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Escuela - a história de um falhanço

Publicado23 Jan 2013

© M Paz Gonzalez

A última encenação de Guillermo Calderón - encenador de Neva, Villa+Discurso - chama-se Escuela, e acaba de estrear em Santiago do Chile. É um acto de coragem e de ousadia raros.

Coragem de muitas maneiras: a de enfrentar a expectativa de uma centena de programadores para a maioria dos quais se torrnou, em apenas quatro anos, numa das referências fundamentais do teatro contemporâneo e que aguardavam e fantasiavam sobre mais uma obra heróica de Calderón; a de ousar escrever e encenar uma obra sobre o falhanço da resistência na luta contra a ditadura de Pinochet.

Escuela trata da história de um grupo de militantes de extrema-esquerda que na década de 80 recebem instrução paramilitar para resistir e derrotar a ditadura usando todos os meios para o conseguir, sempre a partir de uma postura ideológica extremista e utópica. Mas o que o texto e a encenação revelam e expressam é a história de um falhanço, de um falhanço anunciado.

Como se tem a coragem de fazer uma encenação sobre os falhados. Não, não se trata de anti-heróis, mas de falhados: nos objectivos, nas convicções, na capacidade de comunicar com o povo, na capacidade de transformarem o país, de atingirem a justiça e a liberdade pela qual lutavam mas que não acreditavam que fosse possível. Eles fizeram parte daqueles que não acreditaram na possibilidade do plebiscito que acabaria por destituir Pinochet e acabar com a ditadura, são o grupo condenado a uma extinção solitária e sem qualquer glória ou reconhecimento.

É pois de uma enorme coragem esta Escuela, a história de um falhanço.

António Pinto Ribeiro