"Os museus ou são pós-coloniais ou não são nada"
Publicado20 Out 2014
Imagem: Vitória de Samotrácia, no Museu do Louvre, em Paris
O 8º Encontro Ibero Americano dos Museus reuniu quase duas dezenas de representantes com responsabilidades no património de países de língua portuguesa e espanhola, nos dias 13, 14 e 15, no Museu de Etnologia. A conferência de abertura, a cargo de António Pinto Ribeiro, partia da pergunta: 'Pode um museu ser descolonizado?' O Público fez a reportagem da conferência e ouviu vários participantes sobre o que fazer aos objectos das ex-colónias que fazem o prestígio dos grandes museus europeus, a reconfiguração dos museus pós-coloniais, a aproximação ao público e o contributo das pessoas comuns para as colecções dos museus, numa perspectiva de memória colectiva.
António Pinto Ribeiro começou com uma provocação: “Os museus ou são pós-coloniais ou não são nada.” À sua frente, no auditório do 8.º Encontro Ibero-americano de Museus (Lisboa, 13 a 15 de Outubro), sentavam-se portugueses, espanhóis e latino-americanos com responsabilidades no património.
O museu, continuou este ensaísta com formação em Filosofia e Estudos Culturais que hoje dirige o Programa Gulbenkian Próximo Futuro, começou por ser a instituição que “materializava a ocupação colonial do resto do mundo e a sua posse”, “arquivo ilustrado do poder” e “lugar de estabilidade das classificações e hierarquizações disciplinadas das raças e das espécies e dos cânones artísticos”, mas hoje precisa de se reinventar. “Podemos descolonizar os museus?”, perguntou, para responder em seguida: “Podemos. Devemos.” Mas como? E de que descolonização falamos? Da que se refere apenas aos impérios europeus?
“Descolonizar” aqui passa, sobretudo, pela releitura dos acervos dos museus ocidentais, muitos deles constituídos quando o mundo estava ainda dividido em impérios coloniais centenários, mas também pela abertura às comunidades onde estão instalados, tenham ou não uma ambição nacional.
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