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A cultura griot no livro Medicin, de António Poppe

Published21 Jul 2015

Tags poesia tradição griot

Capa de Joana Fervença

A partir do livro de poesia Medicin, de António Poppe, pela editora Douda Correira, cuja capa é inspirada num estudo árabe de anatomia, Alexandra Lucas Coelho escreve sobre a tradição dos griots, presente no livro, que invoca também um dito do militar brasileiro Cândido Rondon, bisneto de indígenas. 

1. Ouvir um livro antes de o ler, aconteceu antes de eu deixar Lisboa, no começo de Junho. É um livro feito para isso mesmo, ser dito, talvez cantado, como os griots fazem. A primeira vez que vi a palavra “griot” pensei numa criatura lendária, daquelas que os homens esculpiam nos templos ou à entrada das cidades, mas os griots existem em carne e osso até hoje. O pré-poema deste livro é uma definição de griot e diz assim:

Djeli, Griot: artesão da palavra. Guardião oral, oriundo Mandinga. Conciliante contador de histórias. Músico tocador de Kora que abrange tudo. Cadência que sara a voz criada. A fala do encontro.

2. Navegando pela rede, uma das explicações para a origem da palavra “griot” é a palavra portuguesa “criado”. A minha amiga Daniela Moreau confirma, e ela é o ponto de coincidência entre o livro que ouvi em Lisboa e este lugar onde agora o li, no interior de Minas Gerais. Não me tinha ocorrido ao trazê-lo, mas a Daniela passou os últimos anos mergulhada no mundo que os griots cantam e contam, guardando genealogias, herbários, antologias, a história da África ocidental. Então, quando abri o livro, ela abriu no ecrã do computador griots de há cem anos no Mali e no Senegal: por vezes em pé, por vezes sentados no chão, por vezes acompanhando um senhor, porque na tradição os griots eram os louvadores de um senhor, figuras da corte, embora sempre tenham existido griots itinerantes. Griots, resume Daniela, são louvadores, e também estarão no ensaio que ela se prepara para publicar no Brasil, resultado de anos de pesquisa sobre milhares de fotografias do francês François-Edmond Fortier (1862-1928), todo um caleidoscópio novo para o Mali e o Senegal durante a colonização francesa. Neste fim-de-mundo mineiro, que adoptei como oficina, Fortier é uma espécie de espírito da casa. Senta-se à mesa connosco e com os espíritos que vou trazendo, por exemplo, os que estão emmedicin. (assim mesmo, sem capitular e com ponto final), de António Poppe, o livro que ouvi antes de deixar Lisboa.

O artigo completo em O que vi seja amor

Vini, o poetinha, nasceu há cem anos

Nasceu há cem anos. É eterno para além do tempo que durou. Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes, poeta, jurista, crítico, diplomata, apaixonado e boémio.

A Casa

Era uma casa
muito engraçada
Não tinha teto
não tinha nada
Ninguém podia entrar nela não
porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero...
na Rua dos Bobos, nº 0!

Pode conhcer-se a longa história da sua vida aqui, num prazeiroso documentário de Miguel Faria Jr

Kofi Awoonor

No ataque terrorista no centro comercial da cidade de Nairobi morreu o poeta e diplomata ganês Kofi Awoonor. São muitas as manifestações de pesar e os testemunhos de consternação. O festival Storymoja Hay onde o poeta deveria participar presta-lhe a sua homenagem.

“We are devastated by the loss of Professor Awoonor, but hope must prevail,” said Storymoja founder, Muthoni Garland, in announcing the tribute. “Although we miss him, we are stronger because during his life’s journey, he so generously shared his wisdom with us.”

Para saber mais sobre o festival e o autor pode ler-se aqui, aqui, aqui ou aqui

Poemas de Adonis

Published18 Sep 2013

Tags milton hatoum Adonis poesia grandes lições

©Daniel Rocha

Árvore

Correu, me encontrou a manhã
vinha carregado no vento
voltando do adeus à minha tumba.
Tudo retorna:
juízes estão nas flores
os delegados se reunem na água
(mortos e embriões se multiplicavam
nas árvores testemunhas
e a desgraça junto delas)
ouvi os ramos
entoarem suas leis, e calei
me vesti de natureza.

 Adonis (poemas) - tradução de Michel Sleiman

Poemas de Adonis

Published17 Sep 2013

Tags Adonis poesia

© Daniel Rocha

Espelho do corpo do Outono

Você já viu a mulher
como carrega o corpo do Outono?
Primeiro ela mistura o rosto e a calçada
depois tece um vestido com os fios da chuva
as pessoas
na cinza da rua
são brasa apagada.

in Adonis (poemas) - tradução de Michel Sleiman

Poemas de Adonis

Published16 Sep 2013

Tags Adonis poesia grandes lições

Amor

Ma amam o caminho, a casa
e na casa uma jarra vermelha
amada pela água,

me amam o vizinho
o campo, a debulha, o fogo,

me amam braços que trabalham
contentes do mundo descontentes
e os arranhões acumulados no peito
exaurido do meu irmão atrás
das espigas, da estação, como rubis
mais rubros que o sangue.

Nasci e nasceu comigo o deus do amor
- que fará o amor quando eu me for?

in Adonis (poemas) - tradução de Michel Sleiman.

Poemas de Adonis

Published15 Sep 2013

Tags Adonis poesia grandes lições

Espelho do século XX

Caixão revestido com rosto de menino
livro escrito nas entranhas de um corvo
fera que avança levando uma flor
rocha que respira nos pulmões de um louco
assim é 
o século xx

in Adonis (poemas) - tradução do árabe de Michel Sleiman.

e ainda a poesia... no Sudão

Published26 Aug 2013

Tags poesia sudão Africultures

Como se afirma, rejuvenesce e permanece a poesia no Sudão. Um artigo importante para ler no portal Africultures.

"Au Soudan, les écrivains donnent parfois l'impression d'être une communauté underground. Il ne reste qu'une poignée de l' "ancienne génération" des années 1960, 1970 et 1980 : El Hadi Raddi, Issa Al-Hilu, Ibrahim Ishaq… Avec la prise du pouvoir par Omar Al-Bachir en 1989, la plupart des institutions culturelles ont été détruites et de nombreuses œuvres interdites. Beaucoup d'artistes ont émigré vers des horizons plus libres - et libéraux. Ceux qui restent acceptent de mettre leur muse en sourdine et publient ce qu'ils peuvent, sans trop créer de vagues : le moindre remous serait, de toute manière, étouffé par les Musannafat, le service de censure."

todo o artigo aqui

Poesia em Dakar

Published25 Aug 2013

Tags Slam poetry dakar senegal poesia

A poesia retoma a tradição oral. Ou simplesmente o gosto pela declamação ganha espaço no corpo de um improvável diseur e no espaço físico de Dakar, a capital do Senegal.

"Lo que hacen, esta declamación de poesía a veces acompañada de un fondo musical, es slam, un término que nació hace 20 años en Estados Unidos para definir a un arte que hunde sus raíces tanto en la literatura norteamericana como en las culturas negroafricanas. “Es difícil conocer el origen, porque en realidad el slamprocede de la oratoria y esto ya lo cultivaron los griegos”, asegura Djamil. “La música no es imprescindible, lo importante es la palabra, la fuerza de los textos”, añade Halil.

pode ler-se mais aqui, saber mais aqui e ouvir aqui

Badilisha poetry - uma rádio especial

Published19 Jun 2013

Tags poesia

A poesia africana na diáspora tem uma voz particular. Normalmente jovem, interventiva e pouco conformada. Badilisha Poetry Radio é a plataforma podcast onde estas vozes se encontram.

Ver alguns destes autores ao vivo será possível no próximo dia 23 de Junho às 18:00 na Cabana

A poesia voltará aos jardins

No Verão a poesia voltará aos jardins. Enquanto a festa não começa eis a nova poesia, escrita e dita pelos africanos do sul do continente.

"(...)

You see the African I am is not a Google definition,
But how do I wean my siblings off the nipples
On the internet and make them face books
And realise that they are more than just a Facebook profile?
That Africa is not straight caps, baggy jeans and cheap
Fifty cent rhymes, no! It’s the song of Bambatha,
And that beating beast beneath my breast
That bellowed ‘AMANDLA!’
While Desmond was shooting his mouth like a 2-2.
When dubul’ ibhunu was the right thing to say,
Apologies white folks for any ricochet."

African Thoughts - Philani Amadeus Nyoni

Todo o poema pode ser lido aqui

Warsan Shire

Published1 May 2013

Tags poesia warsan shire somali

Warsan Shire, tem 24 anos e ganhou o Brunel University African Poetry Prize. A sua poesia foi descrita como "muito bem elaborada, sutil e discreta no uso da linguagem e da metáfora e ainda assim capaz de evocar um forte senso de humor e de lugar que toca o leitor. 

"I've never been to Somalia, and I'm Somali. So the poems for me are a way of creating a connection to a country I've never been to. I don't know how it feels to belong, or to be home or anything like that"

Enquanto o Verão do Próximo Futuro não chega vamos ouvindo a nova poesia africana por aqui

Poesia em castelhano no deserto do Sahara

Os poetas da "Generación de la Amistad Saharaui" nasceram no Sahara Ocidental quando este era ainda colónia espanhola. Depois do exílio voltaram aos campos de refugiados da Argélia.Une-os a poesia e a necessidade de falar da sua cultura e do seu povo.

"El territorio del Sáhara Occidental (ocupado por Marruecos) y los campamentos de Tinduf, en Argelia (ese vacío adonde fueron a refugiarse los saharauis tras el abandono en el que los dejó España en 1976), están llenos de deseos. Y de palabras castellanas, usadas tanto en prosa como en verso."

Há mais para ler aqui e pode acompanhar-se o blog do grupo aqui

A escrita de Alejandra Pizarnik

Published26 Mar 2013

Tags literatura argentina poesia alejandra pizarnik

Alejandra Pizarnik, filha de emigrantes russos, de origem judia, é uma das mais talentosas poetas latino americanas, cuja vida e obra estão envoltas em mistérios e segredos que aos poucos se vão revelando.

"Se encienden más luces que amplían la leyenda de Alejandra Pizarnik, una de las poetas hispanohablantes más importantes de la segunda mitad del siglo XX, que aclaran su proceso creativo y aumentan la belleza de su enigmática y sobrecogedora poesía.

 Antes de empezar a balancearse en el borde del abismo, Alejandra Pizarnik(Buenos Aires, 1936-1972) ya escuchaba el seductor rugido del fondo silencioso."

Todo o artigo pode ser lido aqui

Ahmad Shãmlou

Published20 Mar 2013

Tags Ahmad Shãmlou poesia irão


Poisson

 

Je n'ai jamais senti mon coeur

Aussi rouge

                  Aussi brûlant

                                        Qu'aujourd'hui:

Je sens

Aux pires moments de cette nuit,

                                                    Accoucheuse de la mort,

Bouillir avec certitude

Mille et mille sources solaires

                                             Dans mon couer;

J'entends pousser

                            Soudain,

Dans chaque recoins de ce désert de désespoir

Mille et mille forêts verdoyantes

                                    

                                                      Ahmad Shãmlou (1925-2000)

Léon Gontran Damas

Published14 Mar 2013

Tags poesia Léon Gontran Damas Negritude

Fundador do movimento da negritude, com Aimé Césaire et Léopold Sédar Senghor, o poeta guianês Léon Gontran Damas faria 100 anos este mês. 

Et Black-Label

pour ne pas changer

Black-Label à boire

à quoi bon changer

Sur La Terre des parias

un premier homme vint

sur la Terre de Parias

un second homme vint

sur la Terre des Parias

un troisième homme vint

Depuis

Trois  Fleuves

trois fleuves coulent

trois fleuves coulent dans mes veines

Et Black-Label

pour ne pas changer

Black-Label à boire

à quoi bon changer

   Black-Label et autres poèmes


Pode ler-se mais sobre este autor aqui e aqui


A poesia latino americana

As mudanças da poesia latino americana e do seu papel político analisadas por escritores editores durante o Festival Internacional de Poesia da Nicarágua que terminou há dias.

(...) ya termino la época en la que la literatura, y principalmente la poesía, era un instrumento al servicio de los grandes cambios políticos. “En Europa algunos autores se han editado por situaciones circunstanciales, pero creo que van a surgir nuevos escritores y nuevos poetas alrededor de nuevos temas, porque los temas cambian, ahora es la violencia, la pobreza. La literatura no debe ser panfletaria, comprometida, debe dedicarse a los temas de los seres humanos, los grandes temas de la condición humana, que afectan a la vida de cada uno de nosotros”, dijo el editor. 

Pode ler-se o artigo aqui e conhecer o Festival aqui

Ainda a poesia - Slam Poetry

Published13 Feb 2013

Tags Slam poetry poesia

A discussão sobre a morte da poesia instalou-se em Inglaterra tendo como pano de fundo a slam poetry.

"Poetry’s enduring role, I believe, is to capture moments and emotions with a rare and beautiful brevity. “A Want” by Joshua Idehen was the most powerful dissection of the roots of the UK riots that I have read. Warsan Shire’s “Teaching My Mother How To Give Birth” is as sublimely composed a collection of poems as I have seen. Each of these poets and dozens more I have not named here, are just as accomplished on the page as they are on the stage. This divide between poets who perform their work and those who do not is, I believe a false one. Whether written or spoken, poetry is either well-crafted or it is not."

Aqui e aqui podem ler-se os artigos do "The Independent"

de "Sentimental", último livro de Eucanaã Ferraz

Published31 Oct 2012

Tags sentimental livro poesia eucanãa ferraz brasil

sentimental

de "Sentimental", último livro de Eucanaã Ferraz

 

Naquele instante

Amor só vem mais tarde, amar

só vem depois, amor é quando

tudo se foi, virá no próximo

trem, talvez no ano que vem

 

tudo será, por ora, pressentimento, 

presságio, bilhete em branco do bem

gratuito para depois de gastos vultuosos

tributos de desamor e de nada.

 

Amarmos começa no fim? Amor

se escreve ao contrário? Roma,

porém, não abrirá palácios senão,

quem sabe, no próximo feriado.

 

Moroso, é após tudo pronto

o amor quando, tardiamente,

já não damos por nada ou

damos só tempo ao tempo.


(Mais sobre o Eucanaã Ferraz, aqui...)

10 visitas ao lugar comum

Published12 Jul 2012

Tags poesia poesia brasileira


1

Quebrar o silêncio

e depois recolher

os pedaços

testar-lhes o corte

o brilho

cego

 

 

2

Pagar para ver

e receber

em troca

vistas parciais

uns cobres

de paisagem

 

 

3

Dobrar a língua

e ao desdobrá-la

deixar cair

uma a uma

palavras

não ditas

 

 

4

Perder a hora

e encontrá-la depois

num intervalo

de teatro

nos cantos empoeirados

do domingo

entre um telefonema e outro

dentro do táxi

 

 

5

Dar à luz

e então sondar

num átimo

de abismo

– como um espeleólogo

um cosmólogo

um cenógrafo

um guarda-noturno –

a própria

escuridão

 

 

6

Perder a cabeça

e então buscá-la

nos últimos lugares

em que esteve

dentro da touca

de banho

sobre o travesseiro

entre os joelhos

entre as mãos

na casa demolida

da infância

sobre suas coxas

mornas

ainda

 

 

7

Tirar fotografias

e depois devolvê-las

àqueles de quem as tiramos

à mulher fora de foco

em seu vestido violeta

à casa de janelas verdes

às paisagens

tomadas emprestadas

à casca

de cada coisa

aos vários ângulos

da Torre Eiffel

ao cachorro morto

na praia

 

 

8

Cortar relações

e depois voltar-se

verificar se o que restou

suporta

remendo

demorar-se

sobre a cicatriz

do corte

 

(guardar

por precaução

a tesourinha

para mais tarde)

 

 

9

Esperar

horas a fio

e então

desvencilhar-se

das coisas tecidas

na espera

dos ponteiros do relógio

cada um mais lento

que o outro

dos pelo menos

dez cigarros

das poltronas de mogno

uma delas

vazia

 

 

10

Quebrar promessas

e ao recolher os cacos

discerni-los

entre aqueles

do silêncio

quebrado

Ana Martins Marques in Piauí.

Simetría de sol puro. Poesía africana hoy

Published8 May 2012

Tags poesia África

Y sin embargo está, desbroza, aclara, evita intermediarios. Me explico: si alguien quiere escuchar a África, sería bueno que leyese en voz alta a sus poetas. Y ello a pesar de que utilicen lenguas heredadas de sus colonizadores. Las palabras serán suyas pero el canto es nuestro, diría Théophile Obenga, dejando así zanjada la cuestión. Si leemos los textos (**), entenderemos el acoso y el sometimiento de sus países, impostando formas de vida ajenas a sus longevas tradiciones.

Pero no nos detendremos ahí, sino que descubriremos que ese es el punto cero del África contemporánea, un punto de arranque que para muchos debe ser un punto y final, ya que es más fácilmente asimilable un continente sumido en la hambruna, en las guerras intestinas o en la visión romántica de las películas made in USA. Este tipo de estereotipos se derrumba fácilmente si acudimos a las propias palabras de sus protagonistas, de los actores y actrices de esa película real que es África hoy.

Precisamente es en ese documental donde los poetas tienen un papel protagonista:“Ser poeta, en nuestros días, es querer con todas sus fuerzas, toda su alma y toda su carne, frente a los fusiles, frente al dinero que también se convierte en fusil, y sobre todo frente a la verdad preestablecida sobre la cual nosotros, poetas, estamos autorizados a mearnos, que ninguna faceta de la realidad humana se vea empujada bajo el silencio de la historia. He nacido para contar esa parte de la historia que lleva cuatro siglos sin comer”.

Las palabras del poeta congoleño Sony Labou Tansi nos permiten sintetizar bien a qué nos estamos refiriendo, a la reclamación de la intrahistoria para el concepto de universalidad. El primer premio Nobel africano, Wole Soyinka también habla sobre ello, esbozando esa teoría de palabras-frente-a-las-armas que otorga una importancia fundamental a la labor de los poetas. Léopold Sédar Senghor decía con razón acerca de ese lazo tenso entre poesía y esperanza: “La poesía no puede morir. ¿Si no quién cantaría la esperanza?”. Centrándonos en ello, la poesía africana de hoy es casi un grito, un grito de resistencia que, de paso, nos aclara conceptos sobre su historia reciente. Un poema de Chenjerai Hove, poeta de Zimbawe, es especialmente aclaratorio:

Parlamento de los niños

La madre se sentó

con el hambre entre sus manos

y ahogó el amor en sus ojos.

Luego las moscas vinieron

a cantarle repulsivas canciones al oído.

Nosotros escuchamos la inagotable historia

De la lucha y el hambre.

Pero la Madre no cantó

al llegar el tiempo del canto

En la historia popular.

Ella sólo señaló a las moscas

Y nos pidió que tarareásemos

la misma canción musitada por las alas.

Cantamos la canción alada

mientras nos uníamos en la búsqueda.

Mosca y niño unidos en una misma canción

Madre y hojas caídas al tiempo

padre ausente,

desconocido.

Mientras ella sondea los zumbidos,

juntos los seguimos

Creamos unión

para develar los motivos de la mosca y el niño.

Así, en nuestros corazones

Están las vaporosas huellas de la mosca

Cuyas alas nos contaron historias

Del sentido de la vida y de a quién pertenecemos.

-Escuchamos en la radio que hay una crisis-

los miembros del parlamento exigen mayores salarios

Y nosotros no somos tomados en cuenta.

Al menos estamos a salvo de promesas ahogadas.

Habremos de debatir

a cámara abierta

con profusión de enfermedades

como Símbolo del electorado de las tumbas

y tasas demográficas ascendientes

como símbolo del electorado de los sobrevivientes.

Perros-gatos-ratas-moscas

Perros-gatos-ratas-moscas

Envíen emisarios a esta cámara

Aunque el debate se torne melancólico

¡Extravíos del lenguaje!

¡Hacen falta espacios!

-Simple ausencia de orden en el recinto-

Luego compartimos nuestros haberes:

Desde bolsillos llenos de sangre

hasta parlamentos de políticos

Juntos sobrevivimos

Al núcleo de largas sesiones

y caducos proyectos de ley

que ahora reptan

donde ayer hubieron de correr.

Publicar todo el poema es un acto de resistencia también, evitar el intermediario entre ellos y nosotros es dinamitar una frontera, uno de esos límites invisibles que tanto separan y tergiversan. De ellos habla Jack Mapanje cuando reivindica que, una vez desaparecida la frontera mental que nos separa, los problemas de ellos como seres humanos son los mismos que los nuestros:

La cabeza

Que realmente duele es

La esposa, los niños,

Parientes y amigos

No admitidos,

La escasez

De espacio para respirar

Y la materia legible,

El ruido

Del papel crepitante

Y la pluma

Impugnada.

La voz de las mujeres también reivindica esta igualdad real, sin paternalismos, sin intermediarios que nos hagan la exégesis de lo que realmente pasa en África. Interesa, entonces, volver a quitar el velo del prejuicio para observar la cercanía con que sus versos nos interpelan. La poeta Agnès Agboton escribe:

Tal vez

Tal vez la noche que se acerca,

tal vez el día que despierta, podamos beber el agua de mi vodún.

El agua de mi vodún

que ha pasado la noche en vela, amor mío, por ti.

Con ello nos concentra en el problema principal del individuo, sea de donde sea. El amor, entendido este como conjunto de relaciones interpersonales, no entiende de colores, ni de fronteras. Esta reflexión tan ingenua es hoy una auténtica transgresión, pura palabra subversiva en tiempos en que la economía humilla lo poco que nos queda como seres humanos. Y es que, en una conversación con un poeta camerunés, Michel Feugain André, este decía que los economistas llevaban poco tiempo existiendo y nos habían traído muchos problemas, mientras que los poetas llevaban desde el principio de la humanidad y solo habían creado belleza. Bajo este prisma, añadió: los poetas africanos lo sabemos bien, la simetría del sol puro es lo único que sigue suscitando nuestro asombro, esa capacidad de sombra que tenemos y con la que dialogamos.

Ler no El País.

"Explosión de antipoemas en homenaje a Nicanor Parra"

Published23 Apr 2012

Tags chile poesia

Ya que el poeta chileno Nicanor Parra no puede venir hoy, 23 de abril, a recibir su Premio Cervantes a la Universidad Alcalá de Henares, en Madrid, los invito a rendirile un homenaje enviando antipoemas al ciberespacio. Poemas "a la manera parriana", es decir que ven la vida de frente y desde su envés, con ironía o sarcasmo o ternura o sátira pero siempre desde la esquina del humor que desvela la verdad.

El pie de esta iniciativa lo han dado hoy ocho poetas hispanohablantes, en la edición impresa de EL PAÍS. Ahora es el turno nuestro, de los lectores.

A continuación reproduzco el texto de presentación que he publicado hoy en la edición impresa EL PAÍS y el enlace donde puedes leer los ocho poemas.

Continuar a ler no El País.

"Pasaporte del apátrida"

Published29 Mar 2012

Tags colômbia poesia






En la aduana me preguntan
De qué país soy ciudadano.
Cuando la Catrina toca su pífano de hueso
Y remienda sueños olvidados, soy mexicano.
Si al abrir y cerrar un bandoneón se despliega la calle
Y un gato recorre las cornisas del barrio,
Mi ángel de la guarda habla en lunfardo.
Si la tristeza se riega en mi cuarto,
Envalleja mi pan y mi artesa, mi plato y mi cuchara,
Soy el huayno que acompaña al hombre solitario,
Un hombre llegado de la Puna.
Veo el fantasma de Teillier y soy agua de Chile,
Compatriota de cielos y naufragios.
Si el silencio se desliza en un bote de totora,
Si las nubes mascan coca para subir a su altura
soy boliviano.

Cuando suena una orquesta en la percusión del pecho
Lleva un sonido de trenes al túnel de la noche,
Soy de Santiago o La Habana, un lajero que regresa
A golpear con su bastón los tinglados del alba.
Si un potro recorre la llanura (si el viejo Simón Díaz
Trae un sombrero de oro, un color de araguaney),
Mi agua bautismal es Venezuela.
¿Sabe usted, impaciente aduanero,
Dónde queda Uruguay?, Queda en otro monte,
En otro mundo fabulado por un Conde sin reino.
Soy uruguayo al visitar el eco de sus cantos.
El viento trae semillas de lejanía,
Teje y desteje trenzas y nubes
Y un concilio de sombras oficia las distancias:
Soy correo de Chasquis,
Un incierto corresponsal de Gangotena.
Siempre que camino las florestas del lenguaje
Vuelvo a Darío y soy de un país
Que compone sonatinas tocadas por el mar.
Cuando intento reconciliarme con la muerte,
Soy compatriota de Barret, con él me hago oriundo
de Paraguay.

Entro a un mapa oculto en las manos de Cardoza,
En sus líneas soy vendedor de espigas y máiz
En la Antigua Guatemala.
Soy brasilero en Pernambuco, me apellido Bandeira
Y prefiero "el lirismo de los locos",
Los ojos de una muchacha envejecen sin remedio.
A veces soy colombiano, cuando en Ciénaga de Oro
Suenan los bombardinos
O un poeta pinta el verde de todos los colores.
¿Me entenderán en la aduana
Si les digo que soy del lugar donde te encuentres?
 
 
 

Juan Manuel Roca

(Medellín, Colômbia, 1946)

Poeta, ensaísta, jornalista.

Fur

Published27 Feb 2012

Tags brasil poesia portugal

Prosa & Verso, O Globo, 25.02.2012

Fur

                                                 com cara de Whitman

foi assim que você pensou que eu viria ao mundo

foi assim que que você me viu na floresta

foi assim que você me viu pendurado no poste elétrico

sempre pendurado num ramo qualquer, sempre usando

o verão.

você se lembra daquele verão no Brooklin

em que ficámos perseguindo os bombeiros

durante todo o dia apenas para ver

uma vez e depois outra vez

o leque aquático que se abria sobre o fogo?

você citava poetas húngaros mas nesse tempo

eu só queria saber de inventar uma língua

que não existisse.

você se lembra do concierge que nos recebia

na pensão do Brooklin como se nunca

nos houvesse visto antes?

e não havia semana que passasse

em que nós não dormíssemos

pelo menos uma madrugada

na pensão do Brooklin.

me lembro dos dólares amassados

que eu semanalmente tirava do bolso

para pagar a Doug

eu sabia o nome de Doug

o Doug nos tratava disfarçadamente

por menina e menino.

você falava que os dólares vinham

sempre com uma forma diferente

eu adoro como você consegue tirar um coelho do bolso

eu adoro como você consegue tirar uma lâmpada do bolso

eu adoro como você consegue tirar a Beretta 92fs do bolso

foi assim que você pensou que eu ficaria

no mundo

com corpo de besta vestida

usando um lápis pousado na orelha

foi assim que você me viu

pedindo três ovos para Miss Elsie

a senhora da mercearia na Court Street

ela me deu oito ovos

porque ela sempre dava alguma coisa

ela me achava uma graça e ela não acreditava

em números ímpares. eu também não.

me lembro de você na mercearia

do Brooklyn

você costumava ficar lá atrás

brincando na secção das ferramentas.

se eu tivesse mais do que um coelho,

uma lâmpada ou uma pistola

eu teria te comprado um Black n' Decker

eu acho que você seria a pessoa mais feliz da ilha

com um Black n’ Decker enfiado no cinto.

foi assim que você pensou que eu ficaria no mundo,

usando flores em meu cabelo negro,

sempre escondidas no emaranhado dos cachos

sempre escondidas no emaranhado do caos

de minha cabeça negra.

só você sabia quantas flores eu usava

porque agora eu já sei

que você dedicava as noites

à contagem. Deus não dorme

e você também não. 

Matilde Campilho

Matilde Campilho nasceu em Lisboa em 1982. Morou em Madrid, Milão, Florença e Moçambique. Mora no Rio de Janeiro, onde escreve.

Nuno Ramos

Published13 Feb 2012

Tags artes visuais nuno ramos poesia poesia brasileira

O sono é minha areia

piso nele. É feito feno

engulo ele. É meu planeta

moro nele desde ontem.

Maré que morde esse novelo

que era um homem, nylon

preso pela franja, nylon

verde, musguenta.

Sem risada

coisas acordadas

dizem seu nome.

Depois somem.

Nuno Ramos (1960)

in Junco, ed. Iluminuras, São Paulo, 2011

Escultor, pintor, desenhista, cenógrafo, ensaísta, videomaker. Formado em filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP, de 1978 a 1982. Trabalha como editor das revistas Almanaque 80 e Kataloki, entre 1980 e 1981. Começa a pintar em 1983, quando funda o atelier Casa 7, com Paulo Monteiro, Rodrigo Andrade, Carlito Carvalhosa e Fábio Miquez. No ano seguinte, recebe do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP a 1ª Bolsa Émile Eddé de Artes Plásticas. Em 1992, em Porto Alegre, expõe pela primeira vez a instalação 111, que se refere ao massacre dos presos na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru) ocorrido naquele ano. Publica, em 1993, o livro em prosa Cujo e, em 1995, o livro-objeto Balada. Vence, em 2000, o concurso realizado em Buenos Aires para a construção de um monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militar naquele país. Em 2002, publica o livro de contos O Pão do Corvo. Para compor as suas obras, o artista emprega diferentes suportes e materiais, e trabalha com gravura, pintura, fotografia, instalação, poesia e vídeo.

Vencedor do  Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2009, pelo seu primeiro romance, Ó.

Para ler entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Nuno Ramos, clicar aqui.

World Poetry Movement

Published21 Sep 2011

Tags colômbia medellin poesia world poetry movement

37 directors of poetry organisations, created the

"world poetry movement" and published a manifesto

874 poetry readings in 540 cities of 107 countries

874 poetry readings in 540 cities of 107 countries will be held this 24th of September, convoked by the organizations 100,000 Poets for Change (http://www.bigbridge.org/100thousandpoetsforchange/) and World Poetry Movement -WPM- (http://www.wpm2011.org/), on a day marked by a spirit which desires that a new time will open for humankind. The World Poetry Movement (WPM) was founded in Medellín (Colombia) on July 9, 2011, and in less than two months in existence it has achieved the incorporation and participation of 105 international poetry festivals, 76 international poetry organizations, and 673 poets from 124 nations.

(...)

This is not just about assessing the great number of poetry readings, performances and poetry interventions, both urban and rural, that are being prepared throughout the world’s continents for this date, but, above all, about celebrating the deep symbolism embodied in this new world poetry action, where essential forces come together and which has an impact on the heart of the human history – a history that seems still to go against the grain of life itself.

(...)

In Africa, 55 poetry readings will be held in capitals and other cities in 18 countries. 100 poetry events will be held in 19 Asian countries. 210 poetry interventions are scheduled to take place in 38 European countries. Oceania will have just 12 poetry readings – in Australia and New Zealand. The American continent will hold the highest number of poetry readings on the 24th of September next, with 453 events confirmed in 27 countries. Many of these events will additionally host poetry workshops and concerts.

Há mais para ler aqui.

Golgona Anghel

Published12 Aug 2011

Tags golgona anghel poesia roménia

(foto de Ozias Filho)

Esta autora é romena mas vive em Portugal há 10 anos e escreve em português. Escreveu um livro intitulado Vim porque me pagavam. Chama-se Golgona Anghel e é um abismo.

A ler, mas só os mais afoitos.

António Pinto Ribeiro

Porque falta meia hora antes de

tomar o comprimido para dormir,

porque mesmo depois de tanto tempo

fazes de mi o filho com síndroma de Down

de Arthur Miller,

porque escrever não é só abrir cabeças

com o bisturi de Lacan,

e porque um poema não é a Isabella Rossellini

a chorar todos os sábados à noite,

nem o casal encontrado abraçado

na paralisia bucal do Vesúvio.

Porque a poesia não é a ponte Mirabeau

num cartaz de néon da adolescência,

porque hoje, quando ligaste,

era apenas porque te tinhas enganado no número,

porque estou cansado, voilà,

e não consigo evitar a noite,

penso agora em ti, Juliana,

heroína no sentido naturalista do termo,

penso sobretudo no teu arzinho

de provocação e de ataque.

Podias ter sido a Maria Eduarda

do cinema norte-americano,

a rapariga que ajudou a pôr fim à guerra em Vietname,

a Frida Kahlo e o Kofi Annan,

a estátua de Notre Dame.

O teu sentido reformista,

o teu olhar de Eça socialista,

cá está,

tinhas cabeças para embaixadora da boa vontade,

pés para andar nos corredores da ONU,

o feitio da botina, a mania, a despesa.

Mas continuas a dormir no teu cacifo húmido,

de cara para a parede

enquanto 20 repúblicas foram perpetuando

campanhas eleitorais e golpes de estado

nos jornais com os quais limpas os vidros da cozinha.

Coitada, coitadinha, coitadíssima,

permaneces na sala, um pouco pálida e fraca,

mas restituída aos deveres domésticos e aos prazeres da sociedade!

O feitio da botina, a mania, a despesa,

o cheiro a terebintina,

Ó Juliana Couceiro Tavira, per omnia saecula,

chega paracá a garrafa e o cinzeiro;

temos assuntos por tratar e meia hora de créditos.

Golgona Anghel

in Vim Porque Me Pagavam (Lisboa: Mariposa Azul, 2011)

21.º Festival de Medellín homenageou poesia africana

O Festival Internacional de Poesía de Medellín, na Colômbia, já completou o seu 21.º aniversário com a concretização de mais uma edição. Mas esta foi a primeira vez que integrou a Red Nuestra América de Festivales Internacionales de Poesía, adotando uma nova versão que incluiu uma homenagem ao "Espírito da Origem", associado à poesia africana.

De 2 a 9 de Julho de 2011, este reputado Festival voltou a reunir poetas oriundos da América do Sul mas também de outros continentes, para além de directores de Festivais congéneres, entre muitas mais actividades relacionadas com o ensino, escrita e difusão da Poesia. Participaram mais de 90 poetas de 50 nações de todos os continentes, destacando também neste ano a realização da 15.ª Escola de Poesia de Medellín e de um ciclo de cinema africano composto por 7 longas-metragens produzidas no Senegal, Mali, Burkina Faso e República Democrática do Congo. 

Aqui é possível conhecer detalhadamente o programa da 21.ª edição do Festival Internacional de Poesía de Medellín e aqui a sua já longa história, desde a sua origem em 1991.

Breyten Breytenbach II

Published21 Apr 2011

Tags África áfrica do sul breyten breytenbach poesia

Mais um poema de Breyten Breytenbach

 

AMEAÇA DOS DOENTES

(para B. Breytenbach)

Senhoras e Senhores, permitam-me que vos apresente Breyten

Breytenbach

este homem magro de camisola verde; é devoto

e comprime e martela a cabeça oblonga

no intuito de vos fazer um poema    exemplo:

tenho medo de fechar os olhos

não quero viver no escuro a ver o que se passa

os hospitais de Paris estão cheios de homens lívidos

especados à janela fazem gestos ameaçadores

como anjos no forno

e a chuva escorcha e engordura as ruas

tenho os olhos pegados

eles/vós me enterrareis em dia húmido

quando a terra se torna em negra carne crua

e as folhas e as flores maceradas coloram de rugas de água o

            sangue branco do ar

antes que a luz roa tudo

mas eu recuso prisão para os meus olhos

colhei as minhas asas ossudas

a boca é demasiado secreta para não sentir a dor

calçai botas para o meu enterro quero

ouvir a lama amassar-vos os pés

os rouxinóis agitam a cabeça molhada, reluzentes flores negras,

as árvores verdes são monges resmungões

plantai-me numa colina, junto a um pego onde haja bocas-de-

            -lobo

deixem que patos velhos e sabidos cubram de luto o meu túmu-

            lo

à chuva

almas de mulheres tresloucadas mas sagazes são possuídas por

gatos

medo medo medo em saturadas descoloridas cabeças

e não quero que embalem (que consolem) a minha língua ne-

            gra.

Vistes como é inofensivo, hajam caridade com ele.

trad. de Mário Cesariny

Eucanãa Ferraz

Published3 Nov 2010

Tags américa do sul brasil eucanãa ferraz poesia

água-forte

À beira de você, toda a paisagem

se resume a isto: nenhuma urgência

que seu rosto brilhe, mas ele arde

como se quisesse compensar em luz

o seu silêncio. Gastaria a vida assim,

à orla do céu que reflecte

na água quieta que rola no intervalo

entre nós. Demoro-me aqui,

à roda desse engano,

dessa infinitamente triste alegria.

E quanto mais me sinto afogar,

mais permaneço,

se o amador a nadar para fora

prefere morrer na coisa amada.

In, Cinemateca, Cia das Letras

Mbate Pedro

Published19 Oct 2010

Tags África mbate pedro moçambique poesia

e uma corvina

vomita o mar

no prato do pescador

e um afogado

espeta os pulmões

na garganta do marinheiro

fomos ao mar

pescar corvinas

e trazemos entre dedos

a água

cheia de rios

(Poema retirado de Minarete de Medos e Outros Poemas, Indico, 2009)

Mbate Pedro, nasceu na Cidade de Maputo, capital de Moçambique. Desde muito cedo interessou-se pela literatura, tendo, no entanto, iniciado o seu percurso na década de 90. Participou em vários movimentos literários surgidos na cidade de Maputo. É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos e da União Mundial dos Escritores Médicos. Colabora na revista brasileira de literaturas africanas Sarará. Publicou "O Mel Amargo" (2006) e "Minarete de Medos e Outros Poemas" (2009). É licenciado em Medicina pela Universidade Eduardo Mondlane.

Dennis Brutus


Morreu Dennis Brutus, poeta sul-africano. Mais aqui
1.
Golden oaks and jacarandas
flowering:
exquisite images
to wrench my heart.
2.
Each day, each hour
is not painful,
exile is not amputation,
there is no bleeding wound
no torn flesh and severed nerves;
the secret is clamping down
holding the lid of awareness tight shut—
sealing in the acrid searing stench
that scalds the eyes,
swallows up the breath
and fixes the brain in a wail—
until some thoughtless questioner
pries the sealed lid loose;
I can exclude awareness of exile
until someone calls me one.
3.
The agony returns;
after a crisis, delirium,
surcease and aftermath;
my heart knows an exhausted calm,
catharsis brings forgetfulness
but
with recovery, resilience
the agony returns.
4.
At night
to put myself to sleep
I play alphabet games
but something reminds me of you
and I cry out
and am wakened.
5.
I have been bedded
in London and Paris
Amsterdam and Rotterdam,
in Munich and Frankfort
Warsaw and Rome—
and still my heart cries out for home!
6.
Exile
is the reproach
of beauty
in a foreign landscape,
vaguely familiar
because it echoes
remembered beauty.
(1975)
E um dos maiores poetas africanos, um herói.