Jornal
[última edição] Jornal 19: "Zonas de Contacto" (6.23 MB)
Para folhear, clique aqui. (Capa de Daniel Guzmán)
A programação de verão deste ano do Próximo Futuro – que não sendo um festival temático tem ao longo das várias edições apresentado ‘problemas’ nas artes, nas relações sociais e políticas e no domínio da produção contemporânea – destaca como prioritárias duas linhas de atividades e uma experiência inédita no campo da "netarte". (...)
António Pinto Ribeiro, Programador do Programa Gulbenkian Próximo Futuro (2009-2015)
Jornal 18: "Sem mutantes nem conservantes: a Banda Desenhada e o diálogo intercultural" (5.15 MB)
Para folhear, clique aqui.Capa de Francisco Sousa Lobo
"(...) O encontro dedicado à banda desenhada, integrado na edição de 2015 do Próximo Futuro, convida três artistas bem diferentes entre si: Posy Simmonds, Anton Kannemeyer e Marcelo D'Salete. Distintos no que diz respeito à geração, nacionalidade, estilo, tradição e materialidade do seu trabalho, esta será uma pequena constelação que espelha a natureza múltipla e mutante da banda desenhada, um campo artístico cujo crescimento tem sido exponencial nas últimas décadas em todos os aspectos. Este encontro procurará compreender não apenas modos de produção mas também que respostas, diálogos e reflexões ela estabelece com o tecido cultural global (...)." Pedro Moura
Jornal 17: Modernidades, Fotografia Brasileira (1940-1964) (3.58 MB)
"Brasil, início da década de 1940. Com a Segunda Guerra Mundial, o país surgia como opção para milhares de imigrantes. Ao mesmo tempo, vivia um processo de modernização único, que agitou todos os âmbitos da sociedade brasileira. Da política à economia, do quotidiano à cultura, a vida dos brasileiros mudava radicalmente, a reboque de uma industrialização inédita, da migração e imigração em massa, do crescimento das cidades e da consolidação de novos meios de comunicação – a rádio, o cinema, a imprensa ilustrada. O país já tinha passado por um primeiro ciclo de modernização, na viragem do século XIX para o XX, quando grande cidades como São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram mais vibrantes e cosmopolitas. Mas, desta vez, havia algo diferente no ar. A transformação era vertiginosa como nunca, invadia as casas das pessoas e levava-as para dentro do mais importante processo de modernização que o país vira até ali. (...)
O que era, afinal, o moderno neste país que se negava a ser resumido numa fórmula única? A exposição Modernidades: Fotografia Brasileira (1940-1964) pretende rever esses questionamentos até agora pouco explorados, através da análise da formação da fotografia moderna no Brasil, representada por quatro grandes nomes do período: Marcel Gautherot (1910-1996), José Medeiros (1921-1990), Thomaz Farkas (1924-2011) e Hans Gunter Flieg (1923), cujos acervos são conservados pelo Instituto Moreira Salles, em São Paulo e no Rio de Janeiro. (...)"
Jornal 16: "Um homem bom" (7.13 MB)
Para folhear, clique aqui.
Imagem da capa: Gustavo Lacerda
«Precisamos ser instruídos quanto a sermos bons. Frequentemos uma escola da bondade, caso exista alguma; peçamos auxílio aos nossos pais, se forem bondosos como nós almejamos ser; solicitemos assistência especializada de algum sindicato; proponhamos uma emenda constitucional a respeito do tema; agendemos reuniões extraordinárias com algum ministro disponível; façamos greve até sermos atendidos; fiquemos sem comer até conseguirmos ser suficientemente bons.
Porém, se nossos esforços resultarem ineficazes, e não pudermos contar com instrução competente e eficaz, que sejamos forçados à bondade. O uso de cabresto não devemos, de imediato, desconsiderar. Apresentemo-nos, o quanto antes, como obedientes cavalos da benevolência, ainda que isso nos exija, nos primeiros tempos de adestramento, sangrar as gengivas no freio que as aperta, tolerar chicote, gritos e esporas, além de suar o lombo sob a sela e o cavalgante. Saibamos nos conduzir respeitosos às determinações que nos afastarem do excesso em direção à temperança, da agitação em direção à paz, do enraivecimento em direção à serenidade, do ardil em direção à direiteza.
Consultemos os livros em que consta o minucioso registro de nossos atos diários, à procura de episódios de bondade que porventura tenham sido descritos nalguma quase apagada linha ou tímida coluna. Fomos bebês ternos? Vivenciamos uma adolescência amorosa? Como nos conduzimos nos festejos de Natal e Páscoa? E nos almoços de família e reuniões de trabalho da firma, como procedemos? Que pretendíamos nós, ontem, anteontem e durante todos os dias passados, quando deveríamos ter nos comportado com nobreza e exemplo, em lugar da baixeza e da mesquinharia? Que pretendíamos nós, se não sermos exatamente baixos e mesquinhos como fomos, e somar mais um dia desprezível à coleção já imensa dos dias desprezíveis?
Voltemos aos arreios. Pois quando estivermos dóceis, a meio caminho de nos tornarmos bons, seremos levados logo cedo, encilhados, a comer do pasto justo que nos for ofertado, e a beber da água pura onde também nos banharemos. Mas e se a grama, ao fim da refeição, regurgitarmos? E se a água for, da nossa garganta, com violência e repulsa, cuspida? E se pularmos, até os arreios arrebentarem, o que faremos com nossa boca e pelagem novamente livres? Talvez, ao reconhecer a liberdade, venhamos a descobrir, por fim, uma maneira de sermos bons.»
Carlos de Brito e Mello
Jornal 15: Pieter Hugo, Este é o Lugar | This Must Be The Place (3.99 MB)
«Atravessou uma lixeira no Gana. O céu estava baixo e plúmbeo. Penetrou no fumo negro de milhares de pneus de camião e de computadores a arder. Viu pessoas, homens e mulheres, grupos familiares, caretas furtivas, rápidos olhares de lado.
Respirou fundo. Encheu os pulmões. Era este o horror pelo qual ansiava, um assalto aos sentidos e à sua complacência. Perceber tudo isto, penetrar no seu segredo. A lixeira estava ali, à vista de todos, mas ninguém a via ou se apercebia dela, ninguém sabia que ela existia, a não ser os homens de negócios internacionais e os transitários, as ONGs e os residentes. Uma jazida cultural única, cinquenta milhões de toneladas de lixo digital – e ninguém falava no assunto. Concluiu que os maiores segredos são os que estão mesmo à nossa frente, debaixo dos nossos narizes.
O vento trazia o fedor químico das piras a arder. Não se podia fugir dele. Encheu-lhe a boca e agarrou-se-lhe aos pulmões. Sentiu-se num limiar. A coisa era orgânica, sempre em crescimento e em mutação, as suas formas determinadas pelo dia e pela hora. Dali a alguns anos, tomaria conta da cidade e do país. Sentiu uma ferroada de medo. Olhou para todo aquele lixo amontoado e viu o futuro. Ou seria o passado? O começo, antes do princípio do tempo.
Viu uma vaca a sair de uma nuvem de fumo; à frente dele, apenas um imenso cenário de destruição. A vaca deixou de ser apenas uma. Avançaram, lentamente. Ninguém as conduzia ou perseguia, mas aparentavam saber para onde iam. Levaram o tempo que lhes apeteceu. Pareciam ter todo o tempo do mundo.
Começou a fazer as malas. Fazia-se noite. Na lixeira, o anoitecer apanhava-o sempre de surpresa. Aqui, era apenas uma questão de claro e escuro, e não a da passagem do tempo. O tempo era desmesurado; precedia-o e ultrapassava-o. Pegou na máquina fotográfica.»
Stacy Hardy
Jornal 14: "Somos daqueles que limpam os ouvidos" (2.04 MB)
com a chave do Mercedes
e fazem estalar os dedos,
às escuras, nas salas de cinema;
filhos das vindimas e da apanha da azeitona,
homens, quando a noite usa decote.
Somos, hoje, a melhor geração
de cansados profissionais, os mais vendidos autores do acaso.
Treinamos predadores de moscas,
limpamos passados, fígados gordos, rins cheios de diamantes.
Temos as mãos trémulas, é certo,
mas arrumamos,
seguros,
o dominó, no pátio do Alzheimer,
pois é a nós que procura a seta.
De maneira que não adianta muito termos pressa:
um dia, alguém chamará por nós
e nos marcará no peito
o número da sorte
com o ferro quente
com que se conta,
na primavera,
o gado.
[poema inédito de GOLGONA ANGHEL]
Jornal 13: "Lamento dizer-vos, mas somos todos africanos" (4.95 MB)
“Lamento dizer-vos, mas somos todos africanos”, assim iniciava o bispo sul-africano e Prémio Nobel da Paz, Desmond Tutu, a sua intervenção no ano passado, nesta Fundação, a propósito do tema da paz no mundo e do desenvolvimento sustentável. Apesar de o sabermos cientificamente e, pelo menos, desde que o esqueleto da Lucy foi encontrado na região de Hadar, na Etiópia, esta afirmação, assim, crua, a iniciar uma conferência, seguida de uma longa pausa de silêncio, produz uma suspensão do modo habitual e rotineiro com que nós, os europeus, ainda que cultos, ainda que informados, pensamos a nossa arqueologia de sermos. [...] Mas nesta expressão de Desmond Tutu, neste frágil momento de renascimento que é esta curta frase – há algo que pode mudar a perceção, não só de África mas de perspetiva de futuro. E se, num exercício de cidadania universal e de humanismo – do pouco que ainda resta da esperança iluminista na racionalidade – recentrássemos a questão sobre o que pode ser um projeto humanista, um projeto a que lhe possamos chamar projeto Lucy.
Jornal 12: "Ocupações Temporárias - Documentos" (3.04 MB)
Em abril de 2010, a ativista cultural Elisa Santos iniciou, em Maputo, as “Ocupações Temporárias”. Tratou-se de um projeto de cultura artística contemporânea, com uma forte intervenção no espaço público desta cidade. Para esta primeira edição, o problema apresentado aos artistas, para ser exposto na vida quotidiana do Maputo, foi o património arquitetónico. Em 2011, voltou a produzir as “Ocupações”, inaugurando-as no dia em que se assinalavam dez anos sobre o ataque das torres gémeas de Nova Iorque e o tema não podia ser mais explícito: juntar a precaridade, e até a rusticidade das intervenções, ao sentido global de perda de segurança associado ao da perda de liberdade e de cidadania, que caracterizam as nossas sociedades contemporâneas. Em 2012, a terceira edição realizou-se com o patrocínio dos Programas Gulbenkian Próximo Futuro e Ajuda ao Desenvolvimento e traduziu-se na produção de intervenções sob o tema “Estrangeiros”, maioritariamente feitas em espaços estrangeiros na cidade de Maputo, nomeadamente embaixadas e o aeroporto internacional.
Jornal 11: O choque civilizacional é no interior de cada país (2.65 MB)
No recente programa dedicado à situação cultural e geopolítica dos países do norte de Africa, promovido em junho pelo Programa Próximo Futuro, a pensadora argelina Wassyla Tamzali, a propósito da tão proclamada tese de Samuel Huntington, que oporia o Ocidente contra o Oriente num confronto inevitável, dito civilizacional, afirmou «o choque das civilizações não é entre o Ocidente e o Oriente, o choque das civilizações é no interior do meu país, entre o fanatismo e a democracia, entre o islamismo fundamentalista e a racionalidade laica, entre os islamitas e a modernidade. E este choque de civilizações no interior da Argélia é o mesmo que se encontra na Tunísia, no Egito, no Iémen, como o confirmamos nos recentes acontecimentos de perseguição, assassínios, legislação que vai contra os direitos do homem: O mesmo acontece já no Mali e em muitos outros países africanos, onde o fundamentalismo toma o poder, controla a polícia e o exército, os meios de comunicação, as escolas e as universidades. Como foi possível que se tenha passado de uma Primavera Árabe anunciada para uma situação tão perigosa, tão atentória da condição humana?
Jornal 10: Um Verão Árabe (5.51 MB)
É prática habitual que o Jornal do Próximo Futuro, que se publica em maio, para além de cumprir os objetivos de divulgar artistas visuais através da reprodução das suas obras, apresente curtos artigos ou ensaios sobre temáticas relativas aos problemas enunciados no manifesto deste Programa Gulbenkian. No número de abril editámos um conjunto de textos maioritariamente da autoria de escritores e intelectuais desses países, dando assim espaço a uma visão do ’interior‘. Desta vez, a maioria dos textos é de autores que, do exterior, nos dão uma visão ’de fora‘ e da história daquilo que foi a representação ocidental de muitos destes países que os especialistas dos estudos de cultura designaram como ’Orientalismo‘.
Jornal 9: Sentir e acompanhar o 'espírito do tempo'? (4.3 MB)
Quando o Programa Gulbenkian “Próximo Futuro” se iniciou, em 2009, não se imaginava que, apenas três anos depois, assistíssemos a movimentos revolucionários nos países do norte de África e do Médio Oriente. Este sobressalto de rebeldia, de aspiração à liberdade e à democracia abalou não só esses países – com consequências imediatas em termos de alterações de regime – como todo o mundo, chamando a atenção para os povos, os criadores, os agentes políticos daquela região vítima de tanta ignorância e de tantos clichés maioritariamente negativos.
Jornal 8: A representação é sempre de uma época; há que faze-la com provas (4.07 MB)
Aquilo que, por tantos anos, correspondeu a uma terra de utopia – no caso da América do Sul – ou a um continente de medos e de mistério – no caso de África - foi hoje substituído para o primeiro caso como um continente de países ricos e poderosos – no caso da América do Sul - e uma região ora de recursos inesgotáveis, um novo ‘El Dourado’, ora de insolubilidade, no caso de África... Quer isto dizer que não há perceções neutras ou objetivas...
Jornal 7: Próximo Futuro três anos depois (4.49 MB)
Quando, em Janeiro de 2009, iniciámos este Programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea centrado nos países, os criadores,… os artistas, os problemas da América Latina e Caraíbas, de África e da Europa,…não imaginaríamos que, no momento em que escrevemos este editorial, parte desses países estivesse a viver mutações tão profundas com consequências para toda a humanidade…permitiu-nos, a todos, alargar os horizontes e a melhor entender o mundo. E, disto, temos um imenso orgulho.
Encarte da exposição 9º Encontros de Fotografia de Bamako (1.2 MB)
A exposição 9º Encontros de Fotografia de Bamako surge no programa dos encontros de 2009… tentam esboçar e analisar diferentes facetas dessa realidade complexa: a ancoragem e a mobilidade; a persistência das tradições e as mudanças; o espaço público e o espaço privado; o indivíduo e a sua relação com o outro; o inato e o adquirido…- eis o que temos a felicidade de partilhar convosco.
Jornal 6: Artes em alguma África e demorou tanto tempo (2.79 MB)
É sabido que [em África] não há relação direta entre desenvolvimento económico e criação artística e cultural. Contudo, sem mercado e sem financiamentos não é possível a criação artística, a formação e a produção e, nos países onde os mínimos têm acontecido, o resultado é muito positivo…O Programa Gulbenkian Próximo Futuro tem o enorme orgulho de,… fazer parte deste movimento internacional de negociação cultural com África.
Jornal 5: Há um método para ser feliz (990.01 KB)
O quarto workshop de investigação Próximo Futuro foi dedicado à Felicidade… Mas hoje – num mundo bem diferente onde o consumo, por um lado, e a exclusão social ou o crescimento escandaloso dos refugiados ou dos imigrantes expulsos, por outro – é possível que a política tenha um protagonismo que no último século não se tinha considerado como partilhando da possibilidade para se ser feliz.
Jornal 4: Mobilidade e Hospitalidade (3.22 MB)
No caso dos artistas, dos intelectuais e dos trabalhadores da cultura em geral,... [estes] continuam a circular por curiosidade, por necessidade de aprender, de trocar experiências, de colaborar com outros parceiros... Este é um debate importante que vai ocupar os próximos anos, porque nele está implicada a sobrevivência artística, a inovação e a fruição cultural no Próximo Futuro...
Jornal 3: Cidades Independentes (2.96 MB)
Neste ano de 2010, em que dezassete países africanos comemoram 50 anos de independência e cinco países da América Latina decidem festejar o Bicentenário da sua formação como nações, a realização de um workshop de investigação e produção teórica, no âmbito de um Programa Cultural cujo foco principal incide sobre estas regiões geográficas e culturais, reveste-se, pensamos, de toda a pertinência.
Jornal 2: Crise. Qual crise? (1.86 MB)
Crise. Qual crise? Ou, para sermos mais precisos, a qual das crises nos estamos a referir, e a qual delas devemos responder?...Trata-se, sobretudo, de tomar a crise como o momento de mudar de paradigma, sobretudo do paradigma de que as sociedades podem continuar a sustentar-se do consumo. Não podem. Há limites ao consumo, há limites ao mercado e há, sobretudo, limites ao relativismo sobre comportamentos inumanos.
Jornal 1: Próximo Futuro (3.21 MB)
Podemos intervir no futuro, no próximo futuro? Podemos, certamente. Não no sentido de o determinar, moldar, profetizar... Mas sabemos que cada um de nós incidentalmente, ou todo em conjunto… estamos a interferir no futuro… Começamos com a investigação e a produção teórica e daremos a ver a estranheza e a alegria das artes.