FLIP – 4º dia
Publicado10 Ago 2010
A que se deve o sucesso desta Festa de Literatura? A uma organização muito profissional, a recursos importantes - dois milhões e duzentos mil euros -, apesar de os autores presentes não receberem honorários (mas a promoção nacional e internacional que adquirem é enorme), à capacidade de terem os autores certos nos momentos certos. Depois há o contexto brasileiro: os moderadores são geralmente universitários fluentemente poliglotas, da geração que terá entre os 30 e os 50 anos com visitas ou estudos nas Universidades de prestígio dos EUA. A acrescentar a isto, uma massa crítica em formação permanente, excelentes publicações e traduções, fluxo permanente dos melhores professores estrangeiros nas universidades brasileiras e finalmente: o carácter informal, a desenvoltura com que se colocam as perguntas, a ousadia de enfrentar os cânones, o hábito das conversas….ah, e claro, uma muito boa política cultural e um ministro que tem protagonismo no governo do Presidente Lula.
(A Tenda dos Autores)
Este dia de sábado foi muito diversificado: começou com o polémico Terry Eagleton um dos grandes críticos literários do nosso tempo a discorrer sobre religião e ciência na sequência das polémicas recentes havidas com muitos outros intelectuais, a que se seguiu a presença de dois escritores premiadíssimos - Colum Mcann e William Kennedy - que apresentaram dos seus mais recentes livros já traduzidos, claro, para português. De tarde aconteceu um momento raro: numa homenagem Carlos Drummond de Andrade, quatro poetas brasileiros - Antonio Cicero, Chacal, Ferreira Gular e Eucanaã Ferraz leram o primeiro livro de poesia de CDA, Alguma Poesia. Mil pessoas escutaram durante uma hora e meia estes quatro poetas a ler o livro completo de Drummond!
A seguir seguiu-se uma homenagem a Ferreira Gular que falou da sua obra, de como 'poeta parnasiano"descobriu o modernismo quando se confrontou com um livro que tinha um poema intitulado "Lua Diurética"e como a leitura desse poema de Drummond no inicio dos anos 50 foi para ele um “terramoto" e fez dele um poeta concreto.
A última mesa do dia foi dedicada a autores de quadradinhos - Banda Desenhada - nada mais, nada menos que a Robert Crumb e Gilbert Shelton - que de uma forma docemente anárquica lá foram falando dos tempos em que começaram a fazer as tiras dos quadrados, falavam de sexo e apoiavam revistas underground e de esquerda nos anos 60 de Nova Iorque…continuam iconoclastas na forma e nas atitudes.