Logótipo Próximo Futuro

As Cidades

2º workshop de investigação

25 Fev 2010 - 9:30 – 17:30

Auditório 3

Entrada livre

Mais, ou tanto quanto os países, as cidades são hoje os centros da vida contemporânea; nelas se concentram as actividades económicas, culturais, financeiras; é para elas que se pensam os sistemas de vigilância e as formas de integração de minorias e dos migrantes. As cidades são palcos dos maiores protagonismos políticos e das experiências artísticas e sociais. As cidades são dinâmicas quando são contemporâneas e por isso são um work-in-progress com as suas obras públicas, os aeroportos em expansão, os cais e as estações de caminho de ferro refeitos como mini-cidades. Sobre as cidades se especula se devem orientar-se de uma forma policêntrica ou monocêntrica.

Pauliana Pimentel (Cortesia Galeria 3+1)

9h30 - 13h00

Convite para as paisagens literárias urbanas (pdf)

Ana Isabel Queiroz (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional/ FCSH - UN)

Comentador: Rita Patrício (CEH/UM)

O Instituto de Estudos de Literatura Tradicional (IELT) desenvolve um projecto de investigação interdisciplinar, com uma forte componente pedagógica, de divulgação e de apoio à decisão sobre a política de paisagem, denominado “Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental”. Nele se pretendem identificar as representações da paisagem retratadas por escritores dos séculos XIX e XX, e relacioná-las com referenciais geográficos à escala regional e local. O projecto visa potenciar a recíproca valorização das obras literárias e das paisagens que nelas se representam e contribuir para o conhecimento do património natural e cultural português, para a implementação da Convenção Europeia da Paisagem, e para a melhoria da literacia ambiental.

Mais do que uma apresentação do projecto, esta comunicação é um convite aos investigadores de diferentes áreas disciplinares para se associarem ao IELT na exploração do manancial literário que constitui o corpus do projecto, particularmente no âmbito das paisagens urbanas. 

Apesar de a perspectiva ecocrítica privilegiar a reflexão sobre os ambientes naturais e as paisagens rurais, este projecto assume, tal como o enquadramento legal em vigor (Decreto nº4/2005 de 24 de Fevereiro), que a paisagem é um valor em si mesmo, e que a responsabilidade da sua preservação não distingue tipologias. Ao contrário, para cada uma das paisagens identificadas, naturais ou construídas, rurais ou urbanas, ordinárias ou extraordinárias, preservadas ou degradadas, o desafio centra-se na definição dos objectivos de qualidade paisagística.

O que desejamos, afinal, para as cidades num Próximo Futuro? Tanto a compreensão da identidade de cada lugar como as decisões participadas e informadas sobre o destino do ambiente que nos rodeia vivem de memórias, ideias e visões. E para elas contribuem também as paisagens literárias.

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Viver a cidade: mundos de fragilidade e força (pdf)

Francesca Negro e Manuela Carvalho (Centro de Estudos Comparatistas/ UL)

Comentador: Teresa Marat Mendes e Pedro Costa (Dinâmia-CET/ISCTE)

Esta comunicação visa reflectir sobre questões relativas à transformação da cidade como entidade viva, espaço identitário e cultural, até à moderna cidade museu, com deslocações dos seus habitantes, a redistribuição da população e a criação de aglomerados habitacionais pré-configurados, alheios ao território e à sua fragmentação. De que forma a fragilidade dos espaços urbanos – que dizem a ausência identitária e sublinham fracturas sociais – determina a percepção que o sujeito tem da cidade e a forma como com ela se relaciona?

No presente procura-se um lugar que conserve a dimensão do quotidiano, onde subsista um espaço propício à intervenção (Levinas), sobre o qual o sujeito possa agir, no qual se possa projectar, lugar de convergência entre o individual e o colectivo – a Polis. Mas como encontrá-la por entre a Urbs contaminada pelo delírio de gigantismo e sobrexposição?

Partindo destas reflexões teóricas, e de uma concepção de cidade sem mapas, “porosa”, activa, indissociável da experiência (Lefebvre), pretende-se, na segunda parte desta comunicação, analisar um fenómeno artístico específico de Lisboa, que permita uma reflexão sobre a cidade como espaço criativo e em permanente devir, dependente das interpretações que os indivíduos fazem do espaço que habitam, com vista a torná-lo um território.

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Valorização do património na cidade contemporânea: Dois casos de estudo no Centro Histórico da Praia em Cabo Verde (pdf)

Lourenço Gomes (Centro de Estudos Africanos/UP. Universidade de Cabo Verde)

Comentador: Maria Cardeira da Silva (CRIA/ ISCTE, UC, UM, UNL)

A análise das qualidades estéticas de edifícios, reconhecidos como monumentos de elevado valor patrimonial, como são dois casos identificados no Centro Histórico Cidade da Praia, permite-nos realçar o valor simbólico expresso neste tipo de elemento da cultura material numa urbe.

Algumas particularidades evidenciadas nas duas residências senhoriais em estudo demonstram a resistência e sobrevivência das mesmas no tempo, ante os impulsos resultantes da indiferença face ao património histórico. Por que uma e outra, embora em diferentes estados de conservação, veiculam memórias representativas de uma realidade histórica concreta e imortalizam gostos estéticos desejáveis em todos os tempos, impõe-se que sejam ambas salvaguardadas.

Esta atitude corresponde aos princípios inerentes a uma relação positiva com a herança patrimonial, compatível com a mentalidade herdada das ideias de Viollet-le-Duc (século XIX). Este paradigma da conservação de bens, com valor histórico-cultural, engendrou o moderno interesse pelo património arquitectónico urbano, pela reabilitação de centros históricos e pela sua revitalização, na procura de, entre outros fins, a dinamização sócio-cultural e assim fazer-se face a ambiguidades associadas à dinâmica das cidades no nosso tempo.

Palavras-chave:

Cidades contemporâneas, monumentos históricos, valorização da herança patrimonial.

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Os Muçulmanos em suas cidades (pdf)

Autoria colectiva (CRIA/ ISCTE, UC, UM, UNL)

Comentador: João Sousa Morais (CIAUD/UTL)

As preocupações ocidentais sobre cidades e cidadania muçulmanas progrediram entre propostas de um modelo islâmico de cidade, o questionamento da existência de uma cidade islâmica, a progressiva focagem de interesse nos movimentos sociais e religiosos urbanos em cidades islâmicas e o crescente enfoque na cidadania dos muçulmanos na Europa. Entretanto, também as cidades de contextos maioritariamente islâmicos, empreenderam historicamente processos de outrificação e se confrontaram e confrontam com a diversidade cultural, frequentemente expressa em termos religiosos. Nem umas, nem outras, assim mutuamente constituídas, se têm empenhado em cruzar experiências históricas de urbanidade mais ou menos recente com vista a resolver problemas decorrentes de uma alteridade cada vez mais reificada com base na religião. Neste texto, a produzir colectivamente por membros do Núcleos de Estudos em Antropologia em Contextos Islâmicos do CRIA, pretendemos estirar a reflexão sobre muçulmanos em suas cidades, velhas e novas, em diferentes continentes, de população maioritaria ou minoritariamente muçulmana, sustentando-a em etnografias de encontros diversos e singulares, argumentando que um pensamento exclusivamente formatado pelo princípio da alteridade religiosa, estribado em mapas culturais, e balançando-se entre entretantos, não é produtivo mas reprodutivo da realidade que pretende objectivar e logo, pouco útil para projectar boas cidades e novas maneiras de habitá-las.

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Cartografias do desejo: a cidade como o espaço do outro (pdf)

(e alguns apontamentos sobre a cidade no cinema moçambicano)

Mirian Tavares/Sílvia Vieira (CIAC/ ESTC, UAlg)

Comentador: Helena Pires (CECS/ UM)

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

Mário Quintana

Caio Fernando Abreu, ao falar da sua cidade de origem, escreveu: “Moro no Menino de Deus, do qual Porto Alegre é apenas o que há em volta”. Para este autor, a sua cidade não é o todo que está em volta, mas seu cantinho, seu bairro, seu microcosmo. E assim fala-nos da nossa relação com a cidade – ela é metonímica. Criamos a nossa própria cartografia, que se compõe de fragmentos que montamos através do traçado do nosso desejo. Saio do bairro se meu desejo está além, mas minha casa, minha cidade é bem mais pequena e circunscrita não só geográfica mas também emocionalmente.

Para montar o puzzle, que é o espaço urbano, caminhamos orientados por peças fundamentais que destacamos de todo o resto. E todo o resto fica à margem. Como no cinema, o que não nos interessa está fora de campo. Desta maneira a minha cidade é só minha, não posso compartilhá-la, porque ela existe apenas em mim. A outra cidade, ou a cidade “real”, é sempre um espaço outro, onde caminho mas nem sempre me revejo. A psicanalista Maria Rita Kehl diz que a cidade é o berço do homem comum – anónimo, parte da multidão. Espaço ideal para o esquecimento quotidiano e necessário diante da fugacidade da experiência num espaço em constante mutação.

A cidade real é o espaço da alteridade, onde não reconhecemos aqueles com quem cruzamos todos os dias. São invisíveis (como nós). Assim, pretendo analisar o espaço urbano como o local do reconhecimento da fractura do homem contemporâneo, local de vivências diversas e da experiência constante do esquecimento: do outro, de nós, daquilo que nos rodeia. Na segunda parte deste trabalho será apresentado um apontamento sobre dois espaços que se confundem como marca da modernidade no continente africano: a cidade e o cinema. Neste caso, a cidade no cinema moçambicano. De que maneira a experiência urbana ocidental altera o olhar daqueles que têm histórias diferentes para contar.

A arte, conforme Lyotard, não diz o indizível, mas diz que não pode dizê-lo. Vamos então percorrer, através de alguns filmes do cinema moçambicano, como é composto este espaço urbano. O cinema, que não pode dizer o indizível, mostra. Revela em sua própria montagem, em sua essência de fragmentos que são recompostos, uma dor que não pode ser sublimada, mas que habita os habitantes, muitas vezes invisíveis destas cidades.

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O mundo é ‘enrugado’: as cidades e os seus múltiplos territórios (pdf)

Renato Miguel do Carmo (CIES/ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa)

Comentador: Ana Soares (CIAC/ ESTC, UAlg)

Com a globalização e a intensificação do capitalismo financeiro anunciaram-se um conjunto de metáforas segundo as quais o espaço tenderia a comprimir-se e a esvaziar-se nas sociedades contemporâneas, sendo gradualmente substituído pela generalização dos fluxos e das redes electrónicas. O mundo não só se tornaria cada vez mais plano e comprimido, como a crescente velocidade anularia a experiência concreta do lugar, que tradicionalmente ancorava o conteúdo das interacções sociais. Do ponto de vista teórico, as perspectivas da individualização e da modernidade líquida, encabeçadas por autores como Ulrich Beck e Zygmunt Bauman, contribuíram para esta anulação do espaço enquanto dimensão a ter em conta na análise sociológica, na medida em que deram primazia aos factores de descontextualização das relações e até dos processos sociais. Paralelamente, tem se vindo a assistir a uma efectiva despolitização dos lugares e dos territórios, como se estes caminhassem para uma certa ‘indiferenciação’, por ex.: o rural que já não existe ou que tende a ser engolido pela onda avassaladora e uniforme da urbanização. Esta comunicação pretende apresentar uma outra visão das cidades e dos seus territórios perspectivando-os como espaços ‘enrugados’ no interior dos quais se desencadeiam processos contraditórios que coexistem em constante tensão. Focaremos, nomeadamente, a tensão produzida entre os processos de crescimento económico e financeiro que se verificam nas maiores cidades do mundo ocidental e a consequente intensificação da polarização social expressa no aumento das desigualdades sociais e territoriais.   

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Das Cidades Criativas à Criatividade Urbana? (pdf)

Espaço, Criatividade e Governança na Cidade Contemporânea

João Seixas (Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa)

Pedro Costa (Dinâmia-CET/ ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa)

Comentador: Teresa Barata Salgueiro (CEG/UL)

Este texto foi desenvolvido no âmbito de um projecto de investigação que procura observar e interpretar formas e fluxos de governança (sociopolítica e cultural) associadas a dinâmicas criativas (e cumulativas) nas cidades e em territórios pró-urbanos: o projecto “Creatcity”. Resulta, nesse sentido, de um primeiro trabalho de reflexão teórica (e crítica) de conceitos de base (tais como os de criatividade, vitalidade e governança na cidade), e da projecção empírica de tais perspectivas através de um conjunto de entrevistas realizadas a actores-chave no pensamento e na acção em torno da cidade contemporânea (decisores políticos, estruturas oficiais, actores da sociedade civil) em 3 territórios metropolitanos: Lisboa, São Paulo e Barcelona. O passo empírico seguinte (aqui ainda abordado) foi o de analisar 10 estudos-de-caso em realidades diversas destas 3 metrópoles.

A conjugação da análise conceptual com a empírica procura não só identificar as diferentes perspectivas em torno dos conceitos de criatividade urbana e de cidade criativa, e das dinâmicas de conectividade entre criatividade, vitalidade e competitividade em meio urbano; mas também as condições estruturantes para o desenvolvimento sustentado de criatividade na cidade de hoje, quer no que concerne às suas possíveis configurações espaciais/geográficas, mas também no âmbito dos ambientes culturais e das actividades económicas que lhes podem estão associadas. Paralelamente, equacionam-se formas de promoção e de apoio público e privado da criatividade urbana, discutindo-se estratégias políticas e processos de governança para a sua potenciação.

A importância de elementos sociais como os tipos de actores, e de elementos urbano-espaciais como a proximidade, a diversidade e as práticas de mobilidade e de dinâmica quotidiana; as estruturas organizacionais mais ou menos rígidas; os diferentes papéis e pró-actividade dos aparelhos governamentais mais locais no fomento da criatividade; são alguns dos factores que assumem vital relevância para as esferas da governança da criatividade nas cidades contemporâneas.

Palavras-chave: Criatividade; Governança Urbana; Cidades Criativas; Lisboa, São Paulo; Barcelona

14h30 - 17h30

CONVIDADOS INTERNACIONAIS

Raul Antelo (Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil)

De cidade/city/cité a Babel (pdf)

Comentador : José Maria Carvalho Ferreira (SOCIUS/ISEG)

A cidade configura uma rede incessante de deslocamentos e usos, não apenas do próprio e do alheio, mas também do público e do privado. Neles toda noção de origem é meramente ilusória já que a ação deriva da intervenção de forasteiros. São eles, em seu nomadismo, que mostram o trânsito ininterrupto da natureza à cultura e, além do mais, de uma a outra cultura, a passagem de uma a outra técnica, sempre exibindo o enigma de um percurso sem fundação nem orientação final: uma circulação que não cessa de atiçar e, ao mesmo tempo, contrariar uma necessidade de dominar o espaço, mediante uma reivindicação irrecusável quanto à justa partilha desse domínio, para rechaçar, enfim, toda apropriação comunitária irreversível. Na arte moderna, os ensaios de Marcel Duchamp para cubificar uma cidade modernizada são, nesse sentido emblemáticos por postularem a máquina contra a estrutura, idéia que, esboçada em Bergson, tornar-se-á decisiva no pensamento pós-estrutural. Duchamp não intervém nem para a memória, nem para a representação da experiência, mas para abolir a dimensão sagrada e regrada do espaço urbano e assim nos propõe uma primeira versão pós-literária da cidade ocidental, uma iconologia (ou, talvez, até mesmo uma icnologia) do intervalo euro-americano. Ele nos desvenda Babel, isto é, a pós-história. Seu herdeiro será Roger Caillois, quem também abandona a robusta tradição mimética da metrópole, ainda presente em seu ensaio “Paris, mito moderno”, para pensar em Babel, a antropofágica cidade latino-americana, onde se abriga da guerra. È nela onde testa sua teoria das loterias culturais ou da organização para-estatal, tão ou mais eficiente do que o próprio Estado, que não são apenas a prefiguração do contemporâneo, mas também a possibilidade de pensar a cidade como tradutibilidade incessante, um eterno começo decididamente pós-fundacional.

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Xavier Vilalta (Xavier Vilalta Studio, Barcelona)

Melaku Center (apresentação de caso prático) (pdf)

Comentador: Rita Raposo (SOCIUS/ ISEG)

O Melaku Centre será um novo centro de educação, trabalho e projecção dos habitantes da cidade de Mekelle, capital de Tigray, região situada no norte da Etiópia. Deverá ser um modelo de referência de desenvolvimento sustentável em África, desde o desenho do projecto ao programa que o prevê. O projecto consistirá num ecossistema auto-suficiente de conhecimento, desenvolvimento e recursos naturais. A geometria do planeamento do projecto é baseada numa malha fractal, uma estratégia comum na arquitectura africana. As salas de aulas organizam-se em pequenos grupo de três ou quatro volumes. Tendo em conta o clima e a arquitectura local, os espaços exteriores são os mais relevantes e todas as salas de aulas têm ventilação natural cruzada. As zonas verdes do centro integrarão espécies locais e todos os edifícios do projecto incorporam sistemas de energia e de reciclagem, para que este centro seja um exemplo de desenvolvimento para o futuro de África.

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Nelson Brissac (Universidade Católica de S. Paulo, Brasil)

Megacidades – novas configurações urbanas (pdf)

Comentador: Kristian van Haesendonck (CEC/ UL)  

A megacidade é resultado de um processo de desenvolvimento assimétrico e desigual. Investimentos intensivos em enclaves corporativos e habitacionais convivem com o abandono de vastas regiões da cidade. Nestas áreas proliferam favelas, comércio de rua, atividades de reciclagem e outros modos informais de ocupação do espaço urbano. Aí diversos grupos sociais desenvolvem dispositivos de sobrevivência, equipamentos para habitar e operar na grande metrópole. Artistas e arquitetos têm elaborado projetos baseados na ativação desses espaços intersticiais e na diversificação do uso da infra-estrutura. Propostas que, em grande medida, retomam procedimentos engendrados pelas populações itinerantes que ocupam esses vazios urbanos. Projetos que visam detectar a emergência de novas condições urbanas, identificar suas linhas de força e instrumentalizar seus agentes.