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A arquitectura modernista em debate, numa iniciativa da Docomomo

Imagem: Fundação Calouste Gulbenkian,Estúdio Horácio Novais. Imagem do final dos anos 60

A Docomomo Internacional (organização para a documentação e preservação de edifícios e lugares do Movimento Moderno), agora com sede em Lisboa no Instituto Superior Técnico (um exemplar do modernismo) organizou na passada sexta-feira, dia 27, um colóquio na Fundação Calouste Gulbenkian (outro edifício emblemático) em que se discutiu a preservação desta arquitectura, o seu valor  e uso conteporâneo.  

Para somar à inauguração da sua sede no IST, a Docomomo organizou ainda uma tarde de conferências na  sexta-feira, no edifício da Fundação Calouste Gulbenkian, também ele um projecto modernista de Ruy Athouguia, Pedro Cid, Alberto Pessoa e Viana Barreto Ribeiro Telles. No seminário internacional Reabilitação e Re-uso da Arquitectura do Movimento Moderno estiveram arquitectos como o holandês Wessel de Jonge ou o chileno Horacio Torrent e ficou clara a necessidade de ir além da preservação dos edifícios modernistas: é preciso reabilitá-los e dar-lhes novas funções para presente, mesmo que para isso seja preciso alterá-los — “a arquitectura é algo que tem vida própria, é susceptível de ser transformada”, afirma Ana Tostões.

“Tradicionalmente os edifícios eram construídos para a eternidade, mas um dos ideais do movimento modernista era a dinâmica e uma abordagem funcionalista: o edifício constrói-se com uma função. Se essa função desaparece, o edifício torna-se desnecessário. Porquê ter um edifício com um tempo de vida superior ao que essa função requer? Seria um desperdício de dinheiro”, explica ao PÚBLICO Hubert-Jan Henket, fundador da Docomomo.

Re-uso
Nos anos 1980 este arquitecto foi confrontado com a vontade de preservar o Sanatorium Zonnestraal, na Holanda — um hospital do início dos anos 1930, desenhado por Johannes Duiker e entretanto abandonado. Este e outros casos eram para ele uma “contradição filosófica”: construídos para terem um tempo de vida limitado, edifícios como escolas ou fábricas estavam a ser chamados à eternidade. “Era preciso conservá-los por causa da sua beleza, da forma como representam uma maneira de pensar. O que é um paradoxo, se pensarmos que foram criados para um uso específico e para depois serem eventualmente demolidos”, continua.

Assim nasceu, em 1988, a Docomomo, acrónimo para documentação e conservação do movimento moderno. Este comité foi constituído na Holanda e desde então tem-se expandido para todo o mundo — conta agora com 70 países e com investigadores de áreas tão distintas como a história da arte, urbanismo ou o cinema e a fotografia. Para além de promover e apoiar a reabilitação e reutilização do património arquitectónico moderno, quer mostrar como as bases deste movimento continuam actuais: “a arquitectura tem uma missão social e deve criar espaços onde a comunidade viva melhor — este ideal moderno é importante para fazer a arquitectura do futuro”, diz ao PÚBLICO Ana Tostões, acrescentando que “o processo moderno ainda está em curso”.

O artigo integral do jornal Público: A arquitectura modernista não é só para admirar: é mesmo para usar