Inaugura hoje às 18h, no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa, a exposição InSight-s: Uma Instalação Multimédia em três Continentes da artista chilena MAGALY PONCE, produzida por Natércia Caneira com o apoio da Embaixada do Chile em Portugal.
No seu texto sobre esta instalação de Ponce, a directora da Sheldon Art Galleries em Sant Luis (EUA), Olivia Lahs Gonzales, explica:
Magaly Ponce explora a interacção entre a sua vida interior e a sua história pessoal num diálogo com a história das paisagens com que escolhe trabalhar e com o movimento de pessoas nesses cenários. O seu trabalho consiste geralmente de vídeos e instalações multimédia, por sua vez apoiado e reforçado na sua mensagem por meio da utilização de diversas formas de expressão incluindo a projecção, som, escultura, impressão digital, fotografia ou desenho. Nascida em Maria Elena, no Chile, uma cidade mineira de nitratos, situada no deserto de Atacama e que já não existe, as primeiras obras de Ponce versam sobre a complexidade de sentimentos por que passou enquanto crescia sob a influência de uma agressiva ditadura militar e do catolicismo – duas instituições poderosas que contribuíam fortemente para a promoção do medo e da autocensura. Ponce estudou Design Gráfico na Universidade de Valparaíso no Chile, onde ganhou a Bolsa de Vídeo Criatividade da Fundação Rockefeller, MacArthur e Lampadia. Desde que deixou o Chile em 1996 para estudar na Universidade de Syracuse, como bolseira da Fulbright, tem regressado frequentemente a casa para visitar a sua família e reflectir sobre a história de seu país e do seu papel dentro dele.
Deslocação, movimento e as complexas relações que as pessoas estabelecem com as paisagens em que vivem têm sido temas fundamentais nas investigações de Ponce, assim como questões sobre identidade, migração e exploração de recursos, tanto humanos como terrestres. No seu projecto mais recente intitulado InSight-s: Uma Instalação multimédia em três continentes, inspirado no historial baleeiro das zonas costeiras, Ponce que reside há cinco anos em Providance, Rhode Island, USA, concebeu uma exposição multimédia cumulativa que investiga variadas facetas sobre as baleias e sobre a sua exploração por parte dos sistemas económicos. Recriando a teia de ligações entre os baleeiros, baleias e os países que as caçam, Ponce apresenta a sua última exposição em vários locais em que a caça à baleia teve um papel central, incluindo Providence em Rhode Island, Praia em Cabo Verde e finalmente em Lisboa e nos Açores - Portugal.
A exposição reúne o trabalho de dois anos que Ponce desenvolveu com baleias ao largo de Plymouth, Massachusetts, contribuindo para a New England Coastal Wildlife Alliance (NEWCA), uma organização sem fins lucrativos que se dedica a proteger e conservar a fauna marinha, através do estabelecimento de um etograma sobre baleias desenvolvido para facilitar o estudo do comportamento especificamente das baleias Jubarte, e assim contribuir para a sua preservação.
Durante estes anos, ela trabalhou no Humpback Whale Ethogram Project, dirigido pela bióloga marinha Carol Carson, presidente do NECWA e na Faculdade de Biologia do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estatal de Bridgewater. A sua inspiração para realizar InSight-s partiu do seu encontro com Carson na universidade, quando a bióloga lhe perguntou sobre a melhor forma de catalogar e digitalizar as 90 horas de vídeo captados sobre os hábitos desta espécie de baleia para um banco de dados pesquisáveis relativo ao comportamento das baleias. O etograma consistia em documentos fotográficos, mapas de localização geográfica, desenhos e vídeos do comportamento das baleias que então seriam organizadas num banco de dados de pesquisa. Ponce aceitou, juntamente com os seus alunos, participar no projecto e foi convidada a acompanhar a equipa numa missão de observação das baleias. Maravilhada com a sua dimensão e graciosidade, Ponce começou a investigar a história e diáspora da indústria baleeira e cedo se apercebeu que esta pesquisa se poderia tornar num projecto pessoal significativo.
De acordo com Ponce, a luz desempenha um papel importante na exposição, tanto metafórica como fisicamente. Esta serve não só para iluminar as peças da exposição, mas remete-nos também para os tempos em que as baleias eram importantes para a produção da iluminação antes da utilização do petróleo. Em meados do século XIX, o óleo da baleia e o seu impacto económico era provavelmente equivalente à importância que o petróleo assume na economia contemporânea. Em 1850, no auge da caça à baleia, o óleo atingiu o valor máximo de 2,50 dólares por galão. Outro tipo de luz– empregue nos vídeos de imagens em movimento – é igualmente utilizado na exposição, neste caso com o objectivo de chamar o espectador para um envolvimento mais imediato na temática, mas de uma forma mais directa. A filmagem presente na exposição deriva do trabalho acumulado durante o Verão e Outono de 2009 e da Primavera e Verão de 2010, quando Ponce colaborou nas pesquisas desenvolvidas pelo NEWCA. Ao reintegrar vídeos científicos numa abordagem artística, Ponce baseia a sua instalação na realidade vivida, criando assim uma forte declaração sobre o valor e fragilidade destes animais.
Tomadas como um todo, as partes individuais da exposição mergulham o espectador numa experiência poética relativa à interacção entre seres humanos e baleias. Ao envolver o seu público com uma variedade de materiais e técnicas, algumas fundamentadas no presente, outras no passado, algumas na ciência, e outras ligadas ao uso da metáfora artística, Ponce estimula-nos ajudando-nos a entender a sua matéria de investigação sem o fazer de forma dogmática ou com didactismo. O trabalho é eficaz em demonstrar a complexidade destes mamíferos marinhos e do seu historial com os humanos, reforçando o seu poder e mistério oferecendo simultaneamente uma variedade de imagens enriquecidas de poética e conteúdos.
Haverá uma mesa-redonda a 26 de Maio (às 19h, no Museu) e a exposição estará aberta ao público até 31 Julho de 2011.
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Lúcia Marques