Deogratias Habyarimana, assassino(à direita) e Cesarie Mukabutera, sobevivente.
Pieter Hugo regressou ao Rwanda no mês passado e fotografou assassinos e sobreviventes que hoje em dia vivem lado a lado.
HABYARIMANA: “When I was still in jail, President Kagame stated that the prisoners who would plead guilty and ask pardon would be released. I was among the first ones to do this. Once I was outside, it was also necessary to ask pardon to the victim. Mother Mukabutera Caesarea could not have known I was involved in the killings of her children, but I told her what happened. When she granted me pardon, all the things in my heart that had made her look at me like a wicked man faded away.”
MUKABUTERA: “Many among us had experienced the evils of war many times, and I was asking myself what I was created for. The internal voice used to tell me, ‘‘It is not fair to avenge your beloved one.’’ It took time, but in the end we realized that we are all Rwandans. The genocide was due to bad governance that set neighbors, brothers and sisters against one another. Now you accept and you forgive. The person you have forgiven becomes a good neighbor. One feels peaceful and thinks well of the future.”
Poesia negra A violência e as fraturas sociais da África Austral nas imagens de um fotógrafo contemporâneo
A criação do programa "Próximo Futuro" pela Fundação Calouste Gulbenkian — e, nomeadamente, a inclusão sistemática nele dos Encontros de Bamako de Fotografia — teve o condão de ir tornando visível na capital portuguesa o essencial da fotografia africana contemporânea. É nesse âmbito, e depois da presença nos encontros da capital do Mali, que o fotógrafo sul-africano Pieter Hugo (n. Joanesburgo, 1976) apresenta em Lisboa a sua primeira exposição antológica.
Nomeado para o Deutsche Börse Photography em 2012, Hugo tem uma carreira de pouco mais de dez anos, ainda que a quantidade, qualidade e diversidade da sua produção justifiquem plenamente esta recolha. Entre as várias séries apresentadas encontra-se "Hyena & Other Men", o seu trabalho mais conhecido, um conjunto de imagens feitas entre os domadores de feras nigerianos que coloca questões relacionadas com o poder e a submissão. Esse é um tema transversal nestas imagens, mas o trabalho de Hugo abrange um espectro mais largo de interesses, muitos dos quais rondam a questão da identidade, um assunto imerso em dramatismo na África do Sul pós-apartheid.
Veja-se a este propósito a série "Km", realizada nos últimos oito anos e na qual Hugo surpreende uma paisagem étnica, social e economicamente contraditória, ou "There Is a Place in Hell for Me and My Friends", na qual mostra os seus amigos em imagens onde os tons surgem exageradamente escurecidos, deixando assim claro que somos todos coloridos.
A desequilibrada vida da África Austral e os seus bloqueios são, aliás, presenças constantes nos trabalhos de Hugo, embora o seu olhar sobre ela oscile com frequência entre o documental e o alegórico, apesar de sofrerem sempre uma leitura política inevitável, como diante da série "Permanent Error", captada numa lixeira do Gana onde adolescentes apanham lixo eletrónico e onde a normalidade é a própria devastação. Ainda que Hugo contorne o exótico, há nas suas imagens uma estranheza e uma força desconcertante na qual cabem, nunca suavizadas, a violência, o sobrenatural e a morte.
A série "Nollywood", captada na Nigéria no seio de uma das maiores indústrias cinematográficas do mundo, é um bom exemplo de como Hugo usa a fotografia para estabelecer um olhar negociado — simultaneamente factual e ficcional — com o mundo que o rodeia, usando a teatralidade e a fantasia para penetrar o imaginário da África Austral contemporânea.
Hugo olha a realidade dura da África do Sul e dos seus vizinhos capturando imagens que são sempre mais poderosas do que a soma dos seus elementos burlescos, trágicos ou anedóticos. Consciente de todos os traumas e violências identitárias, o fotógrafo não se deixa circunscrever pela retórica corrente sobre elas. As suas imagens não são nunca ilustrações dóceis. Essa é a sua força decisiva.
Crítica de Celso Martins publicada no suplemento "Atual" do jornal "Expresso" a 5 de Abril de 2014.
Scholastique Mukasonga, autora de "Notre-Dame du Nil", acaba de apresentar o seu novo livro "Ce que murmurent les colines".
"La Maritza, c'est ma rivière..." a chanté Sylvie Vartan. Moi qui n'oserai pas chanter, je me contenterai de murmurer : "La Rukarara, c'est ma rivière..." Oui, je suis bien née au bord de la Rukarara, mais je n'en ai aucun souvenir, les souvenirs que j'en ai sont ceux de ma mère et de son inconsolable nostalgie.
Entrevista do poeta sítio Adonis à France Culture.
A 84 ans, le doyen des poètes arabes, qui publie depuis 1947, continue de cheminer sur la voie de la rébellion et de la radicalité fondatrices de son œuvre. Œuvre qui dès le commencement procède d’une critique sans concession du système religieux islamique sclérosé qui s’est imposé au corps social pour l’enfermer dans l’exclusivisme, la non-reconnaissance de la moindre altérité, le laissant prospérer dans la médiocrité de l’être."
Depuis dix ans, ce pays plus grand que la France, rebondit de crise en crise. Celle de 2013-2014 est sa troisième guerre civile de la décennie. La plus violente, la plus meurtrière, mais aussi celle dont le monde commence à percevoir l’écho. Et le drame.
Didier Kassai conta-nos através da banda desenhada o drama dos ciadadãos da República Centroafricana. Neste link poderão ler quatro episódios.
A Biblioteca Parque Estadual abriu as suas portas no Rio de Janeiro no passado Sábado. Mais de 200 mil livros de ficção e não-ficção, livros de arte, biblioteca infantil, 20 mil filmes, três milhões de músicas digitalizadas. A biblioteca promove também experiências com oficinas, laboratórios, plataformas multimédia e uma diversidade de linguagens artísticas. Neste momento, apresenta uma exposição que celebra o centenário do nascimento de Vinícius de Moraes.
Wachanga Ndirangu, Professor Associado de Jornalismo na Universidade de Wisconsin, escreve sobre a responsabilidade dos intelectuais quenianos de guiar a nação.
Our national failure to pause and evaluate post-independence shortcomings and triumphs has clearly led to the omission and regrettable repression of collective histories and memories. Yet what is repressed always returns to haunt, as it did in tragic ways in 2007.
It should be the work of Kenyan intellectuals to guide the nation in debating and understanding these issues, translating Kenyans to other Kenyans.
O 15º jornal do Próximo Futuro está inteiramente dedicado a Pieter Hugo, cuja exposição "This Must Be the Place | Este é o lugar" inaugura hoje às 18h30.
A 3ª sessão do Observatório de África, América Latina e Caraíbas intitula-se "Uma História de Protesto Popular e Luta Anticolonial: Política em Portugal e no Império Português do Século XIX ao 25 de Abril" e terá lugar no dia 29 de Março, às 15h, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian.
A 3ª sessão do Observatório de África, América Latina e Caraíbas intitula-se "Uma História de Protesto Popular e Luta Anticolonial: Política em Portugal e no Império Português do Século XIX ao 25 de Abril" e terá lugar no dia 29 de Março, às 15h, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian.
Pieter Hugo, "Chris Nkulo and Patience Umeh, Enugo, Nigeria" (2008)
Apresentação do livro "This Must be the Place | Este é o Lugar" no jornal Huffington Post em 2012:
"Through his portraiture photography and culturally embedded costumery, Hugo toys with the collective and individual identities associated with race and poverty in African countries."
Manifestaciones, abaixo assinados, elecciones, enfrentamientos con la policía, boicots electorales… la política tiene mil formas. En esta conferencia se va a proponer una reflexión histórica sobre las maneras de protestar en la historia de Portugal. Partiendo de la idea de que no sólo es interesante saber quién protesta y qué es lo que exige, sino también cómo lo hace, esta conferencia a invitar a pensar en los determinantes de la forma de la protesta en Portugal, desde el siglo XIX hasta la actualidad.
Diego Palácios Cerezales ensina história da Europa na Universidade de Stirling, na Escócia, e investiga a história do protesto popular, da policía e do Estado na peninsula ibérica. Em Portugal tem publicado os livros O Poder caiu na rua (Lisboa, ICS, 2003), Portugal á coronhada (Lisboa, Tinta da China, 2012) e Estranhos corpos políticos. Protesto e mobilização no Portugal do século XIX (Lisboa, Unipop, 2014). Será um dos oradores na 3ª sessão do 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas, no dia 20 de Março, às 15h, no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian.
Pieter Hugo e António Pinto Ribeiro em Bamako, 2011.
Pieter Hugo possui duas qualidades artísticas que fazem dele um fotógrafo fundamental na cena artística internacional. É um excelente retratista, na senda aliás, da tradição de uma história de fotografia de África onde os fotografados são tanto personagens da rua, vizinhos, como amigos e a família mais próxima como a mulher e o filho na mais profunda intimidade. A outra qualidade é o modo como, nómada, viaja pelo continente africano ou norte-americano documentando as contradições profundas deste mundo e onde dá a ver tanto as lixeiras tecnológicas na Nigéria para o lixo europeu, como as cenas de filmes de Nollywood ou os caçadores de hienas em pose. Um fotógrafo a mostrar a crueza do mundo, sempre "on the road".
A conferência De sufragistas a presidentas: avances y desafíos de la participación política de las mujeres en América Latina com Sarah Cerna Villagra (Universidade Nacional Autónoma de México) tem lugar no dia 20 de Março, às 18h, no ISCTE-IUL. Será seguida da projecção do documentário Las sufragistas de Ana Cruz (México, 2012).
Parte importante dos discursos memorialistas e historiográficos que assinalam o 25 de Abril de 1974 referencia-o como um dos eventos fulcrais da História Contemporânea de Portugal, nomeadamente considerando-o como momento fundador do regime democrático português. Se este argumento não merece contestação, uma genealogia do evento menos atenta à sua repercussão nacional convidará a que o compreendamos não apenas na sequência de lutas travadas contra a ditadura mas também contra o colonialismo. Dito por outras palavras, o 25 de Abril deverá ser entendido não apenas como fim do Estado Novo mas também como o fim do Império Português e, seguindo uma formulação anti-imperialista relativamente clássica, podemos dizer que houve uma relação virtuosa entre as lutas sociais travadas na Europa e as lutas nacionais travadas em África. O reconhecimento desta relação virtuosa é, todavia, apenas uma parte da história que pretendemos contar. Se partilhamos uma genealogia do 25 de Abril que não o confina a um sentido histórico português, igualmente pretendemos contribuir para uma genealogia que não confine nacionalmente a história do anticolonialismo. Isto é, pretendemos elaborar uma genealogia das lutas anticoloniais que não reduza o seu sentido ao de uma etapa preparatória dos regimes políticos edificados após as independências. Para este efeito, nesta comunicação, seguindo em particular o processo de construção do discurso de um dos mais importantes dirigentes anticoloniais, Amílcar Cabral, propomos elaborar uma história particularmente atenta à circulação e transformação de certas tecnologias de poder entre territórios metropolitanos e territórios coloniais, nos domínios científico, político e militar.
José Neves é Historiador noInstituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Será um dos oradores na 3ª sessão do Observatório de África, América Latina e Caraíbas no dia 29 de Março.
"Uma História de Protesto Popular e Luta Anticolonial: Política em Portugal e no Império Português do Século XIX ao 25 de Abril" é o tema da 3ª sessão do Observatório, que será realizada no dia 29 de Março às 15h no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian. Os oradores serão Diego Palacios Cerezales (Historiador, Universidade de Stirling) e José Neves (Historiador,Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa). Serão moderados por Fátima Sá e Melo Ferreira (Historiadora,ISCTE-IUL).
Na época contemporânea, da resistência às invasões francesas até aos anos do PREC, Portugal foi atravessado por vários episódios de revolta e contestação popular. A história deste protesto é muitas vezes remetida a um estatuto secundário, sendo dada primazia ao estudo dos conflitos entre os actores institucionais. Neste debate, ir-se-á analisar as diferentes formas da política ’a partir de baixo‘, atendendo tanto a períodos de normalidade institucional como de crise de regime. Simultaneamente tentar-se-á que esta história do protesto popular, no Portugal contemporâneo, seja igualmente interpelada pela análise do passado colonial e das lutas anticoloniais. Esta interpelação, cuja razão de ser mais visível poderia ser o facto da democratização e da descolonização terem coincidido no processo revolucionário de 1974/75, convida a olhar para a circulação de conceitos e práticas de resistência, a caminho de uma história da Europa que deverá ser uma história dos seus espaços imperiais e vice-versa.
Vejam a programação do 4º Observatório de África, América Latina e Caraíbas.
A UNIPOP e a revista imprópria organizam no dia 22 de Março, na Casa da Achada em Lisboa (ver localização aqui), "Stuart Hall: uma conversa inacabada sobre cultura, pós-colonialismo e neoliberalismo", assim como a projecção do filmeThe Stuart Hall Project.
PROGRAMA
17h-20h – debate com a participação de:
Ricardo Noronha – historiador e investigador do Instituto de História Contemporânea (FCSH-UNL)
Nuno Domingos – sociólogo e investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Sofia Sampaio – doutorada em Estudos Culturais e investigadora do Centro em Rede de Investigação em Antropologia – CRIA
Manuela Ribeiro Sanches – professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e directora do Centro de Estudos Comparatistas
Marcos Cardão (moderação) – historiador e investigador do Instituto de História Contemporânea (FCSH-UNL)
21h30-23h – projecção do filme The Stuart Hall Project
Autor prolífico e heterogéneo, Stuart Hall foi preponderante para a consolidação académica dos estudos culturais e para a emergência da «nova esquerda», tornando-se um dos editores da revista New Left Review. A sua determinação em analisar objectos de baixo estatuto cultural, relacionando cultura, poder e política, abriu campos de pesquisa e influenciou múltiplos leitores. A sua obra foi igualmente vital para os debates sobre etnicidade, multiculturalismo e diferença, mas também sobre o significado político do thatcherismo, cuja emergência política foi analisada em Policing the Crisis (1978). A obra, influência e legado de Stuart Hall vai servir de pretexto para uma conversa com Ricardo Noronha, Nuno Domingos, Sofia Sampaio e Manuela Ribeiro Sanches. A sessão incluirá ainda a projecção do filme The Stuart Hall Project (2013), realizado por John Akomfrah.
(...) Hugo often works in, and undercuts, established traditions. If his portraiture questions the very validity of the portrait as a means of expressing anything meaningful about the subject, his human typologies – honey collectors, workers on a vast technology dump in Ghana, actors working in "Nollywood", the Nigerian film industry – are notable, too, for the ways in which they comment on identity, belonging and self-expression in post-colonial Africa.
Uma entrevista com o curador da exposição "This Must be the Place | Este é o lugar", Wim van Sinderen, aquando da apresentação da exposição no Fotomuseum em Haia.
E uma entrevista com o fotógrafo, Pieter Hugo.
A exposição Este é o Lugar abre ao público no próximo dia 28 de Março.
Estão abertos dois concursos para a atribuição de bolsas de investigação no âmbito do projecto "UNPLACE - Um museu sem lugar: museografia intangível e exposições virtuais" do Instituto de História da Arte da FCSH/UNL.