Primeira lição
Publicado18 Jun 2010
Cabe a Néstor García Canclini dar início ao ciclo de Lições, programadas pelo Próximo Futuro até 2 de Julho.
Da Convivência à Sobrevivência: Olhares desde a Arte e a Antropologia, por Néstor García Canclini
18 de Junho, sexta-feira, 18h30, Auditório 2
Alguns antropólogos, como Marc Abélès, afirmam que temos mudado o nosso relacionamento com a política: deixámos de nos preocupar com os modos de convivência, da sociabilidade, e passámos para uma fase em que a sobrevivência domina essa preocupação. Quando a sociedade se torna sombria e cada vez mais precária, deixamos de olhar para o futuro com o intuito de o planearmos: passamos da precaução à prevenção. A arte contemporânea explora este horizonte através da crítica às narrativas hegemónicas do capitalismo, da globalização e das religiões (Muntadas, Meireles, Ferrari) ou construindo narrativas de impossível totalização (Dora García, Carlos Amorales). Nesse percurso, a própria arte questiona-se pelo seu lugar e pelo seu futuro. Na linha da antropologia e da sociologia, que substituem a questão sobre «o que é a arte» pela questão «quando é arte», vamos propor que o inerente à arte é situar-se no lugar da iminência: anunciar aquilo que pode acontecer, insinuar sentidos possíveis. Que antropologia do social e que políticas poderiam resultar de uma arte onde os factos não acabam de produzir-se, que não procura converter-se num ofício codificado nem numa mercadoria rentável?
NÉSTOR GARCÍA CANCLINI é professor na Universidade Autónoma Metropolitana do México e investigador emérito do Sistema Nacional de Investigadores. Foi professor visitante nas universidades de Austin, Duke, Nova Iorque, Stanford, Barcelona, Buenos Aires e São Paulo. Recebeu a bolsa Guggenheim e vários prémios internacionais pelos seus livros, entre os quais o Book Award da Latin American Studies Association pelo “Culturas híbridas”. Autor de uma obra extensa, traduzida em várias línguas, como o inglês, o francês, o português e o italiano, destacam-se “Latinoamericanos buscando lugar en este siglo”, “La globalización imaginada” e “Diferentes, desiguales y desconectados. Mapas de la interculturalidad”. Actualmente, as suas investigações centram-se nas relações entre estética, antropologia e usos da comunicação nas culturas juvenis.