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Marcelo D'Salete em entrevista


Marcelo D'Salete (n. 1979, Brasil) pertence àquela geração cuja primeira escola foram os fanzines e a small press, não apenas no seu país mas internacionalmente. Cultor de relatos curtos, em torno de personagens perdidas na malha urbana e as mais das vezes longe dos palcos da auto-expressão, o autor lançaria dois livros que reuniam algumas dessas histórias e que o colocariam no mapa da atenção mediática: Noite Luz (2008) e Encruzilhada (2011). Versando sobre um conjunto de jovens negros de ambos os sexos nas ruas menos centrais da cidade de São Paulo, essas vidas desconexas acabam por ter um ponto de fuga comum, que faz surgir uma espécie de retrato social contemporâneo de um Brasil urbano que nada tem a ver com a sua imagem ‘Globoalizada’. Nesse sentido, D'Salete cumpre na perfeição o principal papel dessa cultura, a saber, a criação de espaços alternativos, onde o próprio indivíduo cria os instrumentos necessários à sua identidade. O seu último livro, Cumbe (2014, com edição portuguesa prometida), sobre os quilombos, dá continuidade à sua estratégia, mas desta vez unindo-a a uma visão histórica, recuperando experiências esquecidas da cultura negra brasileira.

Escreve Pedro Moura no jornal do Próximo Futuro sobre Marcelo D'Salete. "Outras Literaturas: Banda Desenhada", acontece no Próximo Futuro no dia 15 de Maio e conta com Moura como moderador e D'Salete como convidado.  Em entrevista ao site O Grito, o autor brasileiro sobre a sua obra, a partir do livro Cumbe.

Como surgiu a ideia de fazer Cumbe? 
O livro Cumbe surgiu de pesquisas sobre o Brasil colonial e sobre a escravidão. Percebi que existem poucas HQs sobre esse período a partir da perspectiva dos grupos negros que estavam aqui. Depois de uma intensa leitura sobre escravidão e sobre cultura banto, surgiu a ideia das quatro histórias que compõem o álbum. Os povos bantos que vieram da região do Congo e Angola foram os mais presentes naquele momento, por isso busquei mostrar algo dessa cultura nas narrativas.

Seu trabalho sempre foi marcado por uma preocupação social e também sobre a trajetória dos afro-descendentes no Brasil? Esta sempre foi sua inquietação? Como é tratar desse assunto como arte?
Minhas histórias desenvolveram um contorno próprio e preocupações sociais e etnicorraciais tornaram-se um elemento importante em cada uma delas. De certo modo, é um tema que considero ausente dos trabalhos que lia anos atrás. Essas preocupações vieram a partir de músicas de rap, filmes do cinema novo, da boca do lixo paulista, do realismo italiano e de alguns quadrinhos europeus, brasileiros e americanos. Tratar de histórias negras nesses quadrinhos, de racismo e outros fatores, foi uma forma de mergulhar em um universo de possibilidades novas, mas também difícil e espinhoso. Para isso, tentei desviar dos estereótipos de representação do negro na mídia e explorar outras possibilidades.

A entrevista completa, aqui