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Literatura entre Portugal e o Brasil

Published6 Apr 2015

Tags literatura portugal brasil

Portugal e o Brasil: dois países, dois continentes, uma língua. O que aproxima e afasta estas literaturas? O Público falou com escritores e editores, como Luis Rufatto, Alexandra Lucas Coelho, Gonçalo M. Tavares e Matilde Campilho. 

Cheirava a castanhas, mas já estava calor e havia flores nas árvores. Devia ser Maio. O brasileiro Luiz Ruffato não lembra de cor a data em que se hospedou por um mês num hotel no centro de Lisboa, fora dos circuitos turísticos.

Todas as manhãs apanhava transportes públicos para a periferia e regressava à noite. “Seguia para os bairros onde estavam os brasileiros que foram para Portugal, para empregos pouco qualificados.” Ruffato fora um dos seleccionados para participar no projecto Amores Expressos que financiou viagens de escritores a várias cidades do mundo para escreverem romances sobre o amor, mas o seu projecto era mais alargado: entender melhor o curso da emigração brasileira que tinha três grandes destinos: EUA, Japão e Portugal. A sua personagem, Sérgio – natural de Cataguases, Minas Gerais, como o escritor – iria para Portugal por uma questão de língua e de geografia. Seria o protagonista de Estive em Lisboa e Lembrei de Você (Companhia das Letras) publicado no Brasil em 2009, e um ano depois em Portugal com o título Estive em Lisboa e Lembrei-me de Ti (Quetzal).

Além de sublinhar a fala mineira de Serginho, com todos os seus trejeitos regionais e cambiantes em relação à expressão do português de S. Paulo ou do Rio de Janeiro, o autor, com aquele título, punha a nu involuntariamente mais uma camada do complexo tecido da língua. Apenas por atravessar o Atlântico o português de Portugal “pedia-lhe” uma adaptação, não fosse haver uma barreira ao entendimento. “Falar a mesma língua não é partilhar a mesma cultura”, refere Luiz Ruffato sobre a relação entre as literaturas portuguesa e brasileira, que classifica de “esquisita e preconceituosa”, feita em doses semelhantes de “desprezo e arrogância”. “Eles não crescem apaixonados por nós como nós crescemos apaixonados por eles”, refere por sua vez Valter Hugo Mãe, um dos escritores portugueses que mais sucesso tem actualmente no Brasil.

Artigo de Isabel Lucas: Portugal e o Brasil: orgulho e preconceito entre duas literaturas

"O Império da Visão": uma aproximação à história fotográfica do império português

Published17 Mar 2015

Tags Colonialismo fotografia portugal


O Império da Visão. Fotografia no Contexto Colonial Português (1860-1960), lançado em final de 2014 (Edições 70), organizado por Filipa Lowndes Vicente, investigadora do Instituto de Ciências Sociais, resulta de anos de pesquisas em locais como a Feira da ladra, bibliotecas arquivos e museus. 500 páginas que contam a história do Império português em África, através de fotografias de anónimos, "umas servem a política de conquista e opressão, outras são usadas para denunciar e resistir" (Público), acompanhadas por 28 artigos organizados em quatro grandes capítulos, assinados  por historiadores, antropólogos e biólogos.

O Império da Visão, explica Filipa Vicente, é uma primeira tentativa de reunir uma série de contributos numa área de investigação que, embora tivesse já produzido conhecimento, não estava ainda consolidada: “Não há em Portugal uma genealogia, uma historiografia da fotografia no império. Há, sim, estudos fragmentados. Na Grã-Bretanha este trabalho de olhar para a fotografia como instrumento de poder e de colonização começou a ser feito no início da década de 1990.”

E começou a ser feito, como em Portugal, pelos antropólogos, mais habituados a problematizar a imagem do que os historiadores que, cruzando-se com ela entre os múltiplos materiais das suas investigações, tendem a tratá-la mais como uma ilustração do que como um documento em nome próprio, admite esta investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa: “Os antropólogos têm mais capacidade crítica quando pegam numa fotografia. As imagens são objectos difíceis, complicados. E nós, os historiadores, estamos pouco preparados para lidar com essa complexidade.”

Alguns dos autores que aqui escrevem sobre fotografia fazem-no pela primeira vez para este volume que acaba precisamente antes do começo da guerra colonial - há artigos que reflectem sobre realidades posteriores como o de Afonso Ramos (“Angola 1961, o horror das imagens”, sobre as fotografias atribuídas aos massacres da UPA no Norte e todas as questões, éticas ou de autenticidade, que levantam) e de Susana Martins/António Pinto Ribeiro (“A fotografia artística contemporânea como identidade pós-colonial”), mas são residuais. O trabalho que conduziu ao livro foi feito em apenas dois anos – deu origem a um colóquio, cursos, ciclos de cinema e a um portal que reúne informação sobre a área (www.fotografiacolonial.ics.ulisboa.pt) - e esse curto período de tempo explica algumas das opções de Vicente e justifica ausências

Texto de Lucinda Canelas, no jornal Público: As fotografias são objectos difíceis e as dos impérios coloniais ainda mais

"Nous continuons à cultiver la mélancolie"

©Tatiana Macedo

A entrevista de António Pinto Ribeiro, curador do Próximo Futuro ao jornal Le Monde, na semana em que Portugal ocupou Paris com a sua mais recente criação artística.

Antonio Pinto Ribeiro est le commissaire général de "Proximo Futuro", vaste programme artistique lancé en 2009 par la Fondation Calouste Gulbenkian, et que l'on peut traduire par "le prochain futur", ou "le futur proche".

Essayiste, cofondateur en 1992 de Culturgest, principal centre culturel de Lisbonne financé par la banque Caixa Geral de depositos, il réfléchit à une esthétique portugaise dans la sérénité de cette fondation atypique, musée d'art contemporain cerné de jardins, centre d'art, fondé au début des années 1950 par un magnat du pétrole et devenu un rouage essentiel de la culture portugaise avec 90 millions d'euros de budget annuel en 2013.

On a souvent comparé la Fondation Gulbenkian à un ministère de la culture "bis"...

La Fondation a été un des principaux soutiens à la culture pendant le salazarisme, puis pendant les premières années de la démocratie, jusqu'aux années 1980. A cette époque, l'Etat portugais s'est mis à investir dans le cinéma, le théâtre, les arts contemporains.

Mais avec la crise actuelle et l'absence totale de vision culturelle du gouvernement [dirigé depuis 2011 par Pedro Passos Coelho (PPD/PSD), centre droit], les artistes se tournent à nouveau vers la Fondation Gulbenkian. Je n'ai pas le souvenir d'autant d'indigence politique depuis la dictature.

C'est une lente négligence. Par exemple, le Centre culturel de Belém (CCB), inauguré en 1992, a très bien fonctionné jusqu'en 2007. Mais aujourd'hui les salles de concert sont vides, le Musée d'art moderne Berardo, abrité par le CCB, est semi-privé. Il a beaucoup contribué à la valorisation de la collection de son propriétaire.

Comment le Portugal se situe-t-il aujourd'hui, culturellement ?

Le Portugal est un pays étrange, inégal, contradictoire. Nous avons une élite très instruite, très créative, des cinéastes, des architectes, des intellectuels d'une grande qualité. Mais la classe moyenne n'est pas au fait de la création. On lui a proposé un modèle de nouveau riche.

Nous avons vécu cinquante ans de salazarisme en étant à côté du monde. Nous n'avions accès à rien de contemporain, nous avons raté toutes les révolutions esthétiques. Puis l'Europe a apporté quantité d'argent, qui a servi à construire des bâtiments, des infrastructures, pas une nouvelle identité.

Comment définiriez-vous l'identité artistique portugaise ?

Par élimination. Ni espagnole, ni française, ni, ni... Je dirais que nous continuons à cultiver la mélancolie, la nostalgie, et que nous sommes imprégnés d'un certain expressionnisme du Sud. Bizarrement, la création portugaise a délaissé le baroque, elle est très incarnée, claire, nettoyée. Et bien sûr tournée vers l'Afrique et le Brésil, principalement pour les arts plastiques.

Et par rapport à l'Europe ?

Les Chantiers d'Europe, qui mettent cette année le Portugal à l'honneur, auraient pu être l'occasion d'un débat en profondeur, dont nous ne pouvons pas faire l'économie. La diffusion artistique est orientée vers l'Europe. Tous les créateurs se tournent vers elle, Paris étant une porte essentielle. Mais ils découvrent que ce n'est pas si simple, que cela ne fonctionne pas naturellement. D'où cette sensation d'être toujours à la périphérie. C'est un signe, auquel il convient de réfléchir.

La culture africaine est très présente à Lisbonne...

Bien sûr, et les temps changent. Il y avait avant la crise quarante mille Angolais vivant officiellement au Portugal ; aujourd'hui, près de cent mille Portugais sont partis vivre en Angola, à cause de l'effondrement économique ici et de la croissance là-bas. Cette inversion est fascinante.

matéria no P3 sobre as "ocupações temporárias" em Maputo!

tiago correia-paulo

[Imagem da instalação de Tiago Correia-Paulo, no projeto "Ocupações Temporárias", em Maputo]

“Estrangeiros”: a reflexão de cinco jovens artistas moçambicanos

Ocupações Temporárias 20.12 apresentam cinco artistas moçambicanos emergentes. Depois de Maputo, segue-se Angola, Cabo Verde e Portugal

A experiência internacional de artistas moçambicanos emergentes é o conceito explorado na iniciativa Ocupações Temporárias 20.12, que arrancou esta semana, em Maputo, e que conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Na sua terceira edição, as Ocupações Temporárias apresentam à capital moçambicana cinco artistas moçambicanos relativamente anónimos na cena artística de Moçambique, e, pela primeira vez, um artista internacional, o angolano Paulo Kapela. O Aeroporto Internacional de Maputo, algumas ruas da capital moçambicana e ainda as embaixadas de Portugal, da Noruega e da África do Sul são os espaços onde poderão ser visitadas as instalações artísticas, numa escolha que pretende “provocar” no público uma “experiência internacional”.

“Há uma vaga de quadros formados, a famosa diáspora, que está a regressar a Moçambique. São pessoas que fizeram formação e têm competências, e que retomam o país e a sua construção. Fazia sentido mostrar que também nas artes há uma diáspora”, disse à agência Lusa Elisa Santos, mentora do projecto.

"Estrangeiros"

Eugénia Mussa, João Petit Graça, Rui Tenreiro, Sandra Muendane e Tiago Correia-Paulo são os cinco artistas moçambicanos convidados. O tema “Estrangeiros” foi o ponto de partida para a construção dos seus projectos de ocupações artísticas. “A própria natureza do projecto e o seu lado inédito e, de alguma forma original, suscitou o interesse. Não é apenas uma exposição: é uma exposição num determinado contexto e com determinados objectivos”, avançou António Pinto Ribeiro, curador da Calouste Gulbenkian, explicando o apoio da fundação.

Na apresentação pública da iniciativa, os jovens fotógrafos moçambicanos Filipe Branquinho e Camila de Sousa falaram sobre a sua experiência de participação nas Ocupações Temporárias de 2011, que lhes garantiu uma exposição nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Com o seu trabalho, Filipe Branquinho foi ainda seleccionado para a final do concurso BESPhoto 2013, que, na última edição, teve como vencedor o fotógrafo moçambicano Mauro Pinto.

“Foi, de alguma forma, um encontro entre dois tipos de interesses: do nosso ponto de vista, apresentar obras notáveis e muito boas, do ponto de vista dos fotógrafos, terem a oportunidade de se apresentarem em Lisboa e, posteriormente, em Cabo Verde”, disse António Pinto Ribeiro. “(as ocupações) Têm trazido uma capacidade de ligar os artistas e de os pôr a trabalhar em conjunto, de falarem de linguagens e técnicas que, se calhar, não falariam. Também têm trazido um reconhecimento internacional: temos feito um esforço muito grande para divulgar o que estamos a fazer”, sublinhou Elisa Santos.

As Ocupações Temporárias 20.12 estão em Maputo até ao dia 27 de Dezembro. Seguem depois para Angola, Cabo Verde e, finalmente, Portugal.

Mais notícias, aqui.

Prolongamento da CALL FOR PAPERS até 15 de Dezembro 2012!

coloquio act 29

Encontros no lago Titicaca, Perú (2009), por Luis Lander

A CALL FOR PAPERS do Colóquio ACT 29, dedicado às "Literaturas e Culturas em Portugal e na América Hispânica: Novas Perspetivas em Diálogo" foi prolongada até 15 de Dezembro 2012!

Relembramos que... "o colóquio ACT 29 – Literaturas e culturas em Portugal e na América Hispânica: Novas perspectivas em diálogo pretende promover o conhecimento e suscitar a discussão em torno de problemáticas em comum nas literaturas e produções culturais dos séculos XX e XXI nos universos português e hispano-americanos. Sem esquecer a pluralidade de temas e contextos face aos quais se foram posicionando as criações artísticas nestes universos, serão privilegiadas certas linhas temáticas que se afiguram especialmente pertinentes nesta perspectivação cruzada das literaturas e culturas em Portugal e na América Hispânica" (...)

Mais informações: [email protected]

Consultar o programa, aqui.

"Os Africanos em Portugal" (sécs. XV-XXI), até 9 de Novembro

africanos em portugal

Do projecto “A Rota dos Escravos”, da UNESCO, resultou a exposição “Os Africanos em Portugal: História e Memória (séculos XV-XXI)", coordenada pela Prof. Isabel Castro Henriques, que estará patente no átrio da Biblioteca do ISEG, até ao próximo dia 9 de Novembro.

Mais sobre a exposição no site do nosso parceiro CEsA-Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento (ISEG), aqui.

no percurso dos "KILOMBOS"

quilombos

KILOMBOS...

O termo quilombo é uma herança dos povos da família linguística Bantú, em particular das línguas Kimbundo (kilombo) e Umbundo (ochilombo). O seu significado no Brasil é inseparável da história das rotas do comércio transatlântico de africanos escravizados. A repressão e as más condições a que estavam sujeitos levaram a que cada vez mais escravos, revoltados com a sua condição, fugissem das senzalas para locais remotos onde dificilmente poderiam ser recapturados pelos seus antigos senhores. A fuga de escravos originava pequenas concentrações em locais de difícil acesso denominados por quilombos ou mocambos.

Por toda a América do Sul, nomes diferentes identificaram estes coletivos de resistência: palenques e cumbes (Colômbia, Panamá, Perú), marrons (Jamaica), grand maroonage (Suriname, Guiana Francesa). Com a abolição da escravatura negra no Brasil (1888), essas terras foram doadas pelos antigos senhores, compradas ou naturalmente ocupadas. Contudo, apenas um século depois, em 1988, foram as comunidades quilombolas juridicamente reconhecidas. Apesar desse reconhecimento, ainda hoje os direitos dos quilombolas são violados. Não apenas o direito à propriedade – por via de conflitos violentos – mas igualmente direitos humanos básicos no acesso à saúde, à educação ou a fontes de rendimento sustentáveis.

Kilombos não é um filme sobre a escravatura ou sobre o processo de luta pela titulação das propriedades. Não deixa sê-lo, certamente, por via dos seus protagonistas. Filmado em várias comunidades do estado do Maranhão, Kilombos procura ser o resgate de memórias e narrativas orais de uma cultura contemporânea, um contributo para uma antropologia visual de ideias, práticas e artefactos que são também o Brasil de hoje.

Kilombos é uma iniciativa do projeto “O percurso dos Quilombos: de África para o Brasil e o regresso às origens” que pretende contribuir para o dialogo intercultural.


Mais sobre Kilombos, aqui.

Novo número dos Cadernos de Estudos Africanos já disponível!

cadernos de estudos africanos

Dividido em duas secções – Artigos e Recensões – este número 23 da revista Cadernos de Estudos Africanos inclui artigos centrados não só em países africanos mas também em países onde a influência e a presença de africanos se faz sentir (Brasil e Portugal); artigos que abordam questões culturais, sociais, económicas e políticas; artigos centrados apenas em países específicos (Moçambique e Camarões) e artigos que abordam relações entre vários países e continentes; artigos produzidos por autores sedeados na Europa (Portugal), África (Camarões) e América do Sul (Brasil); e artigos escritos em língua portuguesa e inglesa por cientistas em pleno desenvolvimento da sua carreira e por outros que ainda estão em fase de conclusão dos seus doutoramentos.

Para ler todos os artigos que integram este novo número basta clicar aqui.

III Bienal Iberoamericana de Design (BID) quase a arrancar

III Bienal Iberoamericana de Desenho

Semana inaugural: del 26 al 30 de noviembre de 2012

La BID es una muestra de Diseño Iberoamericano que se celebra cada dos años en Madrid, convocada y organizada por la Central de Diseño y Dimad, y es una de las citas más importantes de promoción del diseño contemporáneo que se realiza en Latinoamérica, España y Portugal. Incluye una gran Exposición y una Zona de encuentro y pensamiento.

Muito mais sobre a BID, por aqui.

Devir Menor

Supersudaca


DEVIR MENOR é um projeto de investigação que se materializa numa exposição e um livro resultantes de uma investigação híbrida entre a arquitetura, a teoria crítica e a prática da materialidade, procurando diagramar projetos e processos de trabalho de arquitetos e coletivos situados no contexto da Ibero-América. A conceção do projeto é uma colaboração entre Inês Moreira (arquiteta e curadora) e Susana Caló (investigadora em filosofia e editora) que procuram experimentar a continuidade conceptual e material do projeto nos seus vários formatos e nos processos de curadoria/edição.

Enunciado a propósito da literatura de Kafka por Gilles Deleuze e Félix Guattari, o conceito de ‘devir menor’ refere­-se a um potencial de transformação e de abertura de espaços dentro de um contexto dominado pela subordinação a uma língua maior ou dominante. O projeto parte deste conceito e explora a sua instanciação em práticas espaciais na Ibero-América. Explorando o que se denomina por ‘práticas espaciais críticas’, o projeto quer ir particularmente ao encontro de conceções de espaço e prática da arquitetura em que os fatores políticos, económicos, sociais e ecológicos intercetam a elaboração projetual e contribuem para um discurso de multiplicidade.

Se, por um lado, a pressuposta unidade ibero-americana – e mesmo da América Latina – é vaga, e assenta tanto em reminiscências coloniais como em posicionamentos estratégicos no âmbito de um mundo globalizado onde se formam blocos competitivos cada vez mais alargados, por outro lado, o próprio território da América Latina, assim como a relação histórica entre a Península Ibérica e a América Latina é também figura de miscigenações, cruzamentos, hibridações, multiplicidade e atravessamentos às formações políticas, culturais e identitárias mais visíveis.

Em DEVIR MENOR exploram-se projetos sensíveis à especificidade das condições contextuais, muitas vezes usando táticas alheias à metodologia tradicional da arquitetura e tecendo uma crítica social e económica operativa, empenhada na transformação e vitalização do seu contexto. O projeto arquitetónico adquire uma proximidade ao quotidiano e uma natureza processual, as modalidades de relação com o contexto vão alterando o próprio projeto e a obra torna-se reflexiva e relacional. Os trabalhos aproximam-se das práticas culturais, caracterizando-se também por uma reconciliação singular que desafia o global e o local; têm uma forte componente espacial e empregam, entre outras, técnicas de reciclagem de materiais, reutilização de recursos existentes, o do-it­yourself, ou experimentam modos de trabalho diversos.

A exposição consta de uma instalação espacial imersiva que explora o potencial dos desenhos, registos, vídeos e imagens dos participantes convidados, privilegiando uma relação informal e intuitiva com o público. Será também exposta uma seleção de 50 publicações de referência, assim como trabalho documental, material e ensaístico produzido especialmente para o projeto. A instalação estabelecerá um diálogo com o edifício da Sociedade Martins Sarmento, um edifício de relevo na cidade de Guimarães, desenhado pelo Arq. Marques da Silva. A edição do livro com contribuições novas de filósofos, arquitetos, urbanistas e sociólogos, pretende firmar criticamente a relação do ‘menor’ com o pensamento da Ibero-América e da América Latina, e com o pensamento da arquitetura enquanto projeto e prática, e configurar especulativamente ideias em torno à proposta do projeto.

Países participantes: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, México, Portugal, Venezuela + Bélgica, Itália e França


Devir Menor

Fur

Published27 Feb 2012

Tags brasil poesia portugal

Prosa & Verso, O Globo, 25.02.2012

Fur

                                                 com cara de Whitman

foi assim que você pensou que eu viria ao mundo

foi assim que que você me viu na floresta

foi assim que você me viu pendurado no poste elétrico

sempre pendurado num ramo qualquer, sempre usando

o verão.

você se lembra daquele verão no Brooklin

em que ficámos perseguindo os bombeiros

durante todo o dia apenas para ver

uma vez e depois outra vez

o leque aquático que se abria sobre o fogo?

você citava poetas húngaros mas nesse tempo

eu só queria saber de inventar uma língua

que não existisse.

você se lembra do concierge que nos recebia

na pensão do Brooklin como se nunca

nos houvesse visto antes?

e não havia semana que passasse

em que nós não dormíssemos

pelo menos uma madrugada

na pensão do Brooklin.

me lembro dos dólares amassados

que eu semanalmente tirava do bolso

para pagar a Doug

eu sabia o nome de Doug

o Doug nos tratava disfarçadamente

por menina e menino.

você falava que os dólares vinham

sempre com uma forma diferente

eu adoro como você consegue tirar um coelho do bolso

eu adoro como você consegue tirar uma lâmpada do bolso

eu adoro como você consegue tirar a Beretta 92fs do bolso

foi assim que você pensou que eu ficaria

no mundo

com corpo de besta vestida

usando um lápis pousado na orelha

foi assim que você me viu

pedindo três ovos para Miss Elsie

a senhora da mercearia na Court Street

ela me deu oito ovos

porque ela sempre dava alguma coisa

ela me achava uma graça e ela não acreditava

em números ímpares. eu também não.

me lembro de você na mercearia

do Brooklyn

você costumava ficar lá atrás

brincando na secção das ferramentas.

se eu tivesse mais do que um coelho,

uma lâmpada ou uma pistola

eu teria te comprado um Black n' Decker

eu acho que você seria a pessoa mais feliz da ilha

com um Black n’ Decker enfiado no cinto.

foi assim que você pensou que eu ficaria no mundo,

usando flores em meu cabelo negro,

sempre escondidas no emaranhado dos cachos

sempre escondidas no emaranhado do caos

de minha cabeça negra.

só você sabia quantas flores eu usava

porque agora eu já sei

que você dedicava as noites

à contagem. Deus não dorme

e você também não. 

Matilde Campilho

Matilde Campilho nasceu em Lisboa em 1982. Morou em Madrid, Milão, Florença e Moçambique. Mora no Rio de Janeiro, onde escreve.

Filmes PRÓXIMO FUTURO seleccionados para Roterdão!

(Film still de "Cerro Negro", de João Salaviza / encomenda Próximo Futuro)

Em vésperas da passagem para 2012 eis uma novidade animadora: as curtas metragens "Cerro Negro" (do realizador português João Salaviza) e "Viento Sur" (da realizadora paraguaia Paz Encina), ambas fruto de uma encomenda do PRÓXIMO FUTURO e apresentadas na Gulbenkian no verão passado, foram seleccionadas para o prestigiado International Film Festival de Roterdão (secção "Spectrum"), que decorrerá naquela cidade holandesa de 25 Janeiro a 5 Fevereiro 2012.

O nosso agradecimento aos realizadores e aos Filmes do Tejo, nosso produtor delegado!

Para saber mais sobre a 41.ª edição do Festival de Roterdão que aí vem, é ir aqui.

Uma aula de ciência e outra de filosofia, em Paraty (III)

Declamador na FLIP 

"Uma aula de ciência e outra de filosofia": Pola Oloixarac (Argentina) e valter hugo mãe (Angola/Portugal)

O livro dela "As teorias selvagens" parte da ideia de uma guerra cultural. Guerra por significados. Como o conhecimento pertencendo a uma casta separada das paixões "baixas."
Ela busca através da ironia dar conta de uma relação privilegiada com o conhecimento. Tenta criar uma imaginação política, pois há uma tradição da literatura política na América Latina ser muito militante e séria, que ela deseja quebrar com seu livro.
Mistura tecnologia, luta política no âmbito cultural, junto com uma subjetividade que emerge numa potência selvagem... Parece interessante. E ela tem uma aparente obsessão com a luta política.
O valter fala da morte, parece obsecado por ela. Conta que o pai vivia achando que ia morrer até que morre aos 59 anos. Muito simpático, sensivel, fala que busca nos livros que escreve suprir uma falta, algo que não tem na sua vida. Falou muito do outro, da tentativa de entender o outro, da procura pelo outro, como algo que pode ensinar-nos sobre nós mesmos. Seus livros começam sobre um outro e terminam nele, encontrando esse outro dentro de si mesmo.
Deixou todos muuuuito emocionados e foi realmente lindo, quando ele leu uma crônica que escreveu para falar da sua relação com o Brasil.
Foi tão lindo. Ele chorou, muita gente chorou, tenho certeza que vão por online. E tem que ver.
E o livro parece legal mas deve ser triste p'ra xuxu! 

Imagem e texto de Madame de Stael, correspondente em Paraty

ainda há muito para ver no VERÃO do PRÓXIMO FUTURO!

Terminaram ontem os eventos PRÓXIMO FUTURO/Verão 2011 mas ainda há muito para ver até ao final do ano!

Desde logo, a exposição "Fronteiras" (mostra central dos 8.os Encontros Fotográficos de Bamako, vinda do MALI) que, para além das mais de 700 pessoas na inauguração, já foi entretanto visitada por mais de 6.500 pessoas.

Também continuam visitáveis, durante todo o verão, as instalações dos artistas Nandipha Mntambo (ÁFRICA DO SUL), Kboco (BRASIL) e do colectivo Raqs Media (ÍNDIA) pelo Jardim Gulbenkian, para além das intervenções artísticas de Bárbara Assis Pacheco (PORTUGAL), Délio Jasse (ANGOLA), Isaías Correa (CHILE) e Rachel Korman (BRASIL) nos Chapéus-de-Sol projectados pela arquitecta Inês Lobo, também no JARDIM Gulbenkian.

Mais informações e contactos, aqui.

ESTREIA MUNDIAL na Cinemateca Próximo Futuro: hoje!

É hoje, no Anfiteatro ao Ar Livre da Gulbenkian, às 22h00, que estreiam mundialmente os 3 filmes encomendados pelo programa PRÓXIMO FUTURO aos realizadores João Salaviza (Portugal), Vincent Moloi (África do Sul) e Paz Encina (Paraguai), tendo por produtor delegado os Filmes do Tejo.

Cerro Negro, de João Salaviza

João Salaviza tem feito um cinema actual, sem 'pressas', sem constrições de formato, com a liberdade e engenho de um autor empenhado não só em captar imagens, mas em fazer cinema com ideias, óptima direcção de actores e dramaturgias eficazes e de solução surpreendente. Do filme que fez a convite do Próximo Futuro, diz «Anajara e Allison são um casal de emigrantes brasileiros em Lisboa. Duas solidões que se protegem mutuamente, ao mesmo tempo que lutam contra uma separação forçada. Anajara regressa do trabalho ao amanhecer. Desta vez não vai poder dormir durante o dia, nem levar Luri à escola. A setenta quilómetros de distância, Allison espera para reencontrar a mulher e o filho. Hoje é dia de visita na prisão de Santarém.


Hidden Life, de Vicent Moloi

“Hidden Life” explora o mundo secreto da ambiguidade moral. O porto de mar da Cidade do Cabo é um mundo impressionantemente complexo. É uma das mais movimentadas intersecções culturais do mundo onde os fluxos de pessoas transaccionam bens e ‘humanidade’. Entre as inúmeras personagens que se podem encontrar no porto, as sugar girls (as prostitutas que trabalham na área) formam relações profundamente ambivalentes, envolvendo tantos conflitos como cooperação entre si, com os donos dos bordéis e com os marinheiros. É um mundo duro: todos tratam de si buscando a todo o custo a subsistência.


Viento Sur, de Paz Encina

Esta é uma história sobre desaparecidos e sobre os métodos utilizados para esses desaparecimentos. Justino e Domingo são dois irmãos pescadores que vivem num ambiente de repressão local. Obrigados a esconderem-se num casebre, terão de decidir se vão ou não fugir do país, se devem ou não abandonar as suas famílias, se devem separar-se, se podem ou não abrir uma janela. No meio de tantas dúvidas, aparece um realizador que tenta filmar algo que se supõe que tenha acontecido. Um modo de resgatar a memória,  um modo invulgarmente poético, alguma memória. Um filme da realizadora do filme “Hamaca Paraguaya”.

Amanhã às 19h00, também no cenário idílico do Anfiteatro ao Ar Livre, haverá um concerto certamente memorável do rapper belga de origem congolesa: BALOJI! O músico fez-se notar quando gravou "Hotel Impala", em 2008. Mas foi com "Kinshasa Succursale", lançado em 2010, que obteve ampla atenção internacional, sobretudo com o seu primeiro single: "Karibu Ya Bintou" (Bem-vindo à Vida no Limbo), para o qual contou com a preciosa colaboração do seu conterrâneo Konono N. 1. Não perca, reserve já o seu lugar através da bilheteira on-line.

HOJE, 25 de Junho (sábado)

22h00 Anfiteatro ao Ar Livre CINEMA Bilhete único: 3 Eur

ESTREIA MUNDIAL Encomenda PRÓXIMO FUTURO

Cerro Negro, de João Salaviza (Portugal, 2010, 23')

Hidden Life, de Vincent Moloi (África do Sul, 2010, 23')

Viento Sur, de Paz Encina (Paraguai, 2010, 21')

AMANHÃ, 26 de Junho (domingo)

19h00 Anfiteatro ao Ar Livre MÚSICA / Cada bilhete: 10 Eur

BALOJI (Congo - Bélgica)

HOJE: um histórico, AMANHÃ: novos em estreia mundial!

(Cena do filme "Fitzcarraldo", de Werner Herzog)

Na Cinemateca Próximo Futuro há um conjunto de objectivos, já anunciados, dos quais, um, nos é particularmente caro: apresentar pontos de vista de realizadores e de filmes originários de um determinado continente, quando se confrontam com temáticas de outro continente.

No caso da relação Europa-América Latina, é verdadeiramente fascinante o conjunto de olhares que representaram e se auto-representaram quando esta situação se verifica. “Fitzcarraldo” é um grande filme de Werner Herzog e de Klaus Kinski (na medida em que a personagem criada por este actor definiu a dimensão heróica do filme). É uma odisseia no interior da Amazónia, no século XIX, contada como uma aventura demencial mas nem por isso menos humana. E é esta aventura que revela uma enorme paixão pela arte e de uma forma desregrada como se prova pelo tipo de missão que “Fitzcarraldo” decidiu levar a cabo.

E se hoje tem a rara oportunidade de ver o histórico "Fitzcarraldo" no écrãn gigante do Anfiteatro ao Ar Livre da Gulbenkian, amanhã é a vez da imperdível ESTREIA MUNDIAL dos filmes encomendados e produzidos pelo PRÓXIMO FUTURO a três realizadores de diferentes países: "Cerro Negro", de João Salaviza (Portugal); "Hidden Life", de Vincent Moloi (África do Sul); e "Viento Sur", de Paz Encina (Paraguai).

HOJE, 24 de Junho (sexta-feira)

22h00 Anfiteatro ao Ar Livre CINEMA / Bilhete único: 3 Eur

Fitzcarraldo, de Werner Herzog (Alemanha/Peru), 1982, 35mm, 157’

AMANHÃ, 25 de Junho (sábado)

22h00 Anfiteatro ao Ar Livre CINEMA / Bilhete único: 3 Eur

ESTREIA MUNDIAL Encomenda PRÓXIMO FUTURO

Cerro Negro, de João Salaviza (Portugal, 2010, 23')

Hidden Life, de Vincent Moloi (África do Sul, 2010, 23')

Viento Sur, de Paz Encina (Paraguai, 2010, 21')

E que mais há de imperdível em JUNHO?

ACHILLE MBEMBE no Centre for Creative Arts (University of KwaZulu-Natal)

Em Junho, esperamos que se junte a nós logo no dia 16 (quinta-feira), às 17h00, na inauguração das intervenções propostas para o JARDIM da Gulbenkian pelos artistas Bárbara Assis Pacheco (Portugal), Délio Jasse (Angola), Isaías Correa (Chile), Kboco (Brasil), Nandipha Mntambo (África do Sul), Rachel Korman (Brasil), e o colectivo Raqs Media (Índia).

No dia seguinte, 17 de Junho (sexta-feira), às 09h30, terá início a segunda parte das LIÇÕES do Próximo Futuro (2011), reunindo investigadores, poetas e professores de diversas geografias (Brasil, Camarões, EUA e Portugal), em torno de reflexões sobre “Democracia e a Ética do Mutualismo” (a partir da “experiência Sul-africana”), “Qual o futuro próximo da Poesia?”, “As grandes incertezas da historiografia africanista” e “Produção, utilização e partilha do conhecimento na economia global”.

Alguns links (complementares às respectivas bios no Jornal) para conhecer os conferencistas de dia 17 de Junho:

Achille Mbembe (Camarões)

What is a postcolonial thinking?

Donors have a simple notion of development

The invention of Johannesburg

Eucanaã Ferraz (Brasil)

Não saberia dizer a hora…

Entrevista

Errática

Margarida Chagas Lopes (Portugal)

Entrevista Antena 1

Desemprego e Interioridade

Principais actividades e trabalhos em Economia da Educação e da Formação

Ralph Austen (EUA)

The Department of History

Trans-Saharan Africa in World History

Postcolonial African Literature