Logótipo Próximo Futuro

Lições (Parte 1)

Tradução simultânea disponível

13 Mai 2011 - 9:30

Auditório 2

Entrada livre

Com Patrick Chabal, que apresenta a comunicação "Racionalismo ocidental depois do pós-colonialismo", Kole Omotoso, com "A ambiguidade perigosa da tribo Wabenzi: Áfricas dos Próximos Futuros", e de Yudhishthir Raj Isar, com a "Política Cultural: enfrentando uma hidra".

Patrick Chabal; copyright: Catarina Botelho

AVISO: Por motivos alheios ao Programa Gulbenkian Próximo Futuro, a conferência com Breyten Breytenbach foi cancelada. Por este motivo pedimos desculpas.

9H30 

Patrick Chabal (França)

«Racionalismo ocidental depois do pós-colonialismo»

O futuro do Ocidente está estreitamente ligado ao do mundo não ocidental. As questões ambientais que o mundo enfrenta e o crescimento inexorável do poder económico da China e de outros países asiáticos fazem com que o Ocidente não possa olhar "para o que vem a seguir" da mesma forma que o fazia antes. Mas o desafio é bem mais profundo do que o actual debate sobre o "declínio do Ocidente" sugere. A minha intervenção centrar-se-á no modo como o desafio pós-colonial colocado à perspectiva que o Ocidente tem do mundo e a influência de cidadãos não ocidentais a viver no Ocidente se juntaram para evidenciar os limites daquilo a que posso chamar o racionalismo ocidental - com o que me refiro às teorias que utilizamos para entender e agir sobre o mundo. A incapacidade crescente do pensamento social ocidental para explicar de forma plausível e abordar com êxito algumas das suas questões sociais e económicas, e alguns dos desafios contemporâneos cruciais a nível da política internacional, deixaram a nu a inadequação das ciências sociais do Ocidente à medida que se foram desenvolvendo nos séculos subsequentes ao Iluminismo. Aquilo de que o Ocidente precisa, mas que ainda não aceitou, não é de mais e melhor teoria, mas de uma nova forma de pensar.

Patrick Chabal

Patrick Chabal é francês e estudou em França, nos EUA e na Grã-Bretanha. Fez investigação e deu aulas na Universidade de Cambridge (onde se doutorou em Ciências Políticas) e é actualmente professor no Departamento de História do King's College (Londres). Para além disso, foi professor visitante em Itália, em França, na Suíça, na Índia, em Portugal, na Venezuela e na África do Sul. Está envolvido num projecto a longo prazo em que se conjuga o estudo da cultura na política comparada e a pesquisa da teoria das ciências sociais. Entre as obras que deu à estampa, muitas delas traduzidas para diversas línguas, incluem-se: Amílcar Cabral (1983), Power in Africa (1992), Vozes Moçambicanas: Literatura e Nacionalidade (1994), The Postcolonial Literature of Lusophone Africa (1996), Africa Works: Disorder as Political Instrument (1999), A History of Postcolonial Lusophone Africa (2002), Culture Troubles: Politics and the Interpretation of Meaning (2006), Angola: The Weight of History (2008), Africa: The Politics of Suffering and Smiling (2009). Em 2012, deve sair The End of Conceit: Western Rationality after Postcolonialism.

11h00

Kole Omotoso (Nigéria)

A ambiguidade perigosa da tribo Wabenzi: Áfricas dos Próximo futuros

A descolonização marcou o início da sociedade industrial moderna, tanto no que se refere àqueles que lutaram contra ela como aos que eram a favor dela. Na América do Norte, na América do Sul, na Ásia e em África os povos descolonizados e os descolonizadores na Europa e no Sudeste Asiático tiveram uma nova oportunidade para reorganizar o mundo. Os EUA emergiram na América do Norte; o Japão apareceu no Sudeste Asiático, levando consigo os locais que antes tinha ocupado, colonizado e explorado. A América do Sul ainda está a lutar para aparecer. O Norte de África e o Médio Oriente viram o futuro como o regresso às glórias pretéritas do Islão. Os Árabes eram grandiosos quando o Islão foi grandioso. O Islão precisava de ser novamente grandioso para que os Árabes recuperem a sua grandeza. Na África a sul do Saara, incluindo o Haiti, o futuro foi uma rejeição total do seu passado de escravatura, colonização e exploração por parte da Europa e da América do Norte. A nível nacional, estados como o Haiti (1804), Nigéria (1960), África (1994) e Sudão do Sul (2011) aprovaram leis que combateram o passado em vez de os direccionarem para o futuro. É como se a experiência de escravatura, colonização e pilhagem de recursos abrangesse a totalidade da sua história. Qualquer coisa que seja proveniente da Europa e da América do Norte é rejeitada quase de imediato. Mas, a nível pessoal, existe a ambiguidade do consumismo sem sequer haver a pretensão de substituir a importação. A expressão cultural é a de um período de anomia subsequente à descolonização. Romances como Things Fall Apart e No Longer at Ease, de Achebe, The Beautyful Ones are Not Yet Born, de Ayi Kwi Armah, No Sweetness Here, de Ama Ata Aidoo, e Season of Anomy, de Wole Soyinka, dizem tudo. Há ainda My Mercedes is Bigger than Yours, de Nkem Nwankwo. As questões culturais que estes romances abordam ― ressentimento, auto-estima e vingança ― não se resolvem através do suicídio ou da emigração do indivíduo africano para a Europa ou a América do Norte. A Europa e a América do Norte têm de ajudar o Africano a sentir menos ressentimento, a recuperar a sua auto-estima, pela compreensão de que a escravatura, a colonização e a pilhagem de recursos não constituem a totalidade da experiência africana e de que o melhor reside no futuro. (A tribo WaBenzi é classe moderna africana que possui um Mercedes!)

Kole Omotoso

Kole Omotoso nasceu em Akure (Nigéria), em 1943, e vive em Joanesburgo (África do Sul). Estudou no King's College de Lagos, na Universidade de Ibadan, antes de se doutorar em Teatro e Cinema Árabe Contemporâneo na Universidade de Edimburgo. Regressou à Nigéria para leccionar nas universidades de Ibadan e de Ife (mais tarde chamada Obafemi Awolowo University). Prosseguiu a carreira académica na Escócia, no Lesoto e na África do Sul: leccionou na University of the Western Cape (Cidade do Cabo) e na University of Stellenbosch. Entre as suas obras incluem-se The Combat (1972), Just Before Dawn (1988), Season of Migration to the South (1994), Achebe or Soyinka: a study in contrasts (1996). O livro de memórias Witness to Possibilities aguarda publicação (África do Sul, Setembro de 2011; Nigéria, Julho de 2011).

14h30

Yudhishthir Raj Isar (França)

«Política Cultural»: enfrentando uma hidra

A expressão «política cultural» tornou-se um guião global mas, como quase todas as palavras relacionadas com o conceito contemporâneo de 'cultura', a «política cultural» é entendida de formas muito diversas. Estas noções são muitas vezes utilizadas em relação com outros tropos contemporâneos, como 'identidade', 'democracia' ou 'direitos'. Assim, constituem corpos de conhecimento e de prática motivados por tensões e paradoxos e cujo ordenamento pode ser tão esclarecedor quanto obscuro. Algumas destas questões serão abordadas numa perspectiva internacional e transcultural.

Yudhishthir Raj Isar é um analista cultural independente, assessor e conferencista. É professor de Estudos de Políticas Culturais na Universidade Americana de Paris, Maître de Conférence no Institut d’Etudes Politiques e professor visitante noutras universidades. É co-editor e fundador da The Cultures and Globalization Series. Foi presidente da plataforma Culture Action Europe (2004-2008). É membro e/ou assessor de organizações na Europa, América do Norte e Ásia; consultor em fundações privadas, organizações intergovernamentais e na Comissão Europeia. Durante três décadas foi broker of ideas na UNESCO, onde desempenhou as funções de secretário executivo da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento e de director e do Fundo Internacional para a Promoção da Cultura.