Logótipo Próximo Futuro

A obra de Clarice Lispector pelo seu biógrafo

Publicado13 Jul 2015

Etiquetas clarice lispector Benjamin Moser

Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector, autor de Clarice. Uma Vida (2010, Civilização Editora), publica na New Yorker um texto sobre a escritora. 

In the eighty-five stories that she wrote, Clarice Lispector conjures, first of all, the writer herself. From her earliest story, published when she was nineteen, to the last, found in scratchy fragments after her death, we follow a lifetime of artistic experimentation through a vast range of styles and experiences. This literature is not for everyone: even certain highly literate Brazilians have been baffled by the cult-like fervor she inspires. But for those who instinctively understand her, the love for the person of Clarice Lispector is immediate and inexplicable. Hers is an art that makes us want to know the woman; she is a woman who makes us want to know her art. Through her stories we can trace her artistic life, from adolescent promise through assured maturity to the implosion as she nears—and summons—death.

But something more surprising appears when these stories are at last seen in their entirety, an accomplishment whose significance the author herself cannot have been aware of, for it could only appear retrospectively. This accomplishment lies in the second woman she conjures. Clarice Lispector was a great artist; she was also a middle-class wife and mother. If the portrait of the extraordinary artist is fascinating, so is the portrait of the ordinary housewife, whose life is the subject of her stories. As the artist matures, the housewife, too, grows older. When Lispector is a defiant adolescent filled with a sense of her own potential—artistic, intellectual, sexual—so are the girls in her stories. When, in her own life, marriage and motherhood take the place of precocious childhood, her characters grow up, too. When her marriage fails, when her children leave, these departures appear in her stories. When the author, once so gloriously beautiful, sees her body blemished by wrinkles and fat, her characters see the same decline in theirs; and when she confronts the final unravelling of age and sickness and death, they appear in her fiction as well.

O texto completo em The True Glamour of Clarice Lispector

Do Arpoador...

clarice lispector

A mulher não está sabendo: mas está cumprindo uma coragem. Com a praia vazia nessa hora, ela não tem o exemplo de outros humanos, que transformam a entrada no mar em simples jogo leviano de viver. Lóri está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque é salgado e grande, e isso é uma realização da Natureza. A coragem de Lóri é a de, não se conhecendo,no entanto prosseguir, e agir sem se conhecer exige coragem. 

Vai entrando. A água salgadíssima é de um frio que lhe arrepia e agride em ritual as pernas. 

Mas uma alegria fatal - a alegria é uma fatalidade- já a tomou, embora nem lhe ocorra sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta do seu mais adormecido sono secular. 

E agora está alerta, mesmo sem pensar, como um pescador está alerta sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda - e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido secreto. 

O caminho lento aumenta sua coragem secreta - e de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda! O sal, o iodo, tudo líquido deixam-na por instantes cega, toda escorrendo. Espantada, de pé, fertilizada.

Agora que o corpo todo está molhado e dos cabelos escorre água, agora o frio se transforma em frígido. Avançando, ela abre as águas do mundo pelo meio. Já não precisa de coragem, agora já é antiga no ritual retomado que abandonara há milénios. Abaixa a cabeça dentro do brilho do mar, e retira uma cabeleira que sai escorrendo toda sobre os olhos salgados que ardem. Brinca com a mão na água, pausada, os cabelos ao sol, quase imediatamente já estão se endurecendo de sal. Com a concha das mãos e com a altivez dos que nunca darão explicações, nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheias de água, bebe-a em goles grandes, bons para a saúde de um corpo. 

E era isso que lhe estava faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem.

"Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", Clarice Lispector

"Hora de Clarice"

Publicado15 Mar 2012

Etiquetas clarice lispector josé miguel wisnik literatura

Palestra de José Miguel Wisnik - Clarice LispectorIMS - Instituto Moreira Salles.

Conferência de José Miguel Wisnik sobre Clarice Lispector realizada no dia 10 de dezembro de 2011, no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro. Nesse dia, comemorou-se a data de nascimento da escritora (1920-1977) em uma série de eventos intitulada Hora de Clarice. Ao lado de outras várias instituições, o IMS também prestou sua homenagem na ocasião.

Wisnik é ensaísta, professor de literatura brasileira na USP e compositor e falou no IMS sobre importantes obras da escritora, como Laços de família, A legião estrangeira e A hora da estrela.

Pessoal... e Transmissível

Carlos Vaz Marques conversa com Benjamin Moser, escritor, biógrafo, autor da biografia de Clarice Lispector.