Logótipo Próximo Futuro

O lugar do design e da moda no Norte de África

Programador Geral: António Pinto Ribeiro

Coordenador: Frederico Duarte

12 Mai 2012 - 9:30 – 17:30

Aud. 3 da Fundação Calouste Gulbenkian

Desde Heródoto que a história do Norte de África é também a história do seu imaginário. Além das fronteiras da geografia, da religião ou da política, esta região tem sido criada e recriada em formas, imagens, palavras e sons tão díspares como os de Ingres, Le Corbusier, Dizzie Gillespie e Yves Saint-Laurent, mas também de Ibn Battuta, Umm Kulthum ou Abdellatif Kechiche. As profundas mudanças recentemente ocorridas nas ruas e regimes políticos dos seus três novos Estados democráticos abriram um novo campo de criação, mas também de projecto, aos artistas e designers magrebinos. Numa altura em que toda uma região se reinventa, de que forma pode a arte, mas sobretudo o design, contribuir para questionar esses imaginários e encontrar novos lugares para a imaginação dos seus criadores e cidadãos?

Do imaginário à imaginação: O lugar do design e da moda no Norte de África

Frederico Duarte estudou design de comunicação em Lisboa e trabalhou como designer na Malásia e Itália. Em 2010 concluiu o Mestrado em crítica de design na School of Visual Arts em Nova Iorque. Enquanto crítico e curador de design tem desde 2006 escrito artigos e ensaios, contribuído para livros e catálogos, dado palestras e workshops, comissariado exposições e organizado eventos sobre design, arquitectura e criatividade. Actualmente lecciona na ESAD das Caldas da Rainha  e na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.


09H30

Abertura pelo Programador, António Pinto Ribeiro

Moderador: Frederico Duarte
O espaço entre – A fotografia de Majida Khattari
Mirian Tavares (com a colaboração de Sílvia Vieira) – CIAC, Faro

Toute poésie est de circonstance
Eugène Delacroix

A artista marroquina Majida Khattari utiliza a fotografia, as instalações e os desfiles de moda como uma provocação/reflexão sobre o papel do véu no universo muçulmano e no imaginário ocidental. Na série de fotografias denominada Orientalismes, a artista recria os quadros de Delacroix de uma forma subversiva. A relação com a obra do pintor ultrapassa a mera questão temática e pode ser aprofundada. Paul Jamot, ao falar da obra de Delacroix na Documents nº 5, de 1930, diz que qualquer tema, nas mãos do artista, converte-se numa forma de revelação e numa visão trágica, tanto nos gestos desesperados de homens em luta, como na aparente lassidão das jovens cativas. O uso das imagens orientalistas de Delacroix, por Majida Khattari, absorve o sentido trágico e absorve ainda a ideia da imagem como meio de eternizar e universalizar gestos quotidianos. Os véus que, na sua obra, escondem e desvelam, funcionam como mecanismos que tornam visível o que se quer ocultar. Este é o procedimento utilizado nos seus desfiles-instalações, que criam a delimitação de um espaço ambíguo entre eu e o outro. Entre o que se vê e o que se mostra.

Mirian Nogueira Tavares é professora Associada da Universidade do Algarve, onde dirige o Mestrado em Comunicação, Cultura e Artes e a Licenciatura em Artes Visuais. Com formação académica nas Ciências da Comunicação, Semiótica e Estudos Culturais (doutorou-se em Comunicação e Cultura Contemporâneas, na Universidade Federal da Baía), tem desenvolvido o seu trabalho de investigação e de produção teórica, em domínios relacionados com o Cinema, a Literatura e outras Artes, bem como nas áreas de estética fílmica e artística. Atualmente coordena o CIAC  (Centro de Investigação em Artes e Comunicação).

 

Retrato da funcionalidade de pequenos ateliers de moda africana
Sandra Muendane – CEsA, Lisboa

Em todos os continentes, o exercício do design de moda consiste, numa primeira fase, na elaboração de coleções. Também em África, os designers de moda apresentam as suas coleções em desfiles organizados por todo o continente, onde contactam com potenciais compradores e trocam experiências com os seus pares, estimulando a competitividade da sua indústria. A vertente mais comercial do design de moda está voltada para a conceção de modelos vendidos a retalho, em ‘boutiques’, o que inclui um contacto direto entre designer e cliente. A diferenciação em termos de marketing centra-se menos no preço e mais nos materiais e na inovação ou originalidade formal. A forte concorrência entre designers com produção em pequena escala abre ainda a possibilidade para a exploração da indústria da moda e do vestuário como alternativa mais rentável, sobretudo aquela destinada à exportação.

Sandra Muendane, designer de nacionalidade moçambicana, é licenciada em arquitectura de design de moda pela Universidade Técnica de Lisboa, onde efetuou uma especialização em design estratégico e inovação. Tem participado em diversos desfiles, exposições, workshops e residências artísticas na África, Europa e América do Norte.

 
10h50 – 11h10

Pausa

Dimensões do Design de Moda Contemporâneo no Cairo
Susanne Kümper - Berlim

Cadinho de influências culturais islâmicas, africanas e outras, o Cairo é hoje um ponto de encontro global para a arte, os média e o estilo contemporâneos. A revolução egípcia de 2011 trouxe consigo a esperança de uma sociedade mais democrática e mais aberta, mas os movimentos islâmicos conservadores que agora ganham terreno são uma ameaça para os pensadores jovens e inovadores que lutaram empenhadamente para definir um futuro mais promissor. Através da criação de estilos contemporâneos, mas sem deixarem de permanecer fiéis às suas origens artísticas, os jovens designers do Cairo ligam a modernidade à tradição e celebram a diversidade cultural e religiosa. Porém, é especialmente durante os atuais desafios e agitação do Egipto que se torna mais e mais vital para a comunidade artística do Cairo a ligação a sociedades liberais e a redes internacionais de encorajamento profissional e apoio individual. Os que abrem as portas a estes espíritos revolucionários demonstram que a criatividade verdadeiramente subversiva nunca sai de moda.

Susanne Kümper é designer de moda. Passou os últimos treze anos entre a Alemanha, seu país natal, e o Egipto. De 1999 a 2005 integrou a equipa que criou um departamento de design de moda inteiramente novo na Faculdade de Artes Aplicadas da Universidade de Helwan, no Cairo – o primeiro deste tipo numa universidade egípcia. Susanne Kümper dirigiu também um atelier de design de moda industrial que colocou ao dispor dos fabricantes de vestuário egípcios as competências necessárias ao design, e trabalhou em projetos de desenvolvimento económico e de design para diversas fundações internacionais e instituições culturais. Faz, desde 2011, workshops e seminários de design em cooperação com a feira Import Shop, de Berlim, e com designers de moda contemporâneos no Cairo.

 

12h30-14h30

Pausa para almoço

Moderador: António Pinto Ribeiro
A fluidez de uma cidade: Novas formas de Intervenção no Cairo, desde Janeiro de 2011
Omar Nagati – Cairo

Uma quebra no aparato de segurança do Cairo, em Janeiro de 2011, permitiu que, desde então, surgissem novas formas de intervenção urbana informal no espaço público as quais, tanto no seu tipo como na sua dimensão, teriam sido inimagináveis anteriormente. Estas novas formas de intervenção urbana vão desde os vendedores ambulantes e as lojas que invadem as ruas e os passeios até às inovações que marginam as autoestradas e as rampas de acesso às estradas circulares construídas pelas comunidades locais. Esta mesma fluidez que produziu novas formas de expressão artística e cultural no espaço público – como graffitis, performances de rua, feiras e festivais de arte –, motivou indivíduos e comunidades a desafiarem o Estado, cada vez mais débil e incapacitado, no processo de formalização e legitimização do seu meio envolvente. Acções como estas podem ser o testemunho de uma sociedade dividida, de batalhas ideológicas em curso ou de combate nas ruas, mas também porpõem novos modos alternativos de desenvolvimento urbano “a partir de baixo” que estão a invadir uma cidade em rápida mudança e que encara um futuro promissor ainda que imprevisível.

Omar Nagati, doutorando e arquitecto/ urbanista em exercício, vive actualmente no Cairo. Licenciado pela Universidade do Cairo, estudou e leccionou na Universidade de British Columbia e UC Berkeley, dedicando-se especificamente ao urbanismo informal. Nagati adopta uma aproximação interdisciplinar a questões da história urbana e do design, empenhando-se numa análise comparativa dos processos de urbanização nos países em vias de desenvolvimento. Lecciona no Estúdio de Design Urbano da Universidade de Ciências e Artes Modernas de Giza e foi recentemente co-fundador do CLUSTER, uma nova plataforma para a pesquisa urbana e iniciativas relacionadas com design no centro do Cairo.

A Primavera Árabe na Tunísia – Uma perspetiva semiótica
Nuno Coelho – Universidade de Coimbra

Todo o regime político é suportado por um aparelho propagandístico, visto não apenas enquanto um simples dispositivo informativo, mas como um dispositivo homogeneizador de opinião. A doutrina e ideologia de um regime político passam inevitavelmente pela iconografia que este produz. Quando um Estado sofre uma brusca mudança de regime é natural que a iconografia existente seja rapidamente substituída por um novo léxico visual. Na mudança de um regime ditatorial para um regime democrático as imagens tornam-se instrumentos usados por partidos políticos, mas também por outras organizações e movimentos sociais para transmitir as suas ideias e mensagens. Na Tunísia, a intensa campanha de resistência civil que derrubou o regime de Ben Ali abriu caminho para as primeiras eleições livres do novo Estado, onde participaram centenas de partidos e listas de candidatos. Que nova iconografia tem transmitido a mudança profunda de um povo que viveu mais de duas décadas de ditadura e que agora começa a conviver em democracia?

Nuno Coelho é designer de comunicação e docente nos cursos de Licenciatura e Mestrado em Design e Multimédia da Universidade de Coimbra. Vive no Porto. Doutorando em Arte Contemporânea na Universidade de Coimbra. Master em Design e Produção Gráfica pela Universidade de Barcelona. Licenciado em Design de Comunicação e Arte Gráfica pela Universidade do Porto. Como designer desenvolveu trabalhos para diversas entidades na Alemanha, Espanha, Etiópia, Noruega, Palestina, Portugal e Reino Unido. Apresentou o seu trabalho em exposições e palestras na Alemanha, Austrália, Áustria, Brasil, Espanha, Grécia, Itália, México e Portugal. www.nunocoelho.net

 

15h50 – 16h10

Pausa

Projeto Al-Kafiye
Tarek Atrissi – Fundação Kaflab

O Kafiye (tradicional lenço de cabeça para homens) é o símbolo mais poderoso oriundo do mundo árabe contemporâneo. Caminhando pelos domínios da rua, da política, da revolução, das indumentárias tradicionais, das tendências e da passarela, o Kafiye transcendeu a sua forma e as suas várias funções, tornando-se mais do que um simples objeto. E se em 2009, o Kafiye era apenas um tópico de pesquisa para dissertações, em 2012 morfoseou-se num tema muito oportuno. Para levarmos mais longe a nossa visão, criámos o Kaflab, Fundação cujo objetivo é aplicar o pensamento sobre design (desconstruindo para depois reconstruir) à identidade árabe. Ao criar uma plataforma de designers e a possibilidade de contar uma história diferente, queremos iniciar um discurso sobre um assunto manchado por estereótipos e negativismo, e muito embrulhado com a religião. Na nossa apresentação desvelaremos um projeto ambicioso que inclui um website, um evento, uma exposição e um livro. Estamos prontos para o plano B – ou antes: para o plano Kaf.

Kaflab (Tarek Atrissi e Hala Malak) KAFLAB é uma Fundação que se dedica à re-definição da identidade árabe através do design. Partindo da questão inicial – “O que é árabe” --, o Kaflab analisa os elementos, os símbolos e os ícones que realmente definem esta cultura tão rica. O Kaflab foi co-fundado por Hala A. Malak (crítico de design) e por Tarek Atrissi, que o representarão. Atrissi dirige um preeminente estúdio de design sediado nos Países Baixos, o Tarek Atrissi Design, especializado em design, marcas e tipografia árabes.