A propósito da primeira sessão do 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas, no dia 8 de Fevereiro, juntamos aqui algumas sugestões de leitura dos nossos oradores, Giuseppe Cocco e Paulo Granjo.
Giuseppe Cocco, A Constituição do trabalho metropolitano: junho-outubro de 2013
Entevista de Giuseppe Cocco ao Instituto Humanitas Unisinos
Paulo Granjo, Por que juntar o estudo de violência, polícias e governantes? A complexidade dos motins de Maputo
A propósito da primeira sessão do 4º Observatório, no próximo dia 8 de Fevereiro, o nosso orador Giuseppe Cocco propõe-nos a leitura da sua entrevista para o website do Instituto Humanitas Unisinos.
Não estamos diante da “falência da política. Ao contrário, trata-se da persistência da política! Diante de tudo que os partidos de esquerda fazem para fornecer munições ao velho discurso antidemocrático e moralista da elite, esses movimentos mostram que a política está viva, apesar dos Felicianos, dos Aldos, da tecnocracia neodesenvolvimentista e da corrupção”.
Leiam a entrevista na íntegra aqui.
Consultem toda a programação de Novos Poderes - 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas aqui. A entrada será livre, mediante inscrição prévia.
Foto: Raw Material Company, retirada do website C&
Qui a dit que c' était simple marca o início da programação de um ano da Raw Material Comoany (Dakar, Senegal), dedicada às liberdades individuais, reflectindo sobre percepções e restrições.
Who Said It Was Simple is an open critical platform. An abundant documentation including news clips, audio and video material as well as mappings from various sources builds the content of the exhibition.
In presenting this large research we want to discuss difference, minority and margins with an emphasis on sexuality.
Leiam aqui.
Paulo Granjo, orador na primeira sessão do 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas no próximo dia 8 de Fevereiro, propõe-nos a leitura do seu texto Por que juntar o estudo de violência, polícias e governantes? A complexidade dos motins de Maputo.
Os estudos de violência pública costumam fragmentar-se de forma especializada entre, por um lado, pesquisas acerca dos perpetradores da violência não-estatal e, por outro, a análise das forças policiais e políticas governativas.Este fenómeno, embora paradoxal face aos princípios holistas predominantes nas ciências sociais (e particularmente na antropologia), é contudo bastante compreensível à luz da predominante tendência científica para a especialização temática, da pragmática dificuldade em acompanhar de forma transversal bibliografias cada vez mais numerosas e sectoriais, ou até da criação e exploração de nichos de mercado para a prática de ciência aplicada. Não obstante, os motins ocorridos em Maputo nos anos de 2008 e 2010 – que tive oportunidade de estudar, a partir da observação direta e de muitas e diversificadas entrevistas informais – apresentam uma complexidade de fatores e de interações entre eles que condena qualquer abordagem parcelar ao estatuto de uma pobre aproximação à sua compreensão.
Leiam o texto na íntegra aqui. A primeira sessão do 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas, intitulado "Novos Poderes", terá lugar no dia 8 de Fevereiro, Sábado, às 15h, no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian. A entrada é livre, mediante inscrição prévia. Mais informações aqui.
Visita ao Castelo Elmina por participantes de 2013, Cape Coast, Ghana. Foto: Mimi Cherono Ng'0k (Cortesia CCA, Lagos)
CALL FOR APPLICANTS
Deadline 2nd March 2014
Àsìkò 4th CCA, Lagos International Art Programme
A History of Contemporary Art in Dakar in 5 Weeks
Dates: 5th May – 8th June 2014
In 2010 the Centre for Contemporary Art, Lagos began an innovative project, Àsìkò, CCA, Lagos International Art Programme with the aims of filling a gap in the educational system in Nigeria and many African countries, which tend to ignore the critical methodologies and histories that underpin artistic practice. The programme comes out of the need to build local support structures for art production, critical thought and to provide a conducive framework that encourages and advances the individual research and production of participants. Using the format of part art laboratory, part residency and part informal art academy, over the course of 35 intensive days “A History of Contemporary Art in Dakar in 5 Weeks” will focus partially on technique and primarily on methodology, critical thinking, and the implementation of conceptual ideas.
At the end of the programme held in Accra in 2013, the participants provocatively titled their final presentation, "A History of Contemporary Art in Ghana in the Last Five Weeks." Was this gesture an attempt to indicate that the complex history of contemporary art practice in Ghana could be broached within the temporal period allotted—five weeks? Certainly such an elaborate history condensed and absorbed in the space of 35 days, or 840 hours, is subject to questioning. Despite its inevitable sentiments of reductiveness, the title nonetheless provided a space of examination and reflexivity, a space in which to dwell on the effects of time and its potential in tune with the central theme of “The Archive.”
For the 4th edition of Àsìkò, organised in collaboration with Synergie contemporaine, Dakar led by artist and professor Viyé Diba, we intend to move away from a definitive theme towards a more open discursive model that allows the research interests of both the participants and the faculty to be highlighted. We will focus on and explore African and African Diaspora cultural production, examining its shifts and developments in recent years using the 11th Biennale of Dakar – namely its main international exhibition - as well as the over 150 Dak’Art OFF programmes as an the point of departure. The programme will take into consideration the various aesthetic, contextual strategies and professional techniques deployed by artists and scholars working across a multiplicity of forms including visual art, literature, film and dance and the critical and cultural theory that complements it.
Who Can Apply?
■ Applications are open to artists and curators from Africa and the African Diaspora who have been professionally active for at least 3 years and with a visible commitment to their professional artistic and their curatorial practice.
■ Artists can be working in any media - painting, sculpture, textile, ceramics, photography, video and new media, performance art, writing, theatre and dance.
For additional information and application form please contact:
Àsìkò Project Coordinator, Erin Rice
[email protected]
Poderá haver poesia na violência?
Mi escritura no tiene como objetivo hacer daño al lector. Mi sueño de escritura no es escribir sobre lo que hace daño, mi sueño de escritura es la poesía, maravillar ante las cosas, pero tampoco puedo olvidar el contexto del que salen. También hay otras cosas. Cuanto más me dicen que mis libros son ‘violentos’, más cuenta me doy de que lo que les molesta no es la violencia, sino el hecho de que pueda introducir poesía en la violencia. Es esta cuestión estética de la violencia lo que perturba enormemente al lector.
Leiam a entrevista de Jean-Luc Raharimanana, escritor do Madagascar.
O que caracteriza as manifestações de junho de 2013 é que elas não representam exatamente nada ao passo que, por um tempo mais ou menos longo, elas expressaram e constituíram tudo. Exatamente como o dizia o Abbé Seyes quando se perguntava o que era o “terceiro Estado” e dizia: ele é tudo, não representa nada, quer e deve se tornar algo[1]. O primeiro elemento é esse. Elas tiveram e continuam tendo uma dinâmica intempestiva, fogem a qualquer modelo de organização política (não apenas os velhos partidos ou o sindicatos, mas também o terceiro setor, as ONGs) e afirmam uma democracia radical articulada entre as redes e as ruas: auto-convocação e debates nas redes sociais, participação massiva às manifestações de rua, capacidade e determinação de enfrentar a repressão e até capacidade de construção e autogestão de espaços urbanos como foram a Praça Tahrir, as acampadas espanholas, as tentativas do Occupy Wall Street e, enfim, a Praça Taksim em Istambul , na Turquia. Para cada uma dessas ondas e dessas que chamamos de “primaveras”[2] houve um estopim especifico mas todas dispõem de uma mesma base social (por diferenciadas que sejam as trajetórias sócio-econômicas dos diferentes países) e dos mesmos processos de subjetivação. No caso do Brasil, todo o mundo sabe que o estopim foram os protestos contra o aumento do preço das passagens nos transportes públicos. Como foi o caso de outras marchas, a manifestação em São Paulo foi violentamente reprimida pela Polícia Militar. Só que dessa vez a faísca não se apagou numa “marcha da liberdade” e incendiou São Paulo e todo o País. Mas saber que o estopim foi esse não nos permite de avançar na análise.
Por que em junho? Qual foi o Kayrós? É difícil responder e talvez a característica própria desse tipo de movimento é que ninguém sabe propor razões “objetivas” indiscutíveis. Contudo, podemos avançar algumas antecipações e 3 explicações: no nível das antecipações podemos citar o manifesto Tatu or not Tatu, lançado pela Rede Universidade Nômade no dia 15 de junho de 2012, exatamente um ano antes. Nele era possível ler: “(...) Na época da mobilização de toda a vida dentro da acumulação capitalista, o capitalismo se apresenta como crise e a crise como expropriação do comum, destruição do comum da terra. (...). Não há nenhum determinismo, nenhuma crise terminal. O capital não tem limites, a não ser aqueles que as lutas sabem e podem construir”[3]. Uma segunda antecipação foi o manifesto lançado por uma pequena rede de coletivos (Redes e Ruas) para pensar um “levante” do Rio de Janeiro contra o consenso totalitário que dominava a cidade, em particular depois da re-eleição de seu Prefeito.
Quanto às “explicações”, a primeira tem a forma do “estopim” e é a quase coincidência do episódio da repressão da marcha pelo passe livre em São Paulo com a renovação das primaveras árabes e do 15M espanhol nas lutas duríssimas da multidão turca na Praça Taksim, em Istambul (não por caso, na segunda manifestação carioca, que já reunia 10 mil pessoas, um dos gritos era: “acabou a mordomia, o Rio vai virar uma Turquia”); uma segunda explicação está no fato que esse ciclo de “revoluções 2.0” começa a ter uma duração consistente (de mais de 3 anos) e entrou no imaginário, na linguagem de gerações de jovens que não formam mais suas opiniões na imprensa, mas diretamente nas redes sociais e, nesse meso sentido, se formaram nas pequenas experiências dos OcupaRio, OcupaSão Paulo, OcupaSalvador (em 2011); a terceira explicação é mais consistente e a mais importante e diz respeito ao que são essas “novas gerações” no Brasil de hoje, ou seja essas gerações de jovens que só conheceram o Brasil de Lula. O que é incrível e até irônico é que o próprio PT não tenha previsto isso e ainda hoje seja incapaz de enxergar esse dado importantíssimo. Silvio Pedrosa escreveu um dia que a filha ilegítima do Lula não é Lurian, mas a multidão. Os dirigentes do PT e os intelectuais residuais do partido parecem estar dentro da Soyuz de seu pensamento, orbitando sobre um pais (um regime discursivo e seu consenso social) que não existe mais (estamos fazendo referência ao território soviético que continuava existindo no satélite artificial tripulado ao passo que a URSS tinha desaparecido depois da tentativa do golpe contra Gorbatchev, em 1991).
O movimento de junho tem muita proximidade com o ciclo global de lutas que começou com a primaveras árabes. Num primeiro nível, há em comum com o ciclo global a articulação entre as redes e as ruas como processo de auto-convocação das marchas e manifestações que ninguém consegue representar, sequer as organizações que se encontraram no cerne da primeira chamada: a tentativa de “empoderar” os rapazes do Movimento pelo Passe Livre em São Paulo (“oficializados” pela presença no Roda Viva e a negociação com Prefeitura e Estado) mostrou que eles não controlam nem dirigem um movimento que se auto-reproduz de maneira rizomática (as manifestações aconteciam ao mesmo tempo sem respeitar qualquer tipo de “trégua”). Num segundo nível, há em comum o esgotamento da representação política. No Brasil, esse fenômeno foi totalmente subavaliado pela “esquerda” e sobretudo pelo PT porque não o entenderam (e não o entendem). Inicialmente pensaram que fosse um problema das autocracias do Norte da África (Tunísia e Egito); depois que fosse a incapacidade dos socialistas espanhóis (o PSOE) de responder de maneira soberana às injunções das agências internacionais de notação ou do Banco Central Europeu (BCE). Pensaram também que o 15M espanhol não conseguia encontrar uma nova dinâmica eleitoral ao passo que o partido do Beppe Grillo mostrou na Itália um fenômeno eleitoral totalmente novo e desgovernado. Em seguida, pensaram que o Egito e a Tunísia foram normalizados eleitoralmente pelo islamismo conservador e aí aparece o levante turco contra o governo islâmico moderado ao passo que no Egito os militares retomaram o poder. No Brasil o PT e seu governo (e sua coalizão) pensavam estar blindados pelos recentes sucessos eleitorais (a eleição de Haddad, a re-eleição quase plebiscitária do Paes no Rio), por estar num ciclo econômico positivo e por ter enfim achado que o sagrado graal do “novo modelo” econômico seria na realidade reeditar o velho nacional-desenvolvimentismo, rebatizado de neo-desenvolvimentismo. O que a esquerda como um todo e o PT no Brasil não entenderam é que, a crise da representação é geral (mesmo que ela tenha sintomas e manifestações diferenciadas) e que os levantes da multidão no Egito, na Tunísia, na Espanha, na Turquia e agora no Brasil são a expressão, entre outras coisas, de uma recusa radical dessa maneira auto-referencial de pensar por parte dos governos e dos partidos político. Como dizia o manifesto da Rede Universidade Nômade, Tatu or not Tatu, “No Brasil são muitos os que ainda se sentem protegidos diante da crise global. O consenso (neo) desenvolvimentista produzido em torno do crescimento econômico e da construção de uma nova classe média consumidora cria barreiras artificiais que distorcem nossa visão da topologia da crise: a crise do capitalismo mundial é, imediatamente, crise do capitalismo brasileiro. Não nos interessa que o Brasil ensine ao mundo, junto à China, uma nova velha forma de capitalismo autoritário baseado no acordo entre Estados e grande corporações”[4]. Num terceiro nível há a principal proximidade entre todos esses movimentos: a base social dessa produção de subjetividade é o novo tipo de trabalho que caracteriza o capitalismo cognitivo. As redes que protestam e se constituem nas ruas de Madri, Lisboa, Roma, Atenas, Istambul, Nova Iorque e agora de todas as cidades brasileiras são formadas pelo trabalho imaterial: estudantes, universitários, jovens precários, imigrantes, pobres, índios .... ou seja a composição heterogênea do trabalho metropolitano. Não por acaso por um lado, uma de suas formas principais de luta foi a “acampada” ou o “occupy” e, pelo outro, o levante turco e aquele brasileiro tiveram como estopim a defesa das formas de vida da multidão do trabalho metropolitano: a defesa do parque contra a especulação imobiliária (a construção de um Shopping) em Istambul e a luta contra o aumento do custo dos transportes no caso do Brasil.
Diante dessas aproximações, as diferenças são bem menores, embora elas existam (e sejam até óbvias). Podemos apreender essas diferenças do ponto de vista das condições objetivas da cada país e do ponto de vista de como cada um desses movimentos foi transformando (ou não) a fase destituínte em momento constituinte. Assim, o 15M espanhol se apresenta como a experiência que mais conseguiu durar apesar de não ter revertido as políticas econômicas. As revoluções árabes foram normalizadas pelas vitórias eleitorais conservadoras, mas os levantes se tornam endêmicos. Na Turquia e ainda mais no Brasil não sabemos – literalmente – o que vai acontecer. É no plano das condições objetivas que encontramos a maior diferença: na Espanha e em geral no mediterrâneo, as revoluções são marcadas pelos processos de “desclassificação” das classe médias. No Brasil é exatamente o contrário: tudo isso acontece no âmbito e no momento da emergência de algo que é definido como uma “nova classe média”. Só que, essa nova composição de classe é na realidade a nova composição do trabalho metropolitano, lutando pelos parques ou pelos transportes públicos: ascendendo socialmente, os pobres brasileiros se tornam o que as classes médias européias se tornam .. descendo: a nova composição técnica do trabalho imaterial das metrópoles.
[1] E. Seyès, Qu’est-ce que le Tiers État?, edição de R. Zapperi, Genebra, 1970; Écrits Politiques, Paris, 1985.
[2] Cf. Giuseppe Cocco e Sarita Albagli (orgs.), Revolução 2.0, Garamond, Rio de Janeiro, 2013.
[3] http://uninomade.net/tenda/manifesto-uninomade-10-tatu-or-not-tatu/
[4] Cit.
Giuseppe Cocco é Doutor em História Social pela Universidade de Paris I, Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, editor das revistas Global Brasil, Lugar Comum e Multitudes (Paris). Publicou Trabalho e cidadania (Cortez, 2000) e, com Antonio Negri, Global: biopoder e luta em uma América Latina globalizada (Record, 2005), entre outros livros e artigos. Será um dos oradores na primeira sessão do 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas, dedicado aos "Novos Poderes", no próximo dia 8 de Fevereiro.
Paulo Granjo e Giuseppe Cocco
A economia dos movimentos sociais urbanos: Protesto e revolta em Maputo e Rio de Janeiro hoje é o tema da primeira sessão do 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas. Será no dia 8 de Janeiro, às 15h00, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian.
Durante muito tempo, marcado pela clivagem entre colonialistas e movimentos anticoloniais e, depois, por guerras civis que opuseram duas forças nacionais, a cena política moçambicana viu emergir novos protagonistas com a eclosão de uma série de motins no espaço metropolitano de Maputo, em 2008 e em 2010. Mais recentemente, em 2013, no Brasil, e com particular destaque para o Rio de Janeiro, eclodiram revoltas inesperadas num contexto que parecia exclusivamente determinado pelas clivagens político-partidárias, em torno dos governos do Partido dos Trabalhadores. Neste debate, pretende-se compreender a economia destes recentes movimentos sociais urbanos, discutindo as relações de poder que fazem o quotidiano das cidades em questão, bem como os sujeitos, as formas e o repertório de ação política dos levantamentos ocorridos.
Giuseppe Cocco (Sociólogo, Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Paulo Granjo (Antropólogo, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) serão os nossos oradores. José Nuno Matos (Sociólogo, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) será o comentador da sessão.
A entrada é livre, mediante inscrição prévia. Todas as informações aqui.
O debate em torno do poder tende a confiná-lo enquanto um assunto político de âmbito institucional, nacionalmente circunscrito e que se constitui objecto de disputa individual. Neste ciclo propomos discutir experiências históricas e presentes que nos convidam a contrariar estas tendências. Procederemos à inventariação de relações de poder que deslocam o domínio do político até à esfera da cultura ou da economia, que extravasam as fronteiras nacionais e que assumem uma dimensão colectiva.
Na primeira sessão do ciclo discutiremos comparativamente acontecimentos recentes em cidades como Maputo e Rio de Janeiro, onde a política se deslocou do terreno institucional para o espaço das ruas, em resultado de novas dinâmicas de acção colectiva que interrogaremos atendendo tanto à autonomia dos sujeitos políticos emergentes como à formação económica destas cidades do Sul global.
Na segunda sessão, tendo como pano de fundo as guerras que levariam ao fim do Império Português, discutiremos a circulação transnacional de imagens e discursos artísticos comprometidos com os movimentos anticoloniais, atendendo por um lado à interacção entre a representação artística e a prática militante e, por outro, ao modo como essa mesma representação convocou um processo de produção que se quis alternativa ao modelo autoral individual.
Na terceira sessão analisaremos a possibilidade de uma história interligada dos movimentos anticoloniais e do protesto popular no Portugal contemporâneo, tomando como mote o facto de o ano de 1974 ter representado uma dupla viragem: o fim da ditadura do Estado Novo e o fim do Império Português.
Na quarta sessão, aproximando-nos já da actualidade, debateremos a problemática da circulação procurando intersectar dois debates em regra dissociados: o debate político em torno da circulação de pessoas e dos direitos de cidadania e o debate económico relativo à liberalização do comércio.
Finalmente, na quinta e última sessão, colocar-se-á a possibilidade de uma crítica do Estado que seja simultaneamente devedora da antropologia de pendor anarquista de autores como Pierre Clastres ou, mais recentemente, Viveiros de Castro, e da análise do neoliberalismo por Michel Foucault.
Pela Unipop
Diogo Duarte, Inês Galvão e José Neves
A 4ª edição do Observatório de África, América Latina e Caraíbas é uma co-organização do Próximo Futuro com a Associação Unipop. A primeira sessão, A Economia dos Movimentos Sociais Urbanos, tem lugar no dia 8 de Fevereiro, às 15h, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian. A entrada é livre, mediante inscrição prévia. Todas as informações aqui.
Imagem retirada do portal Think Africa Press
O ano de 2014 marcar o 50º aniversário da união da ilha de Zanzibar com a Tangania, formando o país hoje chamado Tanzânia. Uma série de problema spolíticos mantem a relação entre as duas partes bastante sensível.
The current 'state of the union' debate sees three ideas being posited, all of which involve a degree of autonomy for Zanzibar but with oversight administered by mainland Tanzania. However, despite one recent attempt to discussthe issue openly and amicably in the ‘public sphere’ (an expensive hotel in Dar Es Salaam), worrying patterns of resentment and tension are emerging.
Leiam o artigo na íntegra aqui.
Exposição de Mira Schendel no Museo Reina Sofia em Madrid
Depois de um ano em que estrangeiros como Ai Weiwei, Lucian Freud, Cai Guo-Qiang e Stanley Kubrick dominaram o calendário dos museus no Brasil, 2014 vai apostar em brasileiros e em artistas que construíram a sua obra no país, noticia a Folha de São Paulo.
Leiam aqui.
Dear Artist,
I am curating a video art work screening of various artists working on the continent for the main programme of the annual National Arts Festival in Grahamstown, South Africa, July 2014.
The screening will be unique as the works will be will be shown in the form of two mobile drive-ins (a car with a projector mounted on the roof), one that is fixed at one prominent site and the other that moves to various public spaces. The drive-in will be authentic as possible as patrons will drive onto an open field where the sound will be broadcast to their car stereos and to stereos provided. The aim is to showcase work that gets very little exposure in galleries in South Africa and elsewhere on the continent. It will be open and free to the public and will be shown in public spaces that engage and expose video art directly to a wider audience.
The varying themes of the works that I am looking are quite broad but new or older work that considers nationality, identity and migration will be considered. I am looking at work that is no longer than 5-7 minutes (but may consider longer works) in digital format. Artists can submit up to three works each. The idea being that we could showcase a wide range of works from numerous African countries which are curated into a number of themed screenings.
The working title for the screening is: ANALOGUE EYE: Video Art Africa. The title pays homage to a handmade or hands-on way of film-making (much like I did as a young film-maker), using old VHS video cameras and equipment in really creative ways - not necessarily the way they were intended to be used. In this regard I have built the mobile drive-in with mostly upcycled materials and equipment. Analogue Eye also embraces a philosophy of ‘making it happen’ regardless of the situation you may find yourself in as an artist. The title refers to an ethos and way of working which many of us may subscribe to or identify with.
The National Arts Festival technical team will provide all technical needs such as HD projectors and screens but royalties will unfortunately not be paid.
This year marks the 40th anniversary of the National Arts Festival which also coincides with 20 years of a democratic South Africa – so this year’s festival is set to be a hi-profile and significant event both nationally and internationally. With this in mind the drive-in theatre will be prominently positioned next to the main festival hub (The Foundation Monument) with large volumes of pedestrian and vehicle traffic.
I am very excited about the prospect of showing your work here and hope you are open to participating!!
If you are interested in participating, please email me back (B.Meistre[at]gmail.com) and I will forward you further submission requirements and documentation.
Warmest regards,
Brent Meistre
Senior Lecturer
Rhodes University Fine Art Dept
A Fundação Gulbenkian, uma das muitas coisas boas que Portugal tem (a falésia na crise, por assim dizer), através do seu excelente programa “Próximo Futuro” – cuja comissão científica tenho muito orgulho em integrar – sob a direcção do também excelente e criativo António Pinto Ribeiro (ok, fim dos superlativos...), publica dois volumes com o título “Grandes Lições”. Trata-se de conferências proferidas por académicos de renome (continuação dos superlativos). Lições grandes mesmo. O primeiro volume contém um texto interessantíssimo de Benjamin Arditi, cientista político mexicano (creio), com o título “As insurreições não têm um plano – elas são o plano”, uma ousada e brilhante crítica à tese defendida pelo filósofo esloveno Slavoj Zizek, segundo a qual revoltas como as dos jovens em Londres ou no Magreb estariam votadas ao fracasso por não possuírem um plano. Ele articula essa falta de plano à ausência de reivindicações que desenhem, desde logo, um projecto alternativo de sociedade. Arditi discorda e diz que o protesto em si, e pelo simples facto de veicular um significado, desenha uma alternativa que se afirma contra o status quo e contém dentro de si a semente de algo melhor.
Esta é uma daquelas situações que levam alguns de nós a dizerem “ambos têm razão”. Só que, como logicamente é menos problemático dizer “nenhum tem razão”, opto mesmo por não dar razão a nenhum deles. O movimento “Occupy Wall Street” parece ter perdido fôlego. A Praça de Tahrir virou tragédia. Pontos para Zizek. Mas mudou alguma coisa. O mundo das finanças já não dá certas coisas por adquirido. No Egipto a luta continua. Pontos para Arditi. O problema de ambos, porém – e na minha percepção –, é que me parecem reféns das suas próprias teorias de conhecimento. Zizek acredita no fim da história, de preferência um fim que explique porque tivemos de sofrer, tipo São Paulo. Arditi parece um anarquista que fecha os olhos, atira-se ao barulho na esperança de que disso resulte algo bom. Não vou prosseguir com a reflexão sobre os dois. Como em (quase) todas as coisas da vida, inspiro-me neste assunto para reflectir sobre o meu País. Há um pouco das duas coisas no momento político que o País atravessa, algo que se manifesta na forma como interpelamos Moçambique criticamente. Eu diria, maltratando Zizek, que temos uma crítica sem plano, mas porque a modéstia obriga, também deixaria pairar no ar a interrogação que também maltrata Arditi sobre se a própria crítica seria o plano.
Sustenta a crítica no nosso País a convicção – não de todo errónea – segundo a qual uma vida melhor para todos nós seria possível. Tudo bem. O problema, contudo, é de assentar essa convicção numa premissa problemática, nomeadamente a premissa segundo a qual o mundo seria justo e que, portanto, a única razão que faz com que se não alcance essa vida melhor seriam os interesses veilados de alguém mau. É uma mistura explosiva entre a falácia do jogo de azar e a teoria da conspiração. Nestas circunstâncias a crítica vira um exercício de acusação alimentado apenas pela plausibilidade ideológica, nunca (ou quase nunca) pelo fundamento empírico ou lógico. A crítica vira teodicea, uma explicação reconfortante do nosso sofrimento. Pontos para mim contra Zizek. Atiça as chamas da crítica no nosso País a ideia – não de todo errónea – de que é importante falar contra o que está mal e não apenas uma vez, mas várias vezes, e com ardor. O problema aqui, todavia, é que quando a crítica vira o seu próprio motivo a sua qualidade perde importância, o que conta é apenas ... criticar, o que no nosso País significa dizer mal de, não importa de quem, apenas dizer mal de, repetir até à exaustão que está tudo mal, franzir o sobrolho contra todo aquele que se esquece de dizer que está tudo mal ou, o que é o mesmo, dizer mal de quem diz mal de e se esquece de apontar para o que está bem. Esse tipo de crítica é um cocktail Molotov dentro do qual ferve a demagogia e o ataque à pessoa. Essa crítica fica cega à mudança que ela própria pode produzir. Pontos para mim contra Arditi.
Qualquer que seja o caso, farta. E irrita. É uma espécie de construção social da imbecilidade política. O País real, os actores reais, as circunstâncias reais, tudo quanto pode ser recuperado pelo discurso atento à relação entre o empírico e o que é (ou pode ser, pouco importa!) perde importância e fica artefacto dum País, de actores e circunstâncias que só são reais numa crítica teleológica e narcisa. E Moçambique passa a ser isso mesmo, o que produz os seus analistas, os seus indignados e, para acrescentar insulto à ferida (como diriam os ingleses), os seus “democratas”, aqueles que percorrem o palco que a esfera pública lhes proporciona brandindo palavras que pensam por eles, palavras esvaziadas de sentido, meros rótulos duma realidade que há muito virou enteada duma crítica que, se calhar, ela própria é que é o plano. Pontos para Zizek e Arditi.
Moçambique: 0. Elísio: 0.
Cansa.
(texto publicado na página de Facebook de Elísio Macamo a 10 de Janeiro)
Elísio Macamo é docente de Sociologia do Desenvolvimento na Universidade de Bayreuth, Alemanha. Fez os seus estudos em Xai-Xai, Maputo, Salford, Londres e Bayreuth. Foi Investigador de Pós-Doutoramento na Universidade de Bayreuth, Investigador Convidado do Centro de Estudos Africanos em Lisboa, e AGORA-Fellow na Wissenschaftskolleg de Berlin. É Investigador no Stellenbosch Institute for Advanced Study (África do Sul), membro dos conselhos científicos das revistas "Afrika Spektrum" e "Indilinga - African Journal of Indigenous Knowledge Systems", membro da direcção da Associação Alemã de Estudos Africanos e membro do comité científico do CODESRIA. Publica regularmente na imprensa moçambicana, particularmente no jornal diário "Notícias". Publicou livros e artigos nas áreas da sociologia do risco, da política, da religião, do trabalho e do conhecimento.
Tope Folarin (imagem retirada do portal This is Africa)
Quando Tope Folarin venceu, em Julho passado, o Caine Prize for African Writing, foi dada alguma cobertura ao facto de ele não ter nascido em África e de ter visitado a Nigéria apenas uma vez, quando era bébé.
I honestly think that the act of claiming any identity is akin to an act of faith. After all, to my knowledge none of us enter the world with a particular identity stamped on our foreheads. We develop and grow in contexts that shape our beliefs and perspectives.
Leiam a entrevista na íntegra aqui.
Catarina Pinto
La Maison de La vache qui Rit em Lons-le-Saunier (Jura, França) inaugura no dia 21 de Fevereiro a exposição "Les Constructeurs Insatiables", que explora a paixão e o prazer envolvido na construção de estruturas efémeras, sasonais e nómadas. Como... a nossa cabana, construída por Catarina Pinto.
Catarina Pinto estará presente nesta exposição juntamente com outros arquitectos, como The Cloud Collective, André Castro Vasconcelos, Véronique & Françoise Maire, José Pedro Sousa & DFL/FAUP.
Vejam mais no site da exposição.
Hamjima Absana saiu de Igor. Tem 13 anos (imagem retirada do website de Sharon Jensen)
Uma série de fotografias de sapatos de refugiados que saíram do estado sudanês do Nilo Azul e chegaram à fronteira com Sudão do Sul em Maio e Junho de 2012.
The incredible array of worn-down, ill-fitting and jerry-rigged shoes form a silent testimony to the arduous nature of their journey, as well as the persistence and ingenuity of the individuals who survived it.
Vejam as fotografias de Sharon Jensen aqui.
Tochiro Gallegos mostra o seu trabalho num iPad (imagem retirada do New York Times)
Artistas americanos e mexicanos trabalham ao longo da fronteira entre os seus dois países e exploram temas como a imigração, a fronteira, a guerra da droga. Leiam aqui.
Optimista e realista, Achille Mbembe fala, em entrevista à RFI, sobre a ameaças e as oportunidades que 2014 traz para o continente africano.
La culture est devenue partie intégrante de l’expansion du capitalisme à l’échelle globale. Et de ce point de vue, la création africaine est au seuil d’un grand moment qu’on a tort de négliger. Tel est également le cas au niveau de la pensée. Notamment de la pensée de langue française.
Leiam a entrevista aqui.
On the Move organiza nos dias 12 e 13 de Março em Berlim um workshop sobre questões ambientais para o apoio sustentável à mobilidade artística. Mais informações aqui.
Carmen Romero
O festival chileno de teatro Santiago a Mil começa hoje e prolonga-se até 19 de Janeiro. Carmen Romero, directora da Fundación Teatro a Mil, afirmou recentemente numa entrevista:
La base de la desigualdad que tenemos en Chile es cultural. No tengo idea si de verdad hemos logrado nosotros combatir ese tema, pero sí creo que el festival en enero aporta a que esa diferencia tan grande que existe entre habitantes de una misma ciudad sea menos. Que los niños, por ejemplo, tengan el mismo el derecho a que su imaginación se desarrolle de igual forma, ya sea a través de escuchar un cuento o ver una obra. Son estímulos que transportan, que te hacen viajar y el festival tiene esa misión: colaborar para que el acceso al arte y a la cultura esté disponible en Chile.
Leiam aqui.
Imagem retirada do portal Cultura Colectiva
Miguel de Unamuno - poeta, dramaturgo, escritor, filósofo e ensaista espanhol - sobre a liberdade e a cultura:
La libertad no es un estado sino un proceso; sólo el que sabe es libre, y más libre el que más sabe. Sólo la cultura da libertad. No proclaméis la libertad de volar, sino dad alas; no la de pensar, sino dad pensamientos. La libertad que hay que dar al pueblo es la cultura. Sólo la imposición de la cultura lo hará dueño de sí mismo, que es en lo que la democracia estriba.
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