Logótipo Próximo Futuro

Blogue

Nova arquitectura

Publicado7 Out 2009


(in Beaux Arts, Outubro 2009)
clickar em cima da imagem para melhor leitura

European Culture Forum

Publicado3 Out 2009

Realizou-se no início da semana passada mais um European Culture Forum, desta vez em Bruxelas. Oportunidade para fazer o ponto da situação dos objectivos estratégicos da Agenda Cultural europeia (a saber, promoção da diversidade cultural e do diálogo intercultural, a cultura como catalisador da criatividade no quadro da Estratégia de Lisboa e, por fim, a cultura como elemento vital das relações externas). O primeiro dia serviu fundamentalmente para mostrar alguns projectos, de natureza transnacional, promovidos pelos programas de financiamento da Comissão (sendo que uma das iniciativas apresentadas como exemplo foi o programa Prospero, projecto de criação teatral que junta esforços de entidades tão diversas como o CCB ou a Schaubune de Berlim, e no quadro do qual o espectáculo do Teatro Praga, Padam Padam, foi estreado esta semana). O segundo e o terceiro dia destinaram-se a discutir os três objectivos da agenda e rapidamente nos apercebemos da dificuldade em ver cada um destes pontos evoluir para lá retórica. Qualquer um dos objectivos propostos é oportuno e contém a densidade necessária para contribuir para um reposicionamento estratégico do projecto europeu, mas desde que sejam capazes de ser colocados pragmaticamente em prática. Provavelmente mais do que em qualquer outra área há, de forma notória, uma dificuldade em passar das intenções à prática. Ainda assim, foram discutidas questões muito interessantes, mas complexas, como a mobilidade dos artistas e profissionais da cultura de países terceiros dentro da Europa (questão que inclui problemáticas relacionadas com a protecção social ou a fiscalidade), a necessidade ou oportunidade de uma política industrial para as indústrias culturais e criativas, o financiamento das actividades culturais e criativas e formas de contornar a frágil avaliação do risco por parte das instituições bancárias, a pirataria e a propriedade intelectual ou formas de incorporar a cultura nos negócios estrangeiros, desenhando uma nova diplomacia cultural para um mundo reorganizado por áreas de influência regionais e culturais.

[Ilustração de Rui Sousa/ carnet-de-voyage-rs ]

Sem título

Publicado22 Set 2009

Um excelente estudo sobre as metas do desenvolvimento do milénio nos países da CPLP, realizado pela Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (Moçambique), que será tornado público proximamente, confirma dados que são preocupantes. Se existem países onde as metas do desenvolvimento serão cumpridas, há outros cujo cepticismo é uma constante em todas as áreas, impedindo que sejam alcançadas. É o caso da Guiné Bissau, que actualmente é já um país com muito pouco Estado, Timor , que enfrenta enormes dificuldades de estruturação social e económica, e S. Tomé, onde a pobreza, a ameaça do desequilíbrio ambiental e a educação tornam difícil a realização destas metas. Todos desejamos fortemente que o consigam, mas a racionalidade, que é imperativa nesta análise, aponta no sentido contrário. O que fazer? Inventar novas formas de apoio ao desenvolvimento ouvindo, analisando, avaliando o que foi feito e não desistir.

[Fotografia de Rui Hermenegildo]

Sem título

Publicado22 Set 2009

Agora passados anos estou aqui defronte ao mar numa ilha cuja definição clássica é, mais do que nunca, pertinente: um pedaço de terra rodeado de água por todos os lados. Em frente, o oceano, imenso, de onde parece que nada chegará. À esquerda, no recorte de uma curta marginal, casas coloniais que ficaram do antigo império, dos tempos gloriosos e luxuriantes do cultivo do cacau. As casas estão em silêncio, as portadas fechadas, o trânsito de automóveis é mínimo. Daqui a momentos, cairá a noite, assim, de repente, como uma cortina veloz, como acontece sempre em África. E depois, começam a surgir algumas luzes vagas, tremeluzindo numa encosta da montanha ou numa pequena curva da marginal. A essa hora já não haverá crianças nas ruas, e são poucos os mais velhos que se encontram de regresso às suas aldeias. A cidade vai adormecer e, a não ser que uma tempestade a acorde, a noite será sossegada até o dia raiar, muito cedo, muito luminoso, muito húmido.
Nesta cidade houve tempos de grandes poetas negros, mestiços, brancos. Como Caetano da Costa Alegre, que morreu jovem (1864-1890).
“Eu e os Passeantes”
Passa uma inglesa,
E logo acode,
Toda surpresa:
What black my God
Se é espanhola,
A que me viu,
Diz como rola:
Que alto, Dios mio
E, se é francesa:
O quel beau negre!
Rindo para mim.
Se é portuguesa
Ó Costa Alegre!
Tens um atchim!

Sem título

Publicado22 Set 2009

Há uns anos, durante alguns meses, tive obrigatoriamente de fazer todos os dias um percurso de carro que começava às 8 horas e durava cerca de 40 minutos. Nesse tempo, ouvia a RDP África que a essa hora tinha um noticiário que incluía as intervenções dos correspondentes das capitais dos países africanos de língua portuguesa. Recordo-me que era sempre com grande expectativa que aguardava pelo correspondente de S.Tomé e Príncipe. Esta devia-se ao facto daquele correspondente, nos dez minutos que lhe eram destinados, ter de fazer um enorme esforço para dar notícias. Utilizava, no entanto, uma estratégia: falava devagar, pausadamente, fazia sempre referências a outras notícias dadas por outros correspondentes ou emitidas pela estação central e, finalmente, enaltecia um acontecimento ou episódio que, noutras circunstâncias, seria uma não notícia. Ele não tinha culpa. Mas, tirando uma reunião de dadores internacionais, a ameaça de mudança de governo que, afinal, era mais pacífica do que poderia parecer, alguma visita de um governante europeu - não muito assíduas e cuja substância também não era grande - , tudo junto não chegava para tornar o noticiário de S. Tomé e Príncipe imperdível. E, contudo, eu gostava de o ouvir. O ponto de vista do mundo a partir dali era relativamente tranquilo, havia um tempo de conversa deliciosamente lento que fazia com que, naqueles dez minutos de ligação às ilhas do Equador, o mundo repousasse numa quietude tropical. Um dia, houve um atropelamento por uma motorizada e recordo a exaltação do repórter a relatar as consequências que, segundo ele, teriam para a direcção geral de viação e, naturalmente para as famílias dos intervenientes daquele episódio que, por um dia, foi a manchete negra do noticiário africano.
apr

Sem título

Publicado14 Set 2009

O Verão ainda não acabou


[Fotografias de Ana Gaiaz]

Sem título

Publicado11 Set 2009

Onde está este embondeiro?


in Revista Índico
[clickar sobre a imagem para melhor leitura]

Sem título

Publicado10 Set 2009

Bienal (II)
Dos três dias de visita a parte da Bienal ficam como referências pertinentes:
Os desenhos de Susan Hefuna. Uma obra baseada nas possibilidades ilimitadas do desenho, na potência (diria Aristóteles) deste meio para criar novos mundos, novos movimentos. Como com Lygia Pape voltamos a falar de beleza.

A instalação "Human Being" de Pascale Martin Theyrou, ou como uma comunidade africana pode servir de abrigo a outros mundos; diversos, complexos, estranhos e contraditórios num ambiente criado a partir de elementos materiais de construção de casas e de pigmentos de cores tão primárias, quanto essenciais.

A projecção de Paul Chan (artista presente na exposição Um Atlas de Acontecimentos/ Estado do Mundo) onde a citação de Sade é conjugada com sombras e planos picturais abstractos confirmando mais uma vez o trabalho conseguido deste artista em conjugar a dimensão espiritual da vida com a tecnologia mais sofisticada.

A obra de Cildo Meireles- um conjunto de seis espaços cúbicos de cores variadas e em gradação de intensidade numa síntese admirável entre conceptualiazação e matéria de côr e também numa delicada homenagem ao trabalho de Helio Oiticica.
apr

Sem título

Publicado10 Set 2009

As venezianas reconhecem-se pela elegância e firmeza com que andam (há séculos) sobre os saltos mais altos de Itália.

Sem título

Publicado10 Set 2009

A Bienal
Discutem-se as bienais, os seus modelos, a sua pertinência, a sua eficácia, o seu número sempre crescente, que aumenta todos os anos.
Discutem-se de um modo mais radical (S.Paulo), ou menos (Istambul), mas a Bienal de Veneza persiste sem que estas discussões a afectem muito. Na verdade, ela é um sustentáculo importante do turismo cultural, veneziano em particular e italiano em geral, como o é do mercado mainstream das artes plásticas. As suas últimas edições, depois do curador italiano Achille Bonito (1993), têm vindo a incluir, de um modo citacional, algumas das questões com que se debate a criação e distribuição artísticas contemporâneas, através da introdução de alterações tímidas no seu formato.
Este ano, sob a curadoria do sueco Daniel Birnbaum (n.1963), e tendo por tema um problema recorrente da filosofia da linguagem - Fazer mundos - a 53a edição da Bienal de Veneza é a que terá levado mais longe as preocupações da contemporaneidade para "o interior" das artes. O aspecto mais elucidativo desta alteração decorre da selecção das obras e dos artistas presentes no espaço expositivo do Arsenal e, muito em particular, da montagem que aí foi feita. Num mundo tão marcado pela crise do capitalismo, em particular pela sensação do esgotamento do seu modelo de produção, para cuja substituição, contudo, parece ainda não ter sido encontrado um alternativo – ou, pelo menos, ser outro modelo de vida social e económico universalmente aceite - iniciar uma exposição com uma obra notável de Lygia Pape (1927-2004) é um acontecimento inteligente só por si. Ttéia, obra criada em 2002, é uma teia de fios de ouro habilmente construída, simulando colunas de luz que ligam planos opostos e antagónicos. A obra é de uma espiritualidade absoluta e estabelece uma ponte eficaz entre a ancestralidade e o futuro. Acresce que esta obra permite ao visitante a possibilidade de regressar a um tema "oculto" que é a beleza, e coloca-o na possibilidade de alguma transcendência poder novamente acontecer frente a uma obra de arte.
Depois deste início sublime, a exposição continua com um gesto poderoso de ruptura contra a monumentalidade, materializado na violência exercida por Michelangelo Pistoletto (n.1933) sobre um conjunto monumental de espelhos adornadamente emoldurados. Esta componente de intervenção no real e, portanto, criando mundos, permanece em toda esta montagem, intitulada Seventeen less one, cuja ideia inicial data do final da década de 1960. De algum modo, e salvo a distância da escala, esta exposição corresponde também às expectativas do Próximo Futuro, enquanto programa cultural de intervenção.

Sem título

Publicado9 Set 2009


Uma ideia culta e muito simples
A Actv, ou seja a empresa pública dos transportes de Veneza e, em especial dos vaporetos, criou, em colaboração com outras organizações da Sereníssima (universidade, empresas, etc), uma colecção de livros a que chamou Subway Letteratura. Publicou 4.500.000 exemplares em papel totalmente reciclado e colocou-os gratuitamente - actualmente são 13 títulos, de novelas, poesia e contos de autores italianos - em escaparates nas estações dos vaporetos. Estes livros têm ainda a particularidade de serem de pequena dimensão (11x9cm e 12 páginas), terem capas e ilustrações muito bonitas e incluírem um prefácio (sim, têm todos um prefácio de introdução à obra, cuja linguagem é de uma clareza invulgar). Dada a sua dimensão e tiragem, não há desperdício de papel e o custo é baixíssimo. A ideia é desafiar o cidadão que apanha o vaporeto para curtas viagens a ler, nesse curto espaço de tempo que a viagem lhe permite, um livro de 12 páginas. E se a sua viagem for mesmo muito curta, digamos entre três estações, pode apenas ler metade do livro reservando a outra metade para o regresso.

3 dias em Veneza

Publicado9 Set 2009


Veneza da escritora Jan Morris é o livro ideal para trazer para esta viagem. Não é um guia de viagem, nem um romance com Veneza como cenário, nem um catálogo de citações a propósito da cidade italiana. É um livro escrito por alguém que viveu por várias vezes nesta cidade em circunstâncias muito diferentes. Dá-se o caso, de por exemplo, a primeira edição da obra ser de 1960 quando a autora era ainda o autor James Morris. O facto de ser um livro de uma reputada escritora de literatura de viagens, mas que tem a singularidade de fazer da sua experiência de habitante sazonal das cidades que escreve torna a leitura um enorme exercício de prazer para o que contribui uma espécie de labirinto de surpresas dado pela diversidade de trechos. Em Veneza Jan Morris tanto nos descreve a fundação da cidade, como toda a organização dos serviços complicadíssimos da recolha do lixo, os heróis da história da Sereníssima, o impacto das viagens de Marco Polo, o sistema complexo da eleição dos Doges, quanto as marcas das influências islâmicas ou inglesas, a descrição pormenorizada das últimas duas pinturas de Tintoretto e de Ticiano, a comida veneziana, etc. Embora seja alguém que muito gosta da cidade, Jan Morris não se escusa a descrever a malícia, as histórias perversas, a malvadez de muitas das suas personagens e até a ser objectivamente crítica face a traços menos qualificados dos habitantes. Com alguma tolerância, é certo, nomeadamente no que diz respeito aos gondoleiros,mas acutilante relativamente à sobranceria, ao oportunismo, à pequena vigarice do comerciante ou à altivez do hoteleiro.
São muitos os trechos de detalhe do dia a dia de quem de facto viveu intensamente a cidade , a par das referências das dezenas de narrativas de escritores ou testemunhos de músicos, soldados, cineastas em relação à cidade.
O livro tem a grandeza de descrever a morfologia da cidade combinada com uma história de costumes e de mentalidades. É um livro sobre uma cidade antiga cuja leitura é no presente de um enorme prazer. Há uma excelente edição portuguesa na editora Tinta da China.

Sem título

Publicado3 Set 2009


Uma sobremesa simples para quando se quiser
Duas mangas rosa, daquelas de casca amarela de um lado, avermelhada do outro e que cabem na mão
Lavar bem e descascar com uma faca de lâmina fina; deixar que o sumo, muito espesso, escorra nos dedos fechar os olhos.
Não pôr açucar, nem limão.
Não levar ao frigorífico.
Sugar cada manga como se fosse a última.
Permitir que a língua encontre o caroço da fruta.
Deixar-se ficar em "revêrie" o tempo que puder.
apr

Sem título

Publicado2 Set 2009

Ainda o Chile e o cinema latino-americano, aqui

Sem título

Publicado1 Set 2009

Sem título

Publicado31 Ago 2009


Sugiro
como sobremesa para o jantar de hoje
Pêra abacate com açúcar
1 pêra abacate
3 colheres de sopa de açúcar
Sumo de um limão
Descasque o abacate e retire a semente. Usando um garfo amasse a pêra abacate. Adicione o açúcar e o sumo de limão. Misture bem e coloque no frigorífico. Deixe passar meia hora e sirva ligeiramente gelado.
(Receita do Maputo)
apr

Kurika

Publicado27 Ago 2009


Os livros não têm horários nem lugares de leitura fixos mas Kurika de Henrique Galvão apetece ler à noite, já na cama. Escrito em Março de 1944 em Lisboa, editado pela Cotovia (Outubro de 2008), tem como subtítulo romance dos bichos do mato. Podia ser classificado como um livro de histórias para crianças onde os animais que são as personagens fundamentais desta narrativa adquirem parte dos atributos que classificam os humanos. Trata-se da história de Kurika, um leão (o nome é a tradução) que depois de ter sido capturado enquanto bebé por um negociante branco é libertado pela macaca Paulina (o outro companheiro de brincadeiras é o cachorro Janota). Como qualquer leão, ao crescer, transforma-se num animal selvagem, rei da selva africana como é sabido, com com as características próprias da espécie a que se juntam o seu particular passado junto dos brancos e dos seus colegas animais de estimação. O mais emocionante nesta novela é o enorme apreço com que os animais selvagens são tratados pelo autor. Quase se pode dizer que tanto quanto ignora a espécie humana, tanto se concentra nas qualidades e características dos animais selvagens e as exalta. É notório o enorme conhecimento que o autor tem da fauna e da flora africana e em especial da savana, do comportamento dos animais e das difentes espécies. Encontramos um aturadíssimo observador e um minucioso escritor com uma capacidade invulgar de descrever o comportamento das feras, as manifestações das estações do ano, as qualidades físicas e temperamentais dos animais. É um escritor zoólogo, um naturista exímio que com certeza tinha um enorme fascínio pela vida da natureza africana que aqui é narrada com uma entusiasmo e objectividade invulgares. Mas tudo isto é possível porque o autor demonstra uma enorme qualidade literária, na composição das cenas e na descrição de comportamentos psicológicos e físicos. As cenas de sedução e de acasalamento dos leões são de um erotismo literário invulgares, as cenas de caça são cinematográficas, a descrição da solidão do animal é de uma precisão emotiva rara.
No final também é a natureza africana - longe das cidades - que se valoriza e admira, situação muito comum na literatura africana.
apr

Voy a explotar

Publicado27 Ago 2009


O último filme que levamos de Santiago do Chile: Voy a explotar, de Gerardo Naranjo. Há realizadores assim, capazes de se apropriarem dos géneros cinematográficos mais díspares e fazerem um filme que depois só podia ser deles! Com o mexicano Gerardo Naranjo e com este filme de 2008 confirmamos o que ele sabe da história do cinema - viu tudo, passa dias a ver dvds e quando esteve em Lisboa passou os dias na Cinemateca a ver filmes portugueses - como conhece as técnicas do melodrama, da nouvelle vague, do cinema alemão dos anos 70, os filmes de aventuras, os westerns, etc... e quando transporta algumas destas técnicas para o seu cinema elas fazem todo o sentido. Voy a explotar é um filme de acção, da aventura de dois jovens mexicanos - Roman e Maru - que querem fazer uma revolução nas suas vidas. Um filme cheio de grandes planos combinados com sequências velozes, com uma câmara perseguindo cada gesto dos personagens, invadindo o interior dos livros, dos revólveres, das camas ou da tenda de campismo montada num terraço de uma rica Villa da Cidade do México onde se esconde o casal aventureiro. Ainda a sairem da adolescência mas já desiludidos em relação ao seu futuro Roman e Maru, excelentes na representação, são a confirmação de que todo o sonho pode ser vivido, mas que todo o sonho tem um preço.
Voy a explotar poderá ser visto no Verão em Lisboa.
apr

Sem título

Publicado25 Ago 2009


Já está disponível a segunda edição revista e actualizada da Historia de América Latina y del Caribe do historiador chileno José del Pozo. É uma obra de referência para um conhecimento profundo deste Continente político, geográfico, económico e cultural. Tem como qualidades evidentes a clareza da linguagem, a exposição de factos, o recurso às estatísticas e a convocação de outras obras de autores especialistas nesta questão. Para quem constitui um enigma o tipo de evolução histórica dos países que constituem esta região, o livro historiciza, expõe dados, explicita a partir de factos. Tem ainda o mérito de combinar a história económica com a história política e dividindo esta história por períodos torna claro os progressos ou os retrocessos de políticas e de regimes adoptados. Para explicar as situações de desigualdade social, de regimes totalitários que aconteceram, de violência que caracteriza esta região José del Pozo é claro: tal se deve a uma violência desde a conquista sobre os indígenas (que hoje permanece tomando outras formas), o militarismo que se seguiu às independências e que se traduziu na apropriação pelos militares de direitos, regalias, poderes e de recursos, todos eles excessivos, a formação de oligarquias despotistas de uma pequena elite de proprietários associados aos militares, guerras éticas permanentes, conflitos entre países vizinhos, a incapacidade de superar a crise mundial de 1929, interferência e agressão dos EUA (excepto no período Roosevelt) e mais tarde o alastramento da Guerra Fria a esta região do globo, a excessiva dependência do comércio externo, incapacidade de criar regimes democráticos permanentes. Mais recentemente a partir de 1990 e depois do período populista generalizado, o autor avalia a evolução generalizada do neo-liberalismo que, segundo ele, em nada resolveu os problemas centrais dos conflitos étnicos, a redução necessária da distância entre ricos e pobres (são impressionantes os dados sobre os multimilionários latinos e os níveis de pobreza) e o acesso à educação. Ressalvando as diferenças que existem na actualidade entre os países, seus regimes e seus líderes o autor termina a obra assumindo que um melhor horizonte para os países mais críticos passa pela defesa de governos mais comprometidos com a justiça social e desenvolvimento nacional, por uma atenção especial às questões éticas e, em especial e uma maior autonomia no contexto internacional. Uma cronologia que se inicia com a Guerra da Sucessão Espanhola (1700-1713) e acaba com o plebiscito em Março de 2009 na Venezuela que permite uma re-eleição constante de Hugo Chávez demonstra a ambição legítima desta obra. Em jeito de comentários por períodos históricos o autor faz uma história da cultura popular e erudita destes países, sendo assim possível recordar e sistematizar os clássicos destes países, as suas influências e as personagens históricas: de José Maria Velasquez a Jenifer López.
apr

Sem título

Publicado24 Ago 2009

Gasolina de Julio Hernández Cordón é um filme Guatemalteco. Sim, de uma das cinematografias menos divulgadas em todo o mundo... porque produz poucos filmes, mas o caso Gasolina demonstra a necessidade de ver os filmes produzidos este país e sobre este país. Gasolina é uma história de aventuras juvenis, de três adolescentes, Gerardo, Nano e Raymundo que têm como actividade principal roubar gasolina para depois simularem num velho carro que pilotam um AirBus A340. É uma forma de quebrar o tédio, atitude tão comum aos adolescentes, neste caso, sem limites à violência contra os habitantes de um bairro residencial chic. Em tempos pouco românticos, e num país muito pouco romantizado, estes três jovens são uma espécie de três mosqueteiros realizando as aventuras possíveis. As cenas nocturnas de ruas desertas e sombras nas paredes das casas são de uma plasticidade cinematografia rara.
apr

Sem título

Publicado24 Ago 2009

Discutir a colonização espanhola com um taxista de Santiago não deixa de ser uma versão vernácula de um debate pós-colonial.
apr

Sem título

Publicado24 Ago 2009


Outra constante do cinema chileno: a construção. Será ela uma metáfora da construção do país? Do futuro? Da família? Isso passa em toda esta cinematografia chilena com a presença das fábricas e das indústrias, da construção de estradas, de casas, da própria criação cinematográfica e no entanto - como um paradoxo - as personagens destes filmes estão sempre a partir; para Madrid, para a Argentina, ou, tão só, atravessam as fronteiras.
apr

Sem título

Publicado24 Ago 2009


Paseo de Sergio Castro San-Martin é um filme de apenas uma hora mas é imenso. Começa por ser um filme on the road, através da auto-estrada que liga Santiago ao norte do país, circulando no sopé da Cordilheira. Uma mãe leva o seu filho adolescente a ver o pai de quem se separou há dez anos.São poucos os diálogos, os essenciais, curtos e directos. O som que acompanha todo o filme é uma partitura cuidadosamente elaborada a partir dos ruídos da auto-estrada, do latido de cães ao
longe na estrada, do som da siderurgia onde trabalha o pai, do chapinhar da água no lago, do som das ondas do Pacífico (como deve ser frio este mar ao ouvir este som), do arfar e desejo do adolescente. O resultado e a interiorização do filme no espectador, subtil a forma, cúmplice a interioridade. Mais uma vez neste filme o pai está ausente, é a mãe que toma as decisões e nesta narrativa supreendente, depois de ter levado o filho a conhecer o seu pai, acaba por partir sózinha e assim deixar o filho entregue ao pai num dia em que este ensina o filho a disparar a sua carabina. É um dos grandes filmes deste Festival e vai poder ser visto em Lisboa em Junho de 2010.

Sem título

Publicado24 Ago 2009

Os responsáveis do SANFIC 5 sabem que esta geração de festivais indie não forma públicos, mas os 75.000 espectadores que tiveram na edição do ano passado numa semana, e os que vao ter este ano - supostamente mais-, é um sinal da excelente relação do festival com a cidade de Santiago e de como responde à urgência do cinema latino-americano.
250 estudantes do Departamento de Cinema da Universidade Católica e vários professores puderam ver na terça feira o filme O Estado do Mundo e, no dia seguinte, no encontro com os mesmo estudantes foi possível ver e conversar sobre os projectos de cinema em produção este ano. A qualidade técnica é enorme, aliás, essa é uma constante do cinema chileno actual, a par de uma "escola de actores" que se destaca por uma utilização da voz única - já conhecida do teatro chileno- e uma relação privilegiada com a natureza. Dos muitos comentários sobre o cinema chileno actual registe-se uma afirmação de um estudante:" sim no cinema chileno os pais estão ausentes, as mães essas estão sempre presentes cuidando, governando, decidindo". A associação com o facto de ser Michelle Bachelet a actual presidente do Chile e uma das líderes mais competentes do mundo actual era evidente.
apr

Sem título

Publicado21 Ago 2009

O realizador Azazel Jacobs (autor de Mammas´s man) chegou de Los Angeles com um palito na boca. Ontem, num gesto de manifesta camaradagem, abriu a sua pequena caixa made in china e distribuiu os seus palitos mentolizados e esculpidos por quem o quis. Era curioso ver uma sala de cinema repleta de pequenos Clint Eastwoods, cada um com seu palito caído da boca.
apr