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Nadine Gordimer (1923-2014)

Publicado14 Jul 2014

TIZIANA FABI/AFP/Getty Images

Nadine Gordimer morreu aos 90 anos, no passado dia 13 de Julho. Figura maior da literatura mundial, Nobel da Literatura em 1991, foi uma das vozes mais activas contra o apartheid.

Filha de um lituano e de uma inglesa de origem judaica, frequentou uma escola católica. Publicou o seu primeiro conto aos 15 anos, no suplemento juvenil de um jornal. Aos 30, em 1953, estreou-se no romance, com The Lying Days, uma história com traços autobiográficos, sobre uma rapariga branca que ganha consciência das discriminações raciais de que vive cercada. Em 1960, o ano do massacre de Sharperville, Gordimer juntou-se ao ANC, depois da detenção da sua amiga  Bettie du Toit. Torna-se, na mesma época, próxima de Nelson Mandela, de quem partilhou as suas memórias na New Yorker

Nadine Gordimer teve várias obras censuradas na África do Sul, sendo, até 1991, a única vencedora de um Nobel da Literatura não reconhecida pelo governo do seu país e também a primeira mulher em 25 anos a receber este galardão. 

O reconhecimento internacional chegara anos antes, em 1974 com a atribuição do Booker Prize ao livro The Conservationist (publicado em Portugal com o título O Conservador, pela Asa), um romance que aborda o contraste entre a cultura tradicional Zulu e a industrialização branca.

Sete contos seus  foram adaptados para o cinema em curtas-metragens no início dos anos 80. A literatura de Gordimer tornou-se uma forma de alertar o mundo sobre a ignomínia do apartheid, uma causa que abraçou como escritora e como cidadã: em 1986, esteve entre um grupo de poucas centenas de brancos a prestar homenagem pública junto da sepultura de 40 manifestantes assassinados pelas forças de segurança, em Alexandra, uma township perto de Joanesburgo. 

Depois da instauração da democracia na África do Sul, a escritora continuou a abordar as tensões da herança do apartheid, em obras como Get a Life (2005) e No Time Like the Present (2012). Assumiu diversas posições críticas do ANC nos últimos anos, tendo sido uma das figuras proeminentes da luta contra a Sida no seu país. 

Ferozmente contra qualquer tipo de discriminação, Gordimer era uma prova viva dos seus princípios: em 1998, recusou integrar a lista de finalistas do Prémio Orange, competição inglesa que distingue exclusivamente mulheres.

Uma curta-metragem sobre Nadine Gordimer, realizada por Adrien Steirn para a exposição "21 Icons", mostra a escritora em discurso directo, na intimidade da sua casa, onde revela que quis ser bailarina e que lamenta não ter aprendido as nove línguas do seu país. Foi em inglês que gravou, para o The Guardian, um conto de José Saramago.

A mesma língua em que nos deixa uma obra incontornável e na qual disse a frase: «The truth isn't always beauty, but the hunger for it is.»