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“Cartas do meu Magrebe” de Ernesto de Sousa

Agora que assistimos a um boom de edições de livros que, de um modo ou de outro se podem classificar dentro do género de ‘Literatura de Viagens’, foi publicado pela Tinta da China um conjunto de cartas de Ernesto de Sousa publicadas originariamente no Jornal de Notícias (JN) entre Novembro de 1962 e Abril de 1963. A este conjunto de cartas a edição acrescenta um prefácio de Isabel do Carmo (à época mulher do escritor), correspondência com o JN a propósito da censura feita a algumas cartas e, finalmente, duas outras cartas a Isabel do Carmo. O mais interessante destas cartas é o testemunho que fica de uma época feito por alguém com uma forte cultura visual e uma abordagem política onde a esperança na mudança do mundo na sequência da independência da Argélia e processo de libertação das ex-colónias europeias é importante nestes relatos. Há uma tal empatia com a ‘Libertação’, um tal entusiasmo com "os ventos de mudança" que as cartas de viagem são uma apologia de todo o processo. Elas relatam fundamentalmente os aspectos urbanos do país, são descrições impressionistas de um olhar maravilhado pela descoberta, pela surpresa daquela realidade – da qual, de facto, pouco se sabia em Portugal – e para o jornalista e cineasta todas as pessoas que encontra na viagem são o pretexto para a elegia de um povo libertado. Há algo de ingénuo nestas descrições e muito de ausência de história sobre a realidade visitada mas é de facto um muito bom testemunho de um europeu no norte de África na década de sessenta. As fotografias que acompanham as cartas revelam o olhar singular do cineasta de D. Roberto.

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