Logótipo Próximo Futuro

Vai perder os Jagwa?

Publicado28 Jun 2013

Etiquetas música Jagwa tânzania afropunk

Os Jagwa Music são as maiores estrelas do mchiriku, o grande fenómeno musical da Tanzânia nos últimos 20 anos

As descrições e as imagens testemunhais das subidas a palco do grupo Jagwa Music são algo de verdadeiramente electrizante por si só. Onde quer que chegam, este oito fazedores daquilo a que arriscam chamar afro-punk instalam um transe colectivo cantado e dançado associável a rituais anciões. Mas, afinal, partindo de percussões tradicionais, a sua sonoridade é depois amplificada por teclados de meia dúzia de tostões tocados de forma hipnótica e juntando tudo numa música urbana de magnífica selvajaria. Este caldo musical fabricado na Tanzânia, altamente improvisado, dá pelo nome de mchiriku e é mais um exemplo de música moderna parida nas periferias, neste caso de Dar es Salaam. As letras, conta-se e nós acreditamos, versam um conjunto temático tão abrangente quanto: sobrevivência básica, desemprego, infidelidade amorosa, uso de drogas, sida e voodoo. A 28 de Junho, no Antifeatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian, este será um dos grandes chamarizes do Festival Próximo Futuro, montra de cultura contemporânea apontada especialmente à investigação e à criação na Europa, em África, na América Latina e nas Caraíbas.

O mchiriku tornou-se o grande fenómeno musical da Tanzânia nos últimos 20 anos quando uns órgãos Casio baratinhos e descontinuados começaram a circular e a ser integrados nas bandas que antes se dedicavam a uma música de dança popular chamada chakacha, tocada em bailes e casamentos. Tal como fizeram os Konono nº1 com os likembés ou os Staff Benda Bilili com o satongé, também os Jagwa Music — as maiores estrelas do movimento — rapidamente começaram a amplificar os instrumentos, adulterando o som com uma distorção que falseia o sinal original mas dota a música de uma avassaladora energia primária. A nível local, o mchiriku é música de má fama, de arruaceiros e de pequena criminalidade. Ou seja, é música de uma energia visceral, marginal, directamente das ruas para cima de um palco.

A popularidade do colectivo Jagwa Music disparou após a edição de Bongo Hotheads, pela Crammed Discs, levando o grupo a actuar em alguns grandes festivais de Verão europeus — como Roskilde, na Dinamarca —, onde a sua energia não destoa da hegemonia rockeira. 

Gonçalo Frota, Jornal Público, 9 de Maio 2013