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O futuro segundo Giorgio Agamben

Published3 Feb 2012

Tags filosofia futuro giorgio agamben

Para compreender o que significa a palavra futuro, é preciso antes saber o que significa uma outra palavra, a qual não estamos mais habituados a utilizar, ou ainda, que estamos habituados a usar apenas na esfera religiosa: a palavra fé. Sem fé ou crença, não é possível futuro. Isto é, há futuro somente se podemos esperar ou crer em algo.

Mas, o que é a fé? David Flusser, um grande estudioso de ciências da religião, e ainda há uma disciplina com esse estranho nome, um dia estava trabalhando sobre a palavra pistis, que é o termo grego que Jesus e os apóstolos usavam para fé. Naquele dia, estava passeando e, por acaso, encontrava-se numa praça em Atenas. Num determinado momento, olhando para cima, viu escrito em grandes letras à sua frente Trapeza tés Pistéos. Surpreendido pela coincidência – a palavra pistis – observou com mais atenção. Depois de alguns segundos se deu conta de que se encontrava simplesmente diante de um banco. Trapeza tés Pistéos significa em grego “banco de crédito”. Foi uma espécie de iluminação. Eis, finalmente, o que significava a palavra pistis, que há meses estava tentando compreender. Pistis, fé, é simplesmente o crédito de que gozamos junto a deus e de que a palavra de deus goza em nós a partir do momento em que nela cremos.

Por isso Paulo pode dizer, numa famosíssima definição, que a fé é “substância de coisas esperadas”. A fé é o que dá realidade ao que ainda não existe, mas na em que cremos e temos fé, porque nela colocamos em jogo o nosso crédito, a nossa palavra. Algo como um futuro existe apenas na medida em que a nossa fé consegue dar substância, isto é, realidade, às nossas esperanças.

Mas a nossa, sabe-se, é uma época de escassa fé. Ou, como dizia Nicolà Chiaromonte, uma época de má-fé; isto é, de fé mantida à força e sem convicção. Portanto, uma época sem futuro e sem esperanças (ou, de futuros vazios e de falsas esperanças). Mas nesta época, muito velha para crer verdadeiramente em algo e muito esperta para ser verdadeiramente desesperada como deveria, o que se faz do nosso crédito? O que se faz do nosso futuro?

(...)

Para continuar a ler a intervenção de Giorgio Agamben (tradução para português de Vinícius Nicastro Honesko, no blogue "Flanagens"), basta clicar aqui.

Uma aula de ciência e outra de filosofia, em Paraty (III)

Declamador na FLIP 

"Uma aula de ciência e outra de filosofia": Pola Oloixarac (Argentina) e valter hugo mãe (Angola/Portugal)

O livro dela "As teorias selvagens" parte da ideia de uma guerra cultural. Guerra por significados. Como o conhecimento pertencendo a uma casta separada das paixões "baixas."
Ela busca através da ironia dar conta de uma relação privilegiada com o conhecimento. Tenta criar uma imaginação política, pois há uma tradição da literatura política na América Latina ser muito militante e séria, que ela deseja quebrar com seu livro.
Mistura tecnologia, luta política no âmbito cultural, junto com uma subjetividade que emerge numa potência selvagem... Parece interessante. E ela tem uma aparente obsessão com a luta política.
O valter fala da morte, parece obsecado por ela. Conta que o pai vivia achando que ia morrer até que morre aos 59 anos. Muito simpático, sensivel, fala que busca nos livros que escreve suprir uma falta, algo que não tem na sua vida. Falou muito do outro, da tentativa de entender o outro, da procura pelo outro, como algo que pode ensinar-nos sobre nós mesmos. Seus livros começam sobre um outro e terminam nele, encontrando esse outro dentro de si mesmo.
Deixou todos muuuuito emocionados e foi realmente lindo, quando ele leu uma crônica que escreveu para falar da sua relação com o Brasil.
Foi tão lindo. Ele chorou, muita gente chorou, tenho certeza que vão por online. E tem que ver.
E o livro parece legal mas deve ser triste p'ra xuxu! 

Imagem e texto de Madame de Stael, correspondente em Paraty