Next Future logo

"Rilke Shake" de Angélica Freitas, editado em Portugal

Angélica Freitas é um dos mais significativos nomes da novíssima poesia brasileira. Esteve no Próximo Futuro em 2014, na Festa  da Literatura e do Pensamento da América Latina, na mesa dedicada à poesia. Agora, o seu primeiro livro acaba de ter edição em Portugal, pela Douda Correria, com capa de Luís Manuel Gaspar. O lançamento, no passado dia 12 de Setembro, no Bar A Barraca, contou com leituras de Margarida Vale de Gato e Miguel Cardoso, uma conversa via skype entre a autora e a jornalista Alexandra Lucas Coelho e uma actuação d' O Copo, com Paulo Condessa e Nuno Moura.

rilke shake
Angélica Freitas

salta um rilke shake
com amor & ovomaltine
quando passo a noite insone
e não há nada que ilumine
eu peço um rilke shake
e como um toasted blake
sunny side para cima
quando estou triste
& sozinha enquanto
o amor não cega
bebo um rilke shake
e roço um toasted blake
na epiderme da manteiga

nada bate um rilke shake
no quesito anti-heartache
nada supera a batida
de um rilke com sorvete
por mais que você se deite
se deleite e se divirta
tem noites que a lua é fraca
as estrelas somem no piche
e aí quando não há cigarro
não há cerveja que preste
eu peço um rilke shake
engulo um toasted blake
e danço que nem dervixe

Vini, o poetinha, nasceu há cem anos

Nasceu há cem anos. É eterno para além do tempo que durou. Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes, poeta, jurista, crítico, diplomata, apaixonado e boémio.

A Casa

Era uma casa
muito engraçada
Não tinha teto
não tinha nada
Ninguém podia entrar nela não
porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero...
na Rua dos Bobos, nº 0!

Pode conhcer-se a longa história da sua vida aqui, num prazeiroso documentário de Miguel Faria Jr

10 visitas ao lugar comum

Published12 Jul 2012

Tags poesia poesia brasileira


1

Quebrar o silêncio

e depois recolher

os pedaços

testar-lhes o corte

o brilho

cego

 

 

2

Pagar para ver

e receber

em troca

vistas parciais

uns cobres

de paisagem

 

 

3

Dobrar a língua

e ao desdobrá-la

deixar cair

uma a uma

palavras

não ditas

 

 

4

Perder a hora

e encontrá-la depois

num intervalo

de teatro

nos cantos empoeirados

do domingo

entre um telefonema e outro

dentro do táxi

 

 

5

Dar à luz

e então sondar

num átimo

de abismo

– como um espeleólogo

um cosmólogo

um cenógrafo

um guarda-noturno –

a própria

escuridão

 

 

6

Perder a cabeça

e então buscá-la

nos últimos lugares

em que esteve

dentro da touca

de banho

sobre o travesseiro

entre os joelhos

entre as mãos

na casa demolida

da infância

sobre suas coxas

mornas

ainda

 

 

7

Tirar fotografias

e depois devolvê-las

àqueles de quem as tiramos

à mulher fora de foco

em seu vestido violeta

à casa de janelas verdes

às paisagens

tomadas emprestadas

à casca

de cada coisa

aos vários ângulos

da Torre Eiffel

ao cachorro morto

na praia

 

 

8

Cortar relações

e depois voltar-se

verificar se o que restou

suporta

remendo

demorar-se

sobre a cicatriz

do corte

 

(guardar

por precaução

a tesourinha

para mais tarde)

 

 

9

Esperar

horas a fio

e então

desvencilhar-se

das coisas tecidas

na espera

dos ponteiros do relógio

cada um mais lento

que o outro

dos pelo menos

dez cigarros

das poltronas de mogno

uma delas

vazia

 

 

10

Quebrar promessas

e ao recolher os cacos

discerni-los

entre aqueles

do silêncio

quebrado

Ana Martins Marques in Piauí.

Nuno Ramos

Published13 Feb 2012

Tags artes visuais nuno ramos poesia poesia brasileira

O sono é minha areia

piso nele. É feito feno

engulo ele. É meu planeta

moro nele desde ontem.

Maré que morde esse novelo

que era um homem, nylon

preso pela franja, nylon

verde, musguenta.

Sem risada

coisas acordadas

dizem seu nome.

Depois somem.

Nuno Ramos (1960)

in Junco, ed. Iluminuras, São Paulo, 2011

Escultor, pintor, desenhista, cenógrafo, ensaísta, videomaker. Formado em filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP, de 1978 a 1982. Trabalha como editor das revistas Almanaque 80 e Kataloki, entre 1980 e 1981. Começa a pintar em 1983, quando funda o atelier Casa 7, com Paulo Monteiro, Rodrigo Andrade, Carlito Carvalhosa e Fábio Miquez. No ano seguinte, recebe do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP a 1ª Bolsa Émile Eddé de Artes Plásticas. Em 1992, em Porto Alegre, expõe pela primeira vez a instalação 111, que se refere ao massacre dos presos na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru) ocorrido naquele ano. Publica, em 1993, o livro em prosa Cujo e, em 1995, o livro-objeto Balada. Vence, em 2000, o concurso realizado em Buenos Aires para a construção de um monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militar naquele país. Em 2002, publica o livro de contos O Pão do Corvo. Para compor as suas obras, o artista emprega diferentes suportes e materiais, e trabalha com gravura, pintura, fotografia, instalação, poesia e vídeo.

Vencedor do  Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa 2009, pelo seu primeiro romance, Ó.

Para ler entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Nuno Ramos, clicar aqui.

O editor de poesia

Carlito Azevedo na entrega do Prêmio Portugal Telecom de

Literatura, na Casa Fasano (foto: Mastrangelo Reino/Folhapress)

"Editar bem poesia é aceitar editar antimercadoria", diz escritor

Carlito Azevedo poderia talvez se acomodar na condição de um dos mais celebrados poetas contemporâneos brasileiros. Seu "Monodrama" (2009), publicado pela carioca 7Letras, grande celeiro de novos poetas no país, é um dos principais livros de poesia brasileira dos últimos anos.

Além disso, ele se firma como um grande agitador poético (é curador, com Augusto Massi, da coleção Ás de Colete, editada pela 7Letras e pela Cosac Naify, e mantém uma página mensal de poesia no jornal "O Globo"), articulando livros e autores em discussões que fogem aos chavões sobretudo por não abrir mão de um ingrediente muito escasso nas conversas sobre o gênero: o bom humor.

Tendo a possibilidade de se ver editado nas maiores casas do país, Carlito preferiu manter-se na pequena (embora longeva, com 15 anos) editora de Jorge Viveiros de Castro.

Para continuar a ler o artigo de Paulo Werneck na Folha Ilustrada, basta ir aqui.