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Gordon Parks: retratos de exclusão social

Publicado4 Nov 2014

Gordon Parks (1912-2006) é considerado um dos maiores nomes da fotografia americana, além de músico, escritor e realizador de cinema. Negro, nascido e criado no tempo da segregação racial americana, a sua obra reflectiu essa experiência, tornando-o um artista destacado na defesa dos direitos civis. A reportagem de 1956 para a revista Life sobre a vida dos negros no final dos anos 50, retratando a vida quotidiana de uma família, catapultou a sua carreira, tendo sido então integrado como fotógrafo permanente daquela revista. A exposição  "Segregation Story", que inaugura dia 15 de Novembro no Museum of Art de Atlanta, mostra fotografias dessa série, cuja importância é analisada por Dorrit Harazim na Revista Zum. 

O ensaio sobre os Thornton foi publicado na edição de setembro de 1956 da LIFE, a mais influente revista noticiosa e ilustrada de todos os tempos, cuja circulação semanal chegou a alcançar os 13,5 milhões de exemplares. O ensaio de Parks não continha nenhuma foto de brutalidade policial, passeatas, boicotes ou racismo violento. Esparramadas ao logo de doze páginas da semanal de formato grande, 20 fotos documentavam pela primeira vez em cores o cotidiano prosaico de uma família negra do Sul rural: os Thornton sentados no sofá de casa, indo à igreja, membros da família tomando sorvete, olhando vitrines, crianças brincando displicentemente com armas, e outras cenas inofensivas do gênero. Nada apocalíptico, portanto, mas causou o desejado impacto.

Parks sabia que o grosso dos leitores de LIFE eram brancos e tinham escolaridade decente. Também sabia que o branco americano daquela época não operava com a noção de que o negro tinha uma vida privada plena e rica, no essencial igual à dele. Como ensinou o escritor James Baldwin, autor de Giovanni’s Room e o primeiro a dizer aos brancos com todas as letras o que os negros americanos pensavam e sentiam, os fundamentos incontestes de todo ser humano são apenas cinco: prazer, tristeza, amor, humor e dor.

A Cor de Gordon Parks 

Num segundo texto sobre o fotógrafo, a Revista Zum aborda a sua viagem ao Rio de Janeiro, e os retratos da vida na favela da Catacumba, reunidos então numa reportagem a que Gordon Parks chamaria “Visita a um Mundo Sombrio”, em 1961. Um acontecimento que causa uma verdadeira guerra institucional, com a Revista Cruzeiro a "responder" contra a associação Rio de Janeiro/pobreza, retratando a vida de famílias pobres em Nova Iorque, intitulada: "Favela sem samba e sem sol". Ambas as reportagens ficaram sob suspeita de métodos pouco documentais, numa polémica que se prolongou em publicações e contra-publicações. Gordon Parks ficou sempre ligado ao Rio de Janeiro e à criança que protagonizara a sua reportagem dos anos 60.

Passados quarenta anos desde que subira pela primeira vez a ladeira da Catacumba, Parks voltou ao Rio em 2000. Veio fotografar o Flavio já cinquentão para a edição de encerramento da LIFE, bíblia do fotojornalismo desde 1936. Engolida pela internet, ela deixou de existir em versão impressa.

Também a Catacumba deixara de existir desde 1970, quando o governador Negrão de Lima emitiu ordem de remoção e transferiu os moradores para conjuntos habitacionais na distante Zona Oeste do Rio. Rebatizada de Parque Natural da Catacumba, o local, hoje, é uma área ambiental de 30 hectares.

Gordon Parks morreu em 2006. Boa parte de sua fotografia são metáforas da vida. Alguém já escreveu que ele sempre misturou realismo documental com sensibilidade ficcional. Ou, como o próprio Parks se auto definiu : “Acabei me tornando um repórter objetivo com um coração subjetivo”.

Gordon Parks na Catacumba