O escritor Bernardo Carvalho sobre a literatura brasileira
Publicado20 Ago 2015
Imagem: ©RenatoParada
Bernardo Carvalho nasceu no Rio de Janeiro em 1960. É jornalista e escritor, tendo sido distinguido com o Prémio Jabuti em 2014 na categoria de romance pelo livro Reprodução. Em Portugal tem editadas várias obras, entre as quais Nove Noites, Aberração e O Sol se Põe em São Paulo (Livros Cotovia). Em artigo do blogue do Instituto Moreira Salles, o escritor reflecte sobre a literatura brasileira.
Um jornalista cordobês me pergunta qual é a diferença entre a literatura brasileira e a argentina. E de repente, sob oefeito e a urgência da atualidade política, me pego respondendo como se eu fosse outra pessoa e tivesse um discurso pronto na cabeça há anos. Digo que a situação brasileira é essencialmente diversa da argentina. Digo que um espectro assombra a literatura brasileira desde sempre e que é o espectro de uma falta e de uma culpa não resolvida, sobre a qual o país se constituiu.
Na origem dessa falta está a escravidão, claro, mas em seus desdobramentos mais próximos e importantes para a literatura está o analfabetismo. Como é que se escreve num país iletrado, que não lê e, pior, que não sabe ler?, pergunto ao jornalista.
Não quero reduzir a literatura brasileira a uma leitura sociológica. Digo: Isso que vou dizer não põe em dúvida a excelência e a autonomia dos autores e das obras, mas significa simplesmente que, no Brasil, não é possível escapar a essa assombração. Você pode tentar recalcá-la de todas as maneiras, mas ela sempre volta, porque é uma falta que põe em questão a própria ideia de literatura e suas condições de possibilidade. A obsessão por constituir uma identidade nacional (de inventar uma nação) por meio da literatura é um sinal por demais evidente dessa falha e dessa culpa.
Texto completo em O Brasil acabou?