Logótipo Próximo Futuro

Octávio Amorim Neto em entrevista ao Público

Publicado22 Set 2014

Imagem de Nuno Ferreira Santos, para o Público

Octávio Amorim Neto, um dos convidados da Festa da Literatura e do Pensamento da América Latina do Próximo Futuro, na sessão dedicada a política, foi na ocasião entrevistado pelo jornal Público. Depois da morte do candidato do PSB Eduardo Campo e de ser conhecido que  Marina Silva vai disputar as eleições com Dilma, a entrevista foi completada por e-mail e publica-se completa, agora. 

Doutor em Ciência Política pela Universidade da Califórnia, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE), da Fundação Getúlio Vargas, Octávio Neto Amorim fala das eleições, do momento que o Brasil está a atravessar, do número invulgar de partidos com representação no seu país e do significado das recentes manifestações.

Em que é que a entrada de Marina Silva vem alterar as eleições?
Pouco depois de assumir a candidatura do PSB, Marina logrou aquilo que Aécio Neves, o candidato do PSDB, não conseguira durante meses de campanha: canalizar o descontentamento que emergira nas ruas em Junho de 2013, dando fim, ao que tudo indica, à polarização entre o PT e o PSDB, que tem caracterizado as eleições presidenciais no Brasil desde 1994. A confirmar-se a ida de Marina à segunda volta contra a Dilma, o Brasil poderá estar diante de um amplo desalinhamento eleitoral, fenómeno que testemunhou pela última vez em 1989, com a eleição de Fernando Collor, e em 1990, com a implosão do sistema partidário que havia operado a transição para a democracia. Mesmo com uma eventual vitória de Marina, o seu partido, o PSB, continuará a ser pequeno no Congresso. Isso significa que Marina é uma candidata sem lastro político, aspecto também patente na sua diminuta aliança eleitoral e equipa de assessores. Ela tem boas chances de ganhar a eleição presidencial, mas enfrentará grandes dificuldades para governar. A ausência de uma grande organização partidária na sua coligação eleitoral não é o único sinal de falta de lastro da candidatura de Marina. Ela também não conta com a lealdade de nenhuma grande organização social. E uma presidência sem lastro organizacional é, por definição, uma presidência vulnerável.

(...)

Porque é que as ruas falam tanto de corrupção?
Há corrupção no Brasil. A imprensa brasileira enfatiza obsessivamente o tema – quando se abrem as páginas dos jornais do país, as quatro primeiras, em geral, são sobre corrupção. Não que não exista, mas há uma ênfase excessiva. Há uma percepção de corrupção da classe política, mas a população não está plenamente informada a respeito dos ganhos de uma melhor gestão da administração pública, decorrentes, sobretudo, da nova lei de administração de 2000. 

O que há no Brasil hoje é esse enorme desequilíbrio entre uma carga fiscal digna de um país europeu, 37%, e serviços públicos dignos de um país africano. Esse fosso entre tributos e qualidade de serviço levou as pessoas a reivindicarem. Mas que pessoas são essas? São novos cidadãos, com o sentimento de que possuem direitos muito mais fortes.

(...)

Que impacto têm os movimentos que surgiram dos protestos numa política que descreveu como fragmentada?
Essa é uma grande questão. Os historiadores do futuro certamente vão ver nas manifestações de Junho de 2013 um ponto de inflexão política do país que teve efeitos imediatos e terá efeitos a longo prazo. Efeito imediato foi enfraquecer politicamente Dilma – a popularidade dela nunca mais se recuperou. Pouco antes, todo o mundo acharia que ela ganharia as eleições de 2014 na primeira volta. Hoje sabe-se que haverá um segundo turno muito disputado. Outro aspecto crucial das manifestações é que elas foram totalmente avessas aos partidos políticos e quando os partidos tentaram juntar-se eles foram repelidos pelos manifestantes. O efeito disso foi mais uma onda de desprestígio da classe política e dos partidos. Quais seriam as consequências disso? Aumento da abstenção, o que pode enfraquecer muito os partidos.

A entrevista completa, por Joana Gorjão Henriques, aqui