Observatório de África e da América Latina
1ª apresentação
15 Nov 2011 - 9:30 – 17:30
Auditório 3
Entrada livre
Primeira apresentação do “Observatório de África e da América Latina”, resultante dos workshops de investigação que o Programa Gulbenkian Próximo Futuro concretizou desde 2009, no qual serão proferidas comunicações de investigadores ligados a universidades, centros de pesquisa e organizações não-governamentais. Fruto da parceria com o Théâtre de La Ville de Paris, este modelo de seminário será concretizado no dia 17 de Novembro, na capital francesa, com investigadores aí radicados.
09h30
LUÍSA VELOSO (CIES, IUL)
Das categorias de pensamento às categorias de conhecimento
Com esta apresentação, propõe-se discutir os processos sociais de reflexão e construção de categorias de pensamento sobre a realidade, construção entendida em sentido lato, abarcado desde as actividades de investigação, de intervenção social (política, intelectual, etc.) até às de expressão artística. Estas convertem-se em categorias de conhecimento, mais ou menos elaboradas, mais ou menos destinadas a um ’uso’ ordinário ou extraordinário, traduzindo-se na construção de quadros de conhecimento estruturados. A realidade é, neste sentido, objecto de um processo de estruturação em função dos quadros de pensamento tendencialmente dominantes. No entanto, são múltiplas as leituras existentes e, ainda que nem sempre dominantes, são dotadas de especificidades próprias. Perspectiva-se equacionar esta dupla existência dos quadros de conhecimento dominantes e dos ’outros’ e algumas das estruturas de relações entre ambos. (Abstract)
MAGDALENA LÓPEZ (CEC, FLUL)
A melancolia geradora do fracasso utópico em Cuba
A literatura cubana das últimas duas décadas oferece variados testemunhos sobre o fracasso do sonho socialista. No entanto, o fim da fé na utopia não tem implicado a perda de sentido. O estudo de “La novela de mi vida”, de Leonardo Padura (2002), “Muerte de Nadie”, de Arturo Arango (2004), e “Otras plegarias atendidas”, de Mylene Fernández Pintado (2003), mostrará os imaginários emergentes que se depreendem da ligação entre utopia, fracasso e melancolia, para sugerir subjectividades alternativas ao discurso oficial. (Abstract)
11h15 – 11h40 Pausa para café/chá
ANA SÉCIO (FCH/UCP)
África no Imaginário Português: Corpo e Identidade na Arte Contemporânea Portuguesa
África integra o imaginário português desde há séculos. Cenário que tem início com as Navegações e que adquire mais expressão a partir dos finais do século XIX, com o maior impacto da colonização portuguesa. Há, ainda, que assinalar a ideologia oficial do Estado Novo e o pós-25 de Abril, que conta com as memórias dos ex-colonos e dos seus descendentes, elementos que, em muito, contribuem para a configuração deste imaginário. O Portugal pós-colonial assume-se como um importante ponto de chegada de indivíduos de diferentes nacionalidades, onde o convívio e o debate entre as representações de África se fazem notar. Nesta comunicação, partindo da noção de mito postulada por Roland Barthes, em “Mitologias”, pretendemos reflectir sobre a dimensão mítica de algumas dessas representações na arte contemporânea portuguesa, sobretudo no que concerne ao corpo e à configuração de identidades plurais, porque forçosamente multiculturais. (Abstract)
ANTÓNIO PINTO RIBEIRO (PGPF, UCP)
Itinerário exaltante
A questão da representação é central na História Cultural do Ocidente - não é por acaso que Aristóteles lhe dedica uma parte substantiva da sua obra - e tornou-se um tema fulcral em toda a produção teórica tanto nos Estudos de Cultura como nos mais subtis estudos do pós-colonialismo. A representação não só reforça a ideia e a marca da ausência, e a sua substituição por outro significante, como é um acto de criação e nesse sentido resulta de uma subjectividade onde a ideologia e o biográfico tomam papéis preponderantes. No caso concreto de obras documentais (ou que se afirmam como tal) de escritores europeus, em que resulta esta criação? Tomaremos como estudo de caso um exemplo emblemático de uma obra inovadora sobre os territórios ex-colonizados que é “Baía dos Tigres”, de Pedro Rosa Mendes, para tentar entender a construção social resultante desta representação particular. (Abstract)
Moderadora: Alexandra Pinho
13h00 – 14h30 Pausa para almoço
FÁTIMA PROENÇA (ACEP)
Entre o entretenimento e a assistência: ’comunicação’ e ’ajuda’ como contributos para a fragilização e a dependência
Diversas formas actuais da ’sociedade do espectáculo’, tal como caracterizada por Debord há mais de três décadas, oferecem-nos construções também actualizadas do ’fardo do homem branco’, voltando a aprisionar África numa teia de conceitos, onde ’humanitário, ’fragilidades’, ‘necessidades’ arriscam ser a nova linguagem de velhas relações de poder. Num quadro de procura de construção de múltiplas cidadanias, há legitimidade para papéis como os de espectadores ou de aprendizes de feiticeiro? (Abstract)
FREDERICO DUARTE (FBAUL)
Factor Favela
O Brasil é hoje mais do que uma nação tropical de praia, samba e futebol: é uma superpotência do século 21. Está, por isso, na hora de o mundo, ou pelo menos o mundo do design, prestar a devida atenção ao design brasileiro. Mas também está na hora de os designers brasileiros tratarem o seu povo, um de seus principais valores, com o respeito que ele merece. De que forma é que a prática, a cobertura jornalística, a curadoria e a crítica académica do design brasileiro estão a misturar origem com identidade, oportunidade social com oportunismo de design, ’gambiarra‘ com inovação frugal, realidade com estereótipo? (Abstract)
15H45 – 16H10 Pausa para café/chá
ALEXANDRE ABREU (CEsA, ISEG/UTL)
Migrações e Desenvolvimento
A questão dos nexos causais entre as migrações e o desenvolvimento dos territórios de origem, nomeadamente no âmbito de espaços sociais transnacionais criados e sustentados por migrantes, tem sido objecto de atenção acrescida nos últimos anos. Neste contexto, o caso da comunidade de origem guineense residente em Portugal constitui um exemplo particularmente interessante, em virtude do carácter e intensidade das práticas transnacionais que tem desenvolvido de forma particularmente consistente. Serão apresentados alguns elementos exemplificativos destas práticas e dos seus efeitos ao nível das famílias e comunidades de origem na Guiné-Bissau, os quais servirão posteriormente como base para uma breve reflexão mais ampla, em torno da fluidez do significante ’desenvolvimento‘, no contexto deste debate. (Abstract)
SOFIANE HADJADJ (Éditions Barzakh, Argélia)
Edições Barzakh
No dia-a-dia, o meu trabalho consiste em dar conta do mundo, do real, editando em Argel ensaios e romances. Num contexto político, económico e social conturbado – desde a célebre ’Primavera árabe‘ aos diversos conflitos que grassam por África – onde escasseiam as liberdades. E não deixo nunca de me interrogar acerca do sentido da minha profissão. Sou constantemente compelido a justificar os meus actos: qual a utilidade de publicar livros? E que livros? Escrever e editar constituem para mim duas formas de resistência perante as desordens do mundo: resistir às proibições, resistir às instrumentalizações, resistir ao desespero.
Mas, em meu entender, a questão essencial é saber que ideias almejamos promover, que histórias pretendemos contar aqui na Argélia, ou seja no Norte de África, que pertence ao mundo árabe. Se é não só aquilo que ‘pretendemos’ mas ainda aquilo que ‘podemos’.
O pensamento ou a ficção não são neutrais. As ideias, as histórias, são testemunhos daquilo que somos, daquilo que vivemos, do nosso imaginário, isto é da nossa capacidade para nos libertarmos de cangas ideológicas e de nos projectarmos para horizontes abertos.
Actualmente, dadas as recentes reviravoltas, procuro pensar naquelas que poderiam ser as ‘novas’ ideias, as ‘novas’ narrativas que, de outra maneira, contariam África, o mundo árabe, distanciando-se tanto quanto possível dos clichés sobre o terrorismo, a pobreza ou as mulheres; estando nós no cruzamento de tantas influências (Mediterrâneo, Saara, Europa, Islão…), como será possível inventar novos sonhos. (Abstract)
Moderador: António Pinto Ribeiro