Logótipo Próximo Futuro

Respostas à Crise

1º Workshop de Investigação

12 Nov 2009 – 13 Nov 2009

Auditório 1

Entrada livre

Primeiro workshop de crítica, reflexão e produção teórica do Programa Gulbenkian Próximo Futuro. Apresentação de diagnósticos e formulações das várias crises contemporâneas ou dos formatos e figuras que a crise tem vindo a assumir e, simultaneamente, da apresentação de pesquisa e de narrativas que descodigiquem a Crise e a ela respondam.

Alternativas à crise do emprego: desafios à educação e formação e novas formas de regulação (pdf)

Ilona Kovács e Margarida Chagas Lopes (SOCIUS/ISEG)

Comentador: José Maria Carvalho Ferreira (SOCIUS)

A comunicação inicia-se com a análise da crise do modelo de emprego até há pouco tempo dominante. Entre os factores da crise destacam-se a globalização da economia, as tecnologias da informação e comunicação, a intensificação da concorrência, a preponderância da politica económica neo-liberal, a reestruturação das empresas e o desequilíbrio nas relações laborais. A crise do emprego é a grande questão social dos nossos tempos. Apesar de haver consenso quanto à crise do emprego, há grandes divergências entre o discurso dominante e as perspectivas críticas sobre a sua natureza e soluções para a sua supressão. Para o discurso dominante as tecnologias de informação e comunicação e a economia de mercado abrem uma nova era com mais e melhores oportunidades de trabalho para todos. Porém, segundo as perspectivas críticas a globalização como universalização do mercado livre gera fortes desigualdades sócio-económicas entre blocos, regiões, países, empresas e indivíduos, lançando segmentos crescentes da população no desemprego e no emprego precário.

Face à crise do emprego, a educação/formação e aprendizagem são entendidas sob novas perspectivas. O segundo ponto da comunicação aborda a relação complexa entre educação e mercado de trabalho, a qual evoluiu de uma situação de subordinação funcional daquela a este, durante os processos de industrialização e construção do capitalismo maduro, para se vir progressivamente a reafirmar no seu espaço de direito próprio de factor de desenvolvimento humano e, mais recentemente, de promotor da cidadania activa. Neste percurso acidentado, educação e mercado de trabalho recombinam formas de articulação sucessivas que aqui passamos em revista: a da emergência da educação e formação ao longo da vida como tentativa de regulação do mercado de trabalho em crise; a da “externalização” da educação e, especialmente, da formação em relação a um mercado de trabalho que, incapaz de regulação autónoma, se tenta socorrer do contributo dos sectores educativo/formativo e da segurança social como no caso da flexigurança.

A parte final da comunicação é uma contribuição para a reflexão sobre as alternativas. Face ao discurso dominante que considera que a evolução da economia e da sociedade está determinada pelas leis da economia e pela evolução tecnológica, defende-se um ponto de vista segundo o qual há futuros alternativos, nomeadamente a “sociedade de mercado”, a “sociedade centrada em actividades alternativas” e a “sociedade de trabalho renovada. Também no domínio da educação e formação se abrem novas perspectivas, desafiadas pelo encaminhamento para um estatuto de maior autonomia e dignidade, em direcção à sociedade do conhecimento, ou da aprendizagem, onde educação e formação são chamadas a promover a cidadania activa, num percurso de contradições e ambiguidades que, por ora, apenas nos permitem delinear os contornos da evolução em curso. (Abstract)

Os Estudos Literários no séc. XXI: o passado próximo, a crise e o próximo futuro (pdf)

Isabel Fernandes (Centro de Estudos Anglísticos/UL)

Comentador: João Ferreira Duarte (Centro de Estudos Comparatistas/UL)

Perspectivar os horizontes de possibilidade para os estudos literários, à luz do que foram os conflitos no âmbito da disciplina durante todo o século XX, mas em especial na sua segunda metade, é o que se pretende com esta apresentação. Defender-se-á que as razões para a persistência desta crise residem na particular porosidade e peculiar complexidade multifacetada da literatura que, enquanto objecto, convive mal com as fronteiras e exigências disciplinares e com os imperativos institucionais decorrentes do modelo de universidade herdado do Pós-iluminismo. (Abstract)

A Crise e o discurso adaptativo dos economistas (pdf)

José Luís Cardoso (Instituto de Ciências Sociais)

Comentador: Sandro Mendonça (Dinâmia/ISCTE)

O ano de 2009 tem sido conturbado. Os sinais de forte recessão e o espectro de uma terrível depressão não deixam dúvidas sobre a gravidade de tempos difíceis que, com maior ou menor dose de pessimismo, se antecipam e previnem. A crise não é apenas a que se revela através da perturbação acentuada nos mercados económicos e financeiros, do agravamento do desemprego, da perda de poder de compra, da falência e encerramento de empresas em todos os sectores de actividade económica a uma escala global.  Para além das consequências sociais e políticas que inevitavelmente acarretam, a crise é também da economia enquanto ciência que, desejavelmente, deveria contribuir para a compreensão e solução dos problemas que afligem o mundo contemporâneo. No que se refere a essa ingénua ambição de uma ciência prescritiva de remédios e paliativos, parece que já se perderam as esperanças e desfizeram todas as ilusões. Mas o que revela que a situação é verdadeiramente grave é a convicção de que , afinal, a ciência nem sequer serve para descrever e diagnosticar os males de que os mercados padecem. É essa dimensão da crise que afecta a economia como ciência que constitui objecto principal de atenção nesta comunicação, utilizando como roteiro os testemunhos e tomadas de posição de economistas contemporâneos, alguns dos quais celebrizados pelo prémio Nobel, que já receberam ou esperam vir a receber. (extracto)

Qual crise? Normalidade e quebra sistémica na contemporaneidade (pdf)

João de Pina-Cabral (Instituto de Ciências Sociais)

Comentador: Vítor Moura (Centro de Estudos Humanísticos/UM) (pdf)

De um ponto de vista antropológico é difícil compreender a chamada “crise financeira” a que assistimos como um fenómeno unicamente ligado ao mundo da economia e das finanças. Pelo contrário, se assumirmos uma perspectiva que presume que os fenómenos sociais só podem fazer sentido na medida em que são vistos relacionalmente, a actual crise financeira e económica, afinal, revela-se como o mero assinalar dos muitos processos de desestabilização e alteração sistémica a que temos vindo a assistir na nossa contemporaneidade. Urge, pois, perguntar: “qual crise?”  (extracto)

Lições das Crises Económicas de 2008: como gerir uma solução política? (pdf)

Miguel Rocha de Sousa (NICPRI/UE-UM)

Comentador: Emanuel Leão

Na secção 1 ilustramos o que se entende por crise; na secção 2 motivamos a contextualização desta crise económica face às anteriores; na secção 3 procuramos definir o impacto social desta crise; na secção 4 analisa-se o processo político subjacente a esta crise; finalmente na secção 5 propõe-se visões alternativas de uma saída preventiva para evitar recorrentes crises nos mesmos moldes. Para isso sugerimos o uso mais eficiente do seguinte trinómio: proximidade, legitimidade e accountability (P, L, A), na lógica das organizações internacionais. (Abstract

Cultura e Cognição – ou o Poder do Conhecimento Tácito (pdf)

Peter Hanenberg (Centro de Estudos de Comunicação e Cultura/UCP)

Comentador: Miriam Tavares (Centro de Investigação em Artes e Comunicação/UAlg, ESTC)

A mais famosa definição de conhecimento tácito é uma frase paradoxal de Michael Polanyi: "We know more than we can tell". O conhecimento tácito seria, então, algo que não é dito nem é falado, algo que não está “à mão”. Refere-se a algo que sabemos, sem estarmos cientes desse conhecimento. No entanto, contamos com ele para agir. Para desenvolver uma descrição mais clara da importância do conhecimento tácito (no contexto da actual crise), observaremos alguns exemplos de "gut feelings" que nos levam à resolução de problemas sem a intervenção explícita de saberes. A seguir apresentaremos a ideia de uma "geografia do pensamento" para descrever o conhecimento tácito na diversidade cultural. Relacionaremos, por fim, o conceito de Polanyi com o 'Sistema cogntivo de Cultura' desenvolvido por Leonard Talmy para preparar três con­clusões: (1) o conhecimento tácito baseia-se na experiência, é (2) partilhado (e não simples­mente individual), e (3) constitui, por isso, um desafio para a educação. Saber mais sobre o conhecimento tácito significa reconhecer o seu poder fundamental para a cultura e a sua projecção no futuro próximo. (Abstract)

Da impossibilidade de superar a actual crise do capitalismo (pdf)

José Maria Carvalho Ferreira (SOCIUS/ISEG)

Comentador: António Pinto Ribeiro

É um facto histórico que estamos perante uma crise que atravessa a nossa trajectória biológica e social de forma inelutável. Ela é visível em relação aos paradigmas e autores que disputam a legitimação e institucionalização das ciências que concorrem e competem no quadro da racionalidade instrumental do capitalismo, como também na manifesta incapacidade destas em controlar e prevenir a multiplicidade de fenómenos  que se traduzem empiricamente em disfunções e perversões económicas, sociais, políticas, culturais e civilizacionais.

A crise do capitalismo, em primeiro lugar, resulta da trajectória biológica e social da espécie humana e do actor factor de produção trabalho. Quer uma quer outro evoluíram no sentido de uma concorrência e competição inauditas na transformação da matéria orgânica em matéria inorgânica, pondo em risco de extinção as espécies vegetais e espécies vegetais que integram o equilíbrio ecossistémico do planeta Terra.

Das contingências estruturantes das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e da globalização apercebemo-nos que estamos longe do apogeu dos “trinta gloriosos anos do capitalismo” (1945-1975) baseado na transformação da matéria orgânica e matéria inorgânica. Esse facto, deu início a um processo gigantesco de produção, distribuição, troca e consumo de bens e serviços analítico-simbólicos.

Por fim, ambos os processos ao gerarem desemprego, precariedade da vinculação contratual, pobreza, miséria, exclusão social, desvio e crime, põem em risco a sobrevivência histórica do capitalismo. Estes factores culminaram na emergência de guerra civil inter-individual às escalas local, regional, nacional, continental e mundial baseada em processos de socialização e de sociabilidade modelados por pulsões de morte em detrimento das pulsões de vida identificadas com o devir histórico do capitalismo. (Abstract)

A Crise é a vida normal. A Antropologia face à crise (pdf)

Vários autores (CRIA/UNL, ISCTE, UC, UM)

Comentador: Ana Célia Gomes (SOCIUS/ISEG)

Nos debates sobre a Crise, o argumento político e económico dissolve-se frequentemente no argumento moral. Simultaneamente, a antropologia tem-se confrontado com o que parece ser um novo terreno, ‘a globalização’, abordada ora de um modo mais celebratório ora de um modo mais crítico. Neste texto defendemos que se deve pensar etnograficamente: ver os sujeitos onde eles estão de facto e não onde eles supostamente deveriam estar. Também em relação à Crise devemos ver como os sujeitos estão de facto e não como eles deveriam estar. Distinguimos entre crise-processo e crise-evento abordando casos do que chamámos 'gentes críticas' (o migrante, o refugiado, o asilado, os que ficam, os ciganos, os pobres, os trabalhadores/consumidores, entre outros). No momento da Crise declarada, só as etnografias permitem iluminar o modo como ela afecta ou não as pessoas de modos substancialmente novos e diversos. A declaração da Crise obscurece as crises, as suas razões e expressões quotidianas e personalizadas. Para a 'gente crítica' a crise é a vida normal. (Abstract)