Abertura da FLIP, de Paraty (I)
Publicado15 Jul 2011
A primeira de uma série de breves reportagens sobre a mais recente edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Brasil), pela nossa correspondente em Paraty, Madame de Stael.
Conferência de Abertura... (Antonio Candido, José Miguel Wisnik)
Antonio Candido que foi muito amigo do Oswald de Andrade e 30 anos mais moço decidiu falar como ele era, ao invés de discutir aspectos da obra ou como ele revolucionou a maneira de pensar o Brasil.
Ele cita algumas razões pelas quais sua obra era difícil de ser conhecida naquela época.
E em primeiro lugar vem a sua personalidade extremamente poderosa, concentrando muita atenção sobre si.
Foi grande ativista cultural e sem ele e Mário de andrade o Modernismo Brasileiro não seria o que é.
Ele tinha uma perceção rápida e expressão sintética. Sua produção jornalística é de altíssima qualidade e era tão importante quanto o resto de sua obra.
A segunda razão é que em '36 por exemplo não haviam livros de Oswald publicados. Não haviam editoras e os próprios escritores tinham que custear sua produção, assim falava-se dele sem ter a obra para ler.
E terceira, ele era extremamente sensível a críticas. De temperamento forte, brigava com qualquer um que se atrevesse a falar mal dele. Assim não se escrevia sobre ele.
Porém assim como podia xingar muito alguém, também ao mesmo tempo elogiava o trabalho.
O que ele gostava era de brigar e desbrigar. Não era rancoroso. E vivia rodeado de gente, todos o adoravam.
O único que nunca mais voltou a falar com ele foi o Mário de Andrade e o Oswald sofreu por isso a vida toda. Nevertheless os 2 se admiravam muito.
Por essas razões sua obra ficou na sombra.
Ele queria devorar o mundo, ver tudo e saber de tudo. Tinha extrema mobilidade de opiniões mas extrema constância nas ideias. Sempre foi um inconformado.
Era muito bem educado atencioso, era só não brigar com ele.
Soube usar a arma do riso, que foi uma arma dos modernistas. Acabaram com a seriedade e mostraram que a alta literatura não é incompatível com a brincadeira.
Todo autor que se faz presente demais por sua personalidade, sua receção literária, renasce anos após sua morte. Hoje ele tem uma importância por ainda ser tão contemporâneo e foi muito reconhecido na geração seguinte.
Wisnik ressaltou os aspectos que fazem Oswald um escritor muito contemporâneo especialmente nos dias de hoje.
Os anos de ‘68 foram intensos. Ele – Wisnik – nesse momento com 20 anos entrando na faculdade de filosofia em São Paulo, estava geograficamente no epicentro dos acontecimentos culturais mais marcantes. Essa foi sua formação.
Era o momento dos festivais de música popular, do “teatro oficina”, do tropicalismo. Os movimentos de arte todos estavam interligados: teatro, cinema, poesia, música e artes visuais e o Oswald ressoou em todas essas frentes.
A ideia da antropofagia que ele deu a entender era um modo de ser brasileiro. Mas não era o que pode ser entendido vulgarmente como devoração pela devoração, uma livre associação, e depois se vomita todas as informações... Como às vezes pode ser confundida a antropofagia.
Era sim uma decisão de rigor, com uma exigência de identidade para se criar algo novo e fresco. Com valor de reflexão e também provocação. Num critério seletivo do que é a cultura do Outro e que a nossa cultura se desloque nessa interação com a alteridade.
Por exemplo, no Manifesto Antropófago: se penso deveria ser para entender o Outro (não como Descartes “penso, logo existo”).
É se colocar diante do outro e estar interessado nele : o antropófago.
A cultura brasileira é feita dessa alteridade e na realidade nossa história de colonizado nos dá grande independência de pensamento.
Tomar para si algo do outro: esse é o mito antropofágico.