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Crónicas da Minha Tia de África

 

de Elisa Santos

É assim uma combinação de cartas de longe a um sobrinho com pequenas narrativas fílmicas sobre lugares, personagens, situações, paisagens e ainda um conjunto de aporias disfarçadas de conselhos de tia. E tudo isto vem de África para o Continente, mais exactamente para o Porto como é identificado pelas ruas e lugares desta cidade referenciadas ao longo dos textos. O livro nada tem de textos inocentes - se os há?!- sobre a vida em  lugares da áfrica sub-sariana, pelo contrário são textos de enorme investimento da autora sobre a vida das populações, a mutação das cidades, a política dos governantes e o seu reflexo no quotidiano. Digamos que nestas curtas histórias há uma manifesta intenção de partilha de saberes sobre lugares de que supostamente o Nuno - assim se chama o sobrinho- desconhece mas que lhe são interessados como experiência de crescimento no mundo.

Há momentos particularmente encantatórios feitos a partir de uma realidade, ela própria em mutação e em crescimento, seja na aprendizagem da língua, seja na ocupação do espaço urbano. Por exemplo uma mensagem do Sebastião às 6h 18m : " DIA BOSS O GIRADOR ESTA VARIADA ASSIM PEDIMOS COM AMASSIMA URGENCIA".

Um outro aspecto, uma qualidade literária, sim, é a delicadeza com que todas as personagens são tratadas: na descrição dos membros de uma família muçulmana, na nomeação dos frutos e dos alimentos, na descrição das paisagens - tanta imensidão e tanta delicadeza. E as metáforas, poucas, quando aparecem, também elas são respeitosas: " A Beira é uma cidade feminina. Uma espécie de tia idosa, que usa bâton e pó-de-arroz, que mantém a elegância mas não esconde as ruas." Crescer a aprender África desta maneira é um privilégio de leitor.

O livro tem ainda a participação cuidada e inventiva do designer João Oliveira, do artista plástico Pinto e do fotógrafo Mauro Pinto.