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"A Circularidade do Quadrado" em imagens

"A Circularidade do Quadrado", encenada pelo jovem encenador Dimitris Karantzas, adapta à cena um texto do consagrado autor grego Dimitris Dimitriadis,que apresenta onze pessoas de diferentes géneros, gerações e preferências sexuais que partilham uma necessidade irresistível: ser amadas. A peça sensação do Festival de Avignon em 2014 apresentou-se no Próximo Futuro nos dias 14 e 15 de Setembro, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.

"Nada do que é grego nos é estranho"

Publicado11 Set 2015

Etiquetas A Circularidade do Quadrado

Imagem: Vassilis Makris


Estreia, no Próximo Futuro, na próxima 2ª feira, a peça A Circularidade do Quadrado, de Dimitris Karantzas. São duas apresentações únicas sobre a peça que chamou a atenção no Festival de Avignon, em 2014. O Público faz a reportagem:


Uma alegoria?
A peça foi escrita em 2006, muito antes da crise, portanto, lembra o autor. Mas, acrescenta, “esta crise, com o seu lado financeiro, é também uma crise da linguagem. Os políticos têm como instrumento principal a língua, como meio de mentira, para dizerem o contrário do que pensam.” Dimitriadis prossegue: “Dir-me-ão que todos os homens políticos mentem, mas no caso desta esquerda inominável, o reino da mentira, na sua forma mais vergonhosa, conduziu a um desastre nacional sem precedentes.” As personagens de A Circularidade do Quadrado vão enredando cada um dos seus parceiros numa teia de palavras tecida pela cupidez e pelo egoísmo, que manipula e anula o outro, ao ponto de suprimir as suas falas. “O tema da minha peça tem a sua fonte original numa situação de interacção humana similar, que é, sem dúvida, também política e social.” Para Dimitriadis, os gregos têm necessidade, tal como as personagens da peça, de uma renovação da dignidade da língua, para poder chegar a dizer as palavras que dizem o que significam e não o seu contrário. “Às vezes, o teatro, a forma dramatúrgica, tem a aptidão de captar uma realidade que não pertence ainda ao presente da sua escrita, porque a sua função verdadeira é a escavação mais profunda das coisas humanas”, remata o autor.

O espectáculo está dividido em quatro partes, explica Karantzas: Acordo,RepresentaçãoLevantamento e Reconciliação. Esta é a dramaturgia da peça que, para o encenador, segue uma lógica similar à da vida. As personagens primeiro descobrem os seus padrões de comportamento, depois revêem esse lastro de atitudes, que aos poucos se revela insuportável, uma armadilha na qual se aprisionaram a si mesmos, quer como actores, quer como personagens. É a noção desta prisão que os faz reagir, enxugando falas e diálogos e acabando por fundir as quatro histórias numa só. Do cansaço, as personagens passam à reconciliação, à “aceitação de si mesmos, à aceitação do outro, ainda que o outro seja o próprio opressor deles.”

O que interessa ao encenador, neste espectáculo, é o modo como cada indivíduo, com o seu lastro pessoal, dialoga com os elementos da dita personagem. “Isso é que é interpretação, e não ilustrar uma personagem estática e pronta.” E é também isso que, acredita Karantzas, mantém o palco vivo: “A revelação da personalidade de cada actor, com o que ele tem de fazer no momento exacto da aCtuação. Não é um esforço de distanciamento, mas de duplo engajamento.”

O texto completo em "Nada do que é grego nos é estranho", por Jorge Louraço Figueira

'A Circularidade do Quadrado': a peça que chamou a atenção da crítica em Avignon

Publicado1 Set 2015

Etiquetas A Circularidade do Quadrado Dimitris Karantzas

©Vassilis Makris

Uma equação erótica de paixão e desespero: onze pessoas de diferentes géneros, gerações e preferências sexuais que partilham uma necessidade irresistível: ser amadas. Este é o mote de "A Circularidade do Quadrado", peça encenada por Dimitris Karantzas que poderá ver, em duas exibições únicas, em Lisboa, no Próximo Futuro, e que chamou a atenção da crítica no Festival de Avignon, em 2014: 

Mais, au-delà du texte sublime de Dimitriadis, c’est la mise en scène de Karantzas qui est à applaudir : mêlant la subtilité et la finesse à la force et à la radicalité, il n’épargne ni ses comédiens, ni le spectateur. Trois heures de spectacles sans entracte : en mettre un aurait été absurde au regard de la spirale sans fin dans laquelle tous -spectateurs et personnages- sont embarqués. Une longue première partie expose les situations des couples. Pendant celle-ci, les lumières de la salle restent allumées, comme pour signifier -aux propres dires de Karantzas- que les situations exposées sur scène par les personnages sont aussi celles que pourraient vivre lesquidam de la salle. D’ailleurs, sur scène, Karantzas opte pour une mise en scène au parti pris déroutant : les personnages ne semblent pas être eux-mêmes, ils ne vivent pas ce qu’ils racontent, ils le disent. On a alors sur scène des comédiens qui semblent incarner des comédiens qui s’observent, s’écoutent raconter des situations de couples ordinaires, récitant le texte, presque à l’italienne. Le cadre est posé : ce qui va se vivre est universel, nous sommes « embarqués » dans ce qui nous concernent tous.

O texto completo aqui

"A Circularidade do Quadrado": crítica do jornal Libération

Imagem: ©Vassilis Makris

"A Circularidade do Quadrado", a peça que poderá ser vista em Lisboa em Setembro, a partir do texto de Dimitris Dimitriadis, com encenação do jovem e aclamado encenador Dimitris Karantzas, teve impacto na crítica quando foi apresentado no Festival de Avignon, em 2014. Sobre o espectáculo, escreveu o jornal francês Libération:

Que le tout jeune metteur en scène Dimitris Karantzas (lire ci-contre) et ses onze acteurs, qui viennent pour la première fois jouer à Avignon, ne s’inquiètent pas : d’autres avant eux ont fait l’expérience du spectacle réussi et du rendez-vous raté. Ceux qui ont le plus à perdre dans l’histoire, ce sont les spectateurs quittant la salle avant l’heure, alors que le temps, dans la Ronde du carré, est une donnée essentielle : plus le spectacle avance, plus sa complexité et son intensité se révèlent, passionnent, électrisent. La Ronde du carré est un des plus beaux spectacles d’Avignon, et l’histoire rendra justice à son metteur en scène.

Texto completo em Dimitriadis rondement mené

"Teatro de vida, de raiva e de desconforto": A Circularidade do Quadrado, vista pelo Público

Publicado6 Ago 2015

Etiquetas A Circularidade do Quadrado teatro grego

Imagem ©Vassilis Makris

A peça A Circularidade do Quadrado, que se apresenta em Setembro no Próximo Futuro, com encenação de Dimitris Karantzas a partir do texto de Dimitris Dimitriadis, esteve no Festival de Avignon em 2014. O Público assistiu e escreveu sobre a peça:

La Ronde du Carré, de Dimitris Dimitriadis, é a Grécia contemporânea posta a nu, onde a crise serve de álibi para justificar a impossibilidade de diálogo. É, afinal, e ao contrário de Notre peur de n’Être, uma peça sobre a impossibilidade de se ser, porque para se ser é preciso que os outros nos aceitem. Fazendo do tempo um aliado, Dimitris Karantzas abraça a diferença geracional de Dimitriadis (1944) e faz do texto assinado pelo dramaturgo tido como herói nacional pela coragem com que enfrenta os fantasmas sociais e as utopias mesquinhas um panfleto sobre o adormecimento emocional provocado pela primeira de todas as crises: a falta, ou o excesso, de ambição pessoal.

Dimitris Karantzas diz-nos que “é muito fácil querer ver em tudo o que se faz na Grécia hoje um retrato comentado do país”. La Ronde du Carré não é, assegura, “mais político por se produzir hoje”. É o que é. O desassombro do seu discurso é comovente para quem foi lançado, de forma quase displicente, para a arena do circuito internacional, aterrando no fim de um festival que lhe deixou as salas vazias. Karantzas fala-nos da dança de Maguy Marin, do cinema de Bela Tarr e de Jean-Luc Godard, para nos explicar o modo como o tempo atravessa o corpo dos 11 actores que nos intimidam pela sua entrega. Corpos que o autor do texto não identifica senão através de cores e que o encenador contrai em linhas rígidas que mal usam o palco. Histórias passionais que terminam em morte, como se quisessem responder, fisicamente, à morte da alma e da esperança. Três horas de luzes acesas na plateia, para deixar ver quem se vai embora, exaurido pelo falso formalismo de um espectáculo corajoso, feito a partir das tensões entre personagens que se querem aproximar de outras personagens, mas que se impedem sem se explicarem, ou mesmo sem perceberem porquê. Espectáculo que abraça uma liberdade de pensar a presença do actor no centro de um texto e, por isso, se aproveita do perigo causado pela proximidade de fim que cada palavra evoca.

Texto de Tiago Bartolomeu Costa, em Teatro de vida, de raiva e de desconforto. Eis aquele por quem não esperávamos: Dimitris Karantzas