festival in collaboration with the RSC, director Renato Rocha explains why there's no one like the Bard when it comes to analysing Brazilian politics.

In Brazil we grew up hearing wise phrases: "Love is blind", and "There are more things in heaven and earth ..." A little older, in school, one of the first names we heard was Shakespeare – the English bard, one of the great geniuses of world literature, maybe the greatest. Suddenly we realised that many of the wise phrases we know were in fact Shakespeare's.

I started working in theatre at the age of 13 with a group of young artists who wanted to change the world. We used to do theatre in open spaces. There were 30 artists, including actors, musicians, and dancers; sometimes horses too … We performed classics including A Midsummer Night's Dream and Romeo & Juliet. Nick Bottom was my first Shakespeare character. I became obsessed with the idea of performing this great writer and his enchanting stories.

Continuar a ler no The Guardian.

"José Zaragoza inaugura exposição de pinturas em São Paulo"

Publicado11 Abr 2012

Etiquetas artes visuais brasil pintura s. paulo

A vida vista através das janelas pode assumir uma dimensão simbólica, como no clássico filme de Alfred Hitchcock, Janela Indiscreta - em que se estabelece uma relação voyeurística entre o espectador e a tela do cinema -, ou tremendamente real, caso das pinturas que José Zaragoza mostra na exposição que inaugura hoje a Galeria Canvas-SP. Elas, segundo o artista, "foram inspiradas pelo medo que tomou conta dos nova-iorquinos que moravam em prédios, no verão de 1985", quando circulou a notícia que um furacão, vindo de Long Island, iria arrasar Nova York em três dias. Zaragoza, que filmava um comercial na cidade e tinha um apartamento em Tribeca, ficou igualmente com medo, como qualquer morador, ainda mais quando viu que todos os vidros dos prédios amanheceram cobertos com fita crepe em forma de X para que não estourassem.

O curador da exposição, Emanoel Araújo, diretor do Museu Afro-Brasil, considerou a ideia de criar obras de arte "a partir de um elemento tão pouco inspirador e prosaico" um desafio que Zaragoza aceitou e transformou num jogo de relações entre elementos díspares - a sugestão expressionista de vultos através da janela contra o formalismo geométrico ditado pelas esquadrias. Araújo destaca uma pintura na mostra que, diz ele, se caracteriza pelo realismo estrutural. Trata-se de uma estrutura metálica que imita a moldura de uma janela que se abre. "É uma pintura objeto que sugere movimento e até pede a participação do espectador."

Continuar a ler no Estado de São Paulo.

A partir de 10 de abril inaugura novo espaço para as plásticas em São Paulo, a Canvas-SP Galeria, nos Jardins, dirigida por Rodrigo Brant. Nas paredes, marcando a abertura da casa, a mostra "Windows" de Zaragoza.

"Em seu 21º ano, Festival de Curitiba resgata nomes das últimas edições"

Publicado29 Mar 2012

Etiquetas brasil curitiba teatro

O Festival de Curitiba abre nesta terça-feira, 27, sua 21.ª edição. Mais importante evento do gênero no País, a mostra chega à maturidade sem desviar-se do caminho que a caracterizou ao longo das últimas décadas. E parece zelar, sobretudo, por certa constância nos nomes convocados a compor sua grade.

Como ocorre tradicionalmente, a curadoria abriu amplo espaço para produções de apelo popular do eixo Rio e São Paulo. Algum respiro foi alcançado com brechas para bons exemplares do teatro de vanguarda e pesquisa. Mas chama atenção a frequência com a qual alguns diretores e companhias frequentam o festival. Presentes na edição deste ano, eles são velhos conhecidos do público paranaense.

Continuar a ler no Estado de São Paulo.

Festival de Teatro de Curitiba.

"Brazil’s Unique Culture Group Stays Busy Sharing the Wealth"

Publicado28 Mar 2012

Etiquetas brasil cultura políticas culturais

SÃO PAULO, Brazil — All over the world cultural organizations are tightening their budgets and paring back productions. But Danilo Miranda faces a different challenge, one that makes him the envy of his peers. As the director of the leading arts financing entity in Brazil, his budget is growing by 10 percent or more annually, and he must figure out ways to spend that bounty, which amounts to $600 million a year.

Standing at the window of his office here one afternoon late last year, Mr. Miranda pointed to one of his group’s most ambitious initiatives. In the courtyard below, the avant-garde French troupe Théâtre du Soleil, based in Paris and led by Ariane Mnouchkine, was erecting a giant tent where it would begin a tour of Brazil.

Mr. Miranda’s organization, SESC, a Portuguese acronym for Social Service of Commerce, is also strengthening ties with American artists. It sponsors a jazz festival in conjunction with Nublu, the New York record label; has signed an “institutional partnership” with the Spanish-language TeatroStageFest company; and has presented work by David Byrne, the salsa drummer Bobby Sanabria and Robert Wilson. Mr. Wilson, a director whose works include the operas “Einstein on the Beach” and “the CIVIL warS,” is discussing a long-term collaboration with SESC, as is the Globalfest showcase of world music held in New York every January.

Continuar a ler no The New York Times.

"As vossas relações sociais (também) acontecem na base de desigualdades!"

Publicado22 Mar 2012

Etiquetas artes performativas brasil moçambique teatro

No dia em que quatro mulheres negras brasileiras – lindas, talentosas, inteligentes e corajosas – decidiram lutar pela sua identidade cultural (a de ser negro), uma nova esperança em relação ao respeito pelos valores da igualdade, fraternidade e solidariedade entre os Homens foi relançada na sociedade. No entanto, enquanto as desigualdades que caracterizam as nossas sociedades não reduzirem, é urgente lançar no solo a semente da igualdade sem ansiar os frutos. O Homem perverteu o mundo...

Ao desencadear um enorme movimento cultural votado à consciencialização social do negro em relação às suas origens, a sua cultura e tradição, no Brasil, Adriana Paixão, Priscila Preta, Débora Marçal e Flávia Rosa ? as quatro mulheres que há cerca de cinco anos fundaram a Capulanas ? Companhia de Arte Negra – não devem passar despercebidas em nenhum lugar.

As causas que norteiam as suas acções e discursos políticos, no contexto sociocultural, são nobres. Elas sublimam o ser negro. E não o fazem por mero acaso, senão leiamos:“A nossa sociedade foi construída sob os alicerces da escravidão. Tomando como base esse princípio, toda a nossa construção social foi sendo erguida em cima de um pensamento racista”, conta Priscila Preta quando interrogada sobre as razões que fazem com que a comunidade negra, no Brasil, sempre aparece como sendo aquela que luta constantemente pelos seus direitos.

Conitnuar a ler em A Verdade Online.

Capulanas - Companhia de Arte Negra

"A Keeper of a Vast Garden of Art in the Hills of Brazil"

Publicado16 Mar 2012

Etiquetas artes visuais brasil inhotim

NO wonder they call Bernardo Paz the “Emperor of Inhotim.”

About 1,000 employees, including curators, botanists and concrete pourers, swarm around Inhotim, his contemporary-art complex in the hills of southeast Brazil. Globetrotting art pilgrims absorb stunning works like Doug Aitken’s “Sonic Pavilion,” which uses high-sensitivity microphones placed in a 633-foot hole to deliver the bass murmur of Earth’s inner depths.

A whiff of megalomania seems to emanate from Inhotim’s eucalyptus forests, where Mr. Paz has perched more than 500 works by foreign and Brazilian artists. His botanical garden contains more than 1,400 species of palm trees. He glows when speaking of Inhotim’s rare and otherworldly plants, like the titun arum from Sumatra, called the “corpse flower” because of its hideous stench.

Mr. Paz, a lanky, chain-smoking, 61-year-old mining magnate, speaks in barely audible whispers. He married his sixth wife in October. He has white hair down to his shoulders and pale blue eyes, giving him an appearance reminiscent of the gaunt, debauched Brazilian rancher played by Klaus Kinski in Werner Herzog’s 1987 film, “Cobra Verde.”

Continuar a ler no New York Times.

"Slum Dwellers Are Defying Brazil’s Grand Design for Olympics"

Publicado13 Mar 2012

Etiquetas brasil cidades rio de janeiro

RIO DE JANEIRO — It was supposed to be a triumphant moment for Brazil.

Gearing up for the 2016 Olympic Games to be held here, officials celebrated plans for a futuristic “Olympic Park,” replete with a waterside park and athlete villages, promoting it as “a new piece of the city.”

There was just one problem: the 4,000 people who already live in that part of Rio de Janeiro, in a decades-old squatter settlement that the city wants to tear down. Refusing to go quietly and taking their fight to the courts and the streets, they have been a thorn in the side of the government for months.

Continuar a ler no New York Times.

"La presión demográfica amenaza la utopía racionalista de Brasilia"

Publicado12 Mar 2012

Etiquetas arquitectura brasil brasília cidades

En la sede de la Superintendencia del Distrito Federal, que agrupa Brasilia y 29 ciudades satélite de los alrededores, el arquitecto y superintendente [administrador] Alfredo Gastal discute con un grupo de pobladores su situación irregular, que se remonta a más de 40 años atrás, cuando ocuparon los terrenos donde viven. La propiedad de la tierra, la especulación inmobiliaria y el crecimiento desordenado son caras de un mismo problema, que se traduce en una insoportable presión demográfica sobre Brasilia, la capital que nació hace 51 años en medio de la nada, en el corazón del interior profundo de Brasil.

El proyecto de los arquitectos Lúcio Costa y Oscar Niemeyer (que acaba de cumplir 104 años), visionario para unos, utópico para otros, está en peligro ante la avalancha de las fuerzas del mercado inmobiliario, que imponen sus reglas. Son amenazas que padecen otras ciudades jóvenes y revolucionarias, como Chandigarh (India), planeada por Le Corbusier en los años 50, o Abuja, la nueva capital de Nigeria, que nació en 1991 y que está hermanada con Brasilia.

Continuar a ler no El País.

Fur

Publicado27 Fev 2012

Etiquetas brasil poesia portugal

Prosa & Verso, O Globo, 25.02.2012

Fur

                                                 com cara de Whitman

foi assim que você pensou que eu viria ao mundo

foi assim que que você me viu na floresta

foi assim que você me viu pendurado no poste elétrico

sempre pendurado num ramo qualquer, sempre usando

o verão.

você se lembra daquele verão no Brooklin

em que ficámos perseguindo os bombeiros

durante todo o dia apenas para ver

uma vez e depois outra vez

o leque aquático que se abria sobre o fogo?

você citava poetas húngaros mas nesse tempo

eu só queria saber de inventar uma língua

que não existisse.

você se lembra do concierge que nos recebia

na pensão do Brooklin como se nunca

nos houvesse visto antes?

e não havia semana que passasse

em que nós não dormíssemos

pelo menos uma madrugada

na pensão do Brooklin.

me lembro dos dólares amassados

que eu semanalmente tirava do bolso

para pagar a Doug

eu sabia o nome de Doug

o Doug nos tratava disfarçadamente

por menina e menino.

você falava que os dólares vinham

sempre com uma forma diferente

eu adoro como você consegue tirar um coelho do bolso

eu adoro como você consegue tirar uma lâmpada do bolso

eu adoro como você consegue tirar a Beretta 92fs do bolso

foi assim que você pensou que eu ficaria

no mundo

com corpo de besta vestida

usando um lápis pousado na orelha

foi assim que você me viu

pedindo três ovos para Miss Elsie

a senhora da mercearia na Court Street

ela me deu oito ovos

porque ela sempre dava alguma coisa

ela me achava uma graça e ela não acreditava

em números ímpares. eu também não.

me lembro de você na mercearia

do Brooklyn

você costumava ficar lá atrás

brincando na secção das ferramentas.

se eu tivesse mais do que um coelho,

uma lâmpada ou uma pistola

eu teria te comprado um Black n' Decker

eu acho que você seria a pessoa mais feliz da ilha

com um Black n’ Decker enfiado no cinto.

foi assim que você pensou que eu ficaria no mundo,

usando flores em meu cabelo negro,

sempre escondidas no emaranhado dos cachos

sempre escondidas no emaranhado do caos

de minha cabeça negra.

só você sabia quantas flores eu usava

porque agora eu já sei

que você dedicava as noites

à contagem. Deus não dorme

e você também não. 

Matilde Campilho

Matilde Campilho nasceu em Lisboa em 1982. Morou em Madrid, Milão, Florença e Moçambique. Mora no Rio de Janeiro, onde escreve.

"Brazilian rapper Criolo sings the street story of São Paulo"

Publicado21 Fev 2012

Etiquetas brasil música rappeurs

Kleber Gomes was 10 when he penned his first song about São Paulo. The year: 1985. The 1985 track: a punk rock tune about his home on its gritty southside.

One of five brothers and sisters born to migrants from north-east Brazil, the budding composers knew more than most about issues plaguing megacities – entrenched poverty, police violence, social discrimination.

Few, however, could have predicted how far such compositions would take Gomes. Today, the 36-year-old is one of Brazil's most critically acclaimed artists, a rapper, composer and urban poet, known by his stage name Criolo.

Since his album Nó na Orelha was released last April to rave reviews, an avalanche of awards has transformed a once-struggling ghetto MC into a modern-day bard for the megacity: Criolo recently played his first gig in New York and will tour Europe and the US later this year.

Para ler o artigo completo no Guardian, clicar aqui.

"Mulatice de Mário de Andrade é celebrada no Museu Afro Brasil"

Publicado17 Fev 2012

Etiquetas arte latinoamericana brasil literatura

Para celebrar os 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, o Museu Afro Brasil, em São Paulo, abrirá nesta quinta-feira (16), às 19h, uma exposição cenográfica sobre o escritor Mário de Andrade, um dos líderes do modernismo brasileiro, ao lado de Oswald de Andrade. Com o título inspirado em "Macunaíma" (''Mário - Eu Sou um Tupi Tangendo um Alaúde"), ela trará pinturas, objetos, imagens e poemas. O curador e escultor Emanoel Araújo pretende destacar a "mulatice" do intelectual paulistano.

- É o Mário total. Sou fascinado pela mulatice de Mário de Andrade. Ele encarna essa genialidade mulata. Ele fala da racialidade mulata que deu Domingos Caldas Barbosa, Aleijadinho e todos os outros. Mário entra pela África através da religiosidade, dos ex-votos. E faz aquele lindo livro sobre Jesuíno do Monte Carmelo, de São Paulo. A ideia da exposição é muito mais sobre Mário do que pela Semana de Arte Moderna - explica Araújo.

Para ler o artigo completo no Terra Magazine, clicar aqui.

"Livros brotam no sertão"

Publicado17 Fev 2012

Etiquetas biblioteca brasil literacia livros

Na Bahia, o povoado com a maior taxa de exemplares por habitante do Brasil

O povoado de São José do Paiaiá, no sertão baiano, tem 500 moradores, igreja, escola, praça e duas ruas. “Na de cima, mora a elite; na de baixo, a classe trabalhadora”, descreveu o historiador Geraldo Moreira Prado, 71 anos, o filho mais ilustre e ilustrado da terra. De cada dez habitantes de Paiaiá, três são analfabetos. Metade da população vive na pobreza, com renda de pouco mais de 200 reais por família a cada mês. Quatro famílias formam a elite local.

Numa região de casas geminadas, ruas de pedra e terra, poucos empregos e quase nenhum saneamento, a soberba taxa de 200 livros por habitante – a média nacional não chega a cinco – é a obra local mais frondosa, graças à Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado. Está sediada em um rudemente majestoso prédio de três andares, o único daquela área da caatinga. Já foi apelidado de “Empire State of Paiaiá”, reunindo os quase 100 mil livros, segundo a contagem oficial, da autodeclarada “maior biblioteca rural do mundo”.

Para ler o artigo completo na Piauí, clicar aqui.

Laerte

Publicado16 Fev 2012

Etiquetas banda desenhada brasil

Marília Gabriela entrevista Laerte Coutinho.

Laerte Coutinho (1951), é um dos principais cartonistas do Brasil. Participou em diversas publicações, como a Balão e O Pasquim. Colaborou nas revistas Veja e Istoé e nos jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. Criou diversos personagens, como os Piratas do Tietê e Overman. Em conjunto com Angeli e Glauco (e mais tarde Adão Iturrusgarai) desenhou Los Três Amigos. Publica os seus desenhos na internet no blogue Manual do Minotauro.

"A literary deficit"

Publicado22 Dez 2011

Etiquetas américa latina brasil guadalajara leitura literacia

Brazil apart, publishers are struggling to persuade the growing middle class to read more books

TINY fingers wiggle through the holes in the pages of “A Moverse” (“Let’s Get Moving”), a children’s picture-book that lets readers pretend their digit is a cat’s tail or penguin’s beak. While managers in suits talk print-runs and profits in one hall of the Guadalajara International Book Fair, the world’s biggest Spanish-language literary get-together, shrieks of excitement can be heard from young customers in the children’s area next door.

Para continuar a ler o artigo, basta ir até ao The Economist Job Board (Publishing in Latin America).

Destaques do Público elegem 3 espectáculos PRÓXIMO FUTURO!

Grande destaque no jornal Público de hoje (suplemento ípsilon) para três peças apresentadas no CAM da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do Programa Gulbenkian PRÓXIMO FUTURO!

Nos 10 destaques da secção "Teatro": o 1.º lugar coube a "Villa+Discurso" (na foto), do encenador chileno Guillermo Calderón, apresentada no Programa Gulebnkian Próximo Futuro nos dias 1, 2 e 3 de Julho de 2011. O 2.º lugar foi atribuído à peça "Woyzeck on the Highveld", do encenador e artista sul-africano William Kentridge, também programada pelo Próximo Futuro e com lotação esgotada nos dias 16, 17 e 18 de Junho de 2011.

Nos 9 destaques da "Dança": coube ao coreógrafo brasileiro Vanilton Lakka o 5.º lugar, com o espectáculo "O Corpo é a Mídia da Dança + Outras Partes", apresentado no Próximo Futuro nos dias 22 e 23 de Junho de 2011.

Mais informações sobre estes espectáculos, no site do Próximo Futuro.

DOCtv: rede de apoio aos documentários ibero-americanos

"Uma fronteira, todas as fronteiras" (filme de David Pablos Sanchéz)

Doctv é o primeiro programa de incentivo à produção e teledifusão de documentários ibero-americanos. Surge como uma iniciativa da Conferencia de Autoridades Cinematográficas de Iberoamérica- CACI e da Fundación del Nuevo Cine Latinoamericano. Seu propósito é a realização de Concursos Nacionais de Seleção de projetos de documentário nos países que aderiram ao programa.

Inspirado na experiência prévia do Brasil, Doctv é um modelo pioneiro de coprodução, teledifusão e distribuição de documentários, sistematizado a partir do conceito de operação em rede. Seus objetivos fundamentais são: promover o intercâmbio cultural e econômico entre os povos ibero-americanos; a implementação de políticas públicas integradas para promover a produção e teledifusão de documentários nos países da região; e a difusão da produção cultural dos povos ibero-americanos no mercado mundial.

A REDE Doctv é uma aliança estratégica das autoridades audiovisuais e de televisão pública, atualmente composta por quinze países latino-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, México, Panamá, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.

As ações relacionadas ao programa são custeadas pelo FUNDO Doctv, implementado pela Secretaria Executiva da Cinematografia Ibero-Americana - SECI e sustentadas pelos países anunciantes e patrocinadores do Programa Doctv que, para a produção de documentários, é complementado com contribuições nacionais.

Para saber mais sobre a REDE Doctv, basta navegar até aqui.  

"Intenções editoriais: quem lê e quem escreve, para quê"

Publicado23 Nov 2011

Etiquetas brasil festival panoramas do sul seminário videobrasil

 

A acontecer já desde o dia 24 de Setembro de 2011, o 17o Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC - Videobrasil "apresenta a série de Seminários Panoramas do Sul, concebido como um convite de abordagem a aspectos relevantes em torno da produção e difusão da arte contemporânea produzida no contexto do território-zona. (...) Os seminários pretendem propor aos participantes sensibilizações conceituais e críticas que possibilitem a visualização de formas de diálogo e trânsito não apenas entre os agentes do 'Sul', mas também nas suas múltiplas formas de relação com o que talvez possamos chamar aqui e agora de 'Norte'. Idealizadas em torno de quatro eixos temáticos (formação, redes, curadoria, publicações), as mesas têm como ponto de partida os seguintes motes de observação e discussão em torno das práticas formativas, institucionais, curatoriais e editoriais públicas (com os quais conforma-se tal campo propício a inúmeras ligações, confrontos, desgastes e paradoxos de forma dinâmica):

-          A arte como terreno de formação do cidadão

-          A instituição à margem das redes de arte

-          Intenções curatoriais: 'curando o Sul sem bússola'

-          Práticas editoriais: quem lê e quem escreve, para o que

Cada sessão de trabalho conta com um mediador, que apresentará o recorte temático à audiência. A seguir, um convidado virtual apresenta em vídeo um comentário crítico acerca do tema a ser discutido. A apresentação de dois estudos de caso oferece elementos e subsídios partir dos quais se explicitarão diferentes dimensões dos assuntos abordados. Ao final, um debatedor sintetizará o conjunto de questões apresentadas, na tentativa de lançar e promover a reflexão, junto ao público, de um pensamento que seja capaz de dar vistas ao agora aqui da arte."

A próxima (e última) sessão está programada para dia 10 de Dezembro, das 14h às 18h, e é dedicada ao tema "Intenções editoriais: quem lê e quem escreve, para quê", com "artistas conceituais, críticos e curadores usam publicações para promover uma nova expressão artística".
 
Mediação: Fernando Oliva | Convidado virtual: Miguel López | Estudo de caso 1: Revista Tatuí, Clarissa Diniz | Estudo de caso 2: Asterisco 9, Luisa Ungar e Nadia Moreno | Debatedora: Lisette Lagnado. Vagas: 120 | SESC Belenzinho | Sala de Espetáculos 2
Mais informações, aqui.
 

"Pinturas aeropostais" de Eugenio Dittborn

O chileno Eugenio Dittborn (Santiago do Chile, 1943) trabalha desde 1983 na produção de obras que designou de “Pinturas aeropostais”. O conceito é simples: as obras que são maioritariamente sobre papel, material plastificado ou vídeos, são criadas a partir de temas recorrentes como o conflito, a tragédia, a interrupção da viagem, o acidente, a distopia. Essas obras depois são enviadas para o destino da exposição dobradas (ou embaladas, no caso dos vídeos) e colocadas dentro de envelopes de encomenda postal, tendo escrito na capa o endereço, o remetente do artista e a descrição. À medida que vão sendo apresentadas em vários lugares estas obras vão acumulando no sobrescrito a listagem desses lugares por onde passaram.

Há aqui uma nítida vontade de ‘transterritorialidade’ mas digamos que, para além deste método, há nas técnicas utilizadas, no suporte e nas linguagens, uma tal noção de espaço, de essencialidade, e de beleza que, o seu conjunto, nesta mostra no Centro Cultural do Santander de Porto Alegre, é de uma euforia contagiante, não perdendo a sua proximidade do abismo.

António Pinto Ribeiro

É a 8.ª edição da Bienal do Mercosul

É a oitava edição da Bienal do Mercosul, uma das mais singulares bienais de arte do mundo. Abriu no passado dia 10 em Porto Alegre, uma cidade do Rio Grande do Sul, e ocupa vários armazéns desafectados do porto, alguns museus e ainda vários sítios da cidade. O tema geral da Bienal é “Ensaios de Geopoética” e continua uma certa tradição de relação da arte com a política que tem caracterizado esta Bienal nas últimas edições.

A curadoria geral é de José Roca, que anuncia que a Bienal se propôs apresentar obras que reflectem a noção de território a partir das perspectivas geográfica, política e cultural. Aparentemente nada de muito novo neste enunciado que é suficientemente vago para permitir a apresentação de trabalhos organizados, estes sim, em “entradas” mais específicas e pertinentes. São elas: a( geo)poética propriamente dita, mercado, raça, questão, indígena, cadernos de viagem, entre outras. A montagem  – na secção apresentada  nos armazéns do porto – conta com um dispositivo de recepção das obras que é claro e estimula o cruzamento de múltiplas obras e projectos. Maioritariamente constituída por instalações e vídeos, a mostra não se limita a apresentar artistas oriundos dos países do Mercosul mas inclui artistas chineses, dos Camarões, egípcios, franceses, alemães, etc.

As obras que destacamos são da autoria de Duke Riley (EUA), Javier & Erika (Cuba) – “Haciendo mercado” –, Leslie Shows (EUA) – “Display of properties” –, Marcelo Cidade (Brasil) – “Luto e Luta” –, Paola Parcerisa   (Paraguai) – “Bandera Vacia” –, Paco Cao (Espanha) – “El veneno del baile “. Na secção Cadernos de Viagem, que resulta de viagens dos artistas pela região do Rio Grande do Sul e cujos resultados são maioritariamente muito felizes, realçam-se as obras de Beatriz Santiago Munõz – “Folc- industrial” – vídeo sobre os horários de trabalho dos operários das indústrias de Caxias de Sul – e “Nuevas Floras” de Maria Elvira Escallón, esculturas talhadas nas árvores vivas das Missões durante a evangelização, que actuam como um estilete na recepção do visitante.

António Pinto Ribeiro

(Fotos com obras de Leslie Shows e de Maria Elvira Escallón)

'tour dos trópicos', 'pensamento canibal': em Paraty (VI)

 

 Bike em Paraty

"Tour dos Trópicos": David Byrne (músico) e Eduardo Vasconcellos (urbanista)

O primeiro a falar foi o David Byrne que estava lançando o livro "Diários de bicicleta".

Ele como turista gosta de visitar os lugares de bicicleta porque pode ver e apreciar coisas que de outra forma não veria.

Acredita que nosso modelo atual de cidade isola as pessoas, e a cidade na verdade é um lugar de diversidade e troca.

Mostrou com algumas imagens de Frank Lloyd Wright, Le Corbusier e outros, a ideia de cidade do futuro no Século XX. Ela é cheia de 'highways', sem lugares para interação humana ou o encontro de pessoas. São cidades cheias de torres isoladas, acabando com as ruas, uma ideia bastante influente do século passado... 

A GM era durante todo esse período a maior corporação do mundo e apoiava as ideias de construção de largos 'boulevards' para muitos carros. Essa configuração é hostil para os pedestres e as cidades hoje são assim graças a essas influências.

As ruas menores tem um modelo mais caótico, pois as pessoas se encontram mais, e você nunca sabe com quem vai cruzar. Na Europa as coisas já estão mudando. Já existem cidades que tem no mesmo espaço em conjunto, bicicletas, carros e pedestres.

O Eduardo também defendeu a mudança na qualidade de vida das cidades. Mas aqui no Brasil elas vão ter que passar antes por um aumento da cidadania da população. As pessoas não conhecem seus direitos nem deveres para poderem lutar por melhores condições. Aqui quem vai a pé ou de 'bike' trabalhar é porque não tem dinheiro, fazem parte de uma classe de baixa renda.

No Brasil também ainda há o mito que todos preferem o automóvel, que faz parte da proposta desenvolvimentista dos anos 70. Assim as classes de renda mais alta, que têm um ou mais carros, ocupam mais espaço público e gastam mais recursos (energia) e poluem mais que as de renda baixa.

É preciso gerar conhecimento para gerar constrangimento ético, para que as pessoas usem mais o transporte público, a bicicleta ou andem a pé. Transformar esse espaço hoje hostil às pessoas e caminhar em direção a uma nova cidade.

A palestra do David Byrne foi bastante esperada, foi legal, mas as pessoas claramente esperavam mais, talvez que ele cantasse? 

Praça

'Pensamento Canibal': Eduardo Sterzi e João Cezar de Castro Rocha

Essa mesa faz parte da homenagem ao Oswald, e eles falaram dos desdobramentos da antropofagia depois de seu momento inicial em ‘22.

João Cezar foi primeiro a falar e colocou uma pergunta para depois tentar responder:

“A antropofagia define a sensibilidade do brasileiro (se tiver caráter histórico) ou é universal (questão antropológica)?”

A resposta é e não é. Porque ela tanto pode ser uma teoria sobre a alteridade cultural, quanto foi elaborada num período específico para atender a um problema específico. Foi escrita em São Paulo em 1928.

Uma das questões é que, para assumi-la como universal precisaríamos ainda ter que despir o Oswald de sua “brasilidade”. Por ainda não termos superado um complexo de colonizado, não a transformamos numa teoria universal.

No Manifesto detectamos aspectos locais (necessidade de nos atualizarmos em relação à Europa, a colonização portuguesa), e também aspectos universais.

Assim a antropofagia é de fato uma teoria cultural, mas uma teoria onde as circunstâncias são assimétricas. Ou seja, ela é acionada pelo dominado, por quem está na posição de desfavorecido, por nós e não pelos europeus. Preservamos uma capacidade de seleção, pois ainda precisamos recorrer à Europa, mesmo hoje.

Ressaltou que é preciso se reinventar a crítica cultural no Brasil, que se baseia num modelo de falsa dicotomia entre local versus universal que foi útil até à década de ‘60.

O Eduardo ressaltou que o Oswald é visto como um clássico e assim fica circunscrito a dois períodos de ‘22 e de ‘60. E ele escreveu a vida toda, se aprimorando, até morrer.

Mais que uma teoria da cultura, nos seus escritos tem teoria para tudo: economia, direito, estética, religião.

A ideia da antropofagia não é original e o Oswald também fala isso. Lembraram Catão, Rabelais e em 1919 Picabia com “canibal-dada”...

O que o Oswald fez foi alterar o fluxo das trocas culturais, usando como matéria-prima um conceito que transformou para criar uma teoria. O poeta antropófago só sente a alegria da influência.

Doces

Imagens e textos de Madame de Stael, correspondente em Paraty

mais histórias de Paraty (V)

Barco (Amor Eterno)

Joe Sacco - 2 livros lançados aqui: "Notas sobre Gaza" e "Palestina"

O fluxo das informações é controlado pelos oligopólios da imprensa, por isso ele opta por um jornalismo em quadrinhos. Passa um tempo nos lugares, Bósnia, Palestina, etc... convivendo com as pessoas. Faz os desenhos tempos depois, mais amadurecidos e já mais carregados de sentido.
Está preocupado com a realidade dos civis que são os que mais sofrem com a guerra. Suas vidas lhe são retiradas, um dia você tem um futuro no outro não mais.
Através dos quadrinhos ele acredita que pode trazer o leitor mais próximo daquela realidade. No desenho ele pode voltar ao passado, pode desenhar de perspectivas que às vezes nao é possivel na fotografia. Em locais muito tensos, onde é proibido fotografar, como check points, ele faz sketchs. Nos quadrinhos pode mostrar repetidamente um cenário ao fundo, enquanto na ação principal apresenta um diálogo dando uma outra dimensão mais dramática, o que não é possivel na escrita. 

Ou ainda com múltiplas imagens pode ir para frente e para trás.
Uma outra coisa bem legal que ele falou, foi sobre a atividade de jornalista. O jornalismo é visto e ensinado com uma obsessão pela objetividade. Mas na realidade as coisas não são bem assim. As pessoas contam coisas que às vezes são contraditorias, existem vários pontos de vista e a memória engana. Ele mesmo como jornalista de outra cultura tem preconceitos, e tudo isso ele deixa a mostra, dando espaço para eventualmente ser confrontado pelas pessoas das quais ele fala.
O jornalismo e juntar informações não são uma ciência e ele quer mostrar essas contradições.
É autodidata no desenho e sua influência é Bruegel "The Elder". (Tem tudo a ver!)
Foi muito boa essa mesa!

Tenda dos Autores

João Ubaldo Ribeiro - 'alegorias da ilha brasil'

A palestra foi divertida, agradável, ele é incrivelmente bem humorado.
Entrevistado por Rodrigo Lacerda, sempre com uma pergunta sobre cada livro. As respostas sempre tinham muita história.
Aqui algumas respostas:
A primeira pergunta: Parece que Itaparica é o cenário dos livros. Seria uma metáfora do Brasil? Mas ele diz que não sabe, que acaba sendo assim. As ilhas são fictícias. Esse ambiente faz parte da sua formação, é o que conhece. Ele diz ter uma certa insegurança em escrever sobre o Rio. No final os textos saem com cara de Itaparica.

Não se preocupa com a veracidade mas com a verossimilhança. Não é realidade, mas invenção.

Em '63 quando publicou seu primeiro livro, se considerava engajado, político, que mudaria o destino da humanidade e iria ganhar o prémio Nobel... mas a vida não transcorreu assim... (Toda a conversa é falada com bom humor, cheia de risos... Aqui não vou conseguir expressar)

Diz que o escritor escolhe que tipo vai ser, a decisão é sempre de cada um.
Para o jovem que deseja ser escritor, é preciso ler muito, ser humilde, obstinado e o resto é um mistério. Sempre existe o imponderável para o êxito profissional, não há receita.

Sobre "Sargento Getúlio", fala ser esse o nome de um dos sargentos do pai, que era chefe de seguranca.

O livro foi comparado ao "Grande sertão veredas," porém ele não concorda. Diz que o seu santo não bate com o do Guimarães Rosa. Reconhece a importância dele na literatura, principalmente por que conhecia bem Graciliano Ramos e sabia do seu sofrimento em traduzir os diálogos do sertão numa prosa mais "culta" e Guimarães Rosa rompeu com isso.
Depois de um tempo e já com livros publicados, e: "sabendo que não ganharia o nobel," conta que as pessoas só falavam do Sargento Getúlio. Não queria ser reduzido a esse livro, e "Vencecavalo e o outro povo" título que ninguém nunca lembra, nem ele, partiu da vontade querer escrever: "o retorno do Sargento Getúlio," e queria (isso na gozação), escrever a volta, o filho, a cavalgada todas do Sargento Getúlio. Um desses títulos achou que poderia ser o título para o novo livro. Foi conversar com Jorge Amado que lhe deu um "esbregue"(bronca). Assim o livro de contos ficou com o título de um dos contos.... esse que ninguém nunca lembra.
"Vila Real" é um livro que ele adora, mas fica magoado que ninguém leu. Tem universo semelhante ao "Sargento Getúlio" com linguagem mais rebuscada. 
Um dia implicaram que por aqui só se escreviam livros finos. E essa foi a génese do "Viva o povo brasileiro." Ele queria mesmo era escrever um livro grosso. Conta que não queria entregar os manuscritos de jeito nenhum, não queria mais parar de escrever e reescrever. De tão grande, chegou até a pesar a pilha dos originais. Ainda hoje, se ele abre o livro, acha algo que quer reescrever.
O livro não teve nada a ver com querer reescrever a história do Brasil e falar dos oprimidos. Queria só fazer um romance caprichado e grosso para mostrar ao tal fulano que disse que ele escrevia "livrinho." (acho que foi um editor)
Para os personagens pensou em canalhas notórios e que se tivessem poder de vida e morte, o que poderiam fazer.
Em relação ao "Sorriso do lagarto" disse que tem medo do ser humano pilotando seu próprio destino. Não é otimista em relação a humanidade. Todos somos contraditórios e nossa ruindade tem prevalecido ao longo da história.
Sobre a "Casa dos budas ditosos" falou, e brincou com o fato que o livro agrada as mulheres e deixa os homens intranquilos. 
Ofereceram a ele escolher o pecado. Não escolheu a preguiçaa por ser baiano. Escolheu luxúria e sobre a inspiração disse: "cheque gera inspiração, foi uma encomenda, assim que se geram as obras de arte" (a conversa sempre em tom de humor e risadas e esse foi um desses momentos).
Sobre seus personagens ele disse que eles tem vida própria. Quer que casem e eles não casam."Eles só fazem o que querem." 
Foi divertido, leve, todos aplaudiram de pé. Típico espirituoso bom humor baiano brasileiro.
 

Telhados

Com James Ellroy

O livro que ele está lançando aqui é "Sangue Errante". Acontece depois dos assassinatos de Kennedy e Martin Luther King e antes de Watergate. É sobre homens ruins amando mulheres poderosas. Para ele o encontro entre um homem e uma mulher é o máximo e depois tudo é resto. A redenção vem através do amor. Os personagens são pessoas ruins, fazendo coisas más em nome do poder.

Ele é um showman. Disse que gosta mesmo de enterter a plateia. Fez várias piadas. Como a venda dos li vros para cinema ajudaram a pagar os divórcios dele. Não comenta se achou os filmes bons ou ruins, não liga. Não usa a internet nem computador. E diz que tenta "hold his curiosity in" para ficar no tempo dos livros dele. É vidrado em Beethoven. Tem bustos dele por toda a casa.

Quando perguntado o que ele achava de ter sido chamado de Dostoiévski americano responde: "I will take it but never read it, or Tolstoi or any russians, don't know anything about Russia", só alguns pianistas. Perguntaram também sobre a relação entre filmes noir e tragédias gregas com seus livros. Ele respondeu que já tinha namorado uma grega e que os gregos que conhecia eram donos de giro no Queens. Típico americano que nunca tinha vindo ao "third world e até que não é tao mal quanto ele imaginava".

Se diz cristão mas não vai a igreja. Tem um discurso moralista pois apesar de não julgar seus personagens eles fazem coisas ruins, se entregam aos pecados da carne, mas acabam indo para o inferno. A história é de sucesso e apesar daquela coisa típica americana (estava usando camisa florida), não sabia nada do resto do mundo...

Mas a sinceridade com que assumiu o que não conhece da literatura ou do mundo, sem rodeios me fez simpatizar com ele. Além disso tem uma história dark. O livro "Black Dhalia", foi uma maneira de expressar o que sentia pela morte da mãe através do que sentia pela morte da Elizabeth Short. A mãe também foi brutalmente assassinada num crime sem solução. Depois foi morar com o pai, um homem permissivo, se envolveu com drogas, etc... Beethoven é a figura masculina na vida dele. Seu ídolo desde os 12 anos. Disse que sempre quis ser 'novelist', queria uma identidade, os 'cool friends', 'cool car', dinheiro. Não boas razões para fazer arte. Até que deixou isso de lado, largou as drogas, uma história veio e só aí pode escrever.

Terminou recitando um poema para falar "why do I write" de Dylon Thomas.

Imagens e textos de Madame de Stael, correspondente em Paraty

'Ficções da diáspora', via Paraty (IV)

Publicado20 Jul 2011

Etiquetas brasil caryl phillips flip kamila shamsie literatura paraty

Na foto: Caryl Phillips

'Ficções da diáspora', com Kamila Shamsie (Paquistanesa - vive em Londres) e Caryl Phillips (Caribenho - vive nos EUA)

O livro "Sombras Marcadas" partiu de uma leitura que ela fez a respeito do bombardeio em Nagasaki. Chamou muito sua atenção o fato de que no momento do bombardeio as pessoas que estavam de kimono preto e branco (que absorve/repele calor), ficarem com as estampas impressas na pele. E seu livro parte da vontade de imaginar a história de uma mulher que passou pelo bombardeio. A narrativa se inicia no Japão, passa pela Índia, Paquistão, acabando na guerra ao terror.

Não me instigou. Ao contrário do Caryl. O livro "A travessia do rio" tem a intenção de contar a história do atlântico a partir de histórias pessoais. Nós no Rio, em NY, África e Europa temos essa história no nosso passado como uma grande narrativa, factual e também abstrata. Ao contá-la do ponto de vista das pessoas, das várias pessoas envolvidas, cria uma situação mais íntima com a qual nos relacionamos mais.
O personagem de quem ele mais fala, é um negro que vende seus filhos como escravos, porque perde sua plantação.
Falaram também sobre o trabalho do artista. É preciso ser um pouco louco, para achar que suas obsessões privadas possam interessar as pessoas. A arte seria também uma necessidade de entender o mundo (verdade). It's a leap of faith. 

Ele (que gostei muito) falou ainda que o trabalho do artista não é curar uma sociedade, mas levantar um espelho, com dignidade, para que a arte nos mostre quem somos. 

Texto de Madame de Stael, correspondente em Paraty

Uma aula de ciência e outra de filosofia, em Paraty (III)

Declamador na FLIP 

"Uma aula de ciência e outra de filosofia": Pola Oloixarac (Argentina) e valter hugo mãe (Angola/Portugal)

O livro dela "As teorias selvagens" parte da ideia de uma guerra cultural. Guerra por significados. Como o conhecimento pertencendo a uma casta separada das paixões "baixas."
Ela busca através da ironia dar conta de uma relação privilegiada com o conhecimento. Tenta criar uma imaginação política, pois há uma tradição da literatura política na América Latina ser muito militante e séria, que ela deseja quebrar com seu livro.
Mistura tecnologia, luta política no âmbito cultural, junto com uma subjetividade que emerge numa potência selvagem... Parece interessante. E ela tem uma aparente obsessão com a luta política.
O valter fala da morte, parece obsecado por ela. Conta que o pai vivia achando que ia morrer até que morre aos 59 anos. Muito simpático, sensivel, fala que busca nos livros que escreve suprir uma falta, algo que não tem na sua vida. Falou muito do outro, da tentativa de entender o outro, da procura pelo outro, como algo que pode ensinar-nos sobre nós mesmos. Seus livros começam sobre um outro e terminam nele, encontrando esse outro dentro de si mesmo.
Deixou todos muuuuito emocionados e foi realmente lindo, quando ele leu uma crônica que escreveu para falar da sua relação com o Brasil.
Foi tão lindo. Ele chorou, muita gente chorou, tenho certeza que vão por online. E tem que ver.
E o livro parece legal mas deve ser triste p'ra xuxu! 

Imagem e texto de Madame de Stael, correspondente em Paraty

'O Humano além do Humano' na FLIP, de Paraty (II)

Café na FLIP

"O Humano além do Humano": Miguel Nicolelia (Neurocientista) e Luiz Felipe Ponde (Filósofo)

Nicolelis pode ser candidato ao Nobel por suas descobertas sobre o funcionamento do cérebro. Ele mostrou como nosso cérebro pode continuar com consciência a viagem pelo mundo liberto do seu corpo.
Pode-se criar ação com as descargas elétricas, para recuperar funções motoras e vice-versa. Isso é uma vitória da ciência brasileira.
Quer na Copa que uma criança paraplégica chute o primeiro gole. Ele está muito próximo de alcançar isso.
Então foi um debate entre a ciência e o filósofo que acredita que o ser humano não é confiável, que esse projeto de superação vem desde a República de Platão, como um projeto da eugenia.
Que depois que os cristãos perdem a fé, surge a fé na ciência para substituir (Nietzsche).
Ele coloca que a vida humana não se sabe de onde veio, nem para onde vai e que o homem não se pode confiar em si mesmo.
O ser humano não é linear. O sofrimento sempre nos encontra, e sofrer é que nos faz humanos. E a vida dá sempre errado ao final.
Foi um debate mas eu acho que as 2 opções não são tão opostas ou distantes. Vêm do mesmo lugar. Essa coisa da vida dar sempre errado tem um algo darwinista, que está ligado a evolução que está ligado na ciência de certo modo e nessa busca por melhorar, ou sobreviver.
No final o Ponde diz que não. É que não temos que tentar ir para além do Humano para resolver os problemas, mas que vão se criar outros problemas.
Discutiu-se fé versus ciência, como ciência e religião estão próximos, etc...
Os 2 eram muito carismáticos, e são também professores, foi legal essa mesa.

Imagem e texto de Madame de Stael, correspondente em Paraty

Abertura da FLIP, de Paraty (I)

A primeira de uma série de breves reportagens sobre a mais recente edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Brasil), pela nossa correspondente em Paraty, Madame de Stael.

Conferência de Abertura... (Antonio Candido, José Miguel Wisnik)

Antonio Candido que foi muito amigo do Oswald de Andrade e 30 anos mais moço decidiu falar como ele era, ao invés de discutir aspectos da obra ou como ele revolucionou a maneira de pensar o Brasil.

Ele cita algumas razões pelas quais sua obra era difícil de ser conhecida naquela época.

E em primeiro lugar vem a sua personalidade extremamente poderosa, concentrando muita atenção sobre si.

Foi grande ativista cultural e sem ele e Mário de andrade o Modernismo Brasileiro não seria o que é.

Ele tinha uma perceção rápida e expressão sintética. Sua produção jornalística é de altíssima qualidade e era tão importante quanto o resto de sua obra.

A segunda razão é que em '36 por exemplo não haviam livros de Oswald publicados. Não haviam editoras e os próprios escritores tinham que custear sua produção, assim falava-se dele sem ter a obra para ler.

E terceira, ele era extremamente sensível a críticas. De temperamento forte, brigava com qualquer um que se atrevesse a falar mal dele. Assim não se escrevia sobre ele.

Porém assim como podia xingar muito alguém, também ao mesmo tempo elogiava o trabalho.

O que ele gostava era de brigar e desbrigar. Não era rancoroso. E vivia rodeado de gente, todos o adoravam.

O único que nunca mais voltou a falar com ele foi o Mário de Andrade e o Oswald sofreu por isso a vida toda.  Nevertheless os 2 se admiravam muito.

Por essas razões sua obra ficou na sombra.

Ele queria devorar o mundo, ver tudo e saber de tudo. Tinha extrema mobilidade de opiniões mas extrema constância  nas ideias. Sempre foi um inconformado.

Era muito bem educado atencioso, era só não brigar com ele.

Soube usar a arma do riso, que foi uma arma dos modernistas. Acabaram com a seriedade e mostraram que a alta literatura não é incompatível com a brincadeira.

Todo autor que se faz presente demais por sua personalidade, sua receção literária, renasce anos após sua morte. Hoje ele tem uma importância por ainda ser tão contemporâneo e foi muito reconhecido na geração seguinte.

Wisnik ressaltou os aspectos que fazem Oswald um escritor muito contemporâneo especialmente nos dias de hoje.

Os anos de ‘68 foram intensos. Ele – Wisnik  – nesse momento com 20 anos entrando na faculdade de filosofia em São Paulo, estava geograficamente no epicentro dos acontecimentos culturais mais marcantes. Essa foi sua formação.

Era o momento dos festivais de música popular, do “teatro oficina”, do tropicalismo. Os movimentos de arte todos estavam interligados: teatro, cinema, poesia, música e artes visuais e o Oswald ressoou em todas essas frentes.

A ideia da antropofagia que ele deu a entender era um modo de ser brasileiro. Mas não era o que pode ser entendido vulgarmente como devoração pela devoração, uma livre associação, e depois se vomita todas as informações... Como às vezes pode ser confundida a antropofagia.

Era sim uma decisão de rigor, com uma exigência de identidade para se criar algo novo e fresco. Com valor de reflexão e também provocação. Num critério seletivo do que é a cultura do Outro e que a nossa cultura se desloque nessa interação com a alteridade.

Por exemplo, no Manifesto Antropófago: se penso deveria ser para entender o Outro (não como Descartes “penso, logo existo”).

É se colocar diante do outro e estar interessado nele : o antropófago.

A cultura brasileira é feita dessa alteridade e na realidade nossa história de colonizado nos dá grande independência de pensamento.

Tomar para si algo do outro: esse é o mito antropofágico.

ainda há muito para ver no VERÃO do PRÓXIMO FUTURO!

Terminaram ontem os eventos PRÓXIMO FUTURO/Verão 2011 mas ainda há muito para ver até ao final do ano!

Desde logo, a exposição "Fronteiras" (mostra central dos 8.os Encontros Fotográficos de Bamako, vinda do MALI) que, para além das mais de 700 pessoas na inauguração, já foi entretanto visitada por mais de 6.500 pessoas.

Também continuam visitáveis, durante todo o verão, as instalações dos artistas Nandipha Mntambo (ÁFRICA DO SUL), Kboco (BRASIL) e do colectivo Raqs Media (ÍNDIA) pelo Jardim Gulbenkian, para além das intervenções artísticas de Bárbara Assis Pacheco (PORTUGAL), Délio Jasse (ANGOLA), Isaías Correa (CHILE) e Rachel Korman (BRASIL) nos Chapéus-de-Sol projectados pela arquitecta Inês Lobo, também no JARDIM Gulbenkian.

Mais informações e contactos, aqui.

PISE_A_GRAMA: sobre espaços públicos, via BRASIL

Publicado27 Jun 2011

Etiquetas brasil espaços públicos publicação

PISEAGRAMA é uma publicação sobre Espaços Públicos: existentes, imaginários e os que necessitam ser construidos. Publica ensaios (textos, imagens, vídeos e híbridos) com foco nas diversas manifestações artísticas e suas interfaces com a política e a vida cotidiana. PISEAGRAMA está aberta a propostas e interessada em boas histórias, ensaios críticos, jornalismo literário, práticas espaciais e experimentações artísticas, sempre com foco na noção de público. (...) Cada revista parte de um tema específico para abordar de maneira ampla e diversa o Espaço Público.

Os temas dos 6 primeiros números são: 

ACESSO (publicado)

PROGRESSO (no prelo)

RECREIO

VIZINHANÇA

DESCARTE

CULTIVO

PISEAGRAMA é distribuída gratuitamente em mais de 60 pontos em todo o Brasil: 

(todo conteúdo sob Licença Creative Commons)

FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO . RS . Porto Alegre
BIBLIOTECA CENTRAL DA UNISINOS . RS . São Leopoldo
BIBLIOTECA CENTRAL DA UNISINOS . RS . Porto Alegre
BAMBOLETRAS – UFRS . RS . Porto Alegre
FACULDADE DE LETRAS – UFSC . SC . Florianopolis
MUSEU VICTOR MEIRELLES . SC . Florianopolis
NÚCLEO DE ESTUDOS DE FOTOGRAFIA . PR . Curitiba
PÓLO DE COMUNICAÇÃO . PR . Curitiba
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - UEL . PR . Londrina
GALERIA VERMELHO . SP . São Paulo
CINEMATECA . SP . São Paulo
CASA DAS ROSAS . SP . São Paulo
CENTRO CULTURAL UNIVERSITÁRIO MARIA ANTONIA . SP . São Paulo
CINEMATECA – UFSCAR . SP . São Carlos
INSTITUTO DE ARTES – UNICAMP . SP . Campinas
INSTITUTO SÓCIO-AMBIENTAL . SP . Higienopolis
PARQUE LAGE . RJ . Rio de Janeiro
MAM . RJ . Rio de Janeiro
PONTÃO CIRCO VOADOR . RJ . Rio de Janeiro
FACULDADE DE CINEMA DA UFF . RJ . Niterói
MUSEU DO ÍNDIO . RJ . Rio de Janeiro
INHOTIM . MG . Brumadinho
CENTRO CULTURAL UFMG . MG . Belo Horizonte
MUSEU DE ARTE DA PAMPULHA . MG . Belo Horizonte
CAFÉ COM LETRAS . MG . Belo Horizonte
DESVIO . MG . Belo Horizonte
LIVRARIA SCRIPTUM . MG . Belo Horizonte
LIVRARIA OUVIDOR . MG . Belo Horizonte
LIVRARIA QUIXOTE . MG . Belo Horizonte
LIVRARIA MINEIRIANA . MG . Belo Horizonte
ESTAÇÃO PORTO . ES . Vitória
PONTÃO REPÚBLICA DO CERRADO . GO . Goiânia
ESPAÇO CUBO . MT . Cuiabá
PONTÃO GUAICURU . MS . Campo Grande
AÇOUGUE CULTURAL T BONE . DF . Brasília
PONTÃO CULTURA ESCOLA VIVA . DF . Brasília
CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL . DF . Brasília
DRAGÃO DO MAR . CE . Fortaleza
REDE CEARÁ DE MÚSICA . CE . Fortaleza
CENTRO CULTURAL BANCO DO NORDESTE . CE . Fortaleza
FUNDAJ – APIPUCOS - Biblioteca Central Blanche Knopf .  PE . Recife
FUNDAJ – DERBY - Biblioteca Nilo Pereira . PE . Recife
MAMAM . PE . Recife
MAC – OLINDA . PE . Olinda
MIDIA LOUCA – PELOURINHO . BA . Salvador
PONTÃO CULTURA E CIDADANIA DA PAZ . BA . Salvador
FACOM - UFBA . BA . Salvador
COLETIVO MUNDO . PB . João Pessoa
CENTRO PIAUIENSE DE AÇÃO CULTURAL - CEPAC . PI . Teresina
CENTRO DE CULT. POPULAR DOMINGOS VIEIRA FILHO . MA . São Luis
CENTRO CULTURAL DOS POVOS DA AMAZONIA . AM . Manaus
BIBLIOTECA CENTRAL DA UFAC . AC . Rio Branco
REDE DO ESTADO DO ACRE (PONTÃO) . AC . Rio Branco
TEATRO DAS BACABEIRAS . AP . Macapá
PONTÃO ARTE E VIDA DOS POVOS INDÍGENAS . AP . Macapá
ESPAÇO CULTURAL MARRETA . RO . Boa Vista

Notícias sobre a CINEMATECA Próximo Futuro...!

CERRO NEGRO (23'), de João Salaviza, em estreia mundial hoje na Gulbenkian

Público destacou a iniciativa do Programa Gulbenkian PRÓXIMO FUTURO em encomendar novos filmes aos realizadores João Salaviza (Portugal), Vincent Moloi (África do Sul) e Paz Encina (Paraguai).

Para ler o artigo completo de Francisco Valente basta clicar aqui.

Os três filmes têm estreia mundial hoje, às 22h00, no Anfiteatro ao Ar Livre da Gulbenkian

Ontem o Anfiteatro encheu para (re)ver o magnífico "Fitzcarraldo" (Alemanha Ocidental/Peru, 1982), de Werner Herzog, exibido em 35mm.

Aqui pode ler a crónica sobre "Fitzcarraldo" que foi publicada, também ontem, no jornal Público, pelo maior escritor da Amazónia: Milton Hatoum!

Aproveitamos para lembrar os nossos espectadores e leitores que são bem-vindos comentários, opiniões e sugestões sobre o PRÓXIMO FUTURO, aqui no Blog, no Facebook e Twitter.

CINEMATECA no Anfiteatro ao Ar Livre: começa HOJE!

Hoje às 19h00 sobe ao palco pela última vez na Sala Polivalente do CAM o duplo espectáculo do grupo LAKKA (Brasil), exemplar da renovação do panorama sul-americano da dança contemporânea: "O corpo é a mídia da dança?"+ "Outras partes".

E tem início a CINEMATECA Próximo Futuro! É uma CINEMATECA que deseja que os filmes apresentados possam constituir narrativas visíveis sobre os países, as pessoas, as paisagens, os criadores oriundos dos continentes que são foco do Próximo Futuro: América Latina e Caraíbas, África e Europa. Tal como nas edições anteriores, aqui se apresentam durante vários dias, às 22:00, no ecrã gigante instalado no ANFITEATRO AO AR LIVRE do Jardim da Gulbenkian, filmes de vários géneros, que vão do documentário à ficção.

A selecção dos filmes inclui obras antigas da história do cinema de África e da América Latina. Apresentará também pela primeira vez cinema de animação de autores africanos e será ainda possível ver, em estreia absoluta, três obras encomendadas e produzidas por este Programa a três cineastas: Vincent Moloi, João Salaviza e Paz Encina (Produtor Delegado: Filmes do Tejo). 

HOJE, 23 de Junho (quinta-feira)

19h00 Sala Polivalente do CAM DANÇA / Bilhete único: 12 Eur

"O Corpo é a Mídia da Dança? + Outras Partes

grupo LAKKA (Brasil) 

22h00 Anfiteatro ao Ar Livre CINEMA / Bilhete único: 3 Eur 

Apnée, de Mahassine Hachad (Marrocos), 2010, 10’

When China met Africa, de Marc e Nick Francis (Reino Unido), 2010, 75’ 

(Cena do filme "When China met Africa", de Marc e Nick Francis)

AMANHÃ, 24 de Junho (sexta-feira)

22h00 Anfiteatro ao Ar Livre CINEMA / Cada Bilhete: 3 Eur

Fitzcarraldo, de Werner Herzog (Alemanha), 1982, 35mm, 157’

estreia já AMANHÃ, às 21h30: LAKKA num espectáculo duplo

Publicado21 Jun 2011

Etiquetas brasil dança lakka

Estreia já amanhã (4.ª f, dia 22 de Junho), às 21h30, o duplo espectáculo do bailarino e coreógrafo Vanilton LAKKA, que com o seu grupo apresentará um dos seus projectos de grande fôlego: "O corpo é a mídia da dança?"+ "Outras partes". Guarde já o seu lugar na bilheteira on-line.

Em um mundo cada vez mais informatizado, quais são as possibilidades de construção do que podemos entender como Dança? Qual é o suporte possível para a Dança? O Corpo do intérprete pode ser entendido como um suporte assim como o computador, um material gráfico ou um telefone? Qual Dança épossível? Em que corpo/suporte, em que Mídia?

Vanilton Lakka, o coreógrafo e intérprete brasileiro, que se integra no movimento da dança contemporânea que está a acontecer no Brasil e que participa da renovação da paisagem da dança sul-americana, possui formação em dança clássica, dança-jazz e danças de rua. Traz os contextos sociais e tecnológicos presentes nas cidades do princípio deste século para o universo da sua dança, que, subtil, plena de detalhes e gestos coreográficos, física e plástica, é original na forma como se estende a outros suportes, nomeadamente aos novos media, sem que com isso ’arrefeça‘ o espectáculo ou as coreografias percam dinâmicas humanas.

"O corpo é a mídia da dança?"+"Outras partes" sobe ao palco da Sala Polivalente do CAM da Gulbenkian nos dias 22 de Junho (4.ª f), às 21h30, e 23 de Junho (5.ª f), às 19h00. Cada bilhete custa apenas 12 Eur (bilhete único para as duas performances).

na rota europeia de LAKKA (Brasil): dias 22 e 23 de Junho!

 

Em Abril estavam na Alemanha e participaram no "Festival Tanztage" (Oldenburg) e em Maio foi a vez da França os receber, nos "Rencontres Choregraphiques" de Seine-Saint-Denis. Finalmente, em Junho (dias 22 e 23), chegam a Portugal, para apresentar apenas nesses dois dias o seu projecto "O Corpo é o Mídia da Dança + Outras Partes". Estamos na rota europeia de LAKKA e dos intérpretes que o acompanham!

Nascido na Uberlândia (Brasil), Vanilton LAKKA é bailarino e coreógrafo desde 1991, realizando sobretudo projectos de pesquisa e criação em torno da chamada street dance. Interessam-lhe, de um modo especial, o "uso de técnicas corporais, a formatação de trabalhos de dança em diferentes suportes e a exploração da relação arte-cidade no ambiente urbano", conforme refere no website Lakka.

As duas performances que terão lugar na Gulbenkian de Lisboa constituem duas etapas complementares de um mesmo projecto: 

"O corpo é a mídia da dança?" (desenvolvido entre 2005 e 2006 no FID-Fórum Internacional de Dança)

+

"Outras partes" (dando continuidade, em 2006/2007, no programa Rumos Dança, ao processo iniciado no FID)

Em um mundo cada vez mais informatizado, quais são as possibilidades de construção do que podemos entender como Dança? Qual é o suporte possível para a Dança? O Corpo do intérprete pode ser entendido como um suporte assim como o computador, um material gráfico ou um telefone? Qual Dança épossível? Em que corpo/suporte, em que Mídia?

Perguntas com respostas nos próximos dias 22 de Junho (quarta-feira, às 21h30) e 23 de Junho (quinta-feira, às 19h)... Guarde já o seu lugar na bilheteira on-line!

reescrever a história: chegou a vez de... LYGIA PAPE!

Publicado24 Mai 2011

Etiquetas artes performativas artes visuais brasil lygia pape

 

Hoje, às 20h de Madrid, foi inaugurada no Museo Reina Sofia a tão aguardada retrospectiva de uma das mais importantes artistas da contemporaneidade: a genial, brasileira, LYGIA PAPE (Nova Friburgo, 1927 - Rio de Janeiro, 2004). 

A mostra abriu simbólicamente com a realização da performance que a artista apresentou pela primeira vez no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ainda em 1968, intitulada "Divisor" (na foto), com a qual pretendia levar a cabo um trabalho colectivo que não dependesse exclusivamente da sua presença. Pape convidou cada observador a colocar a sua cabeça nos orifícios existentes num enorme tecido branco, que assim ligava todos os participantes como se fizessem parte de um corpo único, apenas se distinguindo/dividindo pelas cabeças que assomavam em cada abertura. Mas esta estratégia de apropriação criativa do espaço público (e da vida urbana) é apenas um dos muitos fios condutores de uma exposição que promete reavaliar internacionalmente um percurso ainda pouco conhecido fora do Brasil.

"LYGIA PAPE, Espacio Imantado" reúne cerca de 250 obras, entre pinturas, relevos, xilografias e performances, apresentadas através de objetos, vídeos e fotografias, assim como uma abundante produção cinematográfica, cartazes de filmes, poemas, colagens e documentos, que estarão expostos até 3 de Outubro de 2011. (continuar a ler sobre a exposição no Museo Reina Sofia, aqui)

E para saber mais sobre a Lygia Pape:

Projecto Lygia Pape (Associação Cultural organizada ainda em vida pela própria artista)

Enciclopédia Artes Visuais (Itaú Cultural) 

Lygia Pape (primeira exposição individual em Portugal, na Galeria Canvas, Porto, 1999; na qual a própria Lygia montou uma "Tteia" de canto)

Lygia Pape em "Um Oceano Inteiro para Nadar" (Culturgest, Lisboa, 2000; tendo sido adquirida a obra "Banquete Tupinambá", do mesmo ano, para a Colecção da CGD)

Lygia Pape (mostra antológica no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, 2000)

"Lygia Pape. But I Fly" (exposição individual póstuma, na Galeria Graça Brandão, Lisboa, 2008)

Lygia Pape, 'Tteia I, C' (Bienal de Veneza, 2009)

Excerto do artigo publicado no jornal Expresso em Novembro de 2000, a propósito da exposição da artista em Serralves (na sequência da primeira individual na Canvas, em 1999, na qual foi possível testemunhar a montagem de uma 'Ttéia' de canto pela própria Lygia Pape):

LYGIA PAPE desde cedo integraria o Grupo Frente através de Ivan Serpa, com quem estudara, situando-se na dissidência carioca do Movimento Concreto brasileiro ao lado de outros artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica.

A sua obra inicial, das «Pinturas» aos «Relevos» realizados entre 1954/56, ensaiou primeiro o questionamento do suporte bidimensional, dissecando as relações sintáticas entre linha, forma e cor na obra pictórica, para partir à conquista do espaço aberto, animado pelos ritmos que sugerem a progressão da construção geométrica e pela flutuação dos motivos num campo alargado, sugerido para além das margens do plano pictórico.

Essa pesquisa centrada nos limites da pintura, e paralela às propostas de Oiticica e Clark, levaria Pape em direcção ao espaço real, não restrito ao carácter físico da obra em si, mas intervencionado de modo a constituir a parte de um ambiente específico, capaz de promover uma experiência sensorial plena e interactiva junto do espectador.

Deixa-se a tela, o muro, para ganhar o carácter multifacetado da vida. Recusa-se o exclusivo visual em favor da fruição multisensorial, promovendo o observador a agente activo, potenciador dos sentidos e significados últimos da obra de arte. Dos «Poemas Luz» e «Poemas Objectos», de finais dos anos 50, aos seus «Livros» - da Criação, da Arquitectura, do Tempo, já na viragem dos anos 60, é toda uma componente escultórica que se reforça, possibilitando o manuseamento do objecto, aliada à invenção de um léxico sem palavras. São formas e cores a conjugar pelo espectador-participante.

Outros trabalhos, como «Divisor» e «Ovo», ambos de 68, figuram como adereços expectantes, dependentes da acção humana para a sua efectivação. Outrora funcionaram como albergues de bailarinos ou músicos de samba, habitados em contextos performáticos de que agora apenas temos o registo documental como memória. Feitos de tecidos ou malhas tornadas membranas, cascas elásticas e frágeis vocacionadas para o envolvimento corporal total, não deixam de lembrar o vestuário para sambar de Oiticica («Parangolés»), as suas construções abertas a todas as sensorialidades («Penetráveis») ou mesmo os abrigos sinestésicos de Clark («Ninhos» e «Cosmococas»). A membrana que assim se resolve em divisões relativas e translúcidas remete ainda para as várias «Tteias» que Pape realizou já na década de 90, atestando uma inventividade inesgotável e a extrema coerência de uma obra desenvolvida ao longo de 50 anos de actividade.

A exposição permite ainda conhecer as suas incursões no domínio da dança e do cinema, apresentando os sólidos geométricos que pontuaram o espaço cénico dos seus «Ballets Neoconcretos» (1958/59) e integrando no ciclo de cinema brasileiro algumas das filmagens realizadas pela artista nas décadas de 60 e 70, dando expressão à riqueza transdisciplinar das suas propostas. Lúcia Marques

HUASIPICHAY: artistas do Equador

Publicado20 Mai 2011

Etiquetas artes visuais brasil equador huasipichay

Artistas do Equador (na foto, no segundo dia de montagem em São Paulo, Brasil), para ver aqui.

Huasipichay é uma festa, um encontro, um convite. No mundo andino, o termo (etimologicamente Huasi- casa, Pichay- varrer, ou limpar) é utilizado para celebrar uma abertura: a inauguração e limpeza de uma casa após um processo comunitário ou mutirão.
Uma casa é um lugar de confluência. A unidade básica da cidade, o átomo urbano e também um refúgio pessoal que pode ser compartilhado.
Neste projeto, o conceito de Huasipichay foi adotado como o detonador para um processo de colaboração entre os participantes, a partir de seus universos pessoais. Além disso funciona como método de inter relação pelo qual os diferentes entornos individuais se cruzam e se contaminam. Neste cruzamento se produzem leituras socio-culturais provenientes de duas latitudes diferentes: Uma na altura dos Andes e outra, quase ao nível do oceano Atlântico.

Mais sobre o projecto HUASIPICHAY, por aqui.

E que mais há de imperdível em JUNHO?

ACHILLE MBEMBE no Centre for Creative Arts (University of KwaZulu-Natal)

Em Junho, esperamos que se junte a nós logo no dia 16 (quinta-feira), às 17h00, na inauguração das intervenções propostas para o JARDIM da Gulbenkian pelos artistas Bárbara Assis Pacheco (Portugal), Délio Jasse (Angola), Isaías Correa (Chile), Kboco (Brasil), Nandipha Mntambo (África do Sul), Rachel Korman (Brasil), e o colectivo Raqs Media (Índia).

No dia seguinte, 17 de Junho (sexta-feira), às 09h30, terá início a segunda parte das LIÇÕES do Próximo Futuro (2011), reunindo investigadores, poetas e professores de diversas geografias (Brasil, Camarões, EUA e Portugal), em torno de reflexões sobre “Democracia e a Ética do Mutualismo” (a partir da “experiência Sul-africana”), “Qual o futuro próximo da Poesia?”, “As grandes incertezas da historiografia africanista” e “Produção, utilização e partilha do conhecimento na economia global”.

Alguns links (complementares às respectivas bios no Jornal) para conhecer os conferencistas de dia 17 de Junho:

Achille Mbembe (Camarões)

What is a postcolonial thinking?

Donors have a simple notion of development

The invention of Johannesburg

Eucanaã Ferraz (Brasil)

Não saberia dizer a hora…

Entrevista

Errática

Margarida Chagas Lopes (Portugal)

Entrevista Antena 1

Desemprego e Interioridade

Principais actividades e trabalhos em Economia da Educação e da Formação

Ralph Austen (EUA)

The Department of History

Trans-Saharan Africa in World History

Postcolonial African Literature

PAULO REIS (1960-2011): curador, crítico de arte, jornalista, professor, cozinheiro, amigo para sempre

Publicado26 Abr 2011

Etiquetas américa latina antónio pinto ribeiro brasil paulo reis

 

Quem viu não esqueceu: Um Oceano Inteiro para Nadar, título significativo de uma exposição que em Maio de 2000 inaugurou na Culturgest de Lisboa, reunindo trabalhos de artistas brasileiros e portugueses contemporâneos, sob a curadoria de Paulo Reis e Ruth Rosengarten. 
Havia de facto todo um enorme "Oceano" a separar Portugal e o Brasil, como ainda hoje há, apesar de tudo. Mas nesse ano de viragem de século e (também por isso) de importantes revisões históricas, foi possível conhecer por cá, pela primeira vez com uma amplitude cronológica expressiva e sistematizada, uma selecção de nomes fundamentais da produção artística brasileira contemporânea. Paulo Reis, que ao longo da década de 90 se destacou como jornalista cultural no Jornal do Brasil e assessor cultural do Museu da República do Rio de Janeiro, tinha vindo a Portugal pela primeira vez em 1998, a convite de António Pinto Ribeiro (nessa altura, director artístico da Culturgest), dar uma conferência sobre as artes na América Latina. E foi o início de Um Oceano Inteiro para Nadar...
Vi e escrevi sobre a exposição no jornal Expresso, onde era colaboradora, marcada pelo cruzamento inédito dessas autorias, num espaço tornado de encontro e de reconhecimento também entre os dois curadores dessa mostra (que até então não se conheciam e, ainda assim, aceitaram trabalhar em equipa para nos dar uma visão desses dois lados do Atlântico). Mas só tive o privilégio de conhecer pessoalmente o Paulo quando me acolheu numa primeira visita ao Brasil, em Abril de 2003. A sua disponibilidade para me mostrar o Rio de Janeiro foi total, levando-me pelos espaços e principais instituições, apresentando-me aos artistas, aos seus amigos de todo o lado, deixando-me entrar assim, no seu mundo pessoal e profissional, onde aprender, conhecer, partilhar eram uma mesma atitude de vida, uma celebração do humanismo que não devemos abandonar. Numa entrevista dessa altura, realizada a propósito da primeira individual do histórico artista brasileiro Nelson Leirner em Portugal (Culturgest do Porto, 2003), disse-nos: "meu ideal de conhecimento é o homem da Renascença, que conjugava todos os conhecimentos existentes em uma mesma pessoa. (...) Não entendo uma pessoa que não tenha interesse em filosofia, religião, cultura, não percebo qual é o papel desta pessoa diante da humanidade. Lembro-me das palavras de Leonardo Da Vinci, que homem não é uma construção física apenas, que veio ao mundo para encher sanitas, mas deixar um legado à humanidade. É o mesmo princípio que Beuys falava que todo o homem é um artista." E deu-nos o seu próprio "retrato falado": "Minha formação foi muito especial, estudei em colégio religioso, onde tive acesso à filosofia, à teologia, ao conhecimento aprofundado das ciências humanas. Estudei Comunicação Social e Filosofia, fiz dois mestrados em História da Arte, estou sempre complementando meus conhecimentos em Estética, História, Sociologia, Antropologia. Essas cadeiras estão inseridas em meu quotidiano, uso-as de forma orgânica. Esse real interesse por outras áreas, que me possibilitou que abrissem meus horizontes, é meu mecanismo de percepção do mundo. Então respondo sua pergunta dizendo que não há possibilidade do homem contemporâneo longe de uma múltipla faceta." 
Paulo Reis preparava então um seminário de História e Crítica de Arte com a intenção de "aproximar Brasil de Portugal e da Espanha e apoiar a divulgação e circulação de ideias sobre a arte contemporânea internacional", seminário esse que, com muito esforço e sacrifício pessoal devido à dificuldade de apoios, conseguiu realizar no Rio de Janeiro em Setembro de 2004. Chamou-lhe sintomaticamente Brasil-Portugal: uma ponte para o futuro e reuniu os principais curadores e críticos de arte, directores de instituições culturais e artísticas de Portugal, artistas e demais agentes culturais portugueses, de tal modo que, meio a brincar, meio a sério, se distribuíram os convidados em diferentes aviões, para que "se algo desse errado" Portugal não ficasse "desfalcado de cabeças pensantes". Foi nesse fórum que Paulo conheceu o crítico de arte espanhol David Barro, cuja tese publicada lera antes, e com quem viria a aprofundar a triangulação Brasil-Portugal-Espanha através de várias iniciativas. Desde a curadoria da Chocolatería - Espaço de Experimentação (em Santiago de Compostela, Espanha) até à co-criação e co-direcção da revista de arte contemporânea Dardo(publicada em português, espanhol e inglês), passando pela exposição-livro Parangolé: Brasil/Portugal/Espanha, entre muitas outras mostras e textos produzidos e difundidos em estreita cumplicidade profissional e generosa amizade. Já em 2009, viria a montar em Lisboa, cidade que adoptou como sua (depois do Rio de Janeiro), juntamente com outros dois amigos - o curador lusoinglês Lourenço Egreja e a artista e produtora brasileira Rachel Korman -, o seu projecto de sonho, concretizando o seu lema de vida: Carpe Diem-Arte e Pesquisa.
Paulo era assim, trabalhava com a seriedade de um profissional "até ao tutano", demonstrando sem complexos o carinho que tinha pelas mais diversas pessoas que o rodeavam e assumindo orgulhosamente as suas amizades incondicionais. Jornalista e filósofo de formação, curador em todos os momentos (no sentido "daquele que cuida" dos outros), crítico de arte por inquietação criativa genuína, professor com profunda "missão" laica (muito para além das aulas dadas em universidades e museus), cozinheiro pela alegria do convívio com os amigos e família, a quem dava tudo o que podia. Hoje lembro o Paulo, não esquecendo como ele gostava de celebrar a alegria da vida, que para ele se confundia necessariamente com a partilha do conhecimento. Eis palavras suas nessa entrevista de 2003, que lamentavelmente continuam tão actuais: "Sinto falta de um diálogo maior entre as instituições culturais portuguesas e brasileiras. E não adianta esperar a nível de ministérios, eles estão muito ocupados em fazer burocracia. Tem que haver um interesse entre as grandes instituições do Porto e Lisboa com o Rio e São Paulo. Falo em cooperação, em fechar uma grelha de exposições conjuntamente, por exemplo: uma boa exposição de um artista português deve ser feita em parceria com uma instituição brasileira e vice-versa, garantindo a circulação de ideias. Ao ministérios da cultura, de ambos países, caberia apoiar financeiramente e aliviar os entraves burocráticos, mas nunca eles serem agentes de divulgação, não dá certo. Cabe às instituições. Assim que penso. Sinto falta do Brasil olhar mais para Portugal e não ficar preso à cafonice do mercado francês, com exposições de surrealismo, Rodin, essas coisas que ninguém tem mais pachorra; ou ao mercado lógico norte-americano, com instituições picaretas, mandando umas porcarias de exposições tipo Andy Warhol e Keith Haring, cobrando uma "pipa de massa", como vocês dizem aqui. Não que estes artistas não sejam importantes, mas as mostras que chegam ao Brasil, francamente, são uns fracassos! Mas é o pensamento, tipo, "lá só tem macacos, qualquer coisa serve!" Chega disso. Espero que esta entrevista, que sei que não agradará a todos, ajude a compreender melhor o que estamos tentando fazer, que é quebrar o ranço modernista e re-aproximar duas culturas que podem crescer mutuamente, e que por laços históricos e linguísticos serão sempre inseparáveis, quer queiramos quer não." Paulo Reis, querido amigo, um profundo agradecimento pela tua existência.

Lisboa, 25 de Abril 2011

Lúcia Marques, com os contribu tos de António Pinto Ribeiro

(Texto publicado hoje no Público)

PAULO REIS, "carpe diem"

Publicado23 Abr 2011

Etiquetas américa do sul brasil carpe diem dardo paulo reis

PAULO REIS (Maragogipe/Bahia, 09.11.1960 - Lisboa, 23.04.2011) [foto: Ding Musa]

O Curador e Crítico de Artes Visuais Paulo Reis residente em Portugal faleceu hoje às 18:30h no Hospital Egas Moniz. Com uma formação em Comunicação Social e História de Arte era professor de teorias de arte e de estética em várias universidades. Nos últimos anos tinha uma actividade intensa de curadoria internacional tendo sido responsável por muitas exposições em diversos países da Europa e América Latina.

Paulo Reis veio a Portugal pela primeira vez em 1998 para participar num Colóquio sobre as Artes na América do Sul. Em 2000 foi curador com Ruth Rosengarten da Exposição “UM OCEANO INTEIRO PARA NADAR” de artistas portugueses e brasileiros realizada na Culturgest. Foi uma exposição histórica pelo ineditismo e pelo impacto que teve a partir de então nas relações culturais e artísticas entre o Brasil e Portugal.

Paulo Reis tornou-se a partir de então um verdadeiro “embaixador cultural” entre os artistas e os curadores destes dois países e a sua afeição por Portugal levou-o a passar longas temporadas neste país, a que se seguiu, a partir de 2005, passar a residir em Lisboa.

Foi o criador do CARPE DIEM - Arte e Pesquisa, instituição vocacionada para a produção e realização de exposições e fórum artístico internacional, instalado no Palácio do Marquês de Pombal na Rua do Século, na capital lisboeta. Foi co-fundador e co-director da revista Dardo, juntamente com David Barro, promovendo uma série de iniciativas relacionadas com a triangulação Brasil-Portugal-Espanha.

Era uma pessoa de uma invulgar generosidade e de uma atenção e cuidado particular para com artistas de cujas causas era um militante inconformado.

ANTÓNIO PINTO RIBEIRO

Brasil, África, Europa: TERCEIRAS METADES pelo mundo fora

É hoje que arranca a mais recente e ambiciosa iniciativa programática do MAM-Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Brasil), intitulada TERCEIRA METADE porque “se desenha no espaço geográfico e mental do Atlântico, em especial na triangulação Brasil, África e Europa”, tal como explicam os respectivos curadores Luiz Camillo Osório (director do MAM) e Marta Mestre (recentemente integrada na equipa curatorial do MAM após estágio INOV-Art como curadora assistente naquela instituição).

O programa multidisciplinar decorrerá de 17 de Fevereiro a 17 de Abril de 2011 e articula uma exposição, um seminário internacional, uma mostra de cinema, o lançamento de um livro e um site, dedicados às “mudanças culturais que acontecem no mundo contemporâneo, em especial entre as três margens deste eixo geográfico” (Brasil, África e Europa).

Assim, a abertura da TERCEIRA METADE acontecerá hoje mesmo às 19 horas locais (Rio de Janeiro) com a inauguração de uma mostra de trabalhos especialmente produzidos no âmbito deste projecto, relacionados com a arquitectura do museu e realizados num “diálogo a três” por parte dos artistas Manuel Caeiro (nascido em Évora, Portugal, em 1975 e actualmente a viver entre Lisboa e o Rio de Janeiro), Yonamine (nascido em Luanda, Angola, em 1975, e actualmente a viver em Lisboa e em Luanda) e Tatiana Blass (nascida em São Paulo, Brasil, em 1979, onde continua a viver).

[Manuel Caeiro]

O Seminário é gratuito – apenas implicando pré-inscrição no website do MAM –, com tradução simultânea (pt/ing) e terá lugar na Cinemateca do museu nos dias 29 e 30 de Março. Propõe-se debater “as relações, as formas de representação e a circulação da economia da cultura no eixo geográfico Brasil, África e Europa” e conta com “a presença de curadores, pesquisadores, economistas, artistas, antropólogos, escritores”, dos quais se destacam Célestin Monga (“camaronês economista do Banco Mundial em Washington”), Roberto Conduru (“historiador de arte brasileiro”), Paul Goodwin (“curador da Tate Britain de Londres”), Adélia Borges (“curadora da Bienal Brasileira de Design 2010”) e António Pinto Ribeiro (“ensaísta e programador da Fundação Calouste Gulbenkian”).

Ainda na última semana de Março realizar-se-á uma mostra de cinema com curadoria da pesquisadora e realizadora Michelle Sales, abordando questões como: “De que forma o cinema ‘olha’ para os ‘olhares’ entre Brasil, África e Europa? Qual o estado do cinema atual, neste eixo geográfico?”, seguindo-se a edição de um livro bilingue (pt/ing) “com todas as ações do projecto TERCEIRA METADE”, para além do respectivo website.

“Terceira Metade” é também o título do último livro da trilogia “Os Filhos de Próspero” do inagualável escritor, cineasta, artista plástico e antropólogo, Ruy Duarte de Carvalho (nasceu em 1941 em Portugal, naturalizou-se angolano em 1975 e morreu na Namíbia em 2010): o primeiro que categorizou explicitamente como um romance, procurando “tratar literariamente, em língua portuguesa e através de um certa ficção, questões comuns a todos os tempos e ao mundo inteiro” (segundo palavras do autor aqui). E aqui um diário de viagem particularmente cúmplice, com o intuito de “problematizar o processo de ocidentalização do mundo e os seus efeitos, com enfoque no espaço atlântico”.

Ora termina precisamente hoje, 17 de Fevereiro, a homenagem póstuma que lhe dedicou em Angola a associação cultural Chá de Caxinde. Que vivam (e revivam) as terceiras metades pelo mundo fora.

Lúcia Marques

“Espaços Independentes” no Brasil

Publicado3 Fev 2011

Etiquetas américa do sul brasil

E no Brasil, com apoio do programa “Conexão Artes Visuais” (uma iniciativa do Ministério da Cultura Brasileiro com o financiamento da Petrobras), saiu um livro dedicado aos “Espaços Independentes” em torno da grande questão: “como manter um espaço de arte independente”, ou seja “que não esteja necessariamente ligado ao poder público ou a instituições privadas”. É possível folheá-lo aqui e, se passar em São Paulo pelas Edições397/Ateliê 397, pode mesmo levar o seu exemplar gratuito. A publicação contempla cinco estudos de caso brasileiros – Ateliê 397 (São Paulo), Arquipélago (Florianópolis), Branco do Olho (Recife), Atelier Subterrânea (Porto Alegre) e Barracão Maravilha (Rio de Janeiro) –,  e inclui um mapa de diversos espaços independentes localizados no país.

LM

“Melhor Assim”: CARLITO CARVALHOSA traz mais luz para o centro da cidade de São Paulo

Publicado25 Jan 2011

Etiquetas américa do sul artes visuais brasil carlito carvalhosa

Comemora-se hoje, dia 25 de Janeiro, o aniversário dos 457 anos da Cidade de São Paulo, no Brasil, e não muito longe daquele que é considerado o “marco zero” da sua fundação (o Pátio do Colégio), o “centro” da cidade, ainda é possível ver a mais recente instalação do artista brasileiro Carlito Carvalhosa, intitulada “Melhor Assim” (2010) e que ocupa todo o espaço cultural SOSO+ (integrado no antigo Hotel Central, projectado por Ramos de Azevedo) situado em plena Avenida São João. “Soso” significa 'fagulha/faísca” em quicongo (uma das línguas nacionais de Angola) e, em São Paulo, com a implementação da galeria Soso em Fevereiro de 2009 – da qual derivou um ano e meio depois o espaço cultural SOSO+ (também propriedade do empresário angolano Mário Almeida), que começou por acolher o projecto “3PONTES” da Trienal de Luanda –, já é sinónimo de espaço dedicado à arte contemporânea e símbolo da revitalização recente do centro paulistano a partir de uma das suas principais artérias. Por isso, “Melhor Assim” é particularmente eficaz enquanto intervenção artística destinada a provocar novas relações entre o espaço arquitectónico e os seus transeuntes, reconfigurando radicalmente, através da luz (que nos permite ver, mas que também nos pode cegar), o próprio espaço SOSO+: nele encontram-se agora colocadas no chão, tecto e paredes, cerca de 330 lâmpadas de 40 watts (mais de 10.000 de potência), criando um ambiente que busca outras formas de percepção sensorial e que, portanto, aprofunda anteriores pesquisas do artista (como a levada a cabo na exposição “Soma dos Dias”, patente ao público na Pinacoteca de São Paulo durante a última Bienal de Artes desta cidade).

Com curadoria de Daniel Rangel (diretor dos Museu do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, que já havia trabalhado com Carlito Carvalhosa na dinamização do Palácio da Aclamação, em Salvador), “Melhor Assim” marca também o arranque do programa “Conexão+”. Trata-se de uma iniciativa programática concebida por Rangel em parceria com Fernando Alvim (artista, autor da Trienal de Luanda e Vice-Presidente da Fundação Sindika Dokolo) e Mário Almeida, que resulta do entendimento do SOSO+ como um lugar “voltado para a experimentação”, onde os “sites-specifics surgem como resultados de um processo criativo contínuo, de pesquisa e montagem”, no sentido de ampliar a proposta inicial deste espaço cultural enquanto “ponto de encontro e diálogo entre o que há de melhor na produção atual de artes visuais do Brasil e de países africanos”. Carlito Carvalhosa soma e segue com a sua luz e em breve será o primeiro artista brasileiro a intervir no átrio do MoMA de Nova Iorque.

Lúcia Marques

FENDAS de Bechara no MAM do Rio de Janeiro

Publicado21 Jan 2011

Etiquetas américa do sul artes visuais brasil josé bechara

São os últimos dias, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, da mais recente exposição “Fendas” do artista brasileiro José Bechara, que em Junho de 2009 participou no Próximo Futuro com a instalação de um dos seus projectos de maior fôlego: “A Casa”.

No MAM, sob curadoria de Luiz Camillo Osorio, Bechara apresenta até este próximo domingo – 23 de Janeiro – uma antologia de trabalhos que atravessa a sua obra pictórica até à ao domínio da escultura, em íntima relação com a arquitectura de cada lugar. Nesse último dia da exposição, “serão promovidos laboratórios experimentais de respostas poéticas com som, corpo, texto e desenho” (pelo Núcleo Experimental de Educação e Arte) a partir de uma conversa com o artista sobre o seu processo de criação. Haverá também a apresentação especial de Vera Terra com uma “Performance para um piano de brinquedo de John Cage”, contando ainda com as participações da actriz Andreza Bittencourt, do músico Leonardo Stefano, dos artistas visuais Anita Sobar e Leonardo Campos e da pesquisadora Madalena Vaz Pinto.

Lúcia Marques

Um outro Brasil via Phill Niblock, numa passagem memorável por Portugal

Publicado20 Jan 2011

Etiquetas brasil phil niblock


Para quem não teve a (rara) oportunidade de ver o trabalho documental que Phill Niblock realizou a partir de uma breve estadia pela Bahia no início da década de 80, aqui fica um pequeno excerto do surpreendente “Brasil’84” que, no sábado passado, foi mostrado pelo próprio na galeria ZDB, em Lisboa.

Phill Niblock (n. 1933, Indiana, EUA) é sobejamente reconhecido pelo percurso artístico interdisciplinar e marcadamente experimental que tem desenvolvido no último meio século, dedicando-se de modo particular a pesquisas em torno de frequências contínuas e manipuladas. As suas peças exploram muitas vezes na longa duração combinações de sons e imagens capazes de gerar ambientes intermedia propositadamente disruptivos, tal como aconteceu no referido concerto na ZDB, onde a mostra de “Brasil’84”, sonorizada ao vivo, foi antecedida por outras experimentações de Niblock, e que serviram de pano de fundo à performance do lendário poeta Gerd Stern, com edição vídeo de Katherine Liberovskaya.

Neste seu breve mas marcante regresso a Portugal, Niblock não só presidiu uma vez mais ao júri da Bolsa Ernesto de Sousa (que criou em 1992, já enquanto director da Intermedia Foundation, após contacto próximo com o pioneiro do experimentalismo multimedia em Portugal), como também deu um concerto na Culturgest do Porto (comissariado por “filho único”) e ainda voltou a Lisboa a tempo de apresentar outro filme, desta vez inserido na programação do Oporto, numa iniciativa do artista Alexandre Estrela em colaboração com o colectivo Barbara Says (António Gomes e Cláudia Castelo). Obrigada Phill pela energia contagiante e surpreendente pesquisa nos intervalos (dos sons) das imagens.

Lúcia Marques

Parte do Rio tenta tocar sua rotina no domingo decisivo

Publicado29 Nov 2010

Etiquetas américa do sul brasil rio de janeiro

Miriam Leitão, na edição online do Jornal Globo de 28 de Novembro

Na orla da Zona Sul  tudo parece quase normal. É o que verifiquei na minha caminhada por Leblon, Ipanema, Copacabana num domingo que começou com sol, às vezes nubla, depois o sol volta. O assunto das atenções é um só: o Alemão.

Ontem fui dormir quando já era hoje. A uma da manhã. Os meninos do @vozdacomunidade avisavam no tuiter que se ouvia no Alemão " muitoooo tiro". Acordei às seis. No Globo Online e no Voz a informação era que a invasão não tinha começado. Demorei um pouco a sair de casa, mas às sete e meia já estava na praia, naquele comecinho do Leblon onde está a estátua do Zózimo. Saudade do Zózimo. "Nada mais será surpresa para esta coluna", pensei, lembrando dele.

Mas havia uma surpresa. Pensei que a praia estaria vazia e estava na maior agitação com um grupo de corredores preparados, de camiseta igual e aquela estrutura dos eventos esportivos. Agrupavam-se, aqueciam-se, animavam-se sob o comando do som. Resolvi ouvir minha música, escolhi internacional.

O dia está lindo, aberto, mar azul. Passei por uma criança branca com sua babá negra. Depois por uma criança e mãe negras. Perto da água vi pouca gente ainda, brancos e negros se misturando. Mas há muito perdi a ingenuidade e sei das partições dessa suposta democracia das praias.

Na orla caminho passando pelos corredores a minutos da largada. Sempre quis correr. Não sei. Ando rápido, apenas. Cruzo com uma moça simpática que me diz coisas de aquecer o coração sobre o meu trabalho, ando mais rápida, animada. O lixeiro me dá um sorriso de alegrar ainda mais a vida. Retribuo.

A largada começa. Eu ando rápida na parte da calçada onde ficam os andadores, crianças com suas babás, velhinhos com suas artrites, turistas e apenas caminhadores como eu. Os corredores ficam na pista que nos dias normais é dos carros. As bicicletas dividem a pista delas com os skates. Tudo normal demais para um dia tão anormal. "Nos vamos estar sempre juntos" canta a música no meu ouvido.

Tem um pouco menos de gente do que o normal, mas os corredores tratam de suprir a falta dos faltantes. E são tantos, aglomerados ali no caminho do Arpoador que desisto de ir até o fim. Viro, atravesso, passo perto do Fasano, e entro pela rua lateral no caminho de Copacabana. Na esquina entre Joaquim Nabuco e Nossa Senhora de Copacabana uma aglomeração olha fixo para dentro de uma farmácia. É a TV ligada na Globonews contando que tudo pode começar a qualquer momento. Vou para a Avenida Artlântica retomar a caminhada. Esbarro sem querer num velhinho atravessando a rua, peço desculpas. E retorno recebo um carinho no braço e um sorriso encantadores Na orla mais corredores. Eles nunca se cansam?  Resolvo ficar do lado de cá a avenida, na calçada dos prédios.

-Bom Dia! Diz enfático um porteiro do prédio

Velhos sentam nos bancos, bebês e babás passam. Jovens desfilam sua beleza a caminho do mar. Eu apresso o passo para compensar o cuidado nas travessias das ruas, Na Figueiredo de Magalhães, quase perto do Posto 3, decido entrar em Copabana atrás de um taxi. Outro grupo em frente a um bar, um já com cerveja pouco antes das nove. Todos olhos vidrados para dentro do bar: na TV a manchete: Começou a invasão do Alemão.

Peguei o terceiro taxi que passou. Sorte. Ele estava com a TV ligada na Globo, Márcio Gomes dando as últimas notícias e o motorista completa.

-Lá tá muito cheio de gente, mas as ruas estão mais vazias do que o normal.

- Mas voce tem ido "lá"?

-Estou lá o tempo todo. Estou com um grupo de jornalistas de Porto Alegre, da Zero Hora. Ontem fiquei lá o dia inteiro. O que a imprensa chama de tiroteio, eu chamo de tiro a esmo. Quando o helicóptero passa eles atiram. A comunidade está muito tensa. Com medo né? Natural. Eu deixei os jornalistas lá cedinho. Agora vim aqui para comprar um remédio para minha esposa e voltar para lá. Só te peguei porque a farmácia abre `as dez. A gente tem esperança, mas é difícil. Muito cheio de ruela lá, os bandidos é que conhecem o terreno.

Pergunto que se ele já viveu algum episódio de violência. Levou tiros há quatro anos. Estava conversando com policiais e bandidos passaram atirando. Ele recebeu um na tíbia, outro no abdomen. Mas se salvou.

-Não fiquei com sequelas, mas as cicatrizes são feias. Chato, por que eu não tinha marca nenhuma.

 O telefone dele toca. Mais um do grupo do Zero Hora que não tinha ido e quer ir para o Alemão, ele conta.

Ruas mais vazias na subida da Gávea. Chego em casa, abro o computador no Globo e a notícia é que a Polícia tomou o Alemão.

Na sexta feira passei pelo maior sufoco no aeroporto de Belo Horizonte tentando voltar para o Rio. Voo cancelado, depois tempo fechado e por cinco horas lutei para chegar. Quando desembarquei tuitei:

_Cheguei ao Rio, ufa!

Foi um tal de gente curtir com a minha cara: "Devia dizer, saí do Rio, ufa!" ou "Saia enquanto é tempo". Um pergunta por que moro aqui.

Os tuites me surpreenderam. Ora, por que moro aqui? Bom, não me passa pela cabeça sair.

Fico por tudo isso que contei acima. Porque escolhi. Porque tudo aqui é intenso e familiar, bonito e aflitivo, complexo e promissor. 

Nina Simone no meu ouvido canta: "Oh senhor, não me deixe ser mal compreendida" (oh Lord, don't let me be misunderstood". É isso. A mensagem não tem como ser confundida: fico por amor, e amor não se discute, nem se explica.

Desta vez pode ser diferente: a cidade está ligada ao Alemão

Publicado29 Nov 2010

Etiquetas américa do sul brasil rio de janeiro

Miriam Leitão, na edição online do Jornal Globo, de 27 de Novembro

Quem mora no Rio já viu várias vezes as autoridades dizendo que acabariam com o tráfico, ou o Exército sendo chamado e ocupando espaços, ou passeatas pedindo paz. Desta vez há várias coisas diferentes no ar. Vamos fazer um balanço aqui, até para fortalecer nossa esperança nesse momento difícil. Estamos mais conectados nesta cidade. Em todos os sentidos. A imprensa nunca chegou tão perto mostrando uma operação. Normalmente tudo se passava longe das câmeras e olhos dos repórteres. No fim a Polícia dava a versão dela que prevalecia. Depois um ou outro jornalista conseguia ouvir os moradores e as versões frequentemente eram diferentes. Desta vez a imprensa está lá. Pode ver, contar, e mostrar que é o nosso papel. O que possibilita isso em parte é o que veio acontecendo nos últimos anos no jornalismo e nas políticas públicas.

As UPPs quando libertam uma área da cidade abre alas para a imprensa. Até alguns anos atrás o jornalismo do Rio parecia cobrir bolhas, partes da cidade, em outras nem se entrava. Para entrar era preciso negociar com o tráfico. E isso era inaceitável. Outra forma era entrar com ONGs que trabalham nas favelas. Já fui a vários lugares com o Afroreggae e o Centro de Democratização da Informática. Hoje os jornalistas entram e saem de várias favelas ocupadas pelas UPPs. Isso ajuda a cobrir não apenas os momentos de tensão, mas o dia a dia, o cotidiano, a vida como ela é. E aí as favelas aparecem de forma diferente dos estigmas e estereótipos. A internet amplia enormemente a capacidade de comunicação e de ligação entre moradores de uma mesma cidade, dos bairros de classe média ou dos ricos, aos bairros chamados comunidades, onde ficam pobres .

Há iniciativas incríveis como a do jovem René que fez um jornalzinho no Alemão desde os 11 anos. Hoje ele tem 17 anos e o jornal tem 5.000 exemplares, tem anúncios do comércio local, ele é conhecido. O Voz da Comunidade é um sucesso impresso, na internet e agora no tuiter. O perfil @vozdacomunidade tinha ontem de manhã 180 seguidores, agora em que escrevo tem quase 2.000. Isso em um dia. O engraçado é que René @Rene_Silva_RJ que agora está com 3.000 seguidores diz no seu perfil que quer ser jornalista. Você já é menino, você já é. Continue mandando seus tuites, notas, fazendo seu jornal, e cresça. Sua torcida é grande, você construiu sua própria audiência.

Desta vez há mais apoio dos moradores à ação das forças de segurança. Tomara que dure e que a Polícia faça por merecer essa confiança. Há riscos, todos sabemos. Riscos de ser só mais um espetáculo, de que a parte podre da Polícia acabe tomando o terreno para si, outra chaga das várias que temos aqui no Rio. Riscos imensos de que um inocente seja atingido nessa guerra, por isso não basta superioridade numérica, equipamentos, união de forças, o estado precisa ter sempre estratégia e bom senso. Hoje há quem possa mediar. O Junior do AfroReggae não começou nisso ontem. Ele faz há anos negociação em áreas de conflitos. É experiente e respeitado. Foi chamado lá por traficantes, por moradores. Há mediadores treinados da própria Polícia. O que vai acontecer nas próximas horas no Alemão ninguém sabe. O local é imenso. Várias comunidades que foram crescendo e um dia se misturaram. Tempos atrás fui lá com os meninos do AfroReggae para fazer uma gravação. A ideia era o Junior ir para a redação do Globo e eu para o Alemão. Fizemos isso. Foi um dia em que aprendi muito andando, conversando, gravando em cima de uma laje onde se descortinava aquele mar de favelas. Vi jovens com fuzis, tão jovens, tão jovens! Subimos pelas ruelas, passei por local de vendas de drogas. E vi os trabalhadores indo para as obras do PAC. O poder público estava lá nas obras do PAC, mas não estava inteiro. Tanto que as obras de melhoria conviviam com o que não deveriam conviver. Hoje a Polícia e as Forças Armadas estão lá, nas bordas do imenso Complexo do Alemão. O que acontecerá esta noite? É um momento decisivo. Hoje a cidade está mais unida do que jamais esteve, pela internet, pelos avanços da política de segurança, pelos mesmos sonhos. Hoje todos os olhos - e nossos corações - estão no Alemão. O momento é dificil e riscos existem, mas nunca tivemos tanta esperança de que o país avance na direção que se quer: a de não haver territórios onde o poder público não possa entrar.

Eucanãa Ferraz

Publicado3 Nov 2010

Etiquetas américa do sul brasil eucanãa ferraz poesia

água-forte

À beira de você, toda a paisagem

se resume a isto: nenhuma urgência

que seu rosto brilhe, mas ele arde

como se quisesse compensar em luz

o seu silêncio. Gastaria a vida assim,

à orla do céu que reflecte

na água quieta que rola no intervalo

entre nós. Demoro-me aqui,

à roda desse engano,

dessa infinitamente triste alegria.

E quanto mais me sinto afogar,

mais permaneço,

se o amador a nadar para fora

prefere morrer na coisa amada.

In, Cinemateca, Cia das Letras

Cartas a um jovem economista

Publicado27 Set 2010

Etiquetas américa do sul brasil gustavo h. b. franco

É preciso ter uma cultura imensa e generalista, conhecer o enorme prazer que é comunicar e ser entendido e, sobretudo, ter o talento de ser pedagogo assim, naturalmente, aparentemente sem esforço, para poder ter escrito "Cartas a um jovem economista". Este livro, que acaba de ser editado no Brasil, da autoria de Gustavo H.B. Franco faz parte de uma colecção da editora Campus chamada "Cartas a um jovem..." e é claramente inspirada em obras em que autores mais "velhos" escrevem sobre a sua profissão ou ocupação a interlocutores mais jovens da mesma profissão. Das mais conhecidas e mais importantes para a História da Poesia são "As cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke"; mas há também as cartas de James Joyce, de Mario Vargas Llosa, etc..

As cartas a um jovem economista - dez no total -  de Gustavo Franco são uma combinação rara de lições sobre História da Economia, a função do economista na sociedade contemporânea, a cultura da economia e o testemunho emocionado, resultado da experiência que foi ter sido um protagonista da grande revolução financeira brasileira que foi a invenção do Plano Real. Neste aspecto quase se poderia dizer que o autor consegue expôr um pathos da economia.

A  primeira das cartas - Nosso assunto, o almoço - dá o tom a todo o livro e é desde o início cativante pelo estilo e pela clareza da exposição. Começando por se dirigir ao interlocutor - será sempre um jovem recém licenciado em economia - por Prezado, termo que aparecendo como fórmula antiga, quase fora de moda, revela desde logo um respeito, um tratamento que se quer de igual para igual e respeituosa. Depois, todo o resto da carta decorre num espírito de descoberta socrática, evocando a história, citando autores das mais diversas disciplinas e introduzindo sempre um humor elegante e cheio de oportunidade. Como  a propósito da necessidade de o economista ser fluente em inglês: "Devemos transformar o inglês no latim do mundo inteiro. Renda-se logo ao mundo globalizado e resolva de vez esse assunto - e, quanto mais cedo, melhor. É como colocar aparelho nos dentes, será um tormento se você deixar para consertar depois de velho" (p.27).

As cartas decorrem de uma forte experiência autobiográfica, intensa e repleta de múltiplas actividades e cargos. Mas algo ressalta ao longo de todo o livro: uma enorme paixão pelo acto de ensinar. Do início ao fim do livro o historiador, o economista, o consultor, o ex-director do Banco Central do Brasil é antes de tudo o mais, o professor universitário, uma vocação e um talento. Provas? Muitas. Mas esta basta: " O fato é que o economista possui em seu DNA uma interessante mistura de intelectual engajado, formador de opinião, reformador, evangelizador e pregador -que pode ser do gênero estridente, militante ou manso, pouco importa - que encontra uma síntese na sublime figura do professor. E é nesta figura que vejo o uso mais nobre do economista, a função que revela a melhor face desse profissional" (p. 22). 

O ex-presidente do Banco Central do Brasil (1993-1999) relata ao longo de várias cartas o que foi o processo da criação do Plano Real de que foi um dos autores. São textos preciosos para entender a História do Brasil Contemporâneo, não só da sua economia e finanças, mas das mudanças estruturais da sociedade, da relação da política e dos políticos com a economia e os economistas, da relação do Brasil com o Mundo, dos economistas no poder com a universidade e a teoria. São capítulos escritos com o discernimento da razão e a paixão de ter participado em tão grande e histórica aventura. Finalmente e neste registo de estímulo à intervenção do economista no mundo, o livro acaba com um email enviado a um ex-orientado de tese entretanto falecido quando se iniciava no estudo em Políticas Sociais. É um autêntico manifesto do melhor que a Economia pode dar ao mundo.

apr

Nuno Ramos

Publicado27 Set 2010

Etiquetas américa do sul brasil nuno ramos

Nuno Ramos é um artista plástico de uma qualidade ímpar. Tem neste momento várias exposições, das quais uma no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e outra na Bienal de S. Paulo. Mas ele é também um excelente escritor conhecido para um público mais vasto - incluindo os leitores portugueses - através da obra "Ó", publicada em Portugal pela Cotovia. Encontrámos um dos seus primeiros livros datado de 2001. Chama-se O Pão do Corvo.

E diz:

Contra a Luz

Aqui a terra aguenta nosso peso e nos dá caranguejos. Queremos voltar para a terra, para dentro da terra, mas acima de nós o céu permanece, escapando à ponta das árvores secas. Aqui só o vento é que fica, balançando a bolha ignóbil de luz, de que temos nojo. Aqui temos nojo da luz.

APR

29ª Bienal de S. Paulo

Publicado24 Set 2010

Etiquetas américa do sul bienal de s. paulo brasil s. paulo

Jacobo Borges - Imagen de Caracas

Depois da última Bienal que ficará conhecida como a Bienal do "vazio", polémica, mas muito frustante para a maioria dos participantes, eram muitas as expectativas desta Bienal. Tanto mais que depois da reflexão supostamente provocada pela 28ª, esta deveria anunciar algo de novo no universo das artes visuais, no sistema, no mercado, na produção. E os responsáveis conseguiram. A Bienal é da responsabilidade dos curadores Moacir dos Anjos (foi  membro do conselho científico do Estado do Mundo em 2006/07) e Agnaldo Farias, e tem como autora da concepção do espaço (brilhante!) a arquitecta Marta Bogéa. O tema da Bienal são dois versos retirados do poema Invenção do Orfeu de Jorge de Lima: "há sempre um copo de mar para um homem navegar".

Gil Vicente - Autoretrato III – matando Elizabeth II

O pressuposto fundamental desta bienal é o de que é impossível separar a arte da política. E isto é notório não só na escolha das peças, mas no carácter de intervenção político da própria Bienal para o qual contribui um programa de debate intenso ao longo dos meses em que a mesma estará aberta (25 de Setembro a 12 de Dezembro). Algo que desde o início confirma o carácter político da Bienal é a ponte estabelecida entre as obras de intervenção da década de sessenta e de setenta e a actualidade. De facto, nada acontece sem História.

apr

Hino Nacional Brasileiro (cont.)

Publicado24 Set 2010

Etiquetas américa do sul brasil

O Hino Nacional Brasileiro tem letra de Joaquim Osório Duque Estrada e música originariamente composta para banda de Francisco Manuel da Silva. Antes de ser escolhido como Hino Nacional era cantado pelo povo em ritmo de marcha triunfal. E há uma versão tupi cantada por várias tribos índias:

1ª Parte


Embeyba Ypiranga sui, pitúua,
Ocendu kirimbáua sacemossú
Cuaracy picirungára, cendyua,
Retama yuakaupé, berabussú.
Cepy quá iauessáua sui ramé,
Itayiuá irumo, iraporepy,
Mumutara sáua, ne pyá upé,
I manossáua oiko iané cepy.
Iassalssú ndê,
Oh moetéua
Auê, Auê !
Brasil ker pi upé, cuaracyáua,
Caissú í saarússáua sui ouié,
Marecê, ne yuakaupé, poranga.
Ocenipuca Curussa iepé !
Turussú reikô, ara rupí, teen,
Ndê poranga, i santáua, ticikyié
Ndê cury quá mbaé-ussú omeen.
Yby moetéua,
Ndê remundú,
Reikô Brasil,
Ndê, iyaissú !
Mira quá yuy sui sy catú,
Ndê, ixaissú, Brasil!

2ª Parte

Ienotyua catú pupé reicô,
Memê, paráteapú, quá ara upé,
Ndê recendy, potyr America sui.
I Cuaracy omucendy iané !
Inti orecó purangáua pyré
Ndê nhu soryssára omeen potyra pyré,
ìCicué pyré orecó iané caaussúî.
Iané cicué, ìndê pyá upé, saissú pyréî.
Iassalsú ndê,
Oh moetéua
Auê, Auê !
Brasil, ndê pana iacy-tatá-uára
Toicô rangáua quá caissú retê,
I quá-pana iakyra-tauá tonhee
Cuire catuana, ieorobiára kuecê.
Supí tacape repuama remé
Ne mira apgáua omaramunhã,
Iamoetê ndê, inti iacekyé.
Yby moetéua,
Ndê remundú,
Reicô Brasil,
Ndê, iyaissú !
Mira quá yuy sui sy catú,
Ndê, ixaissú,
Brasil!


O Hino Nacional Brasileiro

Publicado24 Set 2010

Etiquetas américa do sul brasil

Vale a pena ouvir com muita atenção o Hino Nacional do Brasil. Sim, o Hino Nacional. Geralmente os hinos nacionais, que são símbolos das nações, são na maioria dos casos, guerreiros, apelando à luta, à guerra; versajam sobre sangue, balas, canhões, às vezes até vingança. Em muitos dos casos porque são sequenciais às independências conquistadas pelos países. No caso dos hinos criados entre meados do século XVIII e princípios do século XX eles têm uma tonalidade romântica e guerreira própria do nacionalismo da época. Agora ouça-se e leia-se o hino do Brasil e veja-se da delicadeza dos versos, do carácter panteísta, de uma apologia ecológica avant la lettre, da exaltação das qualidades e das virtudes humanas e da alegria a transbordar das estrofes....

Parte I
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança a terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Parte II
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida",
“Nossa vida" no teu seio "mais amores".
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça à clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

O Hino Nacional Brasileiro tem letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870 - 1927) e música de Francisco Manuel da Silva (1795 - 1865).

Ouça o Hino Nacional Brasileiro.

Fervilhar!

Publicado24 Set 2010

Etiquetas brasil s. paulo

Fervilhar! Era uma metáfora que nunca tinha entendido quando aplicada a uma realidade social, até este fim de semana, quando S. Paulo se preparava para a inauguração da 29ª Bienal de Artes. Sim, a realidade fervilhava, como um magma de conversas, inaugurações, exposições, edições de livros, mesas de refeições em várias línguas, várias etnias, várias viagens nos bairros de S. Paulo. Eram, são centenas de exposições a inaugurarem a abertura da Bienal, colóquios, encontros... tudo isto no meio de uma campanha para a eleição do próximo Presidente da República do Brasil. Sim, S. Paulo fervilhava!

apr

Talking about Brazil with Lilia

Publicado18 Ago 2010

Etiquetas brasil lilia schwarcz robert darnton

Interessantíssima conversa de Robert Darnton e Lilia Schwarcz, aqui. Ou já aqui em baixo.

On a recent trip to Brazil, I struck up a conversation with Lilia Moritz Schwarcz, one of Brazil’s finest historians and anthropologists. The talk turned to the two subjects she has studied most—racism and national identity.

I first visited Brazil in 1989, when hyperinflation had nearly paralyzed the economy, favelas erupted in shoot-outs, and Lula, a hero of the union movement but still unsure of himself as a politician, was undertaking his first campaign for the presidency. I found it all fascinating and frightening. On my second trip, a few years later, I met Lilia and her husband, Luiz Schwarcz, who was beginning to build the company he had founded, Companhia das Letras, into one of the finest publishing houses in Latin America. They treated me to a day so packed with Braziliana that I remember it as one of the happiest experiences of my life: in the morning a stroll with their children through São Paulo’s main park, where families of all shades of color were picnicking and playing in dazzling sunlight; lunch, a tour of Brazilian specialties undreamt of in my culinary philosophy (but no pig’s ears or tails, it not being feijoada day); an international soccer match (Brazil beat Venezuela, and the stands exploded with joy); then countless caipirinhas and a cabaret-concert by Caetano Veloso at his most lyrical and politically provocative.

Since then I have never stopped marveling at the energy and originality of Brazilian culture. But I don’t pretend to understand it, all the more so as it is constantly changing, and I can’t speak Portuguese. I can only ask questions in English and strain to grasp the answers. Has the myth of Brazil as a “sleeping giant” turned into a self-fulfilling prophecy? “He has awoken,” people say today. The economy is booming, health services expanding, literacy improving. There are also prophecies of doom, because Brazil’s economic history looks like cycles of boom and bust imposed on centuries of slavery and pauperization. Still, Lula is completing a second and final term as president. Whatever Brazilians may think of his newly assertive foreign policy, which includes cultivating friendly relations with Iran (most of them don’t seem to be interested in it), they generally agree that he has managed the economy well and has done a great deal to improve the lot of the poor. Lula’s term will end in October, and he has thrown his support behind Dilma Rousseff, his former chief of staff, whose chances of winning are much bolstered by Lula’s own popularity. The first debate of the new presidential campaign, which took place on August 5, was a dignified affair—an indication, I was told, that democracy is healthy and the days of military coups are over. Now foreigners are asking new questions about the character of this new great power. I directed some of the FAQs at Lilia.

Robert Darnton: Brazil’s emergence as a major world player provokes questions about its national identity, some of them hostile, such as the one you said you encountered on your last trip to the US: How can you live in a country overrun with favelas and violence? How do you answer them?

Lilia Moritz Schwarcz: It is strange how nowadays Brazil has a new image coming from abroad. We used to be seen as “exotics”; a country of Capoeira (a Brazilian form of martial art), Candomblé (a syncretic African religion), Carnaval, and the “Mulatas.” Now we continue to be viewed as exotic, but the exoticism has a new ingredient: violence, even a new aesthetics of violence, mainly in the way Brazil is portrayed in contemporary films, like City of God. The fascination with favelas among many people outside Brazil is ambiguous. On the one hand, favelas are seen as violent communities, subject to violent leaders outside the authority of the state. On the other, they are just “different”—scenes of a culture outside the dominant culture, with its own special way of partying, dancing, playing soccer. We do not have favelas everywhere, but foreigners like to think so. We have developed a new kind of tourism, which features a “favela tour.” Everything is fake, but the tourists enjoy the illusion that they are experiencing another world. And what about you Bob? Are you afraid of walking in some parts of New York City? Is Harlem a kind of favela?

RD: Yes, like many New Yorkers, I have moments of fear when I get off the subway at the wrong station or wander too far from 125th Street. But when I visit Brazil, I like to think I am in a country that is coping successfully with its history of racism. Could Brazil evolve into a multi-nuanced mestizo society like the one imagined by the Brazilian sociologist Gilberto Freyre?

LMS: Let me first ask you Bob, do you think of Obama as a “black President”? I am asking this question, because in Brazil the definition of color depends on the context, the moment and the temperament of the person who asks the question and responds to it.

RD: Ask any American, ask Obama himself, the answer will certainly be that he is black. In the US, despite the many varieties of skin color, we do not have a multi-nuanced notion of race. You are black or you are white or you are something not closely linked to color such as Chinese, Hispanic.

LMS: In Brazil, you are what you describe yourself to be. Officially we have five different colors—black, white, yellow, indigenous, and pardo (meaning “brown,” “brownish,” or “gray-brown”), but in reality, as research has demonstrated, we have more than 130 colors. Brazilians like to describe their spectrum of colors as a rainbow and we also think that color is a flexible way of categorizing people. For several years, I have been studying a soccer game called “Pretos X Brancos” (Blacks against whites), which takes place in a favela of São Paulo, called Heliópolis. In theory, it pits eleven white players against eleven black players. But, every year they change colors like they change socks or shirts—one year a player will choose to play for one team, the next year for the other, with the explanation that, “I feel more black,” or “I feel more white.” Also, in Brazil, if a person gets rich, he gets whiter. I recently talked with a dentist in Minas Gerais. As he is becoming old, his hair has turned white, and he is very well recognized in his little town. He started smoking cigars, joined the local Rotary Club, and said to me: “When I was black my life was really difficult.” So one can see how being white even nowadays is a powerful symbol. Here we have two sides of the same picture: on the one hand, identity is flexible; on the other hand, whiteness is ultimately what some people aspire to. But one aspect is common, the idea that you can manipulate your color and race.

RD: Does that mean you are d eveloping a less poisonous kind of racism in Brazil?

LMS: I think all kinds of racism are equally terrible. I am just saying that the Brazilian kind is different. For example, in 2000 we completed a survey research project that consisted of three seemingly simple questions: Are you prejudiced in any way? 97 percent of those surveyed answered no. Do you know anyone who is prejudiced? 99 percent answered yes. If you had said yes to the second question, you were asked to describe the relationship you have with this person. We did not ask for names, but people often gave them, naming friends and relatives. We concluded that every Brazilian thinks he is an island of racial democracy surrounded by an ocean of racism. But things are changing: Although affirmative action did not begin until the 1980, it is now pretty effective, and we have a quota and bonus system in the universities (the system benefits mainly poor people who studied in public schools, and, consequently, black people). African history is mandatory in the schools. We are coming to understand the complexity of racial prejudice rather than denying its existence.

RD: I suppose then that foreigners cannot take Black Orpheus as a measure of racial attitudes in Brazil, but how do you deal with other elements that go into the stereotypical notion of Brazilian identity? Is Brazilian popular culture all about samba and soccer?

LMS: That is the most common image of our country, and it was, in a way, actually an artificial construct created by Getúlio Varga, the populist president, of the 1930s. He “nationalized,” so to speak, Capoeira, Candomblé, samba and soccer. He even construed “feijoada” (a food derived from slave cooking) as a symbol of Brazil. The white of the rice, he said, stood for the white population. The black of the beans represented the Africans. The red of the pepper corresponded to the indigenous people. The yellow of the manioc symbolized the Japanese and Chinese who had poured into the country in the beginning of the twentieth century. And the green of the vegetables was the forest. You could call it political marketing, but it was very clever, and today we see Brazil as a country of one culture, even though we have many different subcultures. Could you say that about the United States?

RD: We talk about the melting pot, but we don’t all believe in it; and if anything melted in it, it was not feijoada.

Robert Darnton is Carl H. Pforzheimer University Professor at Harvard. His most recent book is The Devil in the Holy Water, or the Art of Slander from Louis XIV to Napoleon.

Lilia Moritz Schwarcz, a professor of anthropology at the University of São Paulo, is known in the United States as the author of The Spectacle of the Races: Scientists, Institutions, and the Race Question in Brazil, 1870-1930 (English edition, 1999) and The Emperor’s Beard: Dom Pedro II and the Tropical Monarchy of Brazil (2004).

August 17, 2010 1:15 p.m.

Rio de Janeiro

Publicado11 Ago 2010

Etiquetas américa do sul brasil carlos drummond de andrade

Fios nervos riscos faíscas.

As côres nascem e morrem

com um impudor violento.

Onde meu vermelho? Virou cinza.

Passou a bôa! Peço a palavra!

Meus amigo todos estão satisfeitos

com a vida dos outros.

Fútil as sorveterias...

Nas praias nú nú nú nú nú.

Tú tú tú tú  tú no meu coracao.

do livro de estreia de Carlos Drummond de Andrade

"Alguma poesia"

João do Rio

 

João do Rio é pseudónimo de João Paulo Alberto Coelho Barreto (1881-1921) escritor carioca que cultivou a crónica jornalística do Brasil Republicano e, muito em especial, da então capital Rio de Janeiro. Em a Alma Encantadora das Ruas reunião de textos publicados na imprensa carioca entre 1904 e 1907 ele percorre as ruas do rio para reter a "cosmópolis num caleidoscópio". Esta selecção tem agora uma segunda edição muito cuidada e com um prefácio erudito como é - felizmente - comum nos textos do apresentador e organizador Raúl Antelo.

Três aspectos são notórios nestas crónicas: um grande amor à cidade que faz destas crónicas cartas de apreço à cidade e aos cidadãos de todas as classes sociais, um olhar atento aos detalhes , aos pormenores das ruas e das pessoas e que o autor diz traduzir a condição 'janeleira' do Rio - "O carioca vive à janela" -, e, finalmente o carácter de flânneur na mesma postura de Baudelaire o artista na cidade.

O conjunto dos textos começa pela afirmação "Eu amo a rua." E, depois seguem-se vinte e oito crónicas que tanto podem constituir uma visita panorâmica à cidade e à sua época como são de uma actualidade imprevista. O texto sobre tatuagens, a origem destas, as técnicas, a dimensão simbólica e as implicações do uso das mesmas na vida passional de quem as usa é um manual de utilização do tatoo nos dias de hoje.

João do Rio, A Alma encantadora das ruas, Organização de Raúl Antelo, Companhia de Bolso, São Paulo 2008

Ó de Nuno Ramos

Publicado31 Mar 2010

Etiquetas américa do sul brasil nuno ramos

"Ó" de Nuno  Ramos é um livro que se poderia integrar num género raro da Literatura, chamemos-lhe de Literatura Física cujo iniciador no século XX terá sido Paul Valéry com Mr Teste.

Quase sempre começo pelo rosto. Há uma cavidade em sua bochecha onde minha mão encaixa perfeitamente, um côncavo e convexo milimétrico, suave, que pressupõe o acordo prévio (mas este não me interessa) entre sua cabeça e meu ombro. Sou capaz de trocar um dedo por este gesto, e me lanço a ele imediatamente, tentando encurtar o 'bom dia', ou 'você pagou a conta da luz?, ou 'vamos sair hoje à noite?' com que ela me recebe. p.48

É uma obra que absorveu Parménides, Novalis e Herberto Hélder e os remixou:

que é que fica  quando não sei dizer se o dia justo coube inteiro no meu gesto, quando a solidão compartilhada - a borra de um café - é quase suficiente e posso respirar os postes em sua luz clara, aquelas janelas assombradas, a rua soturna entrando pela minha blusa (incêndio vermelho) p.95

É um livro-transe:

Não há corpo que me prenda. Não há pena que me cubra. Não me machucam as mãos não saber nada delas. Não me machucam as mãos ter um estoque de palmas - e de pés e de pâncreas. Não posso transplantar meus órgãos, embora tenha tantos sobrando. faria dinheiro com isso. tenho sete retinas no bolso, duas plantas em cada pé. Lanço do viaduto o infinito intestino. Atiro no chapéu do mendigo o anel de um cu antigo e deixo afundar no asfalto uma de minhas testas. p.175

Há que lê-lo.

apr

II Conferência Nacional de Cultura. Brasília


Decorre nestes dias em Brasília a II Conferência Nacional de Cultura. Esta organização faz parte de um processo iniciado pelo presidente Lula de Silva daquilo que se pode designar por participação dos cidadãos. Com tudo o que de ambíguo e de perverso este tipo de iniciativas pode ter, elas têm o condão de mostrar a participação de muitos brasileiros que, porventura, não teriam outra oportunidade para o fazer. Durante mais de um ano 200.000 brasileiros em centenas de munícipios participaram em reuniões com o propósito de agendarem os temas desta Conferência a par de fazerem propostas de legislação sobre os assuntos mais variados: do orçamento de cada Estado para a Cultura à eleição de delegados índios no orgão representativo, quer desta Conferência , quer do Conselho Nacional de Cultura.
Agora são cerca de 2.800 delgados eleitos durante os processo de preparação da Conferência que aqui estão presentes para discutir uma agenda intensa de propostas e de problemas do sector. Há ainda observadores, especialistas de temas especificos, autarcas, professores, investigadores, provenientes de todo o Brasil: das grandes cidades às vilas mais recônditas que tenham mais de 15.000 habitantes. Uma destas delegadas tinha feito 12 horas de auttocarro para apanhar o avião em S. Luís do Maranhão para chegar dois dias depois a Brasília.
É muito impressionante a mobilização de todas estas pessoas embora, claro, nem tudo seja pacífico e politicamente desinteressado. A este propósito, na abertura feita pelo presidente Lula e pelo actual ministro da Cultura, Juca Ferreira, foram dados números que esclarecem a realidade brasileira e ao mesmo tempo as respostas do governo a alguns destes problemas. No Brasil, só 5% da população entrou pelo menos uma vez num museu, 13% da população vai ao cinema apenas uma vez por mês, existem pouco mais de 700 livrarias em todo o pais, etc...Contudo há outros números e decisões que são particularmente positivos. O orçamento para a Cultura do Governo Federal é de 1% e a proposta do próximo orçamento é que ele passe a ser de 1, 5%, uma das cinco áreas que os rendimentos astronómicos das explorações dos novos furos de petróleo vai contemplar é a Cultura, e o "vale cultura", dispositivo de financimento de famílias mais carenciadas para consumirem cultura, beneficia 14 milhões de brasileiros. E depois há outros instrumentos de apoio à criação cultural, a maioria destes destinadas a pequenas comunidades e a minorias étnicas ou de género.
Claro que o facto da campanha para as eleições já ter começado informalmente não será alheio a alguns anúncios, muitos deles de contornos algo populistas, como a exaltação da "cultura popular" contra os intelectuais solitários. Ainda assim, a avaliação dos participantes nesta conferência sobre a política cultural dos governos do presidente Lula era globalmente positiva.
Ver mais, aqui
APR

Conferência Internacional de Cidades Inovadoras 2010

Publicado15 Fev 2010

Etiquetas américa do sul brasil cidades curitiba


Promovida pelo Sistema Fiep, a CICI2010 trará mais de 80 especialistas nacionais e internacionais para debater soluções que promovam a sustentabilidade e a prosperidade econômica e social nas cidades
Entre os dias 10 e 13 de março, Curitiba receberá mais de 80 especialistas de todo o mundo que irão debater caminhos para a construção de realidades urbanas mais inovadoras, prósperas e humanizadas. Uma iniciativa do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI2010) trará experiências de sucesso em planejamento urbano, sustentabilidade, mobilidade, gestão e políticas públicas, entre outras, que transformaram cidades em ambientes propícios ao desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Entre os nomes de peso que participarão da conferência estão Steve Johnson (EUA), autor de seis best-sellers que influenciaram desde ações de planejamento urbano até a luta contra o terrorismo; Pierre Lévy (Canadá), filósofo que estuda o conceito de inteligência colet iva; Marc Giget (França), diretor-fundador do Instituto Europeu de Estratégias Criativas e Inovação; Jaime Lerner (Brasil), arquiteto e urbanista, ex-prefeito de Curitiba; Jeff Olson (EUA), arquiteto e urbanista envolvido em projetos que contemplam espaços verdes e meios de transporte alternativos; Marc Weiss (EUA), presidente do Global Urban Development e líder do projeto Climate Prosperity; Clay Shirk (EUA), professor de Efeitos Econômicos e Sociais das Tecnologias da Internet e de New Media na New York University; e o arquiteto Mitsuru Senda (Japão). A lista completa e o currículo dos palestrantes estão no site www.cici2010.org.br.
Representantes de mais de 50 cidades, de todos os continentes, já confirmaram presença na CICI2010. O evento acontecerá dentro da área de mais de 80 mil metros quadrados do Cietep, sede da Fiep no Jardim Botânico que tem localização estratégica, com acesso fácil e rápido ao Aeroporto Internacional Afonso Pena e a apenas 5 quilômetros do centro de Curitiba. São esperados cerca de 1.500 inscritos, que participarão de uma série de atividades durante os quatro dias da conferência.
“A inovação é o único caminho para construirmos uma sociedade sustentá vel. E para que as empresas brasileiras e todo o País inovem é preciso, antes de tudo, que nossas cidades sejam inovadoras”, afirma o presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures. “A CICI2010 será uma grande oportunidade para que possamos pôr nossas cidades definitivamente na rota da inovação”, acrescenta.
Copromovida pelas prefeituras de Curitiba, Lyon (França), Bengaluru (Índia) e Austin (Estados Unidos) e com apoio institucional das Nações Unidas, a conferência é dirigida a empresários, gestores públicos, pesquisadores, estudantes e interessados em inovação. O evento está dividido em quatro grandes temas: “O reflorescimento das cidades”, com experiências de inovações sociais e tecnológicas para a construção de um novo ambiente urbano; “A reinvenção do governo a partir das cidades”, que trará inovações em gestão e experiências de inovações políticas e da cidade como sistema vivo; “A governança do desenvolvimento nas cidades”, uma mostra de experiências de inovações para o desenvolvimento local e apresentação de experiências de inovações para a sustentabilidade; e “Cidade-rede e redes de cidades”, que servirá para a formação do núcleo da Rede de Cidades Inovadoras.
Paralelamente à CICI2010 serão realizados outros eventos integrados, c omo a Conferência Internacional sobre Redes Sociais, o 1º Encontro Internacional de Cidades de Médio Porte e o 2º Encontro de Governos Locais da Índia, Brasil e África do Sul. E será lançado o projeto “Curitiba, Cidade Inovadora 2030”, que visa transformar a cidade e sua região metropolitana em um espaço propício à inovação, à educação e ao surgimento de uma indústria mais sustentável.
As inscrições para a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras podem ser feitas pelo site www.cici2010.org.br. Até 21 de fevereiro, o pacote completo para acompanhar o evento, com acesso liberado a toda a programação da conferência, tem preço promocional de R$ 440,00. Estudantes têm 50% de desconto. Também é possível adquirir pacotes menores, para acompanhar uma ou mais conferências da noite, onde estarão alguns dos principais palestrantes da CICI2010. O pagamento pode ser feito por cartão de crédito ou depósito bancário.
Saiba mais: http://www.cici2010.org.br/

Literatura febril e paulista

Publicado12 Jan 2010

Etiquetas brasil literatura lourenço mutarelli

O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli (S. Paulo, 1964), é uma obra que parece resultar de uma atitude de escrita automática, sem qualquer instância intermediária que a filtre, componha ou exercite. E, contudo, não é verdade. Esta ilusão estilística provém de um grande treino anterior do escritor, autor de várias obras de relevo de banda desenhada ou, como se diz no Brasil, de livros de quadrinhos. As frases são curtas, sincopadas, marcadas pelo recurso a onomatopeias e onde a função pragmática da linguagem é uma constante. O próprio aspecto gráfico das páginas evoca esse universo da literatura gráfica característico da BD. O Cheiro do Ralo relata o quotidiano do dono e único empregado de balcão de uma loja de penhores num universo urbano, cujos clientes são as figuras dos aflitos que a procuram pelas razões mais diversas. Como particularidade, esta loja tem um ralo (pia) entupido de onde sai um odor nauseabundo, que se intensifica sempre que as situações de tensão vividas pelo protagonista mais evidentes se tornam. É excelente esta metáfora urbana da condição de vida de um abandonado/homem só, cuja rotina diária se faz entre a mal-cheirosa loja, um quiosque de comida rápida e a sua casa, onde adormece fazendo zapping defronte da televisão. O insólito desta narrativa, escrita num ritmo avassalador, possessivo e febril, passa por uma ironia sofisticada, onde a evocação de obras maiores da literatura serve como inserts e os trechos sobre as fantasias sexuais são da autoria de “insuspeitas” personagens. O Cheiro do Ralo – adaptado ao cinema em 2006 - é um dos títulos interessantes da nova literatura brasileira e paulista.
Editora Devir Livraria, S. Paulo, 2002,
Do autor podem ser lidas várias obras de BD, uma das quais – O Rei do Ponto – foi premiada no 11º Festival de BD da Amadora
<input ... ><input ... >