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Adonis: Tumba para Nova York

adonis

Acaba de ser publicada, pela Companhia das Letras, a primeira antologia de poemas de Adonis selecionados e traduzidos directamente do árabe por Michel Steiman. Conta com um prefácio esclarecedor da obra de Adónis, da sua biografia e da história da poesia árabe da autoria de Milton Hatoum, conhecido escritor da Amazónia com obra divulgada em Portugal. Adónis é um poeta nascido na Síria em 1930 e considerado um dos mais importantes poetas de língua árabe que inovou a poesia a partir de uma combinação entre os clássicos árabes, a poesia moderna europeia e as teorias literárias do mundo árabe da segunda metade do século XX. É muito popular o seu poema”Tumba para Nova York” escrito em 1971.

 

Amor

Me amam o caminho, a casa

E na casa uma jarra vermelha

Amada pela água.

 

Me amam o vizinho,

o campo, a debulha , o fogo,

 

me amam braços que trabalham

contentes do mundo descontentes

e os arranhões acumulados no peito

exaurido do meu irmão atrás

das espigas, da estação, como rubis

mais rubros que o sangue.

 

Nasci e nasceu comigo o deus do amor

_ que fará o amor quando eu me for?

1957

PORVENTURA, António Cicero

Publicado30 Out 2012

Etiquetas porventura livro antonio cícero brasil poemas

porventura

António Cícero não publicava poesia há dez anos. O último livro chamava-se "A cidade e os Livros" (publicou ensaio entretanto). Acaba de sair um livro notável, "Porventura" é o título. Uma obra evocando permanentemente os autores clássicos helenistas e latinos que ele tão bem conhece e manuseia com a sabedoria de quem tem estes autores como seus convivas.

Dois exemplos:


Desejo

Só o desejo não passa

e só deseja o que passa

e passo meu tempo inteiro

enfrentando um só problema.

ao menos no meu poema

agarrar o passageiro

Diamante

O amor seria fogo ou ar

em movimento, chama ao vento;

 e no entanto é tão duro amar

este amor que o seu elemento

deve ser terra; diamante,

já que dura e fura e tortura

e fica tanto mais brilhante

quanto mais se atrita , e fulgura,

ao que parece, para sempre:

e às vezes volta a ser carvão

a rutilar incandescente

onde é mais funda a escuridão;

e volta indecente esplendor

e loucura e tesão e dor.

[mais António Cícero, aqui]