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Breyten Breytenbach II

Mais um poema de Breyten Breytenbach

 

AMEAÇA DOS DOENTES

(para B. Breytenbach)

Senhoras e Senhores, permitam-me que vos apresente Breyten

Breytenbach

este homem magro de camisola verde; é devoto

e comprime e martela a cabeça oblonga

no intuito de vos fazer um poema    exemplo:

tenho medo de fechar os olhos

não quero viver no escuro a ver o que se passa

os hospitais de Paris estão cheios de homens lívidos

especados à janela fazem gestos ameaçadores

como anjos no forno

e a chuva escorcha e engordura as ruas

tenho os olhos pegados

eles/vós me enterrareis em dia húmido

quando a terra se torna em negra carne crua

e as folhas e as flores maceradas coloram de rugas de água o

            sangue branco do ar

antes que a luz roa tudo

mas eu recuso prisão para os meus olhos

colhei as minhas asas ossudas

a boca é demasiado secreta para não sentir a dor

calçai botas para o meu enterro quero

ouvir a lama amassar-vos os pés

os rouxinóis agitam a cabeça molhada, reluzentes flores negras,

as árvores verdes são monges resmungões

plantai-me numa colina, junto a um pego onde haja bocas-de-

            -lobo

deixem que patos velhos e sabidos cubram de luto o meu túmu-

            lo

à chuva

almas de mulheres tresloucadas mas sagazes são possuídas por

gatos

medo medo medo em saturadas descoloridas cabeças

e não quero que embalem (que consolem) a minha língua ne-

            gra.

Vistes como é inofensivo, hajam caridade com ele.

trad. de Mário Cesariny