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Literatura Árabe do Norte de África (I): Albert Cossery

Nascido no Cairo em 1913 e falecido num hotel de Paris a 22 de Junho de 2008, Albert Cossery terá sido o último da geração dos chamados escritores dandies, título atribuído pelo tipo de vida urbana e flânneur que levavam. A sua obra, constituída por cerca de uma dezena de livros, tem como cenário de acontecimentos o seu Egipto do século XX.

No caso do romance "Les Couleurs de L’Infamie", lido na versão da tradutora brasileira Flávia Nascimento, trata-se da pequena história de um ladrão profissional – Ossama – descrito como um ladrão bom porque só rouba os ricos que se vê enredado numa história de corrupção que envolve um político detentor de um grande poder no Egipto sob o regime de Hosni Mubarak. Há como sempre em Albert Cossery uma metáfora da corrupção e da violência social deste regime – que acaba de cair – descritas nas ruas dos bairros pobres do cairo, na presença de milhares de mendigos na cidade, no confronto com a permanente corrupção que alimenta o regime. Parte da narrativa decorre no cemitério do Cairo, uma autêntica cidade que tivemos recentemente a possibilidade de ver no excelente documentário de Sérgio Tréfaut “A Cidade dos Mortos”.

Em "As Cores da Infâmia" há todo um manual de regras de comportamento para o ladrão que é profissional; corre riscos e tem princípios: “Não há nada de mais imoral do que roubar sem riscos” ou “Não inculquei em você a minha arte para que se tornasse um ladrão de cinema, cuja única preocupação é não desagradar ao público” (págs. 66 e 67). E com doses certas de ironia o autor sai das fronteiras do Egipto e fala do mundo: “Repare nas pirâmides. Neste país, não passa pela cabeça de ninguém construir uma pirâmide. O lugar está ocupado há 4 mil anos. Mas no estrangeiro tem-se erguido algumas pirâmides. Aliás essa é a moda da arquitectura moderna” (págs. 129-130).

APR