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Dakar ou o Grande Bazar

Dakar é uma das maiores cidades de África. Percorrer as suas ruas é como meter-se numa grande feira onde não falta animação. Não se faz 1 km sem se ser interceptado por um vendedor, não importa de quê. A cidade é feita de vendedores e, consequentemente, de compradores.
O quadro pictórico da cidade e seus arredores é marcante. É um festival de côr, de barafunda, de trânsito caótico.
Os car-rapide com o seu colorido exuberante servem de transporte aos menos favorecidos, ou seja, grande parte da população local. São um delírio visual, autênticos carrinhos de feira com desenhos e alusões religiosas. Estes car-rapide na sua grande maioria são velhos, com chapa batida, mal cuidados e muito porcos. É o transporte diário possível para os milhares de locais que se empacotam desajeitadamente no seu interior. A nós, europeus, transportam-nos para o reino da fantasia! Vê-los a circular remonta à nossa infância, aos nossos brinquedos de lata!
Será Dakar a cidade com maior número de taxis por m2? Por cada carro devem existir pelo menos três táxis. Detectam-se à distância pela sua côr amarela torrada.
As carroças puxadas por cavalos ou burros são um meio de transporte muito usual para todo o tipo de carga e mesmo pessoas. Emprestam à cidade e arredores um tom ecológico que contrasta com a poluída urbe de Dakar.
Sendo o Senegal um país onde o islamismo predomina, é uma constante em Dakar o canto da chamada dos muezzini apelando à reza.
Dakar é ainda tropeçar nos meninos de rua com as suas malgas amarelas. São os meninos (talibés) que vêm de todo o Senegal aprender o Corão sob a autoridade de um líder espiritual (marobout). Muitos destes mestres do Corão obrigam os seus discípulos a permanecer na rua em condições muito desfavoráveis a praticar a mendicidade. Aparentemente esta mendicidade é um fenómeno singular no Senegal não sendo conhecida esta prática noutros países de cariz muçulmano.

Dakar e toda a sua costa está decorada de pirogas. Há imenso peixe. Nalgumas praias compra-se o peixe acabado de sair do mar, fresquíssimo e a bom preço. O espectáculo é, no mínimo, surrealista, cómico também. É o peixe a chegar nas pirogas, a escolha, as vendas… ao largo as crianças…. as bucólicas ovelhas que estão por todo o lado… as mulheres que amanham o peixe… o cheiro intenso, as moscas… os cães espraiados e esfaimados.
Dakar está em permanente construção, por isso Dakar é sujo, é um Dakar de mil poeiras. Ainda assim Dakar tem uma marginal esplêndida onde nos podemos regozijar com uma vista azul-esverdeada do imenso Atlântico.
Muito mais há a dizer sobre Dakar, difícil é sumariar uma cidade quando há tanta coisa para ver e sentir!
Helena Nunes
Em Dakar desde Outubro de 2009
Fotografia de Fátima Serrão Gomes