Logótipo Próximo Futuro

Grandes Lições - Volume 2

Luis Nobre

O volume 2 das Grandes Lições do Próximo Futuro será lançado no próximo dia 21/09. Nesta edição encontramos ensaios de economistas, historiadores, políticos, poetas, sociólogos e artistas que têm participado na Programa Próximo Futuro, num contributo para "analisar aquilo que fazemos quando pensamos na evolução do mundo e no papel que nele desempenhamos".

"Na mitologia grega, a hidra era o monstro de muitas cabeças que Hércules matou, e vermos a «política cultural» como um monstro é, sem dúvida, um exagero. Deixa de ser um exagero, porém, quando fazemos uso da palavra no seu sentido conotativo, ou seja, um problema persistente ou multifacetado que nos vemos incapazes de erradicar por meio de um esforço individual. (...) «Cultura» é um dos termos que se consolidaram nas suas aceções atuais e que, provavelmente, têm ainda pela frente muitas.

A expressão «política cultural», por outro lado, talvez não esteja tão solidamente enraizada. Digo isto apesar de, no presente, o seu destino parecer promissor, uma vez que é cada vez mais utilizada enquanto recurso retórico e emparelhada com outros tropos contemporâneos mais em voga, como «identidade», «democracia» ou «direitos». No entanto, quando analisamos a questão mais de perto e examinamos a política cultural que efetivamente existe, o seu alcance e poder parecem bastante limitados."

Yudhishtir Raj Isar

Elisabete Azevedo-Harman, Luís Nobre, Mamadou Diawara, Margarida Chagas Lopes, Néstor García Canclini,  Ralph A. Austen, Ruth Simbao, Victor Borges e Yudhishtir Raj Isar, são os autores incluídos no Volume 2

As eleições de amanhã

Chioniso Maraire, importante cantora zimbabueana de 37 anos, faleceu esta semana e já não verá o futuro governo do seu país. Ficam-nos as suas canções e a denúncia social que as suas letras retratam.

O Zimbabué vai a votos amanhã. Esta é uma eleição que se deve acompanhar, percebendo o que foram os últimos cinco anos de goevernação partilhada e que papel têm os zimbabueanos e a comunidade internacional a desempenhar. 

"If the country was divided before the power-sharing agreement, it is no less divided five years later. Credibility of elections has decreased among voters, while distrust between parties and even within parties has increased. The aim of power sharing in Zimbabwe was to end post-election violence. However, despite short-term gains the inclusive government has revealed the down-side of coerced coalition. 

The 2008 violence has generated new uncertainties for 2013. The two parties dominating the contest are as bitter rivals now as they were in 2008 and may have developed an even greater intolerance for each other. "

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Heidi Holland para nos falar de Mugabe

 

O Zimbábue vai a votos no próximo dia 31 de julho. Preside ao país o nome que mesmo os menos atentos à política africana reconhecem: Robert Mugabe. No poder desde 1980, é dos líderes africanos atuais que mais recebem atenção dos media internacionais. Na maioria dos casos, as notícias não são abonatórias. Mas eu nunca gosto de limitar a história aos bons e maus. A história, porque é o relato da realidade, é sempre mais complicada.  Hoje não irei escrever nem sobre o presidente Mugabe, nem sobre as eleições. Irei escrever sobre uma mulher: Heidi Holland. Já explico...

Integro, desde há uma semana, uma equipa de analistas que acompanha a situação no Zimbábue. Temos alguns elementos em Harare e, aqui em Londres, há uma pequena task-force. Tentamos acompanhar e, afastados da emoção de quem está no terreno, enquadrar, perceber e muitas vezes voltar a enviar questões para quem lá está.  

Infelizmente ainda não tenho comigo os meus livros. Mas, mal integrei a equipa, deu-me vontade de ter ao meu lado um dos livros que mais me marcou sobre Robert Mugabe: o livro de Heidi Holland, "Dinner With Mugabe". Foi-me indicado há uns anos por um amigo moçambicano que me disse “tens de ler o livro”. Já tinha lido algumas biografias de Mugabe e aprendi com todas, mas em todas tinha de dar o desconto da simpatia ou da antipatia do autor pelo Mugabe. No livro da Holland não foi preciso.

O título resulta do facto de a autora ter visto (aliás, ouvido!) Mugabe pela primeira vez num jantar ainda no tempo em que ele era um revolucionário, ex-preso político e, sobretudo, clandestino. A autora era uma ativista por um Zimbábue independente e aceitou acolher em sua casa (ainda no tempo de Smith e portanto correndo ela própria o risco de ser presa, mesmo sendo branca) um jantar secreto entre dois ativistas, um deles famoso, outro um amigo seu. A condição para o jantar se realizar na sua casa era que ela não iria ver o famoso, mas, da cozinha, ouviu-o. Anos mais tarde, reconheceu a voz. Tinha tido em sua casa Robert Mugabe!

O livro escrito em 2008 resulta de Heidi voltar ao Zimbábue para tentar entrevistar Mugabe. Sabia, à partida, que não seria fácil… A tarefa demorou dois anos. Começou por contactar o padre católico amigo de longa data de Mugabe e, ao longo dos 24 meses, conversou com as pessoas mais próximas do presidente e, posteriormente, descreveu as conversas com simplicidade e sem preconceitos. Nos seus regressos à Africa do Sul, onde vivia, Heidi discutia com psicólogos o que tinha ouvido e tentava perceber o perfil do homem Mugabe.

Nestas semanas, sem o meu livro com páginas marcadas e palavras sublinhadas, pensei em voltar a comprar o dito. Precisava de o ter entre os vários relatórios, artigos, números e leis sobre o Zimbábue que me rodeiam. Ontem decidi tentar o ebook e, ao googlar o nome do livro, apareceu a notícia da morte de Heidi Holland. Congelei. Foi em Agosto de 2012. Não me tinha apercebido... O livro dela sobre o Mugabe fazia-me falta, mas ela também. Nunca a conheci, mas, no passado, qualquer momento político zimbabuano tinha a sua análise. Estas eleições de 2013 já não a vamos ter.

Amanhã falarei e escreverei sobre as eleições e sobre o Mugabe e Tsvangirai. Hoje quero homenagear Heidi Holland. Estive a ver um vídeo com o título “memorial Heidi Holland”. A última música no vídeo tem o título de Wheeping (chorando). É de uma banda sul-africana anti-apartheid, Bright Blue. Não podia ter sido escolhida melhor música. Eu não sabia o título da canção, só sabia o refrão: "It doesn’t matter now... It’s over anyhow". A música é sobre repressão, tristeza, discriminação e foi sobre tudo isto que Heidi Holland lutou contra  toda a sua vida através da escrita.  Se não leu Heidi Holland....há uma parte do Zimbábue que não percebeu. 

Elisabete Azevedo-Harman

Pode ouvir-se a entrevista de Heidi Holland aqui

Biografias do apartheid

"...disseram-nos: agora vão ser todos enforcados...mas o mais assustador era o polícia que nos interrogava. Ele colocava a pistola em cima da mesa e dizia 'tem uma bala jogamos à roleta russa. Tu queres isto ou preferes a corda?' e este tipo de coisas acaba por nos afectar. mais tarde ou mais cedo". Bob Hepple, foi um dos líderes do ANC preso na tarde de 11 de Julho de 1963. Mandela já se encontrava detido há um ano, e esta operação era um golpe duro e decapitador do partido. Neste dia, com Heppler, foram detidos Walter Sisulu, Raymond Mhlaba, Govan Mbeki (pai do ex-presidente Thabo Mbeki), Dennis Goldberg, Ahmed Kathrada e Lionel Bernstein. Hoje, passados 50 anos, Bob Heppler recorda esse dia e esses anos de luta. Acaba de publicar a sua biografia " Young Man with a Red Tie" . 

Sempre que leio, escuto ou tenho a sorte de conhecer este género de pessoas interrogo-me: " e eu? Faria o mesmo? Teria a mesma coragem? " Felizmente não sei e espero não vir a saber a resposta. Muitas vezes, no meu trabalho, cruzo-me com pessoas que ainda hoje vivem em países sem liberdade. Esta semana conversava com uma pessoa da Eritreia que não pode voltar ao seu país. Durante três anos não teve passaporte, tinha o estatuto de refugiada política, mas na verdade, como me disse " não existia". Passados três anos decidiu pedir a nacionalidade Etíope. "Eu não queria, mas era a única maneira de passar a existir outra vez". 
Eu nasci num país não democrático, mas comigo ainda a gatinhar o país libertou-se e eu pude crescer numa democracia. Pode ter muitos problemas, pode ter imbecis e incompetentes em funções de Estado, posso não gostar das políticas adotadas, posso nao gostar de quem ganha eleições. Mas posso. E sobretudo posso dizê-lo.

Elisabete Azevedo-Harman

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Pensamento Político

A ausência física de Nelson Mandela, o crescimento económico dos países do Sul, as democracias recentes e a marcas mais antigas, foram elementos importantes na conversa sobre o Pensamento Político do sul da África que se realizou na programação do Próximo Futuro.

A RTP disponibiliza no seu site o podcast deste encontro que teve a moderação da jornalista Cristina Peres e os contributos de Elisabete Azevedo-Harman (Portugal)  Elísio Macamo (Moçambique) , Harry Garuba (Nigéria) e João Paulo Borges Coelho (Moçambique). Para ouvir aqui 

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