"Nos telhados de Havana, há uma cidade pendurada no ar"
Publicado26 Mar 2015
Imagem: Sarah L. Voisin/The Washington Post
Desde a Revolução de Fidel Castro, em 1959, a população de Havana cresceu para 2,1 milhões de pessoas, mas o crescimento habitacional não foi proporcional. A reportagem de Mick Miroff, para o Whasington Post, publicada no diário potuguês Público, faz um retrato da habitação na capital cubana, poucos meses depois da retoma das relações diplomáticas entre aquele país e os Estados Unidos.
O mundo secreto dos telhados de Havana não se consegue ver a partir da rua. Mas basta encontrar um ponto alto e olhar para a linha do horizonte: aí está, uma outra cidade inteira pendurada no ar.
É uma cidade escondida de apartamentos, galinheiros e hortas e jardins, onde rapazes de sandálias se entretêm a lançar papagaios de papel para o alto e homens em tronco nu jogam dominó enquanto a brisa marítima embala a roupa a secar à sua volta.
As ruas são barulhentas e cheiram mal, mas os terraços de Havana são iluminados pelo sol e pelo ar purificado pelo oceano. Aqui, tudo está protegido e fora do alcance dos olhos curiosos – é um lugar privilegiado para um furtivo encontro romântico, ou para apreciar a solidão.
“Os cubanos são muito coscuvilheiros”, diz Yordan Alonso, de 25 anos, pai de três, que passa metade do dia a trabalhar como barbeiro e a outra metade a pedalar uma bicicleta-táxi, e que toda a vida morou no terraço de um prédio de quatro andares da Rua San Ignacio, na chamada Havana Velha. “Aqui em cima ninguém nos chateia”, garante.
O edifício onde Alonso mora fica a meio quarteirão da Plaza Vieja, na fronteira invisível entre a animada Havana dos turistas e a outra parte da cidade, decrépita e em ruínas, que nenhum visitante está interessado em conhecer. É nessa parte da capital que se aguarda, com maior impaciência, pela chegada dos turistas e investidores norte-americanos, que precisam de se despachar antes que os prédios caiam.
Esse dia nunca pareceu tão próximo para os cubanos como Alonso, depois do anúncio da retoma das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba.
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