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"O Império da Visão": uma aproximação à história fotográfica do império português


O Império da Visão. Fotografia no Contexto Colonial Português (1860-1960), lançado em final de 2014 (Edições 70), organizado por Filipa Lowndes Vicente, investigadora do Instituto de Ciências Sociais, resulta de anos de pesquisas em locais como a Feira da ladra, bibliotecas arquivos e museus. 500 páginas que contam a história do Império português em África, através de fotografias de anónimos, "umas servem a política de conquista e opressão, outras são usadas para denunciar e resistir" (Público), acompanhadas por 28 artigos organizados em quatro grandes capítulos, assinados  por historiadores, antropólogos e biólogos.

O Império da Visão, explica Filipa Vicente, é uma primeira tentativa de reunir uma série de contributos numa área de investigação que, embora tivesse já produzido conhecimento, não estava ainda consolidada: “Não há em Portugal uma genealogia, uma historiografia da fotografia no império. Há, sim, estudos fragmentados. Na Grã-Bretanha este trabalho de olhar para a fotografia como instrumento de poder e de colonização começou a ser feito no início da década de 1990.”

E começou a ser feito, como em Portugal, pelos antropólogos, mais habituados a problematizar a imagem do que os historiadores que, cruzando-se com ela entre os múltiplos materiais das suas investigações, tendem a tratá-la mais como uma ilustração do que como um documento em nome próprio, admite esta investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa: “Os antropólogos têm mais capacidade crítica quando pegam numa fotografia. As imagens são objectos difíceis, complicados. E nós, os historiadores, estamos pouco preparados para lidar com essa complexidade.”

Alguns dos autores que aqui escrevem sobre fotografia fazem-no pela primeira vez para este volume que acaba precisamente antes do começo da guerra colonial - há artigos que reflectem sobre realidades posteriores como o de Afonso Ramos (“Angola 1961, o horror das imagens”, sobre as fotografias atribuídas aos massacres da UPA no Norte e todas as questões, éticas ou de autenticidade, que levantam) e de Susana Martins/António Pinto Ribeiro (“A fotografia artística contemporânea como identidade pós-colonial”), mas são residuais. O trabalho que conduziu ao livro foi feito em apenas dois anos – deu origem a um colóquio, cursos, ciclos de cinema e a um portal que reúne informação sobre a área (www.fotografiacolonial.ics.ulisboa.pt) - e esse curto período de tempo explica algumas das opções de Vicente e justifica ausências

Texto de Lucinda Canelas, no jornal Público: As fotografias são objectos difíceis e as dos impérios coloniais ainda mais