Logótipo Próximo Futuro

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Equador

Publicado1 Out 2010

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Situação crítica no Equador. Aqui

SubReal

Publicado1 Out 2010

SubReal, o blog do Arquitecto João Amaro Correia, no Rio de Janeiro. Link permanente na coluna do lado esquerdo.

Lígia Pape

Publicado27 Set 2010

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Reposição da obra de Lígia Pape na Bienal de S.paulo

Cartas a um jovem economista

Publicado27 Set 2010

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É preciso ter uma cultura imensa e generalista, conhecer o enorme prazer que é comunicar e ser entendido e, sobretudo, ter o talento de ser pedagogo assim, naturalmente, aparentemente sem esforço, para poder ter escrito "Cartas a um jovem economista". Este livro, que acaba de ser editado no Brasil, da autoria de Gustavo H.B. Franco faz parte de uma colecção da editora Campus chamada "Cartas a um jovem..." e é claramente inspirada em obras em que autores mais "velhos" escrevem sobre a sua profissão ou ocupação a interlocutores mais jovens da mesma profissão. Das mais conhecidas e mais importantes para a História da Poesia são "As cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke"; mas há também as cartas de James Joyce, de Mario Vargas Llosa, etc..

As cartas a um jovem economista - dez no total -  de Gustavo Franco são uma combinação rara de lições sobre História da Economia, a função do economista na sociedade contemporânea, a cultura da economia e o testemunho emocionado, resultado da experiência que foi ter sido um protagonista da grande revolução financeira brasileira que foi a invenção do Plano Real. Neste aspecto quase se poderia dizer que o autor consegue expôr um pathos da economia.

A  primeira das cartas - Nosso assunto, o almoço - dá o tom a todo o livro e é desde o início cativante pelo estilo e pela clareza da exposição. Começando por se dirigir ao interlocutor - será sempre um jovem recém licenciado em economia - por Prezado, termo que aparecendo como fórmula antiga, quase fora de moda, revela desde logo um respeito, um tratamento que se quer de igual para igual e respeituosa. Depois, todo o resto da carta decorre num espírito de descoberta socrática, evocando a história, citando autores das mais diversas disciplinas e introduzindo sempre um humor elegante e cheio de oportunidade. Como  a propósito da necessidade de o economista ser fluente em inglês: "Devemos transformar o inglês no latim do mundo inteiro. Renda-se logo ao mundo globalizado e resolva de vez esse assunto - e, quanto mais cedo, melhor. É como colocar aparelho nos dentes, será um tormento se você deixar para consertar depois de velho" (p.27).

As cartas decorrem de uma forte experiência autobiográfica, intensa e repleta de múltiplas actividades e cargos. Mas algo ressalta ao longo de todo o livro: uma enorme paixão pelo acto de ensinar. Do início ao fim do livro o historiador, o economista, o consultor, o ex-director do Banco Central do Brasil é antes de tudo o mais, o professor universitário, uma vocação e um talento. Provas? Muitas. Mas esta basta: " O fato é que o economista possui em seu DNA uma interessante mistura de intelectual engajado, formador de opinião, reformador, evangelizador e pregador -que pode ser do gênero estridente, militante ou manso, pouco importa - que encontra uma síntese na sublime figura do professor. E é nesta figura que vejo o uso mais nobre do economista, a função que revela a melhor face desse profissional" (p. 22). 

O ex-presidente do Banco Central do Brasil (1993-1999) relata ao longo de várias cartas o que foi o processo da criação do Plano Real de que foi um dos autores. São textos preciosos para entender a História do Brasil Contemporâneo, não só da sua economia e finanças, mas das mudanças estruturais da sociedade, da relação da política e dos políticos com a economia e os economistas, da relação do Brasil com o Mundo, dos economistas no poder com a universidade e a teoria. São capítulos escritos com o discernimento da razão e a paixão de ter participado em tão grande e histórica aventura. Finalmente e neste registo de estímulo à intervenção do economista no mundo, o livro acaba com um email enviado a um ex-orientado de tese entretanto falecido quando se iniciava no estudo em Políticas Sociais. É um autêntico manifesto do melhor que a Economia pode dar ao mundo.

apr

Nuno Ramos

Publicado27 Set 2010

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Nuno Ramos é um artista plástico de uma qualidade ímpar. Tem neste momento várias exposições, das quais uma no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e outra na Bienal de S. Paulo. Mas ele é também um excelente escritor conhecido para um público mais vasto - incluindo os leitores portugueses - através da obra "Ó", publicada em Portugal pela Cotovia. Encontrámos um dos seus primeiros livros datado de 2001. Chama-se O Pão do Corvo.

E diz:

Contra a Luz

Aqui a terra aguenta nosso peso e nos dá caranguejos. Queremos voltar para a terra, para dentro da terra, mas acima de nós o céu permanece, escapando à ponta das árvores secas. Aqui só o vento é que fica, balançando a bolha ignóbil de luz, de que temos nojo. Aqui temos nojo da luz.

APR

29ª Bienal de S. Paulo

Publicado24 Set 2010

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Jacobo Borges - Imagen de Caracas

Depois da última Bienal que ficará conhecida como a Bienal do "vazio", polémica, mas muito frustante para a maioria dos participantes, eram muitas as expectativas desta Bienal. Tanto mais que depois da reflexão supostamente provocada pela 28ª, esta deveria anunciar algo de novo no universo das artes visuais, no sistema, no mercado, na produção. E os responsáveis conseguiram. A Bienal é da responsabilidade dos curadores Moacir dos Anjos (foi  membro do conselho científico do Estado do Mundo em 2006/07) e Agnaldo Farias, e tem como autora da concepção do espaço (brilhante!) a arquitecta Marta Bogéa. O tema da Bienal são dois versos retirados do poema Invenção do Orfeu de Jorge de Lima: "há sempre um copo de mar para um homem navegar".

Gil Vicente - Autoretrato III – matando Elizabeth II

O pressuposto fundamental desta bienal é o de que é impossível separar a arte da política. E isto é notório não só na escolha das peças, mas no carácter de intervenção político da própria Bienal para o qual contribui um programa de debate intenso ao longo dos meses em que a mesma estará aberta (25 de Setembro a 12 de Dezembro). Algo que desde o início confirma o carácter político da Bienal é a ponte estabelecida entre as obras de intervenção da década de sessenta e de setenta e a actualidade. De facto, nada acontece sem História.

apr

Hino Nacional Brasileiro (cont.)

Publicado24 Set 2010

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O Hino Nacional Brasileiro tem letra de Joaquim Osório Duque Estrada e música originariamente composta para banda de Francisco Manuel da Silva. Antes de ser escolhido como Hino Nacional era cantado pelo povo em ritmo de marcha triunfal. E há uma versão tupi cantada por várias tribos índias:

1ª Parte


Embeyba Ypiranga sui, pitúua,
Ocendu kirimbáua sacemossú
Cuaracy picirungára, cendyua,
Retama yuakaupé, berabussú.
Cepy quá iauessáua sui ramé,
Itayiuá irumo, iraporepy,
Mumutara sáua, ne pyá upé,
I manossáua oiko iané cepy.
Iassalssú ndê,
Oh moetéua
Auê, Auê !
Brasil ker pi upé, cuaracyáua,
Caissú í saarússáua sui ouié,
Marecê, ne yuakaupé, poranga.
Ocenipuca Curussa iepé !
Turussú reikô, ara rupí, teen,
Ndê poranga, i santáua, ticikyié
Ndê cury quá mbaé-ussú omeen.
Yby moetéua,
Ndê remundú,
Reikô Brasil,
Ndê, iyaissú !
Mira quá yuy sui sy catú,
Ndê, ixaissú, Brasil!

2ª Parte

Ienotyua catú pupé reicô,
Memê, paráteapú, quá ara upé,
Ndê recendy, potyr America sui.
I Cuaracy omucendy iané !
Inti orecó purangáua pyré
Ndê nhu soryssára omeen potyra pyré,
ìCicué pyré orecó iané caaussúî.
Iané cicué, ìndê pyá upé, saissú pyréî.
Iassalsú ndê,
Oh moetéua
Auê, Auê !
Brasil, ndê pana iacy-tatá-uára
Toicô rangáua quá caissú retê,
I quá-pana iakyra-tauá tonhee
Cuire catuana, ieorobiára kuecê.
Supí tacape repuama remé
Ne mira apgáua omaramunhã,
Iamoetê ndê, inti iacekyé.
Yby moetéua,
Ndê remundú,
Reicô Brasil,
Ndê, iyaissú !
Mira quá yuy sui sy catú,
Ndê, ixaissú,
Brasil!


O Hino Nacional Brasileiro

Publicado24 Set 2010

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Vale a pena ouvir com muita atenção o Hino Nacional do Brasil. Sim, o Hino Nacional. Geralmente os hinos nacionais, que são símbolos das nações, são na maioria dos casos, guerreiros, apelando à luta, à guerra; versajam sobre sangue, balas, canhões, às vezes até vingança. Em muitos dos casos porque são sequenciais às independências conquistadas pelos países. No caso dos hinos criados entre meados do século XVIII e princípios do século XX eles têm uma tonalidade romântica e guerreira própria do nacionalismo da época. Agora ouça-se e leia-se o hino do Brasil e veja-se da delicadeza dos versos, do carácter panteísta, de uma apologia ecológica avant la lettre, da exaltação das qualidades e das virtudes humanas e da alegria a transbordar das estrofes....

Parte I
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança a terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Parte II
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida",
“Nossa vida" no teu seio "mais amores".
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça à clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

O Hino Nacional Brasileiro tem letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870 - 1927) e música de Francisco Manuel da Silva (1795 - 1865).

Ouça o Hino Nacional Brasileiro.

Fervilhar!

Publicado24 Set 2010

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Fervilhar! Era uma metáfora que nunca tinha entendido quando aplicada a uma realidade social, até este fim de semana, quando S. Paulo se preparava para a inauguração da 29ª Bienal de Artes. Sim, a realidade fervilhava, como um magma de conversas, inaugurações, exposições, edições de livros, mesas de refeições em várias línguas, várias etnias, várias viagens nos bairros de S. Paulo. Eram, são centenas de exposições a inaugurarem a abertura da Bienal, colóquios, encontros... tudo isto no meio de uma campanha para a eleição do próximo Presidente da República do Brasil. Sim, S. Paulo fervilhava!

apr

Moçambique

Publicado2 Set 2010

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Para acompanhar a situação em Moçambique, Oficina de Sociologia

Talking about Brazil with Lilia

Publicado18 Ago 2010

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Interessantíssima conversa de Robert Darnton e Lilia Schwarcz, aqui. Ou já aqui em baixo.

On a recent trip to Brazil, I struck up a conversation with Lilia Moritz Schwarcz, one of Brazil’s finest historians and anthropologists. The talk turned to the two subjects she has studied most—racism and national identity.

I first visited Brazil in 1989, when hyperinflation had nearly paralyzed the economy, favelas erupted in shoot-outs, and Lula, a hero of the union movement but still unsure of himself as a politician, was undertaking his first campaign for the presidency. I found it all fascinating and frightening. On my second trip, a few years later, I met Lilia and her husband, Luiz Schwarcz, who was beginning to build the company he had founded, Companhia das Letras, into one of the finest publishing houses in Latin America. They treated me to a day so packed with Braziliana that I remember it as one of the happiest experiences of my life: in the morning a stroll with their children through São Paulo’s main park, where families of all shades of color were picnicking and playing in dazzling sunlight; lunch, a tour of Brazilian specialties undreamt of in my culinary philosophy (but no pig’s ears or tails, it not being feijoada day); an international soccer match (Brazil beat Venezuela, and the stands exploded with joy); then countless caipirinhas and a cabaret-concert by Caetano Veloso at his most lyrical and politically provocative.

Since then I have never stopped marveling at the energy and originality of Brazilian culture. But I don’t pretend to understand it, all the more so as it is constantly changing, and I can’t speak Portuguese. I can only ask questions in English and strain to grasp the answers. Has the myth of Brazil as a “sleeping giant” turned into a self-fulfilling prophecy? “He has awoken,” people say today. The economy is booming, health services expanding, literacy improving. There are also prophecies of doom, because Brazil’s economic history looks like cycles of boom and bust imposed on centuries of slavery and pauperization. Still, Lula is completing a second and final term as president. Whatever Brazilians may think of his newly assertive foreign policy, which includes cultivating friendly relations with Iran (most of them don’t seem to be interested in it), they generally agree that he has managed the economy well and has done a great deal to improve the lot of the poor. Lula’s term will end in October, and he has thrown his support behind Dilma Rousseff, his former chief of staff, whose chances of winning are much bolstered by Lula’s own popularity. The first debate of the new presidential campaign, which took place on August 5, was a dignified affair—an indication, I was told, that democracy is healthy and the days of military coups are over. Now foreigners are asking new questions about the character of this new great power. I directed some of the FAQs at Lilia.

Robert Darnton: Brazil’s emergence as a major world player provokes questions about its national identity, some of them hostile, such as the one you said you encountered on your last trip to the US: How can you live in a country overrun with favelas and violence? How do you answer them?

Lilia Moritz Schwarcz: It is strange how nowadays Brazil has a new image coming from abroad. We used to be seen as “exotics”; a country of Capoeira (a Brazilian form of martial art), Candomblé (a syncretic African religion), Carnaval, and the “Mulatas.” Now we continue to be viewed as exotic, but the exoticism has a new ingredient: violence, even a new aesthetics of violence, mainly in the way Brazil is portrayed in contemporary films, like City of God. The fascination with favelas among many people outside Brazil is ambiguous. On the one hand, favelas are seen as violent communities, subject to violent leaders outside the authority of the state. On the other, they are just “different”—scenes of a culture outside the dominant culture, with its own special way of partying, dancing, playing soccer. We do not have favelas everywhere, but foreigners like to think so. We have developed a new kind of tourism, which features a “favela tour.” Everything is fake, but the tourists enjoy the illusion that they are experiencing another world. And what about you Bob? Are you afraid of walking in some parts of New York City? Is Harlem a kind of favela?

RD: Yes, like many New Yorkers, I have moments of fear when I get off the subway at the wrong station or wander too far from 125th Street. But when I visit Brazil, I like to think I am in a country that is coping successfully with its history of racism. Could Brazil evolve into a multi-nuanced mestizo society like the one imagined by the Brazilian sociologist Gilberto Freyre?

LMS: Let me first ask you Bob, do you think of Obama as a “black President”? I am asking this question, because in Brazil the definition of color depends on the context, the moment and the temperament of the person who asks the question and responds to it.

RD: Ask any American, ask Obama himself, the answer will certainly be that he is black. In the US, despite the many varieties of skin color, we do not have a multi-nuanced notion of race. You are black or you are white or you are something not closely linked to color such as Chinese, Hispanic.

LMS: In Brazil, you are what you describe yourself to be. Officially we have five different colors—black, white, yellow, indigenous, and pardo (meaning “brown,” “brownish,” or “gray-brown”), but in reality, as research has demonstrated, we have more than 130 colors. Brazilians like to describe their spectrum of colors as a rainbow and we also think that color is a flexible way of categorizing people. For several years, I have been studying a soccer game called “Pretos X Brancos” (Blacks against whites), which takes place in a favela of São Paulo, called Heliópolis. In theory, it pits eleven white players against eleven black players. But, every year they change colors like they change socks or shirts—one year a player will choose to play for one team, the next year for the other, with the explanation that, “I feel more black,” or “I feel more white.” Also, in Brazil, if a person gets rich, he gets whiter. I recently talked with a dentist in Minas Gerais. As he is becoming old, his hair has turned white, and he is very well recognized in his little town. He started smoking cigars, joined the local Rotary Club, and said to me: “When I was black my life was really difficult.” So one can see how being white even nowadays is a powerful symbol. Here we have two sides of the same picture: on the one hand, identity is flexible; on the other hand, whiteness is ultimately what some people aspire to. But one aspect is common, the idea that you can manipulate your color and race.

RD: Does that mean you are d eveloping a less poisonous kind of racism in Brazil?

LMS: I think all kinds of racism are equally terrible. I am just saying that the Brazilian kind is different. For example, in 2000 we completed a survey research project that consisted of three seemingly simple questions: Are you prejudiced in any way? 97 percent of those surveyed answered no. Do you know anyone who is prejudiced? 99 percent answered yes. If you had said yes to the second question, you were asked to describe the relationship you have with this person. We did not ask for names, but people often gave them, naming friends and relatives. We concluded that every Brazilian thinks he is an island of racial democracy surrounded by an ocean of racism. But things are changing: Although affirmative action did not begin until the 1980, it is now pretty effective, and we have a quota and bonus system in the universities (the system benefits mainly poor people who studied in public schools, and, consequently, black people). African history is mandatory in the schools. We are coming to understand the complexity of racial prejudice rather than denying its existence.

RD: I suppose then that foreigners cannot take Black Orpheus as a measure of racial attitudes in Brazil, but how do you deal with other elements that go into the stereotypical notion of Brazilian identity? Is Brazilian popular culture all about samba and soccer?

LMS: That is the most common image of our country, and it was, in a way, actually an artificial construct created by Getúlio Varga, the populist president, of the 1930s. He “nationalized,” so to speak, Capoeira, Candomblé, samba and soccer. He even construed “feijoada” (a food derived from slave cooking) as a symbol of Brazil. The white of the rice, he said, stood for the white population. The black of the beans represented the Africans. The red of the pepper corresponded to the indigenous people. The yellow of the manioc symbolized the Japanese and Chinese who had poured into the country in the beginning of the twentieth century. And the green of the vegetables was the forest. You could call it political marketing, but it was very clever, and today we see Brazil as a country of one culture, even though we have many different subcultures. Could you say that about the United States?

RD: We talk about the melting pot, but we don’t all believe in it; and if anything melted in it, it was not feijoada.

Robert Darnton is Carl H. Pforzheimer University Professor at Harvard. His most recent book is The Devil in the Holy Water, or the Art of Slander from Louis XIV to Napoleon.

Lilia Moritz Schwarcz, a professor of anthropology at the University of São Paulo, is known in the United States as the author of The Spectacle of the Races: Scientists, Institutions, and the Race Question in Brazil, 1870-1930 (English edition, 1999) and The Emperor’s Beard: Dom Pedro II and the Tropical Monarchy of Brazil (2004).

August 17, 2010 1:15 p.m.

TEMPO DE OUVIR O ‘OUTRO’ ENQUANTO O “OUTRO” AINDA EXISTE, ANTES QUE HAJA SÓ O OUTRO...

Publicado13 Ago 2010

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(Conferência proferida por RUY DUARTE DE CARVALHO a 27 de Outubro de 2008 no âmbito da Conferência 'Podemos viver sem o Outro?'/Programa Gulbenkian Distância e Proximidade. Este texto está publicado no  livro com o mesmo título pela Tinta da China/Fundação Calouste Gulbenkian)

Ruy Duarte de Carvalho

........fazendo eu parte, cívica, emotiva e intelectualmente, da categoria geral do OUTRO em relação à Europa, também por outro lado a questão do OUTRO, e dadas as condições fenotípicas e de origem que me assistem, tem feito sempre parte da minha experiência existencial e pessoal dentro do próprio contexto, africano e angolano, em que venho exercendo a vida e ofício......  isso me tem levado, para poder ver se consigo entender o mundo e entender-me nele e com ele, a identificar e a reconhecer uma multiplicidade de OUTROS........ no presente caso retive apenas três categorias de OUTRO, que são as que me parecem capazes de permitir-me  tentar expor o que poderei ter para dizer aqui..........

.....considerarei aqui como OUTRO, sublinhado ou em itálico, os indivíduos e os grupos, muitos deles já nascidos ou constituídos no territórios das ex-metrópoles a partir de genitores ex-colonizados ou provenientes de ex-colónias e que hoje integram, de pleno direito estatutário, as populações nacionais dessas mesmas ex-metrópoles embora reconhecidos como diferentes da massa dominante através de traços fenotípicos ou culturais......... como ‘OUTRO’, entre apóstrofos, o ex-colonizado ocidentalizado com que o ocidente lida nos contextos das ex-colónias........ e finalmente como “OUTRO”, entre aspas, aquele sujeito marcado por traços afetos a populações que, integradas embora como nacionais em estados-nação que hoje existem a partir de contornos ex-coloniais, mantêm usos, práticas e comportamentos mais afins a quadros pré-coloniais do que pós-coloniais ou mais ou menos ocidentalizados........ quer dizer, subsiste  aí, em muitos casos, um “outro” não, ou ainda não completamente, ocidentalizado ....... . o qual, no decurso de um presente que é também o nosso, continua a ser objeto, evidentemente, de uma pressão ocidentalizante que acaba por ser a marca dominante do seu comum dia-a-dia de pessoas que à luz dos proclamados direitos do homem valem tanto como quaisquer outras pessoas no mundo..........

......só que a sua situação e a sua condição se revelam tão diferenciadas nos contextos nacionais em que subsistem que, da mesma maneira que aqui na Europa, onde estou agora a falar, as ex-metrópoles parece não saberem muito bem às vezes o que fazer com o outro, em itálico, que vem ao mundo em território seu, também o ‘outro’, entre apóstrofos, que gere os territórios das ex-colónias, parece também por seu lado ter dificuldade em saber o que fazer com esse “outro”, plenamente entre  aspas.........

..........este será, em meu entender, um dos problemas, um dos impasses colocados ao mundo de hoje pelo processo histórico que veio a configurá-lo e continua a dinamizá-lo tal como ele hoje existe, e é evidente que estou a falar da expansão ocidental como ela se tem desenvolvido e mantém em curso.................

*

.........outros problemas porém, muitos dos quais, de novo em meu entender, acabam por constituir-se ou configurar-se como impasses, assistem ao mundo de hoje na decorrência, precisamente, e insisto, da expansão ocidental e do lugar que a matriz ocidental de civilização acabou por impor ao mundo inteiro.......... de um modo tal, aliás, que as evidências de uma situação assim não deixam de suceder-se e impor-se cada vez com mais premência, como está acontecendo exatamente neste preciso momento com a crise financeira que o mundo está enfrentando.......... parece que o mundo ocidental, e ocidentalizado, não pode decididamente ignorar mais a necessidade urgente de fazer alguma de inédito por si mesmo.......... do que nestas últimas semanas tenho insistentemente ouvido a tal respeito, retenho apenas que todos as instituições e os governos ocidentais chamados a pronunciar-se sobre a crise em presença se viram perante a necessidade de afirmar que as suas atuais preocupações dominantes com a finança não devem nem podem ofuscar, nem preterir, nem retardar a preocupação vital e global com a saúde, a preservação e salvação ambiental do planeta.......... e mais ainda que os developping countries, que não são exatamente aqueles que mais imediatamente são convocados para encarar a crise do mundo geral, ocidental e ocidentalizado, exigem ser ouvidos quanto antes........

............e é aqui que me ocorre formular a seguinte pergunta: sendo que o mundo global reconhece ter de fazer imperativamente alguma coisa por si mesmo em relação à sorte global do globo, sendo que as vozes emergentes terão obrigatoriamente de ser ouvidas, não seria talvez então também já agora altura de atender ao que toda a espécie de vozes que o mundo ainda comporta poderá ter eventualmente a dizer no interesse talvez de todos? ............. mesmo as vozes daquele “outro” que eu aqui identifico envolvido entre cerradas aspas?......... que podemos viver sem ele, recorrendo ao mote deste encontro, talvez possamos, até porque ele vai inexoravelmente desaparecer, mas não seria pertinente, para o debate e para a sorte do mundo, tentar ou ensaiar ouvi-lo ainda, enquanto existe?.........

*

.............estou a sair da Namíbia, onde de há cinco meses a esta parte tenho usufruído do luxo de poder dedicar-me exclusivamente a um livro que estou escrevendo........... é um livro de meia-ficção, na sequência de outros em que tenho tentado essa modalidade, e cuja ação se desenvolve em grande parte no Sudoeste de Angola e no Noroeste da Namíbia, onde subsistem precisamente populações que eu posso identificar com o tal OUTRO absoluto que tenho vindo a referir..... quando recebi lá o convite para participar neste encontro, acedi sem grande hesitação porque em meu entender me via colocado uma vez mais numa situação em que a realidade vem ao encontro da ficção e poderia de alguma forma integrar o estar agora aqui no programa que me tinha anteriormente imposto e via assim interrompido..........  na trama do enredo que tenho vindo tratando nesse livro em curso, dois dos seus personagens concebem a certa altura poder ter para propor ao mundo, a partir das cosmologias e das cosmogonias locais, australo-africanas, para o caso, a figura de um herói tutelar perfeitamente adequado às preocupações, às aflições e às urgências que parecem impor ao mundo em que vivemos uma resposta pronta, eficaz, adequada e no entanto bem difícil de conjeturar ou conceber porque essas preocupações, aflições e urgências decorrem afinal de pressupostos e de dinâmicas que o mundo moderno, ao mesmo tempo, parece pouco disposto a pôr em causa.............

.........o herói em questão dá pelo nome de Nambalisita, e é figura de grande estatura no imaginário e na expressões das populações da região a que me referi e que também costumo identificar como mancha clânica pastoril do Sudoeste da África, constituída sobretudo por populações herero, ovambo e nyaneka........ Nambalisita, com quem eu lido de muito perto desde que há mais de um quarto de século rodei um filme chamado Nelisita, é aquele que se gerou a si mesmo...... ele nasce de um ovo auto-fecundado.......  e contra o mal e os maus e os desconcertos do mundo, Nambalisita faz apelo aos animais todos da criação, seus irmãos, os seu s rapazes, e até mesmo à criação inteira.........

..........só que, sabem os personagens do meu livro muito bem, não será fácil propor um herói desses ao mundo ocidental e ocidentalizado, que detém as rédeas do mundo e dos seus destinos.... Nambalisita emerge de uma matriz  cosmogónica e cosmológica que não é a que conferiu ao ocidente o poder para vir a ocupar o lugar que hoje ocupa no mundo globalizado...........  enquanto para nós aqui, nesta borda da África, refere um desses personagens,  para a nossa maneira de ver as coisas a tudo quanto é vivo assiste uma alma igual que afinal cada ser vivo, seja ele pessoa, hiena ou lagartixa, exprime, vivendo, conforme o corpo de que dispõe, para os brancos e para aqueles que os brancos converteram, domesticaram à maneira deles, é tão só o corpo que identifica o homem enquanto animal, porque o que o que constitui como homem é ter uma alma de que o resto da criação não dispõe........ é essa a expressão da razão, da arrogância e da soberba invasora......... ela coloca o homem fora da condição biológica como se ele estivesse a salvo de tal baixeza e partilhasse com deus, só ele e não o resto da criação toda, da condição divina........... o homem no centro do universo e a servir de medida a tudo, até a deus....... antropoformização de tudo, mesmo de deus........ o divino configurado como um deus branco de barbas brancas.............. tudo domesticado segundo um modelo que previa até o selvagem que nós seríamos aqui, um meio-humano que só tem acesso ao patamar da humanidade, só é verdadeiramente humano, quando aferido em relação não à medida do resto da criação no mundo, mas à da maneira de certos  homens que têm uma versão do mundo e da vida que impõem aos outros, e armas, meios e dispositivos para tirar benefício disso....... o universo feito para uso deles e, em nome de deus e da civilização, autorizados a converter entretanto o mundo todo, divino, humano, animado e inanimado, às suas maneiras, à sua maneira........... uma maneira, a do paradigma que cobriu a expansão ocidental, portanto, que não pecava afinal por sobreestimar as pessoas......... não as colocava mas é tão alto quanto lhes cabe........ porque, mesmo depois de ter chegado o tempo das descolonizações e da entrega das soberanias locais aos ocidentalizados que provinham das populações indígenas anteriormente encontradas, o que de facto aconteceu foi legar-lhes, sem nação ou arranjo pluri-nacional, uma herança envenenada de estados modernos definidos por fronteiras políticas coloniais historicamente recentes e alheias aos diferentes e muitas vezes distintos grupos ou sociedades envolvidos ou retalhados........... e exigiu-se-lhes de pronto o desempenho de estados-nação num mundo universal onde as regionalides dominantes em vias de consumação no quadro político das globalidades operam, ao mesmo tempo, no sentido de se desembaraçarem dessa figura política de estado-nação, como está acontecendo por exemplo com a Comunidade Europeia..........

........só uma grande volta paradigmática, portanto, acrescenta então outro personagem plenamente ao corrente das terminologias ocidentais............ paradigmática e verdadeiramente pragmática....... mas que não contemplasse esses pragmatismos oportunistas e cínicos em que a categoria do necessário e do vantajoso substituiu completamente a do possível e consistem em não conseguir encarar nada sem fazer logo as contas do beneficio parcial que a  situação inspira e não olhar para o mundo senão em função disso........

.......da mesma maneira que seria necessário ter em conta que a uma tal volta paradigmática não bastaria admitir que o “OUTRO” pudesse ser capaz de ver os fenómenos e o mundo e avaliá-los e equacioná-los e aproveitar-se deles segundo as suas razões e os seus interesses, como faz o ocidental.... isso não é volta paradigmática nenhuma, é uma questão de bom senso.........            volta paradigmática será admitir, e reconhecer, que alguém, mesmo sendo o “OUTRO”, pensando de uma maneira radicalmente diferente, possa conseguir ver certas coisas e certos fenómenos de uma maneira melhor e mais adequada à efetiva configuração do mundo, e que os ocidentais e os ocidentalizados,  nesse caso,  é que teriam a aprender com o “OUTRO”, e que isso acabaria por convir a todos........... uma volta, assim, que permitisse, perante os impasses que a expansão e a imposição do paradigma ocidental produz no mundo inteiro – inclusive nessas partes do mundo de onde ele saiu porque estão agora a contas com o troco, que são os filhos dos ex-colonizados, que estão a nascer lá –, permitisse ao próprio saber ocidental achar ser tempo de prestar uma atenção diferente aos chamados discursos arcaicos, dar-se a uma contra-descoberta, por assim dizer, daqueles que antes foram descobertos pelas caravelas......... o que talvez, na linguagem dos especialistas, pudesse ser formulado dizendo que seria tempo de ouvir o ‘outro’ enquanto o “outro” ainda existe, antes que haja só o outro, o tal imprevisível mestiço universal que o tempo se encarregará de produzir.........

..........é isto que os meus personagens dizem no livro que estou a escrever e interrompi para poder estar agora aqui......... esse livro virá a estar à disposição de todos dentro de algum tempo, e só vou deter-me agora aqui num dos aspectos que enunciei: ouvir ainda esse “OUTRO” enquanto ele ainda existe....... ainda existe mesmo?...........

*

....existe ainda sim, em certas partes do mundo como aquela de onde estou a sair e me mobiliza de há décadas a esta parte a atenção total......... e se me empenho agora aqui em fazer campanha para que esse “outro” seja ainda tido em conta e ouvido não é tanto porque entenda que devemos ir todos escutar atentamente o que os mais-velhos de lá poderão ter ainda para dizer e para nos ensinar........ a minha experiência de antropólogo leva-me a encarar com a maior prudência o que os mais velhos de hoje poderão vir a dizer aos que os abordam para interrogá-los......... dizem exatamente aquilo que muito pragmaticamente entendem que lhes convém que os outros ouçam, como acontece seja com quem for em qualquer parte do mundo......... será antes imperativo, em meu entender, ter essas populações em conta porque elas ainda hoje, neste preciso momento, continuam a ser alvo de uma violentação, de uma lesão, que lhes é imposta pela expansão ocidental ainda em curso e acionada tanto por ocidentais estrangeiros como por ocidentalizados compatriotas seus.......

....não estou aqui mandatado por ninguém para falar em nome seja de quem for....... falo por mim.......... não defendo nenhuma causa, assumo uma questão que diz respeito à minha própria razão de existir......... mas não posso deixar de referir, quando sou chamado a pronunciar-me acerca de questões que se reportam ao lugar do OUTRO, de que forma me aflige, para não dizer de outra maneira, ver populações que eram assediadas antes por agentes da ocidentalização impondo-lhes assumir os sinais e as maneiras do modelo ocidental e do progresso tecnológico e que são assediadas hoje pelos mesmos agentes ou equivalentes que agora pretendem impor-lhes a preservação dos sinais e as maneiras dos seus modelos arcaicos e não-ocidentais porque isso passou a insinuar-se como o mais rentável tanto para uns como para os outros desde que se deixem integrar em menus de programas turísticos e se deixem representar como expressões de um exótico ecológico e redentor ao lado de outras atrações bizarras como manadas de zebras, de elefantes e de gazelas.............

....não me perguntem que soluções proponho para problemas desta ordem........ não sou nem político, nem profeta, nem militante seja do que for......... mas terão certamente o direito de pe rguntar-me aonde quero chegar se não tenho propostas para salvar o “OUTRO” e todavia ainda assim convido a que esse outro seja tido em consideração e ouvido embora também não proponha que vão lá ouvir o que os mais-velhos poderão ter para ensinar.......... que tipo de ação ou de atitude me leva ainda assim a pretender reter-vos a atenção?........

*

......o que eu proponho é bem simples e ao alcance de interessados e de profissionais susceptíveis de ser congregados à volta de questões desta natureza............. não é ter um caminho a propor....... é antes ter algumas idéias para uma eventual hipótese de poder vir a ajudar a encontrar maneira de achar um caminho....... admitir uma possível perturbação, reconfiguração ou mesmo substituição prospectiva, pragmática e programática do paradigma cosmogónico, cognitivo, institucional e político ocidental / global / universal, recorrendo a outros quadros paradigmáticos...... não se trataria de introduzir qualquer espécie de remedeio, de compensação ou de arranjo nos terrenos do paradigma humanista, mas antes de tentar configurar, ou  reconfigurar, um novo paradigma.............. no âmbito desta proposta a hipótese apenas seria encarada a partir e através da identificação, da convocação e da possível integração de dados provenientes de outros quadros de concepção, cognição, representação e ação afins a géneses  africanas e outras...... não se trataria seguramente de tentar suster a mudança mas de convocar outros saberes, outras visões, outras maneiras, outras hipóteses de mudança para além da que é imposta pelo programa ocidental........ nem se trataria de visar a substituição de um paradigma por outro ou de propor um melhor que o outro......... mas alvitrar apenas alguma ação que soubesse extrair do que se sabe, e de todos os meios e expressões, alguma maneira melhor de lidar com toda a ordem de impasses sem estar a criar sempre novos impasses civilizacionais, acrescentando novos impasses a toda a ordem deles.........

........voltando à proposta, pois: não será eventualmente possível encarar a hipótese de poder extrair de outros quadros paradigmáticos que não o do humanismo ocidental algo que venha ao encontro do próprio interesse global irreversivelmente marcado e conduzido pelo modelo que o ocidente impôs ao mundo inteiro e continua em expansão?............

................mas então se o meu programa não passa por ir muito voluntariosa, folclórica e militantemente ouvir o que os mais-velhos poderão ter para ensinar, passará por quê então?...... poderá talvez passar muito ortodoxa e academicamente, e será esse o meu sucinto e singelo e discreto programa, por ir ver o que a própria expansão ocidental terá produzido como registo sobre o “outro”.......... uma releitura, uma revisita, portanto, daquilo que existe escrito......... mas não uma releitura crítica clássica............ procurando antes tentar descortinar e extrair o que poderá estar por detrás dos documentos etnográficos que foram utilizados, se existirem, ou dos textos produzidos sem que os seus autores tivessem em conta a hipótese de poder existir qualquer outro paradigma susceptível de merecer alguma consideração....... uma releitura, portanto, que ensaiasse agora outra perspectiva, uma perspectiva, precisamente, que tivesse em conta outras maneiras de o homem ver a sua relação com o resto da criação, que conferisse, assim, uma importância e uma pertinência diferentes a paradigmas outros que não o paradigma humanista ocidental que se impôs, dominou, e impera a partir daí em exclusividade........... que tivesse até em conta que esta seria, talvez, uma oportunidade inovadora garantida aos intelectuais ocidentalizados, outros e ‘outros’, saídos tanto do campo do ‘outro’ como do do outro,e chamados sempre, sem alternativa, a situar a sua afirmação e o seu desempenho nos terrenos e nas arenas do exercício dos saberes e dos poderes de matriz ocidental......... poderiam assim talvez  finalmente intervir de uma maneira que lhes evitasse ceder ao folclore de fantasias autenticistas ou renascentistas e a coloboracionismos étnico-turísticos e nos abrisse enfim uma via para reivindicar para nós mesmos, também, o direito à exigência........... há muito tempo que me atrevo a dizer que a intelectualidade científica dominante só nos respeitará mesmo quando se vir obrigada a incorporar  na ciência global alguma coisa que saia de uma matriz  inequivocamente nossa............

*

.....o programa que eu então me atreveria a sugerir aqui, sem saber muito bem a quem propô-lo, seria o de encarar uma ação que partisse de imediato para uma releitura geral de tudo quanto está registado sobre o saber do Outro, sobre saberes Outros, à luz da hipótese de poder admitir a existência e a eventual pertinência de paradigmas outros para aferir a relação das pessoas com o resto da criação, sem deixar também, logo à partida, de ter igualmente em conta todas as ofensivas anti-humanistas que o próprio paradigma humanista terá gerado ao longo da sua própria história e o que estará, está de facto, entretanto neste momento a ser feito em relação ao mesmo objetivo ainda que formulado de outra maneira.........

........um programa, portanto, que viesse  ao encontro das preocupações, dos problemas, dos impasses do mundo atual mas que visasse muito para além das démarches salvacionistas e socorristas das militâncias que vemos em curso e afinal não conseguem pôr sistema nenhum, por mais lesivo que ele se tenha já revelado, em causa....... que visasse antes uma volta tão absoluta na maneira de olhar para o mundo que ela viesse a constituir um salto quântico, uma mutação, um clinamen capaz de inspirar um quadro de  relações do homem com o resto da criação e com o mundo em geral muito diferentes daquelas que o programa humanista desenhou para o futuro do mundo, a ponto de lhe estar agora a perturbar o presente de uma maneira que assusta a todos........... que reapontasse a práticas diferentes que até talvez acabassem por convir a todos, mesmo àqueles que só querem é tirar proveito do domínio de tudo............. um programa, enfim, que quanto mais não fosse criasse a possibilidade de autorizar que alguém pudesse ensaiar,  experimentar, tentar, ver o que poderá talvez esclarecer-se dentro do que é imediatamente possível averiguar sem fazer muito barulho nem gastar muito dinheiro............... permitisse tão-só talvez, sei lá, colocar alguns estudiosos a rever ao menos tudo o que está fixado, recolhido, escrito sobre as culturas outras...... novas leituras que permitissem novas extrações a partir dos mesmos materiais......... não haverá nada desprezado antes mas a extrair agora do paradigma animista, por exemplo, conforme as novas visões, as novas questões e os novos interesses que se impõem neste momento ao mundo?......... talvez assim os personagens do livro que ando escrevendo encontrassem então terreno propício para propor o seu herói tutelar, esse Nambalisita herói ecológico e da alma comum que é homem e herói fora da condição humanista e de uma genealogia divina que até agora só foi dizendo respeito aos homens de certas cores e de certa cultura e lhes foi conferindo autoridade e legitimidade para irem controlando e regulando tudo, a criação inteira, incluindo os homens de outras cores.......

....e talvez eu viesse então finalmente a encontrar fundamentos para formular em definitivo aquilo que ando a visar e a prometer há muito: um manifesto neo-animista proposto ao mundo inteiro como uma das vias da tal volta paradigmática e pragmática capaz de conferir lugar e sentido a todas as existências, divinas, biológicas e minerais até.........

Ruy Duarte de Carvalho (1941 - 2010)

Publicado13 Ago 2010

Etiquetas África angola literatura ruy duarte de carvalho

O escritor, poeta, cineasta, artista plástico, ensaísta e antropólogo Ruy Duarte Carvalho morreu na sua casa na cidade de Swakopmund, na Namíbia, aos 69 anos.

Rio de Janeiro

Publicado11 Ago 2010

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Fios nervos riscos faíscas.

As côres nascem e morrem

com um impudor violento.

Onde meu vermelho? Virou cinza.

Passou a bôa! Peço a palavra!

Meus amigo todos estão satisfeitos

com a vida dos outros.

Fútil as sorveterias...

Nas praias nú nú nú nú nú.

Tú tú tú tú  tú no meu coracao.

do livro de estreia de Carlos Drummond de Andrade

"Alguma poesia"

Alberto Costa e Silva

Publicado10 Ago 2010

Etiquetas alberto costa e silva brasil flip





 

(Fonte: Blog da FLIP)

Robert Darnton

Publicado10 Ago 2010

Etiquetas brasil flip robert darnton




(Fonte: Blog da FLIP)

FLIP – 4º dia

Publicado10 Ago 2010

A que se deve o sucesso desta Festa de Literatura? A uma organização muito profissional, a recursos importantes - dois milhões e duzentos mil euros -, apesar de os autores presentes não receberem honorários (mas a promoção nacional e internacional que adquirem é enorme), à capacidade de terem os autores certos nos momentos certos. Depois há o contexto brasileiro: os moderadores são geralmente universitários fluentemente poliglotas, da geração que terá entre os 30 e os 50 anos com visitas ou estudos nas Universidades de prestígio dos EUA. A acrescentar a isto, uma massa crítica em formação permanente, excelentes publicações e traduções, fluxo permanente dos melhores professores estrangeiros nas universidades brasileiras e finalmente: o carácter informal, a desenvoltura com que se colocam as perguntas, a ousadia de enfrentar os cânones, o hábito das conversas….ah, e claro, uma muito boa política cultural e um ministro que tem protagonismo no governo do Presidente Lula.

(A Tenda dos Autores)

Este dia de sábado foi muito diversificado: começou com o polémico Terry Eagleton um dos grandes críticos literários do nosso tempo a discorrer sobre religião e ciência na sequência das polémicas recentes havidas com muitos outros intelectuais, a que se seguiu a presença de dois escritores premiadíssimos - Colum Mcann  e William Kennedy - que apresentaram dos seus mais recentes livros já traduzidos, claro, para português. De tarde aconteceu um momento raro: numa homenagem  Carlos Drummond de Andrade, quatro poetas brasileiros - Antonio Cicero, Chacal, Ferreira Gular e Eucanaã Ferraz leram o primeiro livro de poesia de CDA, Alguma Poesia. Mil pessoas escutaram durante uma hora  e meia estes quatro poetas a ler o livro completo de Drummond!

A seguir seguiu-se uma homenagem a Ferreira Gular que falou da sua obra, de como 'poeta parnasiano"descobriu o modernismo quando se confrontou com um livro que tinha um poema intitulado "Lua Diurética"e como a leitura desse poema de Drummond no inicio dos anos 50 foi para ele um “terramoto" e fez dele um poeta concreto.

A última mesa do dia foi dedicada a autores de quadradinhos - Banda Desenhada - nada mais, nada menos que a Robert Crumb e Gilbert Shelton - que de uma forma docemente anárquica lá foram falando dos tempos em que começaram a fazer as tiras dos quadrados, falavam de sexo e apoiavam revistas underground e de esquerda nos anos 60 de Nova Iorque…continuam iconoclastas na forma e nas atitudes.

FLIP - 3º dia

Publicado9 Ago 2010

O dia de hoje, sexta feira, foi particularmente pós-colonial, com mesas dedicadas à obra de Gilberto Freire, o grande sociólogo brasileiro homenageado na edição deste ano da Flip, outras dedicadas a autores iranianos como a escritora Azar Nafisi (n.1955), e israelitas, como o professor e escritor A. B. Yeshoua (n.1936), e ainda outras a autores nascidos em África, mas a residir na Europa e a trabalhar o tema da identidade, como William Boyd (n.1952) e Pauline Melville (n.1946). O dia contou também com a presença da estrela da literatura que é Salman Rushdie (n.1947), que veio a Paraty lançar o seu último livro " Luka and the fire of Life". Como é costume na Flip, as sessões foram animadas, com questões pertinentes colocadas pelos moderadores e pelo público e com intervenções singulares, tão inteligentes quanto cheias de humor. Ouvir o pioneiro dos estudos africanistas no Brasil, Alberto Costa e Silva (n.1931) - colaborou com o Próximo Futuro no jornal nº1 - falar sobre o aproveitamento político do luso-tropicalismo de Gilberto Freire, ou do deslumbramento de muitos intelectuais brasileiros pela figura do Dr. Salazar, caricaturando-os nos seus comentários, ou assistir às intervenções da socióloga brasileira Angela Alonso (n.1960) sobre a metodologia proustiana de Freire são momentos de grande gratificação intelectual para todos os participantes.

(Alberto Costa e Silva)

Salman Rushdie, veloz nas respostas, irónico, profissional deste género de encontros - fez-se acompanhar do filho para quem escreveu o livro que agora publica - foi uma estrela e comportou-se sabendo que o era. Mas o sofisticado raciocínio, o conhecimento histórico e o domínio da literatura deste autor são impressionantes. Aliás, um dos aspectos mais surpreendentes da intervenção de Rushdie, que fala em público num inglês erudito, é confrontarmo-nos com a sua capacidade de leitor. Aparentemente, leu tudo o que devia de ler…e ainda assim, escreve as obras que se sabe que escreve. É espantoso ver uma cidade "tomada"pela literatura, como por estes dias está a acontecer em Paraty. Mais de 30.000 pessoas, sempre com um livro na mão, passeiam-se entre as mesas de palestras e as mesas de leitura de obras, passando depois pelas livrarias, onde acontecem sessões de autógrafos, e pelos cafés literários, onde consultam os jornais do dia e leêm as revistas literárias. Por todo o lado na cidade, dos cafés às esplanadas, lêem-se livros e discute-se literatura. Façamos pois um exercício de imaginação….

(Público na Tenda dos Autores)

FLIP - 2º dia

Publicado9 Ago 2010

A última mesa do segundo dia foi dedicada ao Livro e teve como conferencistas os historiadores Peter Burke e Robert Darnton. Sendo dois prestigiados historiadores da cultura que muito têm trabalhado sobre a história do livro e  a mutação da comunicação, a mesa tinha criado muitas expectativas. Superou as mais exigentes. Os dois intelectuais e professores combinaram uma clareza na comunicação com uma erudição e uma informação meticulosa, detalhada e precisa. E um dos aspectos mais fascinantes das duas intervenções foi que elas partiram da análise cultural do século XVIII e em especial da situação na corte francesa de Luis XIV e Luis XV. Foi possível vê-los discorrer, em especial Robert Darnton, sobre a redacção da Enciclopédia de Diderot e D'Alembert, da invenção da classificação dos objectos e dos estudos feitos sobre a literatura paralela “alternativa" à Enciclopédia, representada por mais de 50.000 cartas de cortesãs e de autores de best sellers da época , de romances cor-de -rosa e de literatura pornográfica, conforme catalogação de Darnton. Referindo-se também a toda a empresa que foi necessário construir para publicar os livros, traficar os interditos, criar sistemas de difusão clandestinos, explicado num contexto substancialmente diferente do universo do Google, tornou a conferência fascinante. Peter Burke, mais centrado sobre o conflito ou a co-habitação entre meios de comunicação diferentes falou do livro, mas falou sobretudo do trabalho de recolha da cultura popular e do modo como  tecnologia do registo a pode conservar, falou muito da leitura e afirmou não temer o perigo do Ipad e do Kindle. A única coisa sobre o qual é pessimista tem a ver coma possibilidade das gerações futuras perderem a capacidade de uma leitura lenta, a seu ver, esse sim o perigo da destruição da necessidade do livro.

A sessão terminou com uma critica muito forte de ambos os historiadores ao período de vigência dos direitos de autor (de setenta anos, na atualidade) considerando-o excessivo e tomados como uma forma de privatização da cultura (Robert Darnton). Segundo os autores, os direitos ao uso dos textos não deveriam ultrapassar os 40 anos porque os textos devem ser considerados como parte do bem estar público.

FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty

Publicado6 Ago 2010

A ideia foi simples: organizar numa pequena vila piscatória e com um turismo de qualidade um festival de literatura; a saber, juntar em cinco dias alguns dos melhores escritores mundiais, muitos brasileiros - e a quantidade e género abundam - e pô-los a falar e conversar com um público que gosta de literatura. Resultou de tal maneira que este ano é já a 8ª edição e a FLIP tornou-se uma referência internacional nas áreas da literatura e da edição. Para este ano esperam-se 30.000 visitantes que chegam não só de varias cidades brasileiras como dos EUA, Inglaterra, Espanha, etc. O programa é diversificado, com 'mesas' dedicadas aos autores, a temas específicos, a literatura infantil e juvenil. Há lançamentos de livros, sessões de autógrafos, e a imprensa internacional e as editoras estão fortemente representadas. A edição deste ano é dedicada ao sociólogo brasileiro Gilberto Freire (GF), no ano em que se comemoram os cem anos do seu nascimento.

1º dia

A conferência de abertura foi feita por Fernando Henrique Cardoso (FHC), ex-presidente da república e sociólogo. No tempo em que FHC foi Presidente da República contava-se a seguinte anedota: qual é o maior inimigo, o maior opositor, o maior crítico do Fernando Henrique Cardoso Presidente? E a resposta era: o único verdadeiramente opositor é o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Na conferência intitulada Casa Grande e Sanzala: livro perene, FHC foi brilhante. E foi-o pela eloquência, pelo modo estruturado como falou - embora tendo a conferência escrita, não a leu - pelo sentido de humor, pela memória histórica e pela elegância crítica com que falou de Gilberto Freire, e não era fácil. Começou por fazer uma história da sociologia no Brasil, desde o aparecimento desta disciplina, as escolas, as críticas dos grupos - os cientistas contra os ensaístas -, o deslocamento do interesse da sociologia do nordeste para o sul com a influência dos americanos e dos ingleses na década de 30, etc. Permitiu-se, com muito humor, colocar o seu lugar (fundamental!) na história da sociologia brasileira e a este propósito relatou episódios esclarecedores de como a sociologia se foi implantando no Brasil através de vários protagonistas. Uma segunda parte da conferência foi dedicada à obra de sociologia de Gilberto Freire e foi admirável o modo como FHC conseguiu a partir dos livros (que, como disse, voltou a reler todos) decompor os traços da sociologia de GF, a evolução do seu pensamento ao longo dos anos, as representações que foi fazendo do Brasil durante o processo histórico e como, sem nunca escamotear as críticas passíveis de serem feitas a GF - acusado de anti-semitismo, racismo encapotado, falta de rigor académico - destacou o perene na obra do sociólogo homenageado. Referiu a sua qualidade literária, a preocupação em entender o Brasil e a sua multiracialidade, a passagem do patriarcado a um regime de industrialização e naturalmente a análise do esclavagismo e da produção da cana de açúcar. Acabou, afirmando que GF construiu um mito a partir de um trabalho permanente e nem sempre consequente da conciliação entre os contrários. Como pode este homem que teve uma importância histórica no processo de democratização e desenvolvimento do Brasil enquanto Presidente, no dia a dia nas rotinas do seu gabinete, nas reuniões de ministros, nas negociações partidárias, nunca ter deixado de ser o sociólogo lúcido que tão bem conhece o Brasil?

apr

A América Latina de novo...

Publicado3 Ago 2010

La Paz

Há um atavismo evidente nesta cidade que se traduz pelo modo como o pior do folclore se impôs enquanto o mundo lá fora continua a mudar. Muitos dizem que tem sido reforçado, como um estado de alma, desde que Morales e o seu socialismo se impuseram. É óbvio que pouco há de socialismo nesta cidade e no país, até porque na definição clássica do mesmo os meios de produção não estão nas mãos dos trabalhadores, são muitas vezes propriedade do Estado, melhor dizendo, do governo e dos seus ministros. E se é um facto que o indigenismo é uma realidade estranha para o europeu, também é sabido que o indigenismo tem sido proclamado como um instrumento populista e pouco sério.
A cidade é remendada, descosida, íngreme claro, na sua geografia, mas também no modo de ser: tudo vive num plano inclinado em que o esforço de subir montanhas é proporcional à descida abrupta e veloz de que os múltiplos sinais de pobreza dão conta. 

La Paz dói.
O mal das alturas, assim dito, parece uma expressão de BD ou uma ficção com extra terrestres, mas existe e é bem real. A 3.600, a 3.400 ou a 3.200 que são as alturas das três plataformas onde foi construída La Paz, com a falta de oxigénio, a cabeça parece estalar, as dores são insuportáveis, qualquer caminhada de cem metros parece uma maratona pelo esforço que é preciso despender, o nariz sangra, o corpo é de uma fragilidade única. E são assim dias seguidos.

La Paz ainda.
A cidade vive o fantasma da América como um fantasma dos anos 70.Sem desresponsabilizar os EUA por parte do estado calamitoso a que chegou a economia nos anos 80 e 90 é, contudo, uma caricatura a imagem que se constrói deste "inimigo" externo, responsável por todos os males do mundo. Ele é nos murais pintados nas paredes da cidade, com figuras retiradas dos murais mais radicais dos anos 30 mexicanos; ele é nas expressões de "luta" popular: "só há dois caminhos: ou vencemos a América ou ela destrói o mundo", ladeadas pela figura de Evo Morales; ele é nas inscrições, à porta da universidade, sobre o perigo do imperialismo. Simultaneamente, o dólar é a moeda forte que circula em todas as trocas comerciais, na rua, no comércio paralelo, nos supermercados, nos táxis. E a propósito de um pequeno bairro, onde se erguem algumas dezenas de arranha-céus, os guias turísticos anunciam com orgulho estarmos na piqueña new iorque. Há nisto algo de grotesco que se compreende pelo populismo instaurado. A última medida governamental foi a de aconselhar, nos passeios ao campo, que as pessoas comessem carne seca, que é a alimentação nacional porque originariamente indígena.

Três boas recordações.
El Ascensor, uma primeira obra cinematográfica do realizador Tomás Bascopé , o encontro com Cergio Prudencio, compositor de música contemporânea e criador da Orquestra Experimental de Instrumentos Nativos e as pinturas Da Sistina da Bolívia da Capela de Santiago de Curahuara de Caranjas vistas à distância de postais.




 

E agora?

Publicado12 Jul 2010

Terminou o ciclo de lições e a programação de cinema, teatro, dança e música do Programa Próximo Futuro para este Verão, embora as instalações de arte pública inauguradas a 18 de Junho permaneçam em exposição na Fundação Gulbenkian até ao final de Setembro.

Ainda este ano, em Novembro, haverá um novo workshop, desta vez sobre Felicidade, em colaboração com o Programa Gulbenkian Ambiente.

Em 2011, último ano em que decorre o Programa Próximo Futuro, seguir-se-ão outros workshops e um ciclo de lições, previsto para Maio, mês que também contará com a inauguração de uma exposição no âmbito deste Programa.

E no Verão do próximo ano, como já vem sendo habitual, irão regressar as sessões de cinema e os espectáculos ao ar livre.

Este fim-de-semana

Publicado9 Jul 2010

Etiquetas cinemateca próximo futuro spoken word

Estão a chegar ao fim as sessões da "Cinemateca Próximo Futuro" programadas para este Verão. Esta sexta-feira e sábado, sempre às 22h, no Anfiteatro ao ar livre da Fundação Gulbenkian, são apresentados os filmes:

Rostov-Luanda, de Abderrahmane Sissako
9 de Julho, sexta-feira

O realizador mauritano Abderrahmane Sissako (n.1961) regista, neste filme de 1997, a sua viagem por uma Angola dilacerada pela guerra, supostamente à procura de um velho amigo, mas, na verdade, tentando recuperar a esperança que ele próprio criara. Sissako conta que a independência de Angola, em 1975, representou para si um novo recomeço de África. Nos anos 80, como tantos jovens africanos, partiu para a União Soviética, atrás de formação técnica e política, e lá conheceu um angolano, Baribanga, cuja confiança no futuro do seu país encarnava a esperança que Sissako depositava em todo o continente. Mas os anos de guerra civil que se seguiram, entre facções angolanas apoiadas cada uma pela sua superpotência, além das outras catástrofes que se abateram sobre África, arrasaram o optimismo da geração de Sissako. "Rostov-Luanda" é pois uma expressiva resposta à desilusão que encontramos em muitos filmes africanos recentes, como Afrique, je te plumerai, Udju Azul di Yonta e Tableau Ferraille.

Tamboro, de Sérgio Bernardes

10 de Julho, sábado - ÚLTIMA SESSÃO

 

Documentário sobre o Brasil, na sua diversidade cultural, geográfica e social, com intervenções de Leonardo Boff, Rose Marie Muraro, Aziz Ab´Saber e Ailton Krenak, entre outros, e diversas participações especiais de músicos como Hermeto Pascoal, grupo Afroreggae, Velha Guarda da Portela, Seu Jorge e repentistas nordestinos. Nesta longa-metragem as principais questões sociais e ambientais do Brasil – a desflorestação, a luta pelas terras, a “favelização” e a criminalidade nos grandes centros urbanos – são projectadas formando um panorama quase muralista da civilização. Do Monte Roraima aos Aparados da Serra, o filme percorre todo o Brasil revelando imagens surpreendentes.

E no domingo, 11 de Julho, às 21h30, no Anfiteatro ao ar livre:

PALAVRAS NA CIDADE, um espectáculo inédito de spoken word

©Márcia Lessa

O espectáculo Palavras na Cidade, com direcção artística de Carla Isidoro e Chullage, encerra um desafio: juntar artistas que admiram ou praticam a poesia falada, mas que nunca a fizeram em conjunto.

Juntos pela primeira vez num espectáculo de spoken word, os artistas convidados são co-criadores do material inédito que levarão a palco. Uma viagem onde Lisboa, a urbanidade, as memórias e as histórias pessoais são trabalhadas na palavra falada. O DJ assume-se como artesão do cenário musical enquanto  os VJs desenham o ambiente visual para cada performance, concedendo ao espectáculo um fio condutor.

O Spoken Word tem reclamado o seu lugar dentro da cultura contemporânea urbana vivendo do improviso, da declamação pura ou revestido por música. Neste caso, Lisboa é o pano de fundo que permite tecer teias de contos, experiências e sonhos que remontam à oralidade das histórias para crianças, que tão bem conhecemos, ou à perpetuação de memórias e passados que os griots continuam a manter em certos países africanos. São estórias que brotam das ruelas, das aspirações cultivadas à beira Tejo e da luz que impregna a vida da cidade. Hoje, Aqui e Agora são motes para a construção do Palavras na Cidade, em que se criam narrativas de pertença e silábicas realidades.

Intérpretes: Birú, Chullage, Kalaf, Kika Santos, Nástio Mosquito, Vera Cruz.

Cenário Musical: DJ Ride

Cenário Visual/VJs: Droid-id (Paulo Prazeres, Luís André, António Forte)

Direcção Artística: Carla Isidoro e Chullage

O espectáculo Palavras na Cidade resulta de uma colaboração entre o programa Descobrir e o Próximo Futuro.

Soy Cuba- O Mamute Siberiano

Publicado8 Jul 2010

Etiquetas cinemateca próximo futuro

Este filme do realizador brasileiro Vicente Ferraz conta a fascinante história do filme “Soy Cuba”, de Mikhail Kalatozov, primeira e única co-produção entre Cuba e a extinta União Soviética. Em 1962, a União Soviética, uma das maiores interessadas no sucesso e difusão da Revolução Cubana, envia para Cuba um de seus grandes cineastas, Mikhail Kalatozov (que poucos anos antes havia ganho a Palma de Ouro em Cannes, com o filme “Quando Voam as Cegonhas”), com a missão de realizar o que seria um grande poema épico. Kalatozov contou com recursos humanos e tecnológicos, como foi raro acontecer na História do Cinema. Foram dois anos de filmagens, que resultaram em algumas das mais impressionantes imagens da história do cinema. Apesar disso, o filme foi um retumbante fracasso, tanto em Cuba como na União Soviética, tendo sido de imediato arquivado até que, mais de 30 anos depois, Francis Ford Coppola e Martin Scorsese o resgataram do esquecimento. O documentário de Vicente Ferraz recorre à clássica estrutura de entrevistas e imagens de arquivo para contar a história dessa produção, da sua idealização até ao reconhecimento tardio.



 

Soy Cuba- O Mamute Siberiano, de Vicente Ferraz (Brasil)

8 de Julho, quarta-feira. 22h

Anfiteatro ao ar livre da Fundação Gulbenkian

O preço justo do café

Publicado7 Jul 2010

Etiquetas cinemateca próximo futuro

 




Black Gold, de Marc Francis e Nick Francis (Reino Unido)

7 de Julho, quarta-feira. 22h

Anfiteatro ao ar livre da Fundação Gulbenkian

As multinacionais do café dominam os nossos centros comerciais e supermercados e comandam uma indústria avaliada em mais de 80 mil milhões de dólares, fazendo deste produto a mercadoria comercial mais valiosa do mundo, a seguir ao petróleo. Nós, consumidores, pagamos bem os nossos galões e cappuccinos, mas os cultivadores de café continuam a receber tão pouco que muitos se vêem forçados a abandonar os seus campos. É na Etiópia, berço da cultura do café, que o paradoxo se torna mais evidente. Tadesse Meskela tem como missão salvar da bancarrota 74 mil cultivadores em luta. Enquanto estes homens se esforçam por colher café da mais elevada qualidade no mercado internacional, Tadesse percorre o mundo à procura de compradores dispostos a pagar-lhes um preço justo. No contexto da passagem de Tadesse por Londres e Seattle, percebe-se o enorme poder dos negociantes multinacionais que dominam o negócio mundial do café. Os commodity traders de Nova Iorque, o comércio internacional de café e as negociatas dos líderes do comércio, na Organização Mundial do Comércio, representam bem os vários desafios que Tadesse enfrenta, na demanda por uma solução duradoura para os seus agricultores.