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“A negação do racismo torna-o ainda mais enigmático e difícil de combater”

Publicado28 Nov 2014

Imagem: David Theo Goldberg fotografado por Nelson Garrido, para o Público

David Theo Goldberg nasceu na África do Sul e cresceu em pleno apartheid, com a sensação de que algo não estava certo no contexto social que o rodeava. Hoje está à frente do Instituto de Investigação em Humanidades da Universidade da Califórnia e é autor de duas dezenas de livros, entre os quais The Threat of Race e The Racial State, além de muitas outras publicações académicas. Veio a Portugal no âmbito de um  convite do Núcleo de Educação para os Direitos Humanos do Instituto da Educação da Universidade do Minho, para a apresentação de uma conferência, sob o título Já somos todos pós-raciais? Numa entrevista ao jornal Público, fala de questões como a polémica em torno da morte de um adolescente negro, alvejado pela polícia no Missouri, a presidência de Barack Obama e o caso Oscar Pistorius, à luz da noção da sociedade pós-racial. 

O seu interesse por este tema surgiu do seu passado na África do Sul onde nasceu e cresceu? 
Está nos meus genes sociais, sim. Nasci na África do Sul, cresci na Cidade do Cabo, onde frequentei a escola e a faculdade. Nasci nos primeiros anos da década de 1950 e vivi lá até ao final da década de 1970. Cresci com oapartheid. Crescemos numa sociedade muito segregada, frequentávamos escolas em separado, vivíamos num bairro separado, mas sempre tivemos mulheres negras em casa, como empregadas domésticas. Cuidavam de mim. Eram ou não parte da família? Trabalharam durante mais de três décadas na casa dos meus pais, partilhavam com a minha mãe histórias de filhos e netos. Existia uma proximidade, mas também uma separação. Talvez não devesse dizer isto muito alto, mas a verdade é que fumar marijuana levou-nos, a mim e aos meus amigos, a desenvolver relações e a entrar nos townships (bairros onde vivia segregada a população negra). Éramos convidados a entrar na casa do dealer e a fumar com ele. Conversávamos e isso transformava a nossa maneira de pensar e de ver aquela pessoa com quem havia uma partilha de interesses comuns. Muito cedo, eu questionei a separação destes mundos. Quando cheguei à faculdade, envolvi-me por pensar que o que se passava era errado. Isso está, desde sempre, comigo.

A entrevista completa, em “A negação do racismo torna-o ainda mais enigmático e difícil de combater”