Logótipo Próximo Futuro

Um itinerário de ocupações: MAPUTO

ocupações temporárias maputo 2012

(Fotografia de Maimuna Adam)

Desde 6 de Dezembro, Maputo está temporariamente ocupada por seis intervenções artísticas de igual número de artistas, tendo como mote a palavra “Estrangeiros”.

Esta proposta temática para a terceira edição desta mostra de arte contemporânea surge depois de muitos debates sobre migrações, legais e ilegais, fluxos de pessoas e trocas inerentes, por se entender que resta ainda espaço para falar “dos de fora”; porque a aldeia que se diz global continua a classificar dicotomicamente os seus habitantes: “os de dentro” e “os de fora”. Este estatuto, que parece exclusivamente geográfico, tem também um eixo temporal que retira a pátria aos “de dentro”, se estes permanecem muito tempo fora. Quando regressam, ou quando chegam, passam a ser olhados como “de fora”. São estrangeiros na terra natal.

“Estrangeiros” nas OCUPAÇÕES TEMPORÁRIAS 20.12 realiza-se em Maputo no mês em que todos os “de fora” parecem ocupar a cidade. Os turistas estrangeiros que chegam de avião ou nos cruzeiros, os moçambicanos do estrangeiro que voltam para as férias de família e praia, os estrangeiros que aqui trabalham, e que ainda não saíram para as suas terras de origem.

A exposição toma as linhas de perspectiva, de trajecto e de trabalho de alguns destes estrangeiros, no caso, cinco artistas moçambicanos que estudaram e viveram ou ainda vivem fora do país, e um angolano.

São muito diversas as obras e as abordagens que os autores fazem e o termo “estrangeiros” é transmitido sem recurso a discursos óbvios.

sandra muendane

(Sandra Muendane/Fotografia de Maimuna Adam)

Sandra Muendane no Aeroporto de Mavalane apresenta “Outra moda é possível” que propõem uma reflexão sobre a origem daquilo que enunciamos como património identitário, a partir de objectos quotidianos.

eugénia mussa

(Eugénia Mussa/Fotografia de Maimuna Adam)

Eugénia Mussa, com o seu tríptico de pintura exposto no exterior do Restaurante Cristal (Av. 24 de Julho, nº 554), obriga-nos a uma leitura mais atenta do que são as paisagens conhecidas. “Fata Morgana”, assim se chama o seu trabalho, vai para além da miragem, recorre à memória e ao envolvimento emocional, para que possamos ver para além do imediato.

rui tenreiro

(Rui Tenreiro, video still)

Rui Tenreiro ocupa o interior da Embaixada Real da Noruega (Av. Julius Nyerere, nº 1162). O visitante começa por experienciar a condição de estrangeiro ao sujeitar-se ao horário da embaixada (exposição visível apenas no horário da instituição) e também com a necessidade de se identificar. Este “ritual” próprio de quem parte para um território estrangeiro, completa-se no visionamento dos três vídeos e dos textos que nos levam em “Viagem ao Centro de Capricórnio” onde, como em qualquer viagem reconheceremos paisagens ou pelo menos traçaremos paralelos com os nossos territórios de origem.

tiago correia-paulo

(Tiago Correia-Paulo/Fotografia de Maimuna Adam)

Tiago Correia-Paulo sai da sua área profissional, a música, e apresenta-nos “5:59” uma instalação com objectos e vídeo na Embaixada Sul-Africana (Av. Eduardo Mondlane, nº 41). Aqui, a abordagem é feita a partir do confronto com a rotina, que poderíamos associar à esperança e muitas vezes à desilusão de alguém que num país estrangeiro se vê obrigado a procurar o cumprimento do seu próprio sonho.

joão petit graça

(João Petit Graça/Fotografia de Maimuna Adam)

A instalação visual e sonora de João Petit Graça na Embaixada de Portugal (Av. Julius Nyerere, nº 720) deixa-nos, literalmente, uma janela aberta para nos debruçarmos sobre os imensos fluxos que o termo “estrangeiros” pode encerrar. “HOYO-OYOH”, leitura em espelho da expressão de boas vindas, é também uma singular visão do que pode ser o fluxo de imigrantes em Maputo, a partir de uma porção de cerveja.

kapela

As reproduções das obras do artista angolano Paulo Kapela podem ser observadas em diferentes pontos da cidade como sejam a Av. Eduardo Mondlane, frente à Ronil, a Escola 1º de Maio da Av. 24 de Julho ou o mural de graffiti na Av. OUA. Estas “Obras” de Paulo Kapela têm associada uma mensagem recorrente de paz e unificação que pretende eliminar o estigma do estrageiro e que se reflecte também no uso indiscriminado de objectos, ícones e referências que o artista faz nas suas colagens e na construção das suas obras que são, normalmente, apresentadas em instalações.

Tal como nas edições anteriores, as Ocupações Temporárias podem ser vistas intencionalmente, como um percurso que se realiza de uma só vez, ou em etapas, feitas ao acaso ou de acordo com a agenda de cada um.

Mais uma vez, a ocupação de espaços não vocacionados para a apresentação de obras de arte constitui a “originalidade” do projecto, sendo relevante o facto de em 2012 se terem aberto à proposta instituições que à partida poderiam ser assumidas como de pouco flexibilidade como são as embaixadas.

O apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian à realização deste evento é também uma nota a reter no apoio à divulgação e à circulação da criação contemporânea moçambicana, no seguimento de outras acções anteriores realizadas com este e com outros projectos.

 

Mais informações:

Ana Lúcia Cruz

+258 82 353 79 21

 

Nota: Os artistas podem ainda ser contactados em Maputo. Uma visita à exposição pode ser agendada com a produtora Ana Lúcia Cruz.

estrangeiros no estrangeiro

spla

EVENEMENT | ARTS PLASTIQUES

Du 6 au 27 décembre 2012 se tient la 3è édition des Occupations Temporaires ("Ocupações Temporárias"), festival d'arts visuels dans l'espace urbain de Maputo, Mozambique. Le thème de cette édition est "Etrangers".

FESTIVAL | MAPUTO | MOZAMBIQUE | 06-12-2012 > 27-12-2012

Cinq artistes mozambicains et un angolais participent à la 3è édition des Occupations Temporaires des rues de Maputo, du 6 au 27 décembre, dans un circuit qui passe par le restaurant Cristal, l'ambassade du Portugal, l'ambassade de la Norvège, l'ambassade d'Afrique du Sud et l'aéroport de Maputo.

"Etrangers" est la devise qui sert de point de départ à l'intervention de ces six artistes, de différentes disciplines. Les occupants sont basés dans des territoires liés à la thématique et nous propose des approches différentes de ce que peut signifier ou faire résonner le mot "étranger".

Eugénia Mussa, João Petit Graça, Rui Tenreiro, Sandra Muendane et Tiago Correia-Paulo sont les cinq mozambicains présentés cette année. Ils utilisent comme support la peinture, la vidéo, le son et les installations pour aborder un concept qui leur est familier, puisqu'une partie de leur parcours universitaire ou professionnel est passé par l'étranger. Pour cette exposition réalisée chez eux, en territoire "familier", les artistes approfondissent le regard sur les dimensions de ce qui peut se vivre comme "autre", comme "étrangers", au-delà de la dimension géographique ou frontalière que le thème comprend.

Paulo Kapela, artiste angolais, évoque les thèmes de la culture bantoue, au-delà des frontières politiques. Dans un discours transnational en faveur de la paix et de l'union des peuples, il crée et recrée des manifestes qui allient religion, mysticisme et tradition avec des icônes, réalités et matériaux contemporains. Maître Kapela est le premier invité non mozambicain à intégrer le projet Occupations Temporaires et des reproductions de ses oeuvres plus récentes pourront être vues dans les rues de la ville.

La Fondation Calouste Gulbenkian soutient cette édition des Occupations Temporaires.

PF e PGAD apresentam... "ESTRANGEIROS" (6-27 Dez, em Maputo)!

estrangeiros

Uma parceria entre o Programa Gulbenkian Próximo Futuro (PGPF) e o Programa Gulbenkian de Ajuda ao Desenvolvimento (PGAD), com curadoria de Elisa Santos

“Estrangeiros” é a palavra mote que serve de ponto de partida para a intervenção artística de 5 artistas moçambicanos e 1 angolano, de diferentes áreas de criação. Os ocupantes estão baseados em territórios que facilmente se identificam com a temática proposta, e trazem-nos abordagens muito distintas, tanto ao nível da linguagem quanto ao nível do discurso daquilo que podem ser as leituras e os significados da palavra estrangeiro.

Eugénia Mussa, João Petit Graça, Rui Tenreiro, Sandra Muendane e Tiago Correia-Paulo, são os cinco moçambicanos que se apresentam este ano, utilizando como suporte a pintura, o vídeo, o som e a instalação de objectos, para abordarem um conceito que lhes é familiar, dado o seu percurso académico e profissional que passou pela saída do país. 

Nesta exposição feita “em casa”, feita em território “familiar”, os artistas aprofundam o olhar sobre as dimensões do que pode ser viver-se como “outro”, como “estranho”, para lá da dimensão geográfica ou fronteiriça que o tema encerra. 

Paulo Kapela, artista angolano que aborda as temáticas da cultura bantu muito para além das fronteiras políticas trará um discurso transnacional,  incitando a paz e a união dos povos,pela  criação e recriação manifestos que aliam religiosidade, misticismo e a tradição com ícones, realidades e materiais contemporâneos.

Mais sobre as "Ocupações temporárias", aqui.

"Debating African design and fashion at the Calouste Gulbenkian Foundation"

(foto de Sandra Rocha/KameraPhoto)

Nowadays, the design and fashion concepts are, directly linked to what happens in the capitalist countries. But, how can it be, to the African creators, who do not have the same resources as their American or European counterparts? It was on this issue (and not only!) that the debate of the African and Latin America Observatory addressed, entitled "The place of design and fashion in North Africa", held in May, at the Calouste Gulbenkian Foundation, in Lisbon, Portugal.

Little by little, fashion begins to grow in Africa. At least it is one of the conclusions that it is drawn from the conference "The place of design and fashion in North Africa", organized by the Africa and Latin America Observatory, which took place at the Calouste Gulbenkian Foundation, in Lisbon, Portugal, last May.
Among the experts that were present was Mirian Tavares, from the Research Center for Arts and Communication in Faro, (Centro de Investigação em Artes e Comunicação de Faro), and Sandra Muendane, from the African Center for Development and Strategic Studies (Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento). The first investigator held and presented an analysis to the photographic work of the Moroccan Majida Khattari, namely to the vision that she has about the role of the veil in the Muslim world and how she "uses photography, facilities and fashion shows as a provocation/ reflection" about it. Meaning, Khattari is inspired on the lives of Muslim women to design her work and thus "establish a dialogue between different cultures within her own culture".  An art that includes a goal, according to Mirian Tavares: "to cause unrest and the desire to know more". Already in her speech at the conference, Sandra Muendane held a picture of the functionality of small workshops of African fashion. She has an architecture degree in fashion design from the Technical University of Lisbon (Universidade Técnica de Lisboa), and drew on her experience in parades, exhibitions, workshops and artist residencies in Africa and explained how the creators of this continent work. "The inspiration is the cultural, economic and political social environment in which one lives, because it has a direct effect on our actions", explained the also Mozambican designer, adding that the purpose for these designers is to create "a line of functional and commercial clothing (to sell) and/ or conceptual (to be commented)

Sandra Muendane also mentioned the fact that because there are hardly any institutes specialized in fashion teaching in the African territory, that means that many creators are self-taught or have only a technical training course in sewing. And to illustrate the work done in an atelier, the researcher portrayed a day in a ready-to-wear in South Africa. First the collections are drawn up, "which implies looking for trends and sketch making". Then the "existing materials, which are organized by country, color and gender” are adapted to make the molds, which "are then cut and sewn in the same atelier".

Pieces that attract the upper class
The African designer’s creations are disclosed in fashions shows - there are several events, such as the Angola Fashion Business - salons, specialized magazines and even websites. And it is from there that they capture their main customers that, according to Sandra Muendane, belong to the "upper class, between 25 and 60 years old, or foreigners who want to know the African fashion". Sales are mostly made in the designers' own stores, where the prices are around "between 190 and 380 dollars" in the ready-to-ware. And one of the conclusions presented by Sandra Muendane is that fashion, despite being a business like any other, "also serves as an intervention vehicle, because their actors use their natural talent to communicate through design”.

Egypt and Tunisia revolutions on the agenda
Fashion and design were not the only debated topics at Gulbenkian. The consequences of the revolutions in Egypt and Tunisia, both occurred in 2011, were also on the agenda of the conference of the Africa and Latin America Observatory. First, with the interventions from Susanne Kümper (German fashion designer) and Omar Nagati (Egyptian architect and urban planner), which have focused on Cairo contemporary fashion and in the ways that artistic and cultural expression are also displayed in the streets of Egypt’s capital, respectively. The aim was to show how these were influenced by the popular uprising of 2011, which put an end to the regime of Hosni Mubarak. And then, Nuno Coelho, communication designer and professor at the University of Coimbra, gave his semiotic perspective on the effects of the Arab spring in Tunisia, which took from the power President Ben Ali and open way to the first free elections in that country.

Marta Fonseca