A Felicidade
5 Nov 2010 - 9:30 – 17:30
Auditório 3
Entrada livre
O workshop de investigação Próximo Futuro do mês de Novembro, feito em colaboração com o Programa Gulbenkian Ambiente, é dedicado à Felicidade. O tema é passível de múltiplas abordagens, quer disciplinares, quer culturais, no que pode ser o histórico ou a experiência de grupos. O facto do Programa Gulbenkian Ambiente se ter associado a este workshop é uma mais-valia e reforça outras possibilidades de equacionar a Felicidade porquanto a problemática do Ambiente estar associada a um uso equilibrado dos recursos naturais e a uma crítica necessária ao modo de vida baseado no consumo como táctica para se ser feliz. Uma política que reequacione o consumo obriga a abordagens novas a este tema clássico e regularmente tratado como a primeira das utopias.
REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS DA IMAGEM DA FELICIDADE (pdf)
Alda Correia
CEAUL - Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa
As concepções de felicidade tomam, desde o aparecimento das primeiras sociedades humanas, até aos dias de hoje, as formas mais diversas. O estado de felicidade (ou mais precisamente a sua ausência) foi associado quer a um destino inexorável, na Antiguidade Clássica, quer à capacidade de aceitação do sofrimento em troca de um paraíso celeste, durante a Idade Média, quer ao desejo humanista de dar ao indivíduo dignidade e liberdade. A partir do século XVIII, a felicidade começa a ser vista como um estado de espírito que o ser humano tem o direito de procurar obter e ao longo do século XIX a arte e as estruturas sociais estarão também presentes na transformação do conceito. O séc XX aborda a felicidade do ponto de vista biológico, do ponto de vista da psicologia positiva ou da economia da felicidade, por exemplo com o paradoxo de Easterlin. Procuraremos mostrar como a imagem da felicidade é representada, em alguns textos literários, como expressão de um talento individual mas também de um momento específico da evolução cultural do conceito.
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Luis Miguel Neto
Instituto de Estudos de Literatura Tradicional e Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
Helena Águeda Marujo
Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
A “ciência da felicidade”, integrada no domínio da Psicologia Positiva, ganhou uma relevância inusitada na última década. Esta comunicação apresenta os dados de 3 estudos nacionais sobre felicidade: (1) 65 entrevistas a pessoas a viver em situação de pobreza; (2) Web survey com 400 pessoas de diferentes pontos do país; (3) 165 entrevistas a estudantes universitários sobre Nações Positivas. O cruzamento dos dados indicia concepções ricas, profundas, relacionais e cívicas de felicidade, e acções pró-activas úteis e eficazes na construção da felicidade pessoal. Os dados são analisados à luz da questão: “Será que as nossas vidas felizes terão de custar-nos o planeta?”
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SÃO PAULO, CIDADE LIMPA: ESTUDO DE CASO (pdf)
Helena Pires
CECS - Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade/ Universidade do Minho.
As formas sensíveis que se interpõem à experiência quotidiana de circulação pelo espaço urbano encontram na publicidade exterior um dos seus meios mais propícios ao exercício da vida social. Porém, a publicidade exterior impõe-se numa relação dialógica nem sempre pacífica, entendida como uma ameaça à ordem (desordem) da cidade percebida. Poderá a publicidade deixar de querer afirmar o lugar da persuasão, da sedução e da poética no quadro da vida urbana contemporânea?
Em 26 de Setembro de 2006, a Câmara Municipal de São Paulo, no Brasil, aprovou a Lei Cidade Limpa, visando a proibição da publicidade exterior. Desde então, uma acérrima polémica tem ocupado cidadãos, políticos, arquitectos, urbanistas, publicitários, bem como artistas, entre diversos tipos de interlocutores, na defesa de pontos de vista por vezes radicalmente irreconciliáveis. É nossa convicção que subjacente a uma tal discussão se encontram diferentes noções de felicidade, individual ou colectiva, que na sua particular aplicação ao espaço e cultura da cidade importa cartografar.
Palavras-chave: espaço urbano; publicidade exterior; felicidade
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ELIMINAR O MEDO. OS RISCOS GLOBAIS E OS DE MECANISMOS DE GARANTIA DE FELICIDADE DOS ESTADOS (pdf)
José Vegar
CIES – ISCTE/IUL
Na nossa comunicação, iremos partilhar o conceito de risco global de Beck, como uma das hipóteses de conhecimento de uma sociedade contemporânea dominada pela globalização e pela interdependência política, económica e tecnológica. Neste contexto, tomaremos como válida uma das propostas mais recentes de Appadurai, a da divisão entre entidades “vertebradas”, os Estados Nação, ainda presas aos protocolos e modos de regulação e acção tradicionais, e entidades “celulares”, como as organizações terroristas e criminosas globais. Temos então, a partir daqui, espaço para desenvolver uma reflexão sobre as estratégias de resposta das entidades vertebradas, gerando o que Amoore e De Goede chamam de “pequenas soberanias”, em nome da garantia de segurança total. Assim sendo, lançaremos a hipótese de que esta estratégia de segurança total, de manutenção da felicidade dos cidadãos, pode gerar novos perigos.
Palavras Chave: Risco global – pequenas soberanias – segurança total
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RESPONSABILIDADE AMBIENTAL COMO UMA VIRTUDE. UM POSSÍVEL CAMINHO PARA A 'BOA VIDA'? (pdf)
Sofia Vaz
Cense, Universidade Nova de Lisboa
Olivia Bina
Instituto Ciências Sociais, Universidade de Lisboa
Comentário: Diana Almeida (CEAUL)
Pensar a responsabilidade como uma virtude é um meio através do qual podemos desenvolver um conceito alternativo de “boa vida”, contribuindo assim para a agenda da felicidade sob uma perspectiva diferente. Este enquadramento aristotélico da “boa vida” potencia uma cidadania ambientalmente activa. Colocando a responsabilidade ambiental no centro da noção de “boa vida” cria novos espaços que favorecem reflexividade relativamente ao que é verdadeiramente bom para as pessoas, para o planeta, para as gerações futuras, para todas as espécies.
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CONVIDADOS
A FELICIDADE ESTÁ À VENDA? (pdf)
Frederico Duarte
Aceder ao mundo através de um telemóvel de última geração ou de um par de óculos ajustado às nossas necessidades. Mais um vestido de alta costura ou a primeira máquina de lavar. Morar num condomínio privado, viver numa das páginas do catálogo do IKEA ou simplesmente dormir sob um tecto que resista às tempestades. O que nos faz verdadeiramente feliz?
Qual é o papel da felicidade, em design definida como o ponto de encontro entre o querer e o precisar, na criação das paisagens visuais e materiais do nosso mundo globalizado?
De que forma os fluxos de comunicação, emigração e imaginação entre mundo desenvolvido e em desenvolvimento influenciam a procura, e prática, de um projecto de felicidade?
Este é um dos mais complexos, ambiciosos e fascinantes desafios para os designers de hoje. Através de exemplos de produtos e serviços projectados em, e para, partes diversas do globo, colocaremos perguntas difíceis, mas também descobriremos soluções simples que têm vindo a responder a esse desafio.
Frederico Duarte
Frederico Duarte (1979) estudou design de comunicação e trabalhou como designer gráfico em Portugal, Malásia e Itália. Em 2010 concluiu o mestrado em crítica de design na School of Visual Arts em Nova Iorque. Entretanto, e entre outras coisas, fez parte da equipa da Experimentadesign durante vários anos. Desde 2006 tem vindo a escrever artigos e ensaios, contribuir para livros e catálogos, dar palestras e workshops, comissariar exposições e organizar eventos sobre design e arquitectura.
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FELICIDADE
Eduardo Gianetti da Fonseca
Discutir a felicidade significa refletir sobre o que é importante na vida. Significa ponderar os méritos relativos de diferentes caminhos e pôr em relevo a extensão do hiato que nos separa, individual e coletivamente, da melhor vida ao nosso alcance. As promessas que nos foram legadas pelo iluminismo europeu cumpriram-se apenas pela metade. Veio o progresso técnico e, com ele, um maior domínio da natureza e um aumento gigantesco nos níveis de produtividade, renda e consumo. Descobrimos, porém, que a estrada do progresso não só agride o equilíbrio ecológico como se mostrou incapaz de nos conduzir a ganhos expressivos de bem-estar subjetivo. Por quê? O que havia de errado e o que permanece vivo no projeto iluminista de conquista da felicidade por meio do progresso científico e material? Até que ponto as nossas escolhas têm conduzido à criação de condições adequadas para vidas mais livres e dignas de serem vividas? Que lições tirar das conquistas e desacertos das nações que lideram o processo civilizatório? A civilização entristece o animal humano? Qual deveria ser o peso do prazer na busca da felicidade e qual deveria ser o lugar da felicidade na melhor vida? O conhecer modifica o conhecido, o viver modifica o vivido. As questões da filosofia estão sempre voltando ao ponto de partida.
Eduardo Gianetti da Fonseca
Eduardo Gianetti da Fonseca é economista e cientista social. É professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – IBMEC São Paulo. Foi professor na Universidade de Cambridge entre 1984 e 1987 e na Universidade de S. Paulo entre 1988 e 2000. Em 2004 recebeu o prémio de Economista do Ano da Ordem dos Economistas do Brasil. Tem publicado diversas obras, como ”Beliefs in action” (Cambridge University Press, 1991), ”Vícios privados, benefícios públicos?” (Companhia das Letras, 1993), ”Auto-engano” (Companhia das Letras, 1997), ”Felicidade” (Companhia das Letras, 2002) ou ”O Valor do Amanhã” (Companhia das Letras, 2005).
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CHRONIQUE D’UN ÉTÉ
Viriato Soromenho Marques
Coordenador do Programa Gulbenkian Ambiente
Análise e comentário ao filme Chronique d’un Été de Edgar Morin e Jean Rouch (1961)
(v.o. em francês, sem legendas)
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