Para Hakim e para Said, seu irmão mais novo, o dia passa-se a ganhar dinheiro com pequenas tarefas. Primeiro, no cemitério onde pintam com cal as sepulturas e, depois, junto de um comerciante de bebidas alcoólicas que é cego. À beira da falésia, umas quantas garrafas vazias podem ser a sorte das criança.
Faouzi Bensaidi Marrocos Ficção, 1998 18', sem diálogos
Tânger - Hoje, quatro mulheres de vinte anos de idade trabalham para passar o dia e vivem durante a noite. Elas trabalham duramente, divididas em duas categorias: têxteis e camarões. A obsessão delas é estarem constantemente em movimento. «Aqui estamos», dizem. De manhã à noite, o ritmo é frenético enquanto percorrem a cidade. Tempo, espaço e dormir são uma raridade. Mulheres para toda a obra que ainda trabalham para os seus homens e para as suas casas vazias. Esta é a louca corrida de Badia, Imane, Asma e Nawal.
Leïla Kilani Morrocos Ficção, 2011 106’, língua original: francês/árabe (legendado em português)
O Muro
Uma história curta e infindável de um muro que se ergue contra os homens.
Faouzi Bensaidi Marrocos Ficção, 2000, 10’ Língua original: francês (legendado em português)
Um sem-abrigo morre de overdose. Os amigos não toleram a ideia de não o poderem ver vivo. Tabl – ’tambor‘ é a sua alcunha – deixou uma vida de luxo, o emprego e a família por uma vida de anarquia e loucura num grupo de almas perdidas. Mounir Rasmi (seu verdadeiro nome) era, ainda há dez anos, um pai ideal, um bom marido e um ser humano comum. O jogo com a morte principia. Há maior realidade do que a morte? Esta sua outra vida é real, embora estagnada. Tabl vive-a atravessando uma história de submundo, ilustrando um presente ilógico alucinante, enfrentando um passado de bem-estar e de vida facilitada. O tempo presente é sempre usado e os amigos fazem tudo o que está ao seu alcance para adiar a separação. Um filme onde a disciplina se torna anarquia, caos, realidade e onde os anjos caídos criam o seu próprio paraíso, impondo as suas leis, normas, prazeres e desejos. Um filme onde o Cairo é a cidade de nenhures.
Ao longo de muitos anos de vida em comum, o silêncio recai sobre o casamento de um homem de 70 anos e da sua mulher, um silêncio que exprime o tédio e a agonia de uma vida de rotina interminável, um silêncio que só é interrompido pelos seus suspiros e respirações.
Fédération internationale des droits de l’Homme (FIDH) - Migreurop - Justice sans frontières pour les migrants (JSFM)
À l’issue d’une mission d’enquête qui s’est déroulée en Libye du 7 au 15 juin 2012, nos organisations dressent un constat très inquiétant du traitement infligé aux migrants dans le contexte de confusion qui règne actuellement dans le pays.
Riche de ses ressources pétrolières et peu peuplée, la Libye de Kadhafi recourait massivement à la main d’œuvre étrangère pour faire fonctionner son économie. Plus de six mois après la fin du conflit armé, qui avait provoqué la fuite de centaines de milliers de migrants vers la Tunisie, l’Égypte et les pays subsahariens, les migrants et réfugiés qui se trouvent en Libye aujourd’hui font l’objet de graves violations de leurs droits fondamentaux.
Alors que la situation du pays n’est pas encore stabilisée et qu’il n’existe pas de pouvoir central capable d’assumer la gouvernance de la Libye, des milices armées se sont adjugé la « mission » et le pouvoir de gérer la question des migrants, hors de toute légalité. À travers le pays, ces milices contrôlent, arrêtent, et enferment des étrangers dans des camps de rétention/détention improvisés. Au nom d’une prétendue préoccupation sécuritaire qui justifierait le « nettoyage des illégaux », ces groupes armés procèdent à de véritables « traques » aux migrants, en prenant essentiellement pour cible les ressortissants d’Afrique subsaharienne.
Portrait Leila Kilani "Sur la Planche" (On the Edge) Quinzaine des Realisateurs Directors fortnight Cannes 2011
Dans la « Collection La SRF pour la QUINZAINE DES REALISATEURS », Vero CRATZBORN, membre de la Société des Réalisateurs de Films, présente un portrait de Leïla Kilani, réalisatrice du film « Sur la Planche» et de son équipe, lors de la présentation du film à Cannes en 2011.
As part of the series "The SRF for the Directors' Fortnight", Vero Cratzborn, director and member of the SRF, introduces her film about Leïla Kilani's "Sur la Planche (on the edge)" and her crew, shot during the film presentation at Cannes 2011.
Réalisation - Direction by Vero Cratzborn
Image - Cinematography by Alexandre Jamin & Bertrand Declinand (Cannes) - by Matthieu Bastid (Paris)
Son - Sound by Etienne Ement (Cannes) - by Colette Constantini (Paris)
Tânger - Hoje, quatro mulheres de vinte anos de idade trabalham para passar o dia e vivem durante a noite. Elas trabalham duramente, divididas em duas categorias: têxteis e camarões. A obsessão delas é estarem constantemente em movimento. «Aqui estamos», dizem. De manhã à noite, o ritmo é frenético enquanto percorrem a cidade. Tempo, espaço e dormir são uma raridade. Mulheres para toda a obra que ainda trabalham para os seus homens e para as suas casas vazias. Esta é a louca corrida de Badia, Imane, Asma e Nawal.
Leïla Kilani Morrocos Ficção, 2011 106’, língua original: francês/árabe (legendado em português)
27 Jun 2012 - 22:00 Anfiteatro ao Ar Livre Entrada 3 € | Comprar bilhetes
Tetouan, the Atlantic port city in the north of Morocco. Three young men decide to rob a jewellery store. They are among the hopelessly unemployed street population of Morocco's provincial cities, common thugs in the eyes of many but bound by solidarity and friendship. They see the heist as a means to break out of a cycle of poverty that weighs on their destiny like a life sentence. The noir motifs woven into Death for Sale constitute a poetic matrix through which director Faouzi Bensaïdi draws his incisive and intricate portrait of a city left to fend for itself, torn between smugglers and corrupt officials, and prey to extremism and dejection.
Death For Sale is in competition at the 2012 edition of the Brussels Film Festival.
Em 2010, a Fundação Calouste Gulbenkian apresentou a exposição experimental de cerâmica de Barrão. Desta vez, Barrão surge com o seu projeto musical Chelpa Ferro.
Os Chelpa Ferro, também com Luiz Zerbini e Sérgio Mekler, têm-se firmado no cenário da música contemporânea brasileira com um trabalho que combina experiências com instrumentos musicais tradicionais aliados a recursos eletrónicos, esculturas e instalações tecnológicas, durante as apresentações ao vivo e as exposições. Apresentando-se ao vivo em parceria inédita com o artista português Pedro Tudela, os Chelpa Ferro farão uma performance espontânea, a partir da troca entre os artistas, uma elaborada textura sonora composta por ruídos, guitarras, baterias eletrónicas, samplers, baixo e efeitos digitais envolvendo o público em um ambiente de experimentação auditiva e potencialização sensorial. O improviso é a sua forma de construção, o som é a sua matéria-prima.
CHELPA FERRO (Brasil,1995) é um grupo multimédia composto pelos artistas plásticos Luiz Zerbini, Barrão e Sérgio Mekler, constituído em 1995. Em 2007, realizaram a exposição “ON-OFF Poltergeist”, na Meskalito Gallery (Londres). Em 2008, tocaram no Festival NetMage, em Bolonha (Itália). Em 2009, ocuparam o Octogono da Pinacoteca (São Paulo) com a instalação “Totoro”. Participaram na Bienal do Mercosul e lançaram um documentário dirigido por Carlos Nader sobre a trajetória do grupo. No ano de 2010, apresentaram “Jungle Jam”, em Londres, na Galeria Sprovieri, e concorreram ao Nam June Paik Award. Em 2011, apresentaram a instalação “Spaceman/Caveman”, na Galeria Vermelho (São Paulo) e realizaram um concerto e uma exposição no Aldrich Museum (EUA).
PEDRO TUDELA (Portugal, 1962) é artista plástico. Desde 1982, tem participado em vários festivais de performance. Autor e apresentador dos programas na rádio XFM “Escolhe um dedo” e “Atmosfera reduzida”, entre 1995 e 1996. Em 1992, por ocasião da exposição "mute...life", fundou o coletivo multimédia Mute Life dept.[MLd]. Enveredou na produção sonora, em 1992, participando em concertos, performances, edições discográficas em Portugal e no estrangeiro. Cofundador e um dos elementos do projeto de música experimental eletrónica @c. Membro fundador da Media Label Crónica. Trabalha como cenógrafo, desde 2000. Participou em inúmeras exposições coletivas, nacionais e internacionais, desde o início da década de 80.
Ali Farzat founded in 2001 Syria's first satirical weekly, Ad Domari. In August 2011, he was attacked by Bashar al-Assad's militia who broke his hands. The incident prompted international condemnation of the Assad regime. Farzat was awarded the European parliament Sakharov prize for freedom of thought.
Quelques mots pour vous dire que mon documentaire "Blagues à part" sera projetté à Paris ce dimanche 23 otobre à 22h15 au Forum des images, à l'occasion de la remise des étoiles de la scam. Les 30 films primés sont diffusés entre de 14h et minuit et l'entrée est libre (programme détaillé en pièce-jointe).
Et pour découvrir ou recommander le film, un extrait d'une critique de Jean Michel Frodon, ancien directeur des Cahiers du Cinéma :
Blagues à part est un documentaire tourné par une jeune française, Vanessa Rousselot, auprès des Palestiniens, dans les territoires et avec ceux qui vivent en Israël. A des gens rencontrés souvent dans la rue, ou au hasard de visites, la réalisatrice a demandé de raconter les blagues qui ont cours chez eux. L’idée de décaler ainsi l’interminable chronique doloriste et violente de la détresse palestinienne soumise depuis plus de 60 ans à l’oppression, la dépossession et l’exil, est en soi excellente. (...)
Mais la réussite de Blagues à part va bien au-delà de son programme. Avec un très juste sens cinématographie, la réalisatrice laisse dériver les situations qu’elle a enclenché, les réponses à côté, les irruption d’autres rapports à la réalité et au langage, (...) les silences comme les fous rires qui empêchent le récit, construisent un monde mental où règne le désespoir, mais qu’habitent des vivants, hommes, femmes, adolescents, vieille dame bouleversante, et non des « figures » assignées à un rôle ou une fonction (fut-ce celle de raconter une blague).
Libérateur, le rire ne l’est évidemment pas au regard de l’enfermement et de l’injustice –mais la question du rire se révèle au moins libératrice d’une manière nouvelle pour le cinéma de regarder ce qui existe. Diffusé seulement à la télévision, Blagues à part n’est jamais sorti en salles. C’est bien regrettable.
KARIM BEN SMAIL (Tunísia, 1961) é um conceituado editor tunisino. Editor politicamente ativo dirige a Cérès Editions, uma das mais respeitadas e antigas editoras independentes do Norte de África, que publica ensaio, ficção, não-ficção e livros de arte.
FETHI BENSLAMA (Tunísia, 1951) estudou psicopatologia na Universidade Paris 7. Em 1988, publicou o seu primeiro ensaio “La nuit brisée” (Ramsay), um livro que aborda a questão da linguagem sob o ponto de vista psicanalítico, de acordo com o fundador do Islão. Alguns meses depois, o caso Rushdie eclodiu, pelo que que Fethi pôde agarrar-se à sua defesa. O seu compromisso político para a defesa da democracia, para o secularismo e para os direitos das mulheres no mundo árabe e muçulmano leva-o, em 2004, à criação do “Manifeste des libertés” com outros intelectuais. Mas é com o seu ensaio “La psychanalyse à l’épreuve à l’islam’’ (Flammarion, 2002), que Fethi se tornará conhecido. Atualmente, dirige na UFR - Estudos Clínicos de Psicanálise da Universidade Paris 7, onde também leciona. Lidera ainda uma equipa de pesquisa sobre “Política da Saúde e das Minorias”, no Centro de Pesquisa de Psicanálise e Medicina, uma área na qual tem publicado vários estudos. É autor de inúmeros ensaios, sendo o mais recente sobre as revoluções árabes “Soudain la révolution !”, CERES / Denoël, Tunes-Paris, 2011.
WASSYLA TAMZALI (Argélia, 1941) é advogada em Argel e, desde 1979, funcionária na UNESCO, em Paris, onde dirige o programa sobre os direitos das mulheres. É membro fundador da Igualdade Coletiva Magrebina, criada em Rabat, em 1992, e, em 1993, fundadora e vice-presidente do Fórum Internacional para as Mulheres do Mediterrâneo. Em 1994, foi responsável pelo "Relatório Internacional sobre a violação utilizada como arma de guerra, tendo em vista a violação sistemática das mulheres muçulmanas na Bósnia e Herzegovina". Em 1999, em Dhaka, Bangladesh, recebeu em reconhecimento do seu trabalho pelas associações feministas abolicionistas, o "Lifetime Achievement Award".
SAMY GHORBAL (Tunísia, 1974) é um jornalista franco-tunisino. Entre 2000 e 2009, trabalhou para a revista semanal pan-africana Jeune Afrique e tem vindo a fazer jornalismo freelance desde então. Foi um dos primeiros jornalistas a abordar o assunto sobre o retorno do véu islâmico na Tunísia e a desenhar o perfil de Ben Ali, ex-genro de Sakhr El Materi, em 2009. Envolveu-se na política durante a Revolução da Tunísia e atuou como assessor político e autor dos discursos do líder PDP Ahmed Néjib Chebbi. Entre 2009 e 2011, escreveu "Orphelins de Bourguiba & Héritiers du Prophète" (Edições Cères, janeiro de 2012), um ensaio político sobre o primeiro artigo da Constituição de 1959 da Tunísia, que é o pilar do secularismo na Tunísia e a espinha dorsal da identidade política moderna do país.
Avec la chute du mur de la peur durant les révolutions arabes, un phénomène nouveau et totalement inédit s’est produit. Le corps des femmes a émergé dans ce nouveau paysage politique et social comme un messager, un étendard qu’elles ont brandi pour rappeler qu’elles existaient à travers lui. Nadia Aissaoui et Ziad Majed pour Mediapart.fr
Dans des sociétés conservatrices, le contrôle de la liberté des femmes est toujours passé par celui de leur corps. Ce dernier, couvert, caché, vierge, fécondable et entravé fait l’objet de toutes les interdictions et toutes les obsessions. Il symbolise à la fois l’honneur de la famille mais aussi une source de tentation et de discorde (fitna).
C’est précisément pour questionner et défier cette obsession que des femmes de plusieurs pays arabes ont décidé de bousculer l’ordre établi en mettant la question du corps au cœur du débat. Elles veulent signifier à la société patriarcale que la révolution a bien lieu et qu’elle ne se fera pas sans elles.
L’Egypte : Défis à travers le corps
Tout a commencé en Egypte avec l’éclatement du scandale des tests de virginité pratiqués par les militaires sur les manifestantes arrêtées. Cette pratique inconnue jusque-là, et tue par de nombreuses femmes qui craignaient la vindicte familiale et sociale, a été dénoncée par Samira Ibrahim comme une volonté délibérée de l’armée d’humilier les manifestantes. Elle a porté plainte contre les militaires et a gagné son procès.
Un autre acte d’humiliation a eu lieu cette fois sous l’œil des caméras du monde entier et concerne une manifestante voilée, battue et trainée par les forces de l’ordre et dont les vêtements ont été arrachés dévoilant son soutient gorge bleu.
Cet évènement a scandalisé l’opinion et provoqué des réactions politiques, culturelles et artistiques. La violence qu’il a exprimée révèle un acharnement contre la femme dans son rôle citoyen et politique. La dénuder est ainsi un acte qui vise en plus de l’humilier, à lui notifier une opposition à sa liberté, à son mouvement dans l’espace. Le fait qu’elle soit voilée donne une dimension encore plus symbolique à cette agression puisque désormais aucune femme n’est épargnée par le harcèlement.
Le passage à l’acte de dénonciation de Samira Ibrahim et la violence que les femmes ont subie ont impulsé en Egypte et ailleurs dans le monde arabe une dynamique d’utilisation du corps comme un lieu de revendication de la liberté, de la dignité et de la souveraineté. Depuis, la question du harcèlement sexuel fait couler beaucoup d’encre et les campagnes de mobilisation contre ce fléau ne cessent de grossir. (Voir Harrass Map dans notre article "Le printemps arabe est aussi un printemps des femmes").
Une autre égyptienne, Alia Al-Mahdi, a défrayé la chronique en publiant dans son blog unephotographie d’elle posant nue. Cette transgression impensable a soulevé une vague d’indignation et de colère dans la blogosphère y compris dans les milieux les plus progressistes, qui s’étaient mobilisés pour Samira Ibrahim et contre la violence. Leur malaise était d’autant plus important que le message porté par cette photo les exhortait à repenser la révolution en tant que quête de liberté absolue, inconditionnelle. Certains ont considéré que cette publication était excessive et relevait davantage de l’exhibitionnisme et de la provocation que de l’acte subversif.
Toujours est-il qu’Alia Al-Mahdi a marqué les esprits et a suscité une vague de sympathie dans le monde entier. Ainsi, pour marquer leur soutien à Alia, un groupe de féministes iraniennes a conçu et médiatisé un calendrier à partir de photographies de femmes nues. Elles entendaient par-là envoyer un double message de solidarité envers les femmes en général et celles de leur pays en particulier (vidéo de promotion du calendrier ci-dessous).
D’autres initiatives individuelles ont également eu lieu et ont contribué au renforcement de ce mouvement d’affirmation du corps féminin. Deux actrices tunisienne et iranienne ont posé pour des magazines en dévoilant certaines parties de leur corps. Cette posture, loin d’être anecdotique, est clairement devenue une forme de revendication d’une liberté trop longtemps étouffée.
En Syrie, dans cette révolution extraordinaire et hélas sanglante, le corps s’est transformé en support artistique d’une position politique. Les femmes ont décidé d’opposer aux photos de cadavres mutilés, aux histoires de viols et de torture, celles portant des messages de liberté.
Une demande de reconquête d’une indépendance individuelle mais aussi collective est manifestement exprimée. Le corps est le messager (esthétique) d’une résistance politique et éthique. La photo de Lobna Awidat en est une parfaite illustration.
Tout comme pour l’Egypte, bien que ces photos aient été loin de faire l’unanimité, elles ont ouvert un débat de fond entre ceux qui ont manifesté leur soutien à cette forme d’expression et ceux qui la considèrent comme contre-productive.
Par ailleurs, et au-delà du message de la réappropriation du corps, la nudité exprime la volonté pacifiste de mener un combat d’idées. Un corps dénudé signifie qu’il ne porte pour seule arme que le message qu’il transmet. Beaucoup d’hommes ont également adopté cette démarche soit durant les manifestations où on a pu les apercevoir torse nu face aux chars soit dans des photographies circulant sur le net.
Espace virtuel et corps
C’est surtout grâce à l’espace virtuel que ce processus de redéfinition d’une nouvelle identité à travers le corps a été possible. Nous sommes devant une représentation affranchie de si. Exempt de censure et de censeurs, l’espace virtuel est le lieu d’exercice de la citoyenneté par excellence. Le corps détient la possibilité de s’y montrer sans entraves et le citoyen est libre de le contempler ou pas. Entre l’espace public extrêmement codifié et liberticide et l’espace virtuel où tout devient réalisable, un grand pas a été franchi.
Le corps en tant que territoire de combat, de conquête ou de libération devient un redoutable enjeu dans les révolutions. Des femmes se réapproprient cet espace confisqué pour faire barrage à la violence et à ses auteurs. Mêmes si ces femmes constituent une petite minorité dans le monde arabe, la portée de leurs actions indique que quelque chose d’irréversible et d’impossible à contenir s’est produit.
Dans ce moment crucial de leur histoire, ces femmes ont conscience de ce qui se joue en termes de mutations et d’opportunités de revendiquer leurs droits y compris, celui fondamental d’être libres de disposer de leur corps et leurs mouvements. Elles demeurent parmi les remparts importants contre la montée du conservatisme social et de l’intégrisme religieux. En brandissant le slogan « mon corps m’appartient, il n’est l’honneur de personne », la dimension politique du corps dénudé a pris le pas sur sa dimension érotique.
Les femmes ont remis à l’ordre du jour, la conviction féministe universelle que plus que jamais, le « personnel est politique ».
4.ª sessão: O protagonismo das mulheres nos países do norte de África
/ 24 de Junho 2012, 19h00 - Tenda
MICHKET KRIFA (moderadora) (franco-tunisina, 1960) é autora, diretora artística e comissária de artes visuais para África e Médio Oriente. Dirigiu várias exposições e publicações temáticas sobre o Irão (nomeadamente “Regards persans“ - Electra, 2001 -, “Iran regards Croisés“ - Photo Spana - e “Haft“ - Landowski de Boulogne Billancourt -, ambos em 2003; sobre a Tunísia (“Saison tunisienne“ - 1995, “Femmes d’images espace privés“ - Palácio Kheirredine, 2007 -, “Dégagements“ - Instituto do Mundo Árabe, 2012 - ; sobre a Argélia (“Algérie, les faits et les effets“ – 2004; sobre a Palestina (“Le Printemps palestinien“ – 1997 ; realização de 80 eventos culturais relativos à Palestina em França, “La vie tout simplement“, exposição de Rula Halawani e Tayssir Batnijipatente na Ponte das Artes, em 2007). Também foi diretora artística dos VIII e XIX Encontros de Bamako, a Bienal africana da fotografia e comissariou a exposição intitulada “Dégagements, Tunisie un an après“, no Instituto do Mundo Árabe (Paris, 2012). Colaborou ainda com os Encontros de Arles, o Institut Français, o Institut du Monde Árabe, a Câmara de Paris, a Comissão Europeia, o espaço Louis Vuitton, o World Press Photo, a Documenta XI, a Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa).
NAWEL SKANDRANI (Tunísia, 1958) começou a carreira profissional como bailarina em Itália, em França e nos EUA, tendo regressado ao seu país onde fundou e dirigiu o Ballet Nacional da Tunísia. Desde 1997, tem feito a sua carreira como coreógrafa e professora independente, assinando uma dezena de criações tais como “A la recherche du centre perdu”, “Les gosses du quartier”, “Corps complices”, “Les croisades vues par les Arabes”, “Les étoiles filantes meurent en silence”, “La feuille de l’Olivier”, “Alice si meraviglia” e “ARTcè/seuLement”, entre outras. A sua colaboração com o teatro, que começou em 1986 com Mohamed Driss e Ismail Pasha, com a peça “Vive Shakespeare, le compagnon des cœurs”, tem vindo a desenvolver-se, desde 1997, assim como com Fadhel Jaïbi e Baccar Jalila, com as peças “Soirée particulière”, “Grand ménage”, “Junun/Démences” e “Khamsoun/Corps otages”. Nawel Skandrani é membro fundador do conselho tunisino do Instituto Internacional do Teatro, membro do conselho de administração do Fundo de Teatro para Jovens Árabes e do Fundo Roberto Cimetta.
OLIVIA MARSAUD (França, 1976) é jornalista e repórter. Tem trabalhado em África e na Diáspora, desde 2000, assim como para os órgãos de comunicação social Jeune Afrique, RFI, Africultures e Afrik.com. Em 2005 trabalhou para o El Watan, em Argel, e foi editora adjunta da revista mensal África, de 2007 a 2009. Desde 2010 é a editora da Revista trimestral AFRICA24. Apaixonada por fotografia, foi assistente dos diretores de arte Michket Krifa e Laura Serani, durante a Bienal de Bamako de 2009, e realizou as avaliações de portfólio da Bienal Bamako de 2011. É também membro ativo da Fetart, desde 2008, e encontra-se no quadro da organização do Circulação (s), festival Europeu de fotografia jovem (Paris), desde 2011.
NAHED NASRALLAH (Egito, 1953) é uma famosa designer de moda para cinema e teatro, que trabalhou em parceria com os célebres realizadores de cinema Youssef Chahine e Nasrallah Yousry, entre outros. Da sua filmografia mais conhecida, destaca-se “The Yacoubian Building” (2006), “Destiny” (1997), “The Other” (1999) e o “The Emigrant” (1994). Nahed Nasrallah encontra-se também muito ligada às questões sociais, desde a revolução ocorrida no Egito.
BOUCHRA KHALILI (Marrocos, 1975) estudou Cinema, na Sorbonne Nouvelle, e Artes Visuais, na École Nationale Supérieure d'Arts, Paris-Cergy. O trabalho de Khalili em vídeo, instalações mistas de média e impressões combinam uma abordagem conceptual com uma prática documental para explorar questões de nomadismo, existências clandestinas e a ’experiência emigrante‘, com uma especificidade para o destino dos migrantes, na medida em que, concretamente, resumem assuntos que são fundamentalmente regidos pela itinerância. No seu trabalho, ela conjuga linguagem, subjetividade, o mínimo de palavras, territórios e rotas de passagem, investigando a inter-relação entre as migrações contemporâneas e a história colonial e a geografia física e imaginária. O trabalho de Khalili tem sido amplamente divulgado em todo o mundo, incluindo recentemente no MoMA, como parte da exibição do filme "Mapping Subjectivity" (2011), na 10ª Bienal Sharjah (2011), na Marian Goodman Gallery (Paris, 2011), na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 2011) e em La Triennale (Palais de Tokyo, Paris, 2012), entre outros.
AHMED EL ATTAR (Egito, 1969) é diretor de teatro independente, tradutor e dramaturgo. É fundador e diretor artístico do Orient Productions e do Temple Independent Theatre Company, fundador e diretor-geral do estúdio da Fundação Emad Eddin e diretor artístico do Downtown Contemporary Arts Festival (D-CAF), um festival anual multidisciplinar de arte contemporânea, que ocorre todas as primaveras no centro de Cairo. As suas produções incluem “On the Importance of being an Arab” (2009) e "F**k Darwin or how I have learned to love socialism" (2007). A sua obra teatral tem sido apresentada em grandes teatros e festivais pela Europa e pelo Médio Oriente. El Attar é um Clore Fellow do Clore Leadership Programme (2008-2009), tendo-lhe sido atribuído o prémio de melhor argumento de teatro (2010) da Fundação Sawiris para o Desenvolvimento Social pela peça ”Life is beautiful or waiting for my uncle from America”. Foi escolhido, pela edição em árabe da revista Newsweek (26/4/05), como uma das 42 personalidades que mais influenciaram a mudança no mundo árabe.
MOHAMED SIAM (Egito, 1981) é documentarista independente e realizador de filmes de ficção. Como primeiro assistente de realização, trabalhou em projetos de longas-metragens como o documentário “A Cidade dos Mortos”, coprodução luso-espanhola financiada pelo Canal Plus que estreou no IDFA 2009 (Festival Internacional de Filmes Documentários de Amesterdão) e recebeu a distinção de Melhor Filme, na Documenta de Madrid, em 2010. Recentemente foi primeiro assistente de realização no filme “Nos últimos dias da cidade”, do realizador egípcio Tamer Said, financiado pelo Global Film Initiative e pelo Cinereach, entre outros fundos. É ainda o fundador e diretor artístico do Centro Cinematográfico Artkhana, em Alexandria, um espaço artístico que providencia apoio técnico e formativo para realizadores.
ONS ABID (Tunisia em 1979) é fotógrafa freelancer e trabalha para as revistas Jeune Afrique (sediada em Paris), Afrique Magazine e, mais recentemente, Paris Match. Licenciou-se em Design Gráfico no Instituto Superior de Belas Artes de Tunes (ISBAT), em 2004. Em 2005 trabalhou simultaneamente como fotógrafa e como diretora artística numa agência publicitária. Em 2009 completou o mestrado em Ciência e Artes no mesmo Instituto (ISBAT), onde ficou a lecionar em 2010. Vive entre Tunes e Paris, dedicando-se a múltiplos projetos na área da fotografia documental e do video.
SOFIANE OUISSI (Tunísia, 1972) é coreógrafo e agente cultural. Escolheu as suas performances como planos de ação para a reforçar e ampliar as vozes de luta na Tunísia. Através do Coletivo Cidade Sonho, escolhe uma forma festiva e alegre de criar espaços livres de expressão e, principalmente, de encontrar prazer na troca e na luta pela partilha de ideias numa construção conjunta: o Brainstorming. Para além disso, através de ZAT e Laaroussa, fábrica artística no espaço popular de uma revista especializada na voz da população marginalizada, consegue que a comunidade cultural da Tunísia participe no seu desejo de luta, a fim de compartilhar e expressar a cultura.
TAHAR BEN JELLOUN (Marrocos, 1944) mudou-se para Paris em 1971 onde estudou filosofia e se tornou jornalista e escritor. Depois de vários romances, contos e poesia, recebeu o Prix Goncourt em 1987, por “La Nuit Sacrée”. Comprometido intelectual e culturalmente, nunca desistiu de lutar contra o racismo e a ignorância. A sua obra, tanto literária como intelectual, permitiu a aproximação das duas margens do Mediterrâneo transmitindo, ao ocidente, a cultura do mundo árabe.
É ao mesmo tempo marroquino e francês. Escreve em língua francesa e olha hoje para as transformações sociais e culturais nos países na Primavera Árabe. E espera da nova França uma postura diferente em relação às ditaduras.
Com os seus dois passaportes e a crença no papel de escritor "que critica, denuncia, intervém", Tahar Ben Jelloun estará hoje (22h) na Fundação Calouste Gulbenkian para dar uma conferência onde se propõe "explicar a Primavera Árabe". Convidado para participar no programa Próximo Futuro, que este ano se centra no Norte de África em revolução, Ben Jelloun veio também para apresentar o livro O Primeiro Amor É Sempre o Último, de 1995 (lançado agora pela Quidnovi).
Fala dos islamistas que "se aproveitaram das revoltas", das mulheres do seu país de nascimento, Marrocos, que aproveitam novas leis para "recuperarem as suas liberdades" e das suas expectativas face à "nova França", país que fez seu.
Vive em França há 40 anos. Há dez, sentiu o impacto dos atentados. O ano passado, o das revoltas árabes. O lado de cá e o lado de lá conhecem-se hoje melhor ou pior?
Penso que esta noção Oriente-Ocidente é muito fluida. Se pensarmos na Europa, em França, estamos no Ocidente, mas há muita gente do Magrebe. O que se passou nos últimos dez anos e que é muito inquietante é a forma como o islão foi percepcionado pelos europeus. O exagero, o medo. Isso ajudou a extrema-direita a ter bons resultados. Esta islamofobia baseia-se numa pequena minoria de franceses ou imigrantes, são muito poucos, que manipulam o islão. A reacção foi desproporcionada. A extrema-direita e a direita jogaram com os medos, partindo de pequenos factos. O resultado disso é que o islão não tem uma boa reputação. E isso aconteceu mesmo em países como a Noruega e a Suécia, que, verdadeiramente, não têm um problema de racismo.
As revoltas criaram uma nova imagem, igualmente distorcida?
As revoltas árabes criaram uma imagem boa. As pessoas disseram: "Eles são formidáveis, lutam pela democracia, pela liberdade". Mas, claro, depois os islamistas aproveitaram-se destas revoltas e isso voltou a mudar a percepção, a confundir quem está de fora.
Não era esperado que os movimentos islamistas, perseguidos pelas ditaduras derrubadas, ganhassem um espaço político desproporcionado? Pelo menos numa primeira fase?
O islamismo é uma deriva do islão normal. É um desvio que se tornou num extremismo e que ameaça os muçulmanos. Há várias formas de praticar o islão. Em Marrocos, por exemplo, há um islão calmo, que não é ameaçador. No Egipto e na Tunísia, os salafistas atacam casais de namorados, cafés que servem álcool. Esta é uma ameaça, antes de mais, para os muçulmanos.
Os europeus são capazes de ver isso?
É preciso fazer muito esforço. Nós tentamos explicar, mas é muito difícil. Eu tento e escrevo sobre a Primavera Árabe. Ainda há dias publiquei um texto no jornal Le Monde, mas os que lêem são uma minoria, são os intelectuais.
É verdade que os islamistas se apropriaram das revoltas, mas nas ruas da Tunísia ou do Egipto continuam também os democratas e as mulheres.
Há uma resistência da sociedade laica. Na Tunísia, [Habib] Bourguiba [presidente derrubado em 1987 por Ben Ali] deu às mulheres o estatuto mais liberal de todo o mundo árabe. Agora, elas não querem perder esse estatuto. E os islamistas não querem que elas o mantenham. O problema crucial do islamismo é a sexualidade. O medo visceral do homem islamista é que alguém veja a sua mulher ou toque nela. Estão, decidem escondê-la. E há mulheres que aceitam isso, o que é completamente incompreensível.
Nas manifestações estão mulheres laicas e religiosas.
Sim. Ao mesmo tempo, a mulher actual, moderna, quer participar na vida e tem consciência política. Em Marrocos, há mulheres que usam véu e que trabalham como as outras. É uma questão de grau, às vezes trata-se de uma reacção contra o Ocidente, que vê a mulher como um objecto, passando essa ideia através do cinema e da televisão. Há mulheres que, mesmo não sendo fanáticas, reagem a isso. Não têm vontade de se mostrar assim. Há uma parte de moralidade no islamismo.
As leis contra o uso de alguns tipos de véu, em França, por exemplo, não correm o risco de serem contraproducentes?
Em França há de tudo, mulheres que usam véu integral são umas centenas, há muitas que não se cobrem ou que usam um véu a cobrir o cabelo. E nota-se esse ponto de vista moralizador. Chegámos a um momento em que é preciso escolher. Não é possível querer estar num Estado laico e ao mesmo tempo exibir sinais religiosos. O voto contra a burqa [que cobre todo o corpo, o cabelo e o rosto] é normal numa sociedade laica. Se alguém quer trabalhar na administração pública, é normal que não possa cobrir o rosto.
Mas e quando há leis dessas, como na Bélgica ou Espanha, aprovadas por municípios onde quase não há muçulmanas? Às vezes para proibir o lenço nas escolas públicas, por exemplo, nalguns casos em países onde se exibem símbolos católicos.
Quem usa burqa na Europa é uma pequena minoria. Se nascemos numa sociedade que se bateu pela laicidade... Penso que o debate do véu levantou a questão da laicidade de uma forma global em países como Espanha, Itália, Holanda.
Em Marrocos há uma série de aberturas em curso. O valor da mulher tem-se aproximado do valor do homem?
Começou a mudar bem antes da Primavera Árabe. O estatuto não é o ideal e não é tudo, mas a transformação que tem acontecido corresponde a uma modernização da sociedade. Para além disso, a mulher sempre trabalhou mais do que o homem em Marrocos. Hoje, os direitos chegam ao campo político. O Estado diz: "Vamos dar este direito às mulheres." O divórcio, por exemplo, leis que protegem as mães. Mas a sociedade não muda por decreto.
Marrocos, onde há muitos anos há liberdade de manifestação, não viveu uma revolução, mas viu nascer um movimento de protesto novo. Foi importante para acelerar as mudanças?
O Movimento 20 de Fevereiro foi muito importante. As pessoas manifestam-se muito em Marrocos, isso é normal e continua. Houve uma grande manifestação há um mês em Casablanca. Marrocos está a jogar a carta da democracia. Ainda não é uma democracia, mas tem uma oposição que se exprime, que critica o Governo. Está tudo em movimento. Mas não está tudo bem.
O ano passado foi um momento de viragem? Alguns membros do grupo Diplomados Desempregados dizem que o 20 de Fevereiro já mudou a linguagem, o modo como se olha para a monarquia.
Certamente. Não estamos a dormir. Não aceitamos tudo. O movimento de diplomados licenciados tem muitos anos. E o 20 de Fevereiro é muito importante para dar conta da disfuncionalidade da administração do país, de uma economia que aplica um capitalismo selvagem, de um país que deixa muito a desejar no plano dos direitos sociais.
É marroquino e é francês. É escritor e tem intervenção política. O estar a meio caminho permite fazer pontes, ajuda a compreender e a dar a compreender?
Eu tenho dois passaportes, um marroquino e um francês. Enquanto escritor, sou sensível à minha experiência política e reconheço os meus valores no meu trabalho. Nem todos os escritores são assim, mas eu sou crítico e vigilante, é o papel do escritor. O escritor é quem critica, quem denuncia, quem explica, quem intervém. Eu tenho uma história, comecei a escrever nos anos 1960. O que me fez escrever foi a injustiça, a violência da repressão. Escolhi o meu universo literário, o cidadão já existia.
Nos seus livros há incompreensões e impossibilidades de partilha entre homens e mulheres. No livro que vem apresentar há amores, sexo, contradições, bons religiosos que não o são.
O Primeiro Amor... é um livro que lemos com prazer, conta histórias estranhas e simpáticas. Mas também lá está uma visão do papel do homem e da mulher nos países do Mediterrâneo. A minha visão. Eu imagino situações, invento histórias, mas estas traduzem as minhas visões do mundo. E é por isso que até um livro sobre o amor pode ser político.
Ainda vai escrever histórias de amor muito diferentes destas e poderá imaginá-las a acontecerem em Marrocos?
As coisas evoluem normalmente. Agora, em Marrocos, há muito mais divórcios do que antes porque as novas leis o permitem. Foram um modo de as mulheres recuperarem a sua liberdade. O escritor que eu sou olha esta transformação em curso, para um país onde hoje se fala de pedofilia, de incesto, de maus tratos. Todas estas realidades já existiam, mas hoje sabemos que elas existem. A sociedade civil marroquina também é extraordinária, há movimentos que nasceram nos últimos anos para apoiar as mulheres sozinhas, há uma associação de luta contra a sida, que explica o que é preciso explicar abertamente. Isso seria impossível na Argélia ou na Arábia Saudita. Vejo elementos positivos, mas continuo sempre crítico.
Vem "explicar a Primavera Árabe" à Gulbenkian. É possível olhar para a frente neste momento tão fluido?
Vou tentar falar do futuro destas Primaveras árabes. De momento, foram feitas prisioneiras pelo islamismo ou, no caso da Síria, por um regime louco. Mas há hipóteses que se podem desenhar.
Uma conferência pode influenciar a forma como as pessoas olham o mundo? Sente essa responsabilidade?
O escritor tem de aceitar que fala, fala e não acontece nada. A literatura tem limites, não podemos mudar nada com os livros ou com uma conferência. Faço o que faço sem muitas ilusões. Claro, às vezes há alguém na assistência que no fim vem ter connosco e nos diz: "Ah, é isso mesmo!" Não sou um profeta. Mas tenho paciência e faço sempre um esforço, coloco-me no lugar de uma criança a quem é preciso explicar. E aplico este princípio com muita modéstia.
França (e o resto da Europa, assim como os EUA) teve muitas dificuldades na gestão das revoltas, primeiro na Tunísia, depois no Egipto, na Líbia. Esperava uma abordagem diferente?
França e outros países europeus foram culpados de terem apoiado estas ditaduras em nome dos seus interesses económicos enquanto tantos democratas destes países, escritores, jornalistas, denunciavam os seus horrores. Mas da nova França espero uma postura diferente. Apesar da crise, da História que nos ultrapassa a todos, de um Governo socialista, podemos reclamar que seja muito mais compreensivo com o mundo, com estes povos que lutam e que sofrem. Antes, no tempo de [Jacques] Chirac e de [Nicolas] Sarkozy, tínhamos ministros que faziam férias pagas pelos marroquinos, pelos tunisinos. Quando o silêncio foi comprado, não podemos esperar muito.
Acredita de facto numa atitude diferente agora?
[François] Hollande é fiável. Tem de lidar com todo o peso da crise económica, que nos ultrapassa a todos no mundo. Mas, no mínimo, no plano da política internacional, podemos esperar maior seriedade deste Governo. Podemos exigir que seja realmente diferente em relação a um Governo de Sarkozy ou de Chirac. Isso é certo.
Este álbum conta a história da minha Tunísia, a história dos negros anos vistos através dos meus olhos: através da minha experiência como estudante, uma jovem rebelde e dissidente, através dos meus anos de luta artística e ideológica, e através das minhas lágrimas de imigrante, do meu sofrimento e do meu amor à liberdade. Dedico este álbum a todos aqueles que deram suas vidas para que, um dia, a Tunísia pudesse ser livre. O caminho é longo, mas todos os dias... um novo nascer do sol e novas esperanças surgem... e nós somos essas esperanças.
(Tunísia, 1982) é autora, compositora, guitarrista e cantora que vem trazer um incrível novo estilo de som à música tunisina. Dotada de uma voz marcante, evoca Joan Baez, a Irmã Marie Keyrouz e a diva libanesa Fairouz, com o seu estilo cativante e lírico, com o rock poderoso, com as influências orientais e o trip hop (Emel colaborou com Adrian Thaws AKA Tricky). Começou a sua carreira artística aos 8 anos de idade no palco do pequeno anfiteatro, no subúrbio Ibn Sina de Tunes, onde viveu até à idade de 25 anos. Mudou-se para França para prosseguir a sua carreira como cantora. A canção "Kelmti Horra" (my word is free) foi adotada pelos revolucionários da “Primavera Árabe” e cantada nas ruas de Tunes.
Hoje às 19h na Tenda no Jardim Gulbenkian. Entrada livre.
Quando o Programa Gulbenkian Próximo Futuro se iniciou em 2009, programa este muito focado na dimensão cultural e artística dos atuais protagonistas africanos e latino-americanos e das Caraíbas, em relação com as cidades e os criadores europeus, não se imaginava que, apenas três anos depois, movimentos revolucionários nos países do Norte de África e do Médio Oriente acontecessem. E, contudo, este sobressalto de rebeldia, de aspiração pela liberdade e pela democracia, não só abalou esses países com consequências imediatas em termos de alterações de regime, como abalou todo o mundo e chamou a atenção para os povos, os criadores, os agentes políticos desta região sobre a qual havia tanta ignorância a somar a tantos clichés maioritariamente negativos. Apenas um ano se passou, muitas convulsões aconteceram e muitas outras irão acontecer independentemente de um maior pessimismo, até ceticismo, ou de um otimismo e até de uma crença excessiva em alguns casos. Nós, que vivemos este tempo, somos testemunhas privilegiadas e devemos estar atentos ao que se passa ouvindo, lendo, estudando, conversando com os interlocutores fundamentais deste processo que são os egípcios, os tunisinos, os sírios, os marroquinos, os argelinos, etc. No caso concreto do Programa Próximo Futuro são interlocutores fundamentais os criadores desta região, vivendo nela ou fazendo parte da diáspora. Assim, dentro da programação da Festa da Literatura e do Pensamento do Norte de África, vamos conversar e ouvir criadores, curadores, artistas sobre o estado das artes nestes países, para melhor os conhecermos e para melhor nos entendermos.
António Pinto Ribeiro Programador Geral do Programa Gulbenkian Próximo Futuro
1.ª sessão: Os bloggers da Primavera Árabe
22 de Junho 2012, 19h00 - Tenda
Maria João Tomás (moderadora) (Portugal, 1967) é investigadora no Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais para as áreas do Médio Oriente e do Norte de África, da “Primavera Árabe” e do Mundo Islâmico e é colunista do Diário de Notícias, analisando as mesmas temáticas. Fez o doutoramento em História do Médio Oriente, na Universidade de Basileia e na F.C.S.H. da Universidade Nova de Lisboa, e o mestrado em História do Médio Oriente Antigo, na Universidade da Califórnia, Los Angeles, e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Estudou árabe no ILNOVA e fez uma formação aprofundada sobre o Islão com o Sheik da comunidade muçulmana portuguesa. Recebeu várias bolsas, tem artigos publicados em revistas da especialidade, além de participar com comunicações em inúmeros colóquios e congressos internacionais.
Mona Prince (Egito, 1970) é professora associada de Literatura Inglesa na Universidade do Canal de Suez. É também escritora de ficção, tradutora, poetisa e ativista. O seu último romance, "So you may see", foi traduzido para inglês e publicado pela AUC (American University in Cairo), em 2011. Participou em diversos programas e fóruns internacionais nos EUA, França, Noruega, Portugal, Marrocos e Síria. Recebeu alguns prémios literários de diferentes associações locais e internacionais. Encontra-se a escrever um livro sobre a revolução egípcia, baseada na sua própria experiência em Tahrir Square.
Danya Bashir (Líbia, 1989) é autora e ativista social. Venceu duas vezes o Concurso de Empreendedorismo Jovem dos Emirados Árabes Unidos. Durante a revolução libanesa, organizou remessas de ajuda humanitária, para tratamentos médicos e necessidades básicas na Líbia. Recentemente participou na conferência “Yahoo Change Your World”, no Cairo, no painel para as mulheres revolucionárias onde discutiu o papel da comunicação social, de modo a garantir os direitos das mulheres na nova Líbia. Também foi destaque em ”20 Empowering Women to be followed on Twitter”, pela Comunidade de Mulheres Empreendedoras, e nomeada pela CNN como Agente para a Mudança.
Yassine Ayari (Tunísia, 1982) é engenheira de network e segurança informática e, também, uma ativista que tem lutado pela liberdade de expressão e de internet na Tunísia. Em 2009, candidatou-se para as legislativas, como candidata independente contra o RCD (Reunião Constitucional Democrática). Em 2010, organizou - Nhar Ala Ammar, uma manifestação contra a censura na internet. Em 2011, candidatou-se para as eleições da assembleia constituinte numa lista independente. Simultaneamente, organizou o movimento "Kelmethom" exigindo que o governo desse os devidos direitos aos mártires e aos feridos da Revolução. É ainda membro fundador do Centro da Tunísia para a Justiça Tradicional.
Aboubakr Jamai (Marrocos, 1968) é o co-editor do site de notícias marroquino Iakome.com e membro não-residente no Ash Center para a Governação e Inovação Democrática da Universidade de Harvard. Começou sua carreira na área financeira, como cofundador do primeiro banco de investimento independente de Marrocos, em 1993. Entre 1997 e 2007, foi redator e editor do principal semanário marroquino Le Journal Hebdomadaire. Em 2008, foi professor convidado na Universidade de San Diego, onde lecionou cursos sobre o Islão Político e a Política no Médio Oriente. Os seus artigos têm sido publicados em diversos órgãos de comunicação social (The New York Times, Time Magazine, El País, Le Monde, Le Monde Diplomatique). Recebeu o Prémio Internacional da Liberdade de Imprensa do Comité para a Proteção dos Jornalistas, em 2003. Foi selecionado pelo Fórum Económico Mundial como um Jovem Líder Global para 2005.
Dans le cadre du Festival du monde arabe (FMA) de Montréal, une conférence de Wassyla Tamzali - "Les révolutions arabes et les femmes", 8 novembre 2011, Maison de la culture Frontenac, Montréal, Québec, Canada.
Breath é da autoria do escritor irlandês Samuel Beckett. É provavelmente a mais curta peça de teatro jamais escrita. A data é controversa. Biógrafos diferem nas suas histórias sobre a origem do texto, mas a maioria das citações refere como sendo de 1969. Teria sido escrita para um espetáculo de peças curtas que resultou num grande sucesso do teatro comercial, o erótico “Oh, Calcutta”. Algo completamente em desacordo com tudo o que se conhece sobre Beckett. Ainda para mais porque, na adaptação feita pelo director de “Oh, Calcutta”, os actores apareceram nús em cena. Conta-se que Beckett exibiu uma rara demonstração pública de ira contra o diretor do espetáculo. O facto é que “Breath” é um puríssimo Beckett: sintético, enigmático, sardónico, com direções de uma precisão científica. “Breath” deve ser vivenciado como espetáculo de teatro. Os códigos teatrais - palco e plateia, cortina e terceiro sinal - são imprescindíveis para a fruição da peça. A graça em assistir a “Breath” é perceber toda a dimensão da sua novidade, da sua radicalidade. Daniela Thomas (cenógrafa, realizadora, dramaturga e guionista) diz-nos «Procurei seguir as direções do autor à risca. Espero que o público não se esqueça de aplaudir no fim do espetáculo».
DANIELA THOMAS (Brasil, 1959) é cenógrafa, realizadora de cinema, encenadora de teatro, guionista e dramaturga. Realizou o seu primeiro cenário para a estreia de “All Strange Away”, de Samuel Beckett, apresentado no La MaMa Experimental Theatre, em Nova Iorque, em 1984. Tem-se dedicado também à criação de guiões e à realização de filmes como “Terra Estrangeira”, “Linha de Passe” e “Insolação”, longas-metragens selecionadas para a competição oficial dos Festivais de Cannes e Veneza (“Linha de Passe” ganhou a Palma de Ouro de melhor atriz, em 2007) e ao design de exposições. Os seus trabalhos já estiveram expostos nas Bienais de São Paulo, de 1987 e 1989, na Bienal do Mercosul, em 2009, e na Bienal de Lyon de 2011, estes últimos com a montagem da micropeça “Breath”, de Samuel Beckett.
OPassadiço, criado este ano para o jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, tem como proposta artística a sobreposição de planos independentes que, quando percebidos a uma certa distância, provocam o olhar e a perceção do espetador.
MARCELO JÁCOME (Brasil, 1980) vive e trabalha no Rio de Janeiro, onde é arquiteto e urbanista. Em 2009, ingressou na EAV-Escola de Artes Visuais, do Parque Lage, onde é orientado por Iole de Freitas. Desenvolvendo a sua linguagem através da colagem e instalações, nas quais o papel é a principal matéria de trabalho, recorre às relações da reta e da curva, bidimensional e tridimensional, lugar e vazio, dentro e fora, tensão e flexão, dissolução da forma e autonomia da cor. Ao longo de sua trajetória, tem participado em projetos independentes, exposições coletivas e uma individual, no Brasil.
A Festa da Literatura e do Pensamento do Norte de África inicia-se a 22 de Junho com um debate em que participarão vários autores de blogs do Norte de África e Médio Oriente. Na impossibilidade de apresentar todos os autores e blogs fundamentais que são activistas fundamentais na cena política destas regiões vamos apresentar alguns.
TAHAR BEN JELLOUN (Marrocos, 1944) mudou-se para Paris em 1971 onde estudou filosofia e se tornou jornalista e escritor. Depois de vários romances, contos e poesia, recebeu o Prix Goncourt em 1987, por “La Nuit Sacrée”. Comprometido intelectual e culturalmente, nunca desistiu de lutar contra o racismo e a ignorância. A sua obra, tanto literária como intelectual, permitiu a aproximação das duas margens do Mediterrâneo transmitindo, ao ocidente, a cultura do mundo árabe.
Voice of the Maghreb
Brought up in Morocco, Tahar Ben Jelloun's imprisonment and exile shaped his poetry and fiction. Resident in Paris since 1971, he portrays the experience of the north African dispossessed.
While he was interned in Morocco under the iron fist of King Hassan II, Tahar Ben Jelloun found an escape in James Joyce. Books were not allowed but he asked his brother for the thickest paperback he could find, and the smuggled gift was a French translation of Ulysses. In captivity, he was fascinated "by this writer's liberty".
The young Moroccan composed his first poems, in French, during those 18 months in army camp, after his arrest in 1966 for taking part in student demonstrations in Casablanca. The experience was pivotal.
"At 21, I discovered repression and injustice - that the army would shoot students with real bullets," he says. He sought exile in Paris in 1971, and, now aged 61, is one of France's most fêted writers, and its most prominent author from the Maghreb. As well as poetry, fiction, plays and essays, he writes for France's Le Monde, Italy's La Repubblica and Spain's El País.
Much of his fiction is set in Morocco, though his main inspiration, Tangier - "where it's possible to see the Atlantic and the Mediterranean at the same time" - is "more a memory than a city". His novel The Sand Child (1985) probed the constraints on women in traditional Muslim society through the ambiguous tale of Ahmed/Zahra, a lamented eighth daughter passed off as a boy by her parents, who trades integrity and sanity for male privilege.
With its sequel, The Sacred Night (1987), he became the first north African to win the Prix Goncourt. Through the characters of women, migrants, prostitutes, the illiterate, the imprisoned, madmen and seers, he charts extreme states of powerlessness and invisibility, entrapment and rebellion, or, as he writes in his fictional meditation on ageing, Silent Day in Tangier (1990), of solitude "so absolute the self dissolves".
The Lebanese novelist Hanan al- Shaykh sees his "narrative acrobatics" as extending an Arabic tradition. The Sand Child borrows techniques from the oral storytellers of Marrakech's main square, the Jemaa El Fna. Describing his prose as "lyrical and delicate, forceful and questioning - a hypnotic mix of fable and modernity", she says, "it's never bitter polemic, but you can feel your hand forming a fist".
His youthful incarceration fed This Blinding Absence of Light (2001), a tour de force whose translation by Linda Coverdale (New Press/Penguin) won the 2004 Impac award and was shortlisted for this year's Independent foreign fiction prize. Based on the true story of a former inmate of Tazmamart, one of Hassan II's notorious desert prison camps, the novel reveals the fate of an officer accused of collusion in a failed coup and interred for 20 years in an underground cell, 3m by 1.7m, and only 1.7m high.
When, under international pressure, the political detainees were released in 1991, the few cadaverous survivors had lost inches off their height. "It's a book without concessions," says Ben Jelloun, who drew on a single three-hour interview with a survivor, Aziz Binebine. "I wrote it feverishly, bewitched by it, surprising myself with an inner strength."
The novel transforms unspeakable inhumanity into an existential tale of willed survival. Yet it took an unexpected toll on its author, who found himself accused by his collaborator of having stolen his story. For Ben Jelloun, it was a shock, since he maintains that he was approached to write the book by Binebine's brother, and signed a financial agreement to share the proceeds with Binebine, who approved a draft, and to whom the book was dedicated.
He feels let down by what he sees as the French media's readiness to believe the victim's word over the evidence. At book signings Moroccan protesters distributed leaflets urging people not to buy it.He has no regrets about the book, though, which he considers one of his best. He also found support from Hassan's successor, King Mohamed VI, whom he sees as a reformer, especially on women's rights.
The bruising controversy was the germ of The Last Friend (2004), a novel set in Tangier, in which the author alludes to his own spell in detention for the first time in fiction. A translation has just been published by the New Press, and Ben Jelloun will be in London to take part in the French Institute's Mosaïques festival, next Friday, and English PEN's international writers' day, Migrations of the Mind, at the Institute of Contemporary Arts on Saturday.
Ambiguous betrayal lies at the heart of The Last Friend. "Real friendship, like real poetry, is extremely rare - and precious as a pearl," Ben Jelloun says. Unspoken jealousy dogs a 30-year friendship, as Mamed, learning he has terminal cancer, breaks from Ali. The author works, listening to Mozart, in a light-filled attic a stone's throw from the former Left Bank haunts of Sartre and Camus.
He lives in Charenton, a suburb in eastern Paris, with his wife, Ayesha, the daughter of Moroccan Berbers, and their four children, aged from 19 to nine. Their 14- year-old son, who has Down's syndrome, is a "champion swimmer, who does theatre and music".
Ben Jelloun was born in Fez in 1944. The year before Moroccan independence from France in 1956, his family moved to Tangier, where he went to the French lycée. "My mother was illiterate. My father knew how to read but was a shopkeeper. We had a very modest life, with no music or books, except for the Koran."
In the French library of Tangier, he read copiously and discovered French poetry, but also the tension between cultural affinity and political oppression. When the Algerian war of independence broke out in 1954 there were many Algerians in Morocco, and older children went to join the FLN [National Liberation Front]. At the same time, he says, "pupils at the lycée were allied to the war for France. It was terrible".
As the Existentialists quarrelled over French policy in Algeria he admired Camus' writing but not his political views, "whereas I liked Sartre's views but not his writing". Tangier was an international city and Ben Jelloun met foreign writers passing through, including Samuel Beckett, Roland Barthes and the American Paul Bowles and his wife Jane.
"I didn't like Bowles, the man or the writer. He loved young Moroccan boys and preferred them illiterate. He'd write books in their words; it was an ambiguous relationship." He preferred the Beat poet Allen Ginsberg. "I asked him, 'why Tangier in the '50s?' He answered, 'boys and hashish - and neither is expensive'. But at least he was frank." Later, in Paris, Ben Jelloun became friends with Jean Genet, who taught him "about everything - writing, politics", and whom he depicted in a short story, "Genet and Mohamed, or the Prophet Who Woke Up the Angel".
Among his inspirations are Cervantes, who was influenced by Andalucian Arab culture; Matisse; and Fernando Pessoa ("I read a poem every night, as others read a prayer"). His own fiction was fed by scenes of injustice he witnessed in his youth. "The power of the word in Morocco belonged to men and to the authorities," he says. "No one asked the point of view of poor people, or women."
He studied philosophy at Rabat university, and, after his release from military camp in Ahermemon in 1968, taught for three years at schools in Tetuan and Casablanca, before the government decreed that philosophy be taught only in classical Arabic. That same year, 1971, the literary journal Souffles, for which he wrote, was banned, and he left for France.
In Paris he did a doctorate in social psychiatry, researching sexual impotence among north African migrants at a hospital. "I wasn't a doctor but a confidant," he says. "The wounds of migration hit me in the face: men who were psychologically destroyed. I'd thought sexuality was instinctive or natural, but it's profoundly linked to inner security and cultural context."
His insights fed the novel Solitaire (1976). He found himself cast by default as an interpreter between Europe and its migrants. He wrote of their cold welcome in the ironically titled French Hospitality (1984), and in Racism Explained to My Daughter (1998), cited a long "tradition of rejecting the foreign that reached a low point in the Dreyfus affair . . . Racism has not increased, but freed itself from shame".
He partly blames French assimilationism and unfinished colonial business from the Algerian war. He often talks to children in schools, and says the riots in French suburbs last November were "by kids born in France of foreign parents, saying we want to be considered 100 per cent French", yet ministers and media alike still brand them as immigrants.
His own career has been brushed by the tendency to exclude. While he sees himself as a "Moroccan writer of French expression", and says a writer's identity is defined by "language not nationality", as a French national he objects to being described as a francophone, rather than a French, writer.
In his post-9/11 book, Islam Explained (2002), he wrote that Islam is often "grasped only as a caricature", and he says, "the mistake we make is to attribute to religions the errors and fanaticism of human beings". Personally "incapable of mysticism" - though he respects the Sufi mystics - he is a secular Muslim, who believes "religion has to stay in the heart, not in politics. It is private".
In his latest novel, Partir, just out in French, Azel, a heterosexual Moroccan, has an affair with a gay Spanish man to gain a visa, but underestimates the toll on his sexuality and sense of self. "The question is, what are you ready to do to overcome poverty?" says Ben Jelloun.
"Emigration is no longer a solution; it's a defeat. People are risking death, drowning every day, but they're knocking on doors that are not open. My hope is that countries like Morocco will have investment to create work, so people don't have to leave."
Able to spend more time in Morocco now, he visits a seaside home in Tangier every two months. "In the 70s I was in exile; every time I went back I wondered if they'd take my passport away," he says. "But now, like those writers I admire - Joyce, Beckett, Genet - I feel only a metaphysical exile."
Tahar Ben Jelloun's inspirations: Don Quixote de la Mancha by Miguel de Cervantes Voyage to Tokyo by Yasujiro Uzo Piano Concerto no 16 in D, KV451 by Wolfgang Amadeus Mozart The Dance by Henri Matisse Poems by Fernando Pessoa .
MARISA VINHA (Portugal, 1973) é designer e interessa-se por Curadoria e por Arte no Espaço Público. Enquanto assistente do arquiteto Alessandro Mendini, desenhou e produziu diversas exposições itinerantes, fez projetos para empresas como Alessi, Bisazza, Cartier, Swarovski e Swatch. Participou na exposição coletiva “Toldos no jardim”, integrada no Programa Distância e Proximidade da Fundação Calouste Gulbenkian, realizou a Instalação “Framed Landescapes” para Domaine de Boisbuchet ― Vitra Design Museum, e as instalações cenográficas do programa ”Palavras daqui, dali e dacolá“ na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2010. Atualmente, os seus projetos dividem-se entre Lisboa e São Paulo.