“All Power to the People. Então e Agora: a arte revolucionária de Emory Douglas e os Panteras Negras” na Zé dos Bois
Publicado3 Mar 2011
ALL POWER TO THE PEOPLE. ENTÃO E AGORA. from Galeria Zé dos Bois on Vimeo.
Oportunidade única para conhecer ao vivo alguma documentação e material artístico do Black Panther Party a partir da produção do seu Ministro da Cultura entre 1967 e 1982: Emory Douglas.
A exposição abre ao público na galeria ZDB – Zé dos Bois, um espaço com uma programação particularmente interessada na complexa relação entre arte e política, cujo nome é inclusive adoptado (em jeito de tradução literal, “aportuguesada”) do próprio nome do também revolucionário artista Joseph Beuys. Em Lisboa, não podia ser num lugar melhor, que inclusive acolheu há pouco tempo o lendário poeta e activista Gerd Stern, actualmente empenhado em realizar precisamente um documentário sobre os "Black Panther" ("Panteras Negras").
Na ZDB, a mostra “é pontuada por inúmeros murais que ilustram o imaginário gráfico de Emory Douglas num percurso que é acompanhado de uma vasta selecção de jornais radicais, literatura referencial, cartazes, panfletos, fotografias, e outros itens da época, incluindo material documental áudio e vídeo". Adianta-se ainda que a exposição "tem como matriz referencial os Estados Unidos, aflora questões dos movimentos radicais dos anos sessenta e início de 70, as reivindicações e os direitos civis da comunidade afro-americana, o BPP – a sua ideologia, programas sociais e relações internacionais (com destaque para os eventos que dizem respeito aos movimentos de libertação luso-africanos), o Black Arts Movement e finalmente uma selecção de material gráfico tal como cartazes e o jornal dos Panteras Negras do qual Emory foi responsável gráfico e onde semanalmente mostrava um novo trabalho. O imaginário gráfico de Emory Douglas marca uma ruptura com a representação dos negros feita pelos media da época, que se dividiam entre a total exclusão e a reprodução de estereótipos sociais de inferioridade. As ilustrações de Emory Douglas devolvem ao negro a condição de sujeito agente da sua determinação identitária e do destino da sua comunidade. A par da função de empowerment, as imagens criadas por Emory Douglas ilustram as condições sociais que faziam da revolução uma necessidade urgente, retratando a pobreza e a repressão, a que se contrapunha a acção social de apoio desenvolvida pelos Panthers".
Com curadoria de Natxo Checa (responsável pela programação de Artes Visuais da galeria), “All Power to the People” conta ainda com a colaboração dos curadores convidados Billy X Jennings e Ricardo Matos Cabo, estando agendadas conversas com Jennings, o próprio Emory Douglas, o também “Pantera Negra” Robert King (que chegou a ser preso político em Angola) e com o artista madeirense – radicado nos EUA e reconhecido pelos seus projectos de arte pública – Rigo 23.
Em parceria com o Programa Arte, Política, Globalização da Fundação de Serralves, há também um promissor ciclo de filmes sobre os “Panteras Negras”, alguns deles inéditos em Portugal, no Espaço Nimas.
Lúcia Marques