Uma linha recta. Um traço fino. Divide? Não. Une. O continente e a Ilha.
Azul turquesa líquido. Branco areia fina. Casa de macúti, casa de pedra e cal. A costa, a contra costa, o omnipresente Indico. O hospital, a praça, a casa da flor, o forte, as arcadas. O Arsenal gigantesco, um escudo na fachada.
Mussa Al Mbique. Camões. Xavier. Fatimah. Pedro. Oxi. Nazira. Gabriel. Rino. Felismino.
“Quero ser arquitecto, como o Alexandre que trabalha na UNESCO.” Disse o menino.
A porta aberta. O contra luz. Um retrato a preto e branco. A mão tapa o sorriso. A máscara de pó branco. Mussiro. O riso. A dança. Cheira a sal. Turista. O barco. As ilhas. Mais praia. Água morna. Missangas. Vidros. Corais. Moedas. Muito antigas. Mais risos.
“Não há cães na ilha. Abateram-se 52 cães vadios.” Passeia um gato.
Sol aberto. Céu celeste. Luz. Silêncio. Silêncio e luz. Calor. Quase lume. Proteger a pele. Branca. Negra. Quantos quartos tem este pátio? Um véu que desenha os olhos. Descalçar. Voz de chamada. Ouvi um sino. O por do sol. A madrugada. Ventania. Silêncio e ventania. Mesquita verde. Igreja branca.
Deus. Uma linha recta. Um traço fino. Divide? Não. Une.
Elisa Santos
Missionária/Técnica em actividades de desenvolvimento comunitário
P.S. A Ilha de Moçambique tem cerca de 3 km de comprimento, 300-400 m de largura e está orientada no sentido nordeste-sudoeste à entrada da Baía de Mossuril na província de Nampula. Foi a primeira capital de Moçambique e desde 1991 é Património da Humanidade. Decorrem obras de reabilitação que contam com o apoio da UNESCO e o Forte de S. Sebastião deverá acolher em breve uma universidade.
População: 186,007 (censo de 2001)
Área: 19,6 Km²
A 1014 m de altitude, no centro da África Austral, vive uma cidade jardim que dá para o céu. Se cada cidade tem um sotaque, Gaborone tem os “erres” muito fortes: o próprio nome da cidade, dita Raborone, a palavra senhor, rra, passando esta forte pronúncia também para o inglês.
Elevada a capital um ano antes da independência (1965), devido à proximidade de água ali existente, disfruta de Pula – chuva, dinheiro, brindes – até à exaustão. A riqueza é-lhe dada pelos diamantes e pela criação de gado, a chuva só a trechos, e os brindes todos os fins-de-semana, de sexta a domingo, nos bares da cidade ou em festas oficiais e privadas.
Mas depois da festa vem o cansaço, que se pode ver no modo de andar lento e pacato dos seus habitantes, expostos a temperaturas extremas durante todo o ano, que oscilam entre os 5 e os 45 graus.
Cidade de terra vermelho ocre, com odor de deserto, pela distância que a avizinha do Kgalagadi, a sensação de infinito vai-a buscar ao céu, de um azul límpido, pontilhado de nuvens curiosas, e o contrabaixo contínuo ao verde que a acompanha e atravessa em todas as direcções.
A música é um elemento constante em toda a cidade, seja a que irrompe da loja chinesa de Broadhurst aos sábados – com um cantor, de microfone na mão, que serve de chamariz para os compradores distraídos – seja o African Pop, Afro Techno ou Kwasa-Kwaito (mistura entre o Kwasa Kwasa congolês e o Kwaito sul-africano) que ecoa pelo Main Mall a qualquer hora do dia, ou ainda a que se evapora das igrejas zionistas, a que se murmura nos pequenos bairros dos muitos zimbabweanos que sonham um dia poder regressar e nas festas da comunidade cubana. Também as combis (transporte semi-colectivo), num delirante vaivém, transpiram a música, depois da pausa feita para o pagamento dos 3 Pulas de tarifa.
O poeta contemporâneo Tiro Sebina foi quem melhor conseguiu captar a atmosfera da cidade no seu poema "Gaborone".
Sandra Pires
Leitora do Instituto Camões no Botswana
Like a net; Egoli collects the brightest stars of the dark constellation, coming to chip away at her gold and seeking her diamonds
Its beacon of light: the coke tower, now the vodacom tower with its prostitutes, and hustlers, Joburg proudly displays her disparities, even in the scenic Joubert Park with its whites only benches and likewise drinking fountains.
My mother told me stories of batoned police keeping the peace in the town centre. I remember riot police, enforcing the law, and keeping the pavements safe. Back then there were no street vendors from Ghana and Mozambique selling roots and herbs, or Chinese traders vending golden watches and sunglasses.
Like a magnet Jozi transfixes the country bumpkin, fresh off the train and teaches him to wield a knife, as he slips into the seat of his newly acquired German-crafted, four-wheeled status symbol. Oranges, pears, bananas, and avocados tumble to the ground as a father of four looses his pulse in the wake of Jakes and his crews´ scrambling feet-cuoshioned in the high stepping bright white All Star trainers; as red syrup seeps in to the concrete sidewalk.
Deeper and deeper below, the sound of the pneumatic drill comes to an abrupt halt as an army of sixteen blackened faces burrows further in search of a slight twinkle in the dark. Their black voices beat on the army of white ear drums above with their hands on their hips.
In the Newtown District, the new generation, the first generation, of black-diamonds* sips cocktails, and strokes silk-clad thighs, while signing million rand contracts in the full glory of the African sun. They... we, smile, and the African sky smiles back. After all we are the new precious article of this Southern Africa Capital. The new kings and queens driving capital and industry on the very streets where our grandparents drove wheel barrows. We spit instructions in English, Sotho, and Venda, while receiving concurrence in Afrikaans, Xhosa and the almighty Zulu.
On either end; Alexandra and the infamous Soweto townships buttress this powerhouse of African modernity. In these outskirts of Johannesburg the young and old continue the waiting game for fathers and mothers to return to these battlegrounds where dreams are dashed and schemes realised.
Jabulani Maseko
* A marketing term describing the group of young black (not including Indians or coloureds) South Africans who make up the middle class (well-educated, wealthy, salaried, in suitable employment, creditworthy, property and car owners, aspirant, with confidence in themselves and in the future).
Fotografia:
Jabulani Maseko
Afrovova
Morreu Dennis Brutus, poeta sul-africano. Mais aqui
1.
Golden oaks and jacarandas
flowering:
exquisite images
to wrench my heart.
2.
Each day, each hour
is not painful,
exile is not amputation,
there is no bleeding wound
no torn flesh and severed nerves;
the secret is clamping down
holding the lid of awareness tight shut—
sealing in the acrid searing stench
that scalds the eyes,
swallows up the breath
and fixes the brain in a wail—
until some thoughtless questioner
pries the sealed lid loose;
I can exclude awareness of exile
until someone calls me one.
3.
The agony returns;
after a crisis, delirium,
surcease and aftermath;
my heart knows an exhausted calm,
catharsis brings forgetfulness
but
with recovery, resilience
the agony returns.
4.
At night
to put myself to sleep
I play alphabet games
but something reminds me of you
and I cry out
and am wakened.
5.
I have been bedded
in London and Paris
Amsterdam and Rotterdam,
in Munich and Frankfort
Warsaw and Rome—
and still my heart cries out for home!
6.
Exile
is the reproach
of beauty
in a foreign landscape,
vaguely familiar
because it echoes
remembered beauty.
(1975)
E um dos maiores poetas africanos, um herói.
Escrever 15/20 linhas sobre Montevideu. Montevideu é rambla. Sem dúvida que este passeio marítimo de 22km é aquilo que mais me atrai nesta cidade. Correr ou caminhar ao amanhecer pela rambla de Pocitos, semelhante a uma baía de um Rio de Janeiro, ou de uma Luanda, é, seguramente, dos melhores momentos do dia, aproveitando a luz e o cheiro do Rio de La Plata. Para recuperar forças – e porque não é dia de trabalho – um bom pequeno-almoço nas Medialunas Calentitas, impossíveis de se lhes resistir. Entre Pocitos e a Ciudad Vieja, uma saltada à Feira de Tristán Narvaja, caminhar por entre o verde dos legumes e o colorido das frutas, cães, aves e peixes de aquário, tudo isto é possível de se encontrar na feira mais gostosa e sui generis de Montevideu, e livros, muitos livros, velhos, amarelecidos e edições difíceis de encontrar. Hora de almoço – sempre tardio -, uma ida ao El Abrazo, uma livraria, loja de artesanato e de roupa, e uma sala de exposições, para além do divertido e colorido restaurante. É de perder – sem perder tempo – umas boas horas neste lugar tão acolhedor, entre livros, anéis, chás e boas conversas. Final de tarde, e como “Montevideu é rambla”, desfrutar do indescritível pôr-do-sol da praia Gonzalo Ramires. E, para terminar, nada melhor que ir, com amigos, a La Pulpería, em Punta Carretas, e picar uma tira de assado, um olho de bife, acompanhados pela maravilhosamente bem temperada salada de alface, tomate e cebola. ¿Y qué le parece?
Raquel Carinhas
Leitora de português