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Leituras de Verão

Publicado31 Jul 2014

 

OS TRANSPARENTES, Ondjaki (Angola)

2012. Editorial Caminho

Distinguido por este livro com o Prémio José Saramago em 2013, Os Transparentes situa-se na Angola actual do pós-guerra, onde um grupo de dez personagens improvisa o quotidiano, resultando num retrato social rico e imaginativo, com momentos bem humorados. Onjaki, prosador e também poeta, descreveu assim o livro: "Este é um livro sobre uma Angola que existe dentro de uma Luanda que eu procurei escrever e descrever. Fi-lo com o que tinha dentro de mim entre verdade, sentimento, imaginação. E amor. É uma leitura de carinho e de preocupação. É um abraço aos que não se acomodam mas antes se incomodam. É uma celebração da nossa festa interior, trazendo as makas, os mujimbos, algumas dores, alguns amores."  Segundo o juri do prémio, a obra distingue-se ainda por "uma radical crioulização da língua portuguesa".

UMA HISTÓRIA DE POLIGAMIA, Paulina Chiziane (Moçambique)

2002. Editorial Caminho

Rami é casada há vinte anos com um alto funcionário de polícia. Quando descobre que o marido tem mais cinco mulheres, dispõe-se a conhecê-las. Um gesto que inaugura uma viagem por mundos desconhecidos, o mote de uma reflexão sobre diversidade de tradições, conflitos permanentes e construções híbridas que atravessam a cultura moçambicana. Um universo que nos chega pela voz das mulheres: ''Todas as mulheres são gêmeas, solitárias, sem auroras nem primaveras. Buscamos o tesouro em minas já exploradas, esgotadas e acabamos por ser fantasmas nas ruínas de nossos sonhos'', escreve a autora. A obra foi distinguida com o Prémio José Craveirinha, da Associação de Escritores de Moçambique. 

MEMÓRIAS DE UM PORCO ESPINHO, Alain Mabanckou (Congo)

2007. Europress

A partir da lenda popular segundo a qual cada ser humano tem um duplo animal, Alain Mabanckou tece uma paródia onde um porco-espinho é encarregue pelo seu alter-ego humano, Kibandi, de executar várias mortes com a ajuda dos seus espinhos, o que causa agitação e terror na aldeia, inspirando a reflexão do animal sobre a natureza das suas missões. Revisitando o conto tradicional africano e os códigos narrativos da fábula, Mabanckou constrói uma história repleta de humor e sentido crítico. Nas palavras do autor: «C’est une fable philosophique car le roman pose la question de ce qu’il y a derrière l’existence de l’être humain, sur le sens de la vie de l’homme. Il montre également le rapport entre l’homme et l’animal.» O romance venceu o Prémio Renaudot, destinado a obras de literatura francófonas, em 2006.

UM CAPRICHO DA NATUREZA, Nadine Gordimer (África do Sul)

2003. Publicações Dom Quixote

Esta é a história de Hillella, uma rapariga sul-africana branca que se junta à luta anti-apartheid. Desde cedo uma personalidade rebelde, filha de uma mãe que já desafiara as convenções sociais, Hillella é expulsa do colégio e da família e acaba por sair do país. Personagem complexa, sensual e ousada, desafiadora da moral vigente e com raro sentido de liberdade, é uma figura constestatária, com um percurso que a colocará nas fileiras de um combate a um regime injusto e racista, num tempo de convulsões mundiais. Da escritora galardoada com o Nobel da Literatura em 1991, recentemente falecida, que foi, ela própria, um dos principais rostos do combate ao apartheid na África do Sul. 

LUUANDA, José Luandino Vieira (Angola)

2004. Editorial Caminho

Luuanda reune três contos de Luandino Vieira, escritos nos anos 60, cuja publicação e impacto incomodaram o estado salazarista. Considerado um livro de ruptura, as três histórias retratam Angola sob o jugo colonial português, as desigualdades entre brancos e negros e a vida caótica do quotidiano nos musseques, bem como as tradições culturais angolanas, esmagadas pelo colonizador. Numa linguagem inovadora que cruza o português com os dialectos locais, o livro é ainda hoje considerado um marco fundador da moderna literatura angolana. "A questão da fome, a questão da repressão, a questão de surgirem personagens de camadas e classes sociais que, até aí, eram segregadas da literatura, parece-me (hoje, a esta distância, tanto quanto me vejo, até como personagem do meu próprio destino), parecem-me correctas... Quando escrevi o Luuanda a minha preocupação era ser o mais fiel possível àquela realidade.", declarou o autor, em 1994.

AMERICANAH, Chimamanda Ngozi Adiche (Nigéria)

2013. Publicações Dom Quixote

Ifemelu e Obinze apaixonam-se, nos tempos sombrios da ditadura militar nigeriana, que impulsiona uma vaga de emigração, apenas ao alcance daqueles com meios para fugir. Ifemelu vai estudar para os Estados Unidos, separando-se do seu amor, que mais tarde tenta juntar-se a ela. Mas a América do pós-11 de Setembro fecha-lhe as portas e Obinze torna-se um emigrante ilegal em Londres. Reeencontrar-se-ão anos mais tarde, na recém formada democracia nigeriana, depois de terem feitos percursos muito diferentes. Ao regressar, Ifemelu encontra um país que não conhece e uma história de amor ferida pelo afastamento. Considerada uma das maiores vozes da literatura africana contemporânea, e distinguida com este livro pelo prémio National Book Critics Circle, Chimamanda Adichie aborda neste livro os seus temas recorrentes, como identidade, raça, nacionalidade e diferença. 

QUANDO TUDO SE DESMORONA, Chinua Achebe (Nigéria)

2008. Mercado das Letras

Okonkwo é um guerreiro afamado em nove aldeias dos Ibo, na Nigéria, entre o final do século XIX e o início do século XX. Vive no clã de Umuofi, com as suas três mulheres e os seus filhos, empenhado em conquistar o título mais nobre do seu povo. Um episódio trágico mudará o seu destino, no mesmo momento em que os primeiros missionários britânicos se aproximam da comunidade, produzindo profundas mudanças com as quais terá de se confrontar. Retrato extraordinário da cultura guerreira tribal e da violência colonial, nem sempre explícita, este romance, publicado em 1958, estudado em escolas africanas e traduzido para mais de cinquenta idiomas, é considerado fundador da moderna literatura africana, tendo alcançado reconhecimento mundial. Chinua Achebe, falecido em 2013, de quem Mandela disse que "na sua companhia, os muros da prisão caiam", venceu o Man Booker International Prize em 2007.

O HOMEM LENTO, J.M. Coetzee (África do Sul)

2008. Publicações Dom Quixote

Aos 60 anos, o fotógrafo Paul Rayment  perde a perna num acidente de bicicleta e a sua vida é totalmente transformada. Entre o desespero e a resignação,  a enfermeira croata que o assiste Marijana e a enigmática escritora Elizabeth Costelo trarão novas problemáticas ao seu quotiano virado do avesso, em que revê convicções e se coloca perguntas fundamentais sobre a existência e o processo de envelhecimento. Uma obra assinada por um dos mais celebrados nomes da literatura sul-africana, Prémio Nobel da Literatura em 2003 e duas vezes vencedor do Booker Prize.