Gestão das Organizações Culturais e Sociais
3º workshop de investigação
22 Abr 2010 - 9:30 – 17:30
Auditório 1
Entrada livre
Ao propormos como tema de investigação, os problemas da gestão das organizações culturais e sociais, temos em mente o facto de que estes dois tipos de gestão, bem como muitos dos seus conteúdos, estão - em muitos países da América Latina e de África - muito próximos. Há inúmeras situações e casos de estudo onde a fusão entre os dois tipos de gestão é total. Como analisar este tipo de situações? Que modelos operativos e eficazes são os mais indicados? Que exemplos de boa gestão devem merecer a nossa atenção e a sua amostragem? E que poderemos nós, investigadores e responsáveis por esta área, aprender com estes exemplos mais eficazes? Que teorias sobre a governação e gestão democrática de recursos e meios podem hoje ser enunciadas?
AVISO: Devido aos problemas no tráfego aéreo, o artista visual Barthélémy Toguo não poderá participar no workshop de investigação que se realiza esta semana.
António Branco (CIAC/ESTC,UAlg)
São sobejamente conhecidas as dificuldades financeiras por que passam os grupos de teatro amador ou os grupos de pesquisa universitária de natureza não-profissional, dada a exiguidade dos apoios existentes. Ao invés de ser bloqueadora da criação e da criatividade, essa circunstância pode ser reconfiguradora da prática teatral, sobretudo quando integrada numa concepção estética, ética e técnica do teatro enraizada na lição de Jerzy Grotowski ou na estética do despojamento de Peter Brook. Nesse âmbito, proporei a análise de um caso de «gestão do (im)possível» numa associação cultural sem fins lucrativos, A Peste – Associação de Pesquisa Teatral (Faro/UAlg), que, num contexto de total ausência de apoios financeiros oficiais, apresentou já duas produções teatrais de grande envergadura: Páscoa, de A. Strindberg (2008), e Fando e Lis, de Fernando Arrabal (2009). Tentarei demonstrar que, nas produções desse grupo de pesquisa universitária, existe uma íntima relação entre as opções de gestão e a opção ética, estética e técnica teatral.
10h05 DILEMAS ECONÓMICOS E DESAFIOS ORGANIZACIONAIS NAS ARTES PERFORMATIVAS: UMA ANÁLISE EMPÍRICA DAS ESTRUTURAS TEATRAIS APOIADAS NA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO
Pedro Costa (DINÂMIA/CET – Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território . ISCTE- IUL – Instituto Universitário D Lisboa)
Vera Borges (ICS/UL – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa)
As estruturas teatrais enfrentam no seu funcionamento quotidiano um conjunto de questões e de problemas económicos específicos, os quais têm sido profusamente estudados e discutidos no campo da economia da cultura. Contudo, uma ampla panóplia de especificidades, em termos económicos, culturais, institucionais e sociais, condiciona fortemente esta actividade, em múltiplas dimensões. Este artigo pretende identificar empiricamente e tipificar os diversos tipos de situações e de reacções a estes problemas, por parte de um conjunto diverso de instituições no campo das artes performativas (marcadas por uma forte diversidade, em termos do seu perfil e das suas opções ao nível estético, cultural e da sua orientação em relação aos seus mercados, mas igualmente por uma multiplicidade de outras características: por exemplo, padrão de localização, questões geracionais, papel da liderança individual, estrutura organizacional, origens dos financiamentos, etc.).
A análise empírica efectuada baseia-se no acompanhamento efectuado a todas as companhias de teatro da região de Lisboa e Vale do Tejo subsidiadas através dos concursos para apoios anuais/plurianuais do Ministério da Cultura. Com base em entrevistas e no acompanhamento directo da actividade destas estruturas, é efectuada uma análise preliminar das suas opções organizacionais e de mercado, e são identificados os principais problemas e desafios com que se defrontam. É proposta uma tipologia multi-nível para a análise das estruturas teatrais, tendo em conta os diversos aspectos identificados como determinantes para as diferenças observadas. São ainda apresentadas algumas notas conclusivas no que concerne a recomendações em termos de políticas públicas.
Palavras-chave:
Artes Performativas; Teatro; Instituições; Estrutura organizacional; Apoios públicos; Lisboa
10h40 VENDENDO VIRTUDE? CONTRIBUTO PARA A REFLEXÃO SOBRE A GESTÃO DEMOCRÁTICA DAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS (pdf)
Raquel Rego (SOCIUS-ISEG)
Partindo do princípio de que questionar a organização é uma forma de lidar com as suas dificuldades de acção colectiva, propomos um olhar sobre o interior das organizações não lucrativas, onde encontramos organizações culturais e sociais entre outras.
A partir dos resultados de um inquérito postal sobre a profissionalização associativa aplicado em 2004 a vários tipos de associações de âmbito nacional (associações de acção social, mulheres, jovens, imigrantes, desenvolvimento, defesa do ambiente, de consumidores, etc.), analisamos os efeitos da procura de uma acção mais eficaz no funcionamento democrático destas organizações.
Deste modo, reflectimos sobre dois fenómenos que contribuem para o fechamento das associações, a saber, o duplo estatuto dos dirigentes profissionalizados e a centralização do poder patente na síndrome do fundador.
A nossa intervenção termina com a enunciação de meios disponíveis para alcançar uma gestão mais democrática, que contribua simultaneamente para a promoção da inovação.
11h30 CULTURA COMO ORGANIZAÇÃO: PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS (pdf)
Susana Durão (ICS), Teresa Fradique (GIAEC/CRIA)
Falar do futuro próximo, no que diz respeito à gestão das organizações sociais e culturais, tal como nos propõe o 3º Workshop de Investigação da Fundação Calouste Gulbenkian, será uma oportunidade para reflectirmos sobre o legado crítico em torno dos conceitos fundadores da disciplina, traduzindo-o em matéria útil para os parceiros de discussão, nomeadamente para os gestores do cultural e do social na contemporaneidade. A partir de contribuições que podem ajudar a sinalizar os perigos da abstracção, patrimonialização e essencialização da cultura, propomos uma operação de resgate feita a partir da prática etnográfica – enquanto método de pesquisa com capacidade para se adaptar à fluidez e ambivalência da vida contemporânea, quotidiana, e das suas formas de organização – apresentando exemplos concretos da sua aplicação ao universo de organizações que pretendem agir nos mundos sociais.
Algumas questões emergem: será útil continuar a perspectivar as “organizações como cultura” (Wright, 1994), sendo a “cultura” cada vez mais usada como conceito pelas organizações com o objectivo de actuar e de transformar activamente os mundos “sociais”? Ou será que podemos partir para o questionamento da organização (administração e gestão) de fenómenos, movimentos, organizações locais e transnacionais que se afirmam como culturais e sociais; isto é, a “cultura como organização”? Torna-se necessário usar as ferramentas etnográficas para entender ideias de “projecto” e de fixação de formas de “movimento” naquilo que se pretende que seja a cultura, o social, o poder e a gestão desses mesmos projectos.
Sobressaem alguns exemplos bons para pensar: o modo como a cultura é reclamada como “arma” por OGNs em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo onde o tema político da violência urbana se alia à desigualdade social e cultural. A forma como em Portugal agentes culturais das periferias urbanas começam a penetrar nos espaços do museu, das galerias e outros onde até aqui a sua presença estava subrepresentada.
Esperamos que vários exemplos, resultantes de explorações etnográficas de colegas do CRIA, ajudem a dar forma e a densificar esta discussão.
12h05 A RESPONSABILIDADE SOCIAL NA ESTRATÉGIA DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS (pdf)
Maria João Santos (SOCIUS - ISEG)
Apesar da crescente visibilidade que o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social têm tido actualmente, o facto é que raramente estes conceitos surgem associados às organizações sociais e à cultura. A responsabilidade social aparece maioritariamente relacionada com o sector empresarial (privado), sendo conectado com o grau de responsabilidade das empresas para o impacto que exercem sobre o meio ambiente, consumidores, comunidades e partes interessadas. Quase todas as publicações, manuais, ou sítios na internet relacionados com a responsabilidade social não referem as artes e a cultura. Esta não surge como uma prioridade nos programas, fundos, discussões ou notícias relacionadas com o tema. Neste sentido, importa perspectivar as especificidades das organizações sociais e culturais neste âmbito particular. Demonstrar de que modo a responsabilidade social pode ser considerada como parte integrante da estratégia e dos programas destas organizações. Analisar de forma mais próxima e mais pragmática sobre os mecanismos de parceria estratégica entre o mundo da cultura e mundo empresarial e sugerir oportunidades para envolver as organizações culturais e sociais e as suas partes interessadas na definição de uma estratégia integrada de sustentabilidade.
--------------------------
CONVIDADOS INTERNACIONAIS
14h30 Organizações Sociais da Cultura em São Paulo – êxitos e alertas
Ana Carla Fonseca (Brasil)
Exigências burocráticas descabidas, processos e prazos de extensão desmedida, transparência que muito deixa a desejar. Chagas que assolam a gestão pública no Brasil, emperrando o bom desempenho das políticas públicas, dificultando parcerias com instituições privadas e causando enorme desalento ao cidadão e contribuinte.
A gestão da cultura, parte integrante desse quadro, padecia dos mesmos males. Diante da insustentabilidade desse modelo, e em meio ao mar de inoperância no qual navegava, a administração pública da cultura burilou o modelo de gestão das organizações sociais.
O texto aqui proposto trará uma análise de seus traços distintivos, modo de funcionamento, vantagens e percalços enfrentados, tendo como base o corpo de organizações sociais da cultura em vigor no Estado de São Paulo.
Ana Carla Fonseca Reis é especialista em Economia da Cultura. Formada em Administração Pública e Economia, começou a trabalhar em agências de comunicação e depois em projectos de marketing e comunicação para multinacionais. Fundou e dirige a Garimpo de Soluções, empresa de consultoria com uma actuação transdisciplinar na área de economia, cultura & desenvolvimento. É autora dos livros "Marketing Cultural e Financiamento da Cultura" (Thomson, 2002) e "Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável" (Manole, 2006), entre outros. É Consultora Especial da ONU em Economia Criativa, membro do painel curador da conferência Creative Clusters do Reino Unido e conferencista internacional em marketing cultural, economia da cultura, economia criativa e cultura & desenvolvimento. Actualmente está a fazer doutoramento em Arquitectura e Urbanismo, com uma tese sobre cidades criativas.
15h05 A FÁBRICA DO FUTURO (apresentação de caso de estudo)
Cesar Piva (Brasil)
A FÁBRICA DO FUTURO – Residência Criativa do Audiovisual é uma incubadora cultural do audiovisual e novas tecnologias, inaugurada em Julho de 2005, em Cataguases, Minas Gerais. A Fábrica faz parte de um amplo programa de Cultura e Desenvolvimento local, que a partir de 2003, reúne na cidade uma rede de cooperação horizontal com as principais lideranças sociais, culturais e empresariais da região. Esse programa tem como foco estrutural à economia criativa do sector audiovisual, as novas tecnologias e a juventude, um plano de gestão cultural local na perspectiva da promoção de políticas públicas e da economia criativa da cultura.
Cesar Piva (Brasil) trabalha no sector cultural e social desde 1987. Como gestor cultural, especializou-se no desenvolvimento de programas de investimento em cultura, leis de incentivo e responsabilidade social de empresas. É responsável pelo projecto “Fábrica do Futuro – Residência Criativa do Audiovisual”, uma incubadora cultural do audiovisual e novas tecnologias, criada em 2005, que faz parte de um amplo programa de Cultura e Desenvolvimento local.
16h00 GESTÃO VIRTUOSA PARA UM FUTURO INCERTO
Fátima Anllo Vento (Espanha)
Propuseram-me centrar a atenção no Próximo Futuro da gestão cultural e, para tal, nada me parece mais pertinente do que indagar as artes do pasado. Do estudo das tragédias gregas, Nussbaum (Marta Nussbaum, A fragilidade da bondade) extrai a melhor e mais productiva ideia para viver o presente sem perder de vista o tempo que está para vir: A virtude assenta nesse frágil equilibrio entre fazer e ser feito. Metade necessidade, metade desejo, nenhuma imagem parece mais certeira para descrever o próximo futuro da gestão, que a situa nos limites incertos dos fluxos e marés que caracterizam o presente. Depois de uma Modernidade que produz e duma Posmodernidade que se abandona, apenas a recuperação da tensão entre as duas parece ter sentido.
Tal é a imagem da gestão da cultura e as artes que antecipo, uma gestão capaz de situar-se nas fronteiras incertas que caracterizam –e de que necessita– a realidade presente. Uma gestão cultural que se aproxime das experiências artísticas como um contínuo entre fazer e produzir, entre participar e receber; que aceite o valor da cultura e das artes em toda a sua integridade, riqueza e complexidade, abandonando velhas dicotomias e hierarquias entre a pureza dos benefícios intrínsecos da gestão cultural e osbenefícios extrínsecos espúrios da gestão social; uma gestão que incorpore a criatividade como um traço característico da capacidade humana que ultrapassa a criação artística; uma gestão capaz de integrar a actividade artística como um elemento que faça parte da vida quotidiana, impulsionando a vitalidade cultural de comunidades e indivíduos; em suma, uma gestão que faça da cultura e das artes ferramentas para o bem viver, catalizadores de um desenvolvimento humano virtuoso onde indivíduos e comunidades se fazem e são construídos.
Fátima Anllo Vento (Espanha), especialista em Gestão Cultural. É investigadora e consultora independente no âmbito da Gestão Cultural e professora de Políticas Culturais na Universidad Complutense de Madrid. Trabalhou em diversas instituições culturais de Nova Iorque e, em 1999, assumiu a direcção da empresa espanhola e norte-americana que produz e distribui o Canal História em Espanha e Portugal.
16h35 BANDJOUN STATION (APRESENTAÇÃO DE CASO DE ESTUDO)
Barthelemy Toguo (Camarões)
Consciente do duplo dilema que constitui, por um lado, a incapacidade para proteger o património artístico clássico e contemporâneo de África e, por outro lado, desejoso por prosseguir um projecto cultural ambicioso, decidi usar a maior parte do dinheiro ganho com o meu trabalho como artista visual para fundar a Bandjoun Station, um projecto sem fins lucrativos de inspiração totalmente pessoal, em termos de conceito, construção, produção e implementação.
A Bandjoun Station está situada nas planícies elevadas dos Camarões Ocidental, a 3 km da cidade de Bafoussam, e a 300km de Douala e Yaoundé. Bandjoun Station é antes de tudo e primoridialmente uma oficina criativa aonde desejei reunir os meus pares… O alojamento na Bandjoun Station será possível para alguns dos artistas que irão criar/produzir nas instalações e participar na criação in situ de trabalhos excepcionais e na criação de peças monumentais que necessitem de bastante espaço para a sua concretização.
Barthélémy Toguo, artista visual nascido nos Camarões, em 1967. Estudou na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts de Abidjan, Costa do Marfim, na École Supérieure d'Art de Grenoble, França, e na Kunstakademie Düsseldorf, Alemanha. Vive e trabalha entre Bandjoun (Camarões), Nova Iorque e Paris.