Logótipo Próximo Futuro

"A Circularidade do Quadrado": crítica do jornal Libération

Imagem: ©Vassilis Makris

"A Circularidade do Quadrado", a peça que poderá ser vista em Lisboa em Setembro, a partir do texto de Dimitris Dimitriadis, com encenação do jovem e aclamado encenador Dimitris Karantzas, teve impacto na crítica quando foi apresentado no Festival de Avignon, em 2014. Sobre o espectáculo, escreveu o jornal francês Libération:

Que le tout jeune metteur en scène Dimitris Karantzas (lire ci-contre) et ses onze acteurs, qui viennent pour la première fois jouer à Avignon, ne s’inquiètent pas : d’autres avant eux ont fait l’expérience du spectacle réussi et du rendez-vous raté. Ceux qui ont le plus à perdre dans l’histoire, ce sont les spectateurs quittant la salle avant l’heure, alors que le temps, dans la Ronde du carré, est une donnée essentielle : plus le spectacle avance, plus sa complexité et son intensité se révèlent, passionnent, électrisent. La Ronde du carré est un des plus beaux spectacles d’Avignon, et l’histoire rendra justice à son metteur en scène.

Texto completo em Dimitriadis rondement mené

"Teatro de vida, de raiva e de desconforto": A Circularidade do Quadrado, vista pelo Público

Publicado6 Ago 2015

Etiquetas A Circularidade do Quadrado teatro grego

Imagem ©Vassilis Makris

A peça A Circularidade do Quadrado, que se apresenta em Setembro no Próximo Futuro, com encenação de Dimitris Karantzas a partir do texto de Dimitris Dimitriadis, esteve no Festival de Avignon em 2014. O Público assistiu e escreveu sobre a peça:

La Ronde du Carré, de Dimitris Dimitriadis, é a Grécia contemporânea posta a nu, onde a crise serve de álibi para justificar a impossibilidade de diálogo. É, afinal, e ao contrário de Notre peur de n’Être, uma peça sobre a impossibilidade de se ser, porque para se ser é preciso que os outros nos aceitem. Fazendo do tempo um aliado, Dimitris Karantzas abraça a diferença geracional de Dimitriadis (1944) e faz do texto assinado pelo dramaturgo tido como herói nacional pela coragem com que enfrenta os fantasmas sociais e as utopias mesquinhas um panfleto sobre o adormecimento emocional provocado pela primeira de todas as crises: a falta, ou o excesso, de ambição pessoal.

Dimitris Karantzas diz-nos que “é muito fácil querer ver em tudo o que se faz na Grécia hoje um retrato comentado do país”. La Ronde du Carré não é, assegura, “mais político por se produzir hoje”. É o que é. O desassombro do seu discurso é comovente para quem foi lançado, de forma quase displicente, para a arena do circuito internacional, aterrando no fim de um festival que lhe deixou as salas vazias. Karantzas fala-nos da dança de Maguy Marin, do cinema de Bela Tarr e de Jean-Luc Godard, para nos explicar o modo como o tempo atravessa o corpo dos 11 actores que nos intimidam pela sua entrega. Corpos que o autor do texto não identifica senão através de cores e que o encenador contrai em linhas rígidas que mal usam o palco. Histórias passionais que terminam em morte, como se quisessem responder, fisicamente, à morte da alma e da esperança. Três horas de luzes acesas na plateia, para deixar ver quem se vai embora, exaurido pelo falso formalismo de um espectáculo corajoso, feito a partir das tensões entre personagens que se querem aproximar de outras personagens, mas que se impedem sem se explicarem, ou mesmo sem perceberem porquê. Espectáculo que abraça uma liberdade de pensar a presença do actor no centro de um texto e, por isso, se aproveita do perigo causado pela proximidade de fim que cada palavra evoca.

Texto de Tiago Bartolomeu Costa, em Teatro de vida, de raiva e de desconforto. Eis aquele por quem não esperávamos: Dimitris Karantzas