Breyten Breytenbach II
Published21 Apr 2011
Mais um poema de Breyten Breytenbach
AMEAÇA DOS DOENTES
(para B. Breytenbach)
Senhoras e Senhores, permitam-me que vos apresente Breyten
Breytenbach
este homem magro de camisola verde; é devoto
e comprime e martela a cabeça oblonga
no intuito de vos fazer um poema exemplo:
tenho medo de fechar os olhos
não quero viver no escuro a ver o que se passa
os hospitais de Paris estão cheios de homens lívidos
especados à janela fazem gestos ameaçadores
como anjos no forno
e a chuva escorcha e engordura as ruas
tenho os olhos pegados
eles/vós me enterrareis em dia húmido
quando a terra se torna em negra carne crua
e as folhas e as flores maceradas coloram de rugas de água o
sangue branco do ar
antes que a luz roa tudo
mas eu recuso prisão para os meus olhos
colhei as minhas asas ossudas
a boca é demasiado secreta para não sentir a dor
calçai botas para o meu enterro quero
ouvir a lama amassar-vos os pés
os rouxinóis agitam a cabeça molhada, reluzentes flores negras,
as árvores verdes são monges resmungões
plantai-me numa colina, junto a um pego onde haja bocas-de-
-lobo
deixem que patos velhos e sabidos cubram de luto o meu túmu-
lo
à chuva
almas de mulheres tresloucadas mas sagazes são possuídas por
gatos
medo medo medo em saturadas descoloridas cabeças
e não quero que embalem (que consolem) a minha língua ne-
gra.
Vistes como é inofensivo, hajam caridade com ele.
trad. de Mário Cesariny