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NEVA (Chile)
Companhia Teatro en el Blanco
Encenador: Guillermo Calderón
Com: Paula Zúñiga, Trinidad González e Jorge Eduardo Becker
Colaboração: Festival Santiago a Mil
Duração: 80’
19 e 20 Junho, Sábado e Domingo, às 21h30
Palco do Grande Auditório
Preço: 10 euros
Baseada em acontecimentos e personagens reais, Neva, de 2008, é uma reflexão crítica e sarcástica sobre o teatro, a representação e as suas limitações, cuja encenação questiona os limites do realismo teatral e o compromisso do artista com os conflitos sociais da sua época.
Esta peça foi a primeira produção da Companhia Teatro en el Blanco e do seu director, o dramaturgo e encenador chileno Guillermo Calderón. Tal como em peças posteriores de Calderón, o texto emprega o distanciamento brechtiano para interpelar os espectadores contemporâneos e estabelece uma equivalência tácita entre o rio Neva de São Petersburgo – manchado de sangue com os corpos dos operários assassinados, em 1905 – e o rio Mapocho de Santiago – onde foram lançadas muitas vítimas da violência política chilena, em 1973. É criada uma atmosfera de espessura dramática em que as personagens protagonizam um duelo verbal, enquanto no exterior se desencadeia uma convulsão social. A encenação apoia-se no desempenho enérgico do elenco e concentra a tensão num pequeno cenário de 4 metros quadrados.
Neva teve grande impacto no Chile, vencendo três prémios Altazor («Melhor Dramaturgia», «Melhor Encenação» e «Melhor Actriz») e o Prémio Círculo de Críticos de Arte. Circulou também por cerca de 20 países, entre os quais a Argentina, Peru, Espanha (Festival de Cádis e Almagro), Brasil, Itália (Milão, Roma, Nápoles, Modena) e Coreia do Sul, alcançando o reconhecimento mundial pela forma como revitaliza o chamado ‘teatro político’.
Ensaio geral, 17 de Junho 2010. Foto de Pauliana Pimentel.
Esta sexta-feira à noite, METROPOLIS. Projecção do filme de Fritz Lang com música ao vivo de Martin Matalón, interpretada pela Orquestra Gulbenkian e convidados. Direcção de Martin Matalón. No Anfiteatro ao ar livre, 21h30.
Published18 Jun 2010
Tags lições
Gayatri Chakravorty Spivak é a segunda convidada do ciclo de lições do Próximo Futuro.
O FUTURO COMO VIZINHO, por Gayatri Chakravorty Spivak
19 de Junho, sábado, 18h30, Auditório 2
Comunicação baseada na ambiguidade da tradução: Próximo Futuro como “O Futuro enquanto ’O‘ Próximo” e não como “O Próximo Futuro” (é assim que prochain é propositadamente mal traduzido em Levinas). Se pensarmos em termos espaciais e não sequenciais, tal como a contemporaneidade global de hoje nos obriga, somos persistentemente forçados a traduzir a Europa como local de intervenção. Como é que, então, nós pensamos o futuro? Referir-me-ei especificamente a Aime Cesaire em “Une Saison au Congo”.
GAYATRI CHAKRAVORTY SPIVAK nasceu em 1942, em Calcutá. Faz crítica literária, teórica, e auto-intitula-se ’marxista-feminista-desconstrucionista prática‘. Ficou famosa pelo artigo “Can the Subaltern Speak?”, considerado um dos textos fundadores do pós-colonialismo, e pela sua tradução de “Gramatologia” de Jacques Derrida. É professora na Columbia University, onde foi nomeada ‘University Professor’ em Março de 2007. Provavelmente, é mas conhecida pela utilização aberta da política das teorias culturais e críticas contemporâneas, que questionam o legado do colonialismo, na forma como os leitores se envolvem com a literatura e a cultura. Concentra-se, frequentemente, nos textos culturais dos marginalizados pela cultura ocidental dominante: o novo imigrante, a classe trabalhadora, as mulheres e o ’objecto pós-colonial‘. É também membro visitante do Centre for Studies in Social Sciences, em Calcutá.
Published18 Jun 2010
Tags lições
Cabe a Néstor García Canclini dar início ao ciclo de Lições, programadas pelo Próximo Futuro até 2 de Julho.
Da Convivência à Sobrevivência: Olhares desde a Arte e a Antropologia, por Néstor García Canclini
18 de Junho, sexta-feira, 18h30, Auditório 2
Alguns antropólogos, como Marc Abélès, afirmam que temos mudado o nosso relacionamento com a política: deixámos de nos preocupar com os modos de convivência, da sociabilidade, e passámos para uma fase em que a sobrevivência domina essa preocupação. Quando a sociedade se torna sombria e cada vez mais precária, deixamos de olhar para o futuro com o intuito de o planearmos: passamos da precaução à prevenção. A arte contemporânea explora este horizonte através da crítica às narrativas hegemónicas do capitalismo, da globalização e das religiões (Muntadas, Meireles, Ferrari) ou construindo narrativas de impossível totalização (Dora García, Carlos Amorales). Nesse percurso, a própria arte questiona-se pelo seu lugar e pelo seu futuro. Na linha da antropologia e da sociologia, que substituem a questão sobre «o que é a arte» pela questão «quando é arte», vamos propor que o inerente à arte é situar-se no lugar da iminência: anunciar aquilo que pode acontecer, insinuar sentidos possíveis. Que antropologia do social e que políticas poderiam resultar de uma arte onde os factos não acabam de produzir-se, que não procura converter-se num ofício codificado nem numa mercadoria rentável?
NÉSTOR GARCÍA CANCLINI é professor na Universidade Autónoma Metropolitana do México e investigador emérito do Sistema Nacional de Investigadores. Foi professor visitante nas universidades de Austin, Duke, Nova Iorque, Stanford, Barcelona, Buenos Aires e São Paulo. Recebeu a bolsa Guggenheim e vários prémios internacionais pelos seus livros, entre os quais o Book Award da Latin American Studies Association pelo “Culturas híbridas”. Autor de uma obra extensa, traduzida em várias línguas, como o inglês, o francês, o português e o italiano, destacam-se “Latinoamericanos buscando lugar en este siglo”, “La globalización imaginada” e “Diferentes, desiguales y desconectados. Mapas de la interculturalidad”. Actualmente, as suas investigações centram-se nas relações entre estética, antropologia e usos da comunicação nas culturas juvenis.
Começa já esta sexta-feira, 18 de Junho, uma nova fase no Programa Próximo Futuro, que se dedica à criação teórica e artística na Europa, América Latina, Caraíbas e África. Até dia 11 de Julho, os auditórios e o Jardim da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, vão ser animados com instalações artísticas, conferências, espectáculos de música, teatro e dança, um ciclo de cinema, e ainda uma série de actividades educativas dirigidas a públicos de todas as idades.
O Brilhante Futuro da Cana-de-Açúcar, mural na garagem da Fundação Gulbenkian
© Pauliana Pimentel
A programação arranca com a exposição de um conjunto de obras criadas expressamente para a ocasião: em frente ao Museu, apresenta-se a instalação Liberty leading the people, criada pelo camaronês Barthélemy Toguo, que se inspirou livremente na obra de Eugène Delacroix; no estacionamento subterrâneo da sede da Fundação – um espaço raramente utilizado para intervenções artísticas – será apresentado um mural de grandes dimensões que se intitula O Brilhante Futuro da Cana-de-Açúcar, do artista brasileiro Kilian Glasner. O objectivo é proporcionar o confronto dos visitantes habituais e ocasionais dos espaços públicos da Fundação com estas e outras instalações, contribuindo para o debate sobre a intervenção das obras de arte no espaço público.
Instalação Natureza Morta no Jardim Gulbenkian (em frente ao lago)
© Pauliana Pimentel
A 18 de Junho, terá também início um ciclo de Lições, com a presença de alguns dos mais prestigiados conferencistas portugueses e estrangeiros. As primeiras Lições estarão a cargo do argentino Néstor Canclini (18 Junho) e da indiana Gayatri Chakravorty Spivak (19 Junho). As restantes Lições do ciclo contarão ainda com a presença de nomes como José Tolentino Mendonça, Ruth Simbao (África do Sul), José Del Pozo (Chile) e Alan Pauls (Argentina).
O filme Metropolis será projectado ao ar livre com acompanhamento musical ao vivo
Os meses de Junho e Julho marcam igualmente o regresso dos espectáculos no Jardim, onde será repetida a experiência do ano passado, com concertos e a projecção de filmes no anfiteatro ao ar livre. A 18 de Junho, o argentino Martín Matalon apresenta Metropolis, a sua composição musical de forte componente electrónica, que concebeu em 1995 a partir do filme Metropolis (1927), obra de referência de Fritz Lang que será projectada em simultâneo com o concerto da Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo próprio compositor. No dia seguinte (19 Junho), haverá uma Conferência com Martín Matalon sobre a concepção desta partitura.
Lula Pena vai apresentar o seu novo álbum na Fundação Gulbenkian
Pelo anfiteatro ao ar livre irão passar outros nomes a descobrir, como a lendária Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou (27 Junho) e Lucas Santtana (4 Julho), colaborador habitual de Tom Zé, Arto Lindsay ou João Brasil. A programação de concertos também celebra o regresso da portuguesa Lula Pena (2 Julho), que irá apresentar a sua nova obra "Troubadour", depois de uma espera de 12 anos desde a gravação do seu último álbum de temas originais.
Também ao ar livre, as sessões da Cinemateca Próximo Futuro começam no dia 22 de Junho, com o filme peruano La Teta Asustada, vencedor em 2009 do Urso de Ouro em Berlim e nomeado este ano para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. O ciclo apresentará ao longo de várias sessões outras obras latino-americanas e africanas.
Este ano também o Grande Auditório da Fundação vai receber teatro e dança, no âmbito da programação do Próximo Futuro, com os espectáculos chilenos Neva (19 e 20 Junho) e Hechos Consumados (25 e 26 Junho), e ainda Cribles (3 de Julho), uma peça para 10 intérpretes da coreógrafa francesa Emmanuelle Huynh, que também passará pelo Auditório de Serralves a 7 de Julho.
Tenda dos Ecos, onde todos os domingos serão contadas histórias no Jardim
© Márcia Lessa
Todos os domingos, entre 18 de Junho e 11 de Julho, haverá também Palavras Daqui, Dali e Dacolá, uma iniciativa artística entre o Próximo Futuro e o Descobrir que contempla oficinas e outras actividades para públicos de diferentes idades, em que as palavras ocuparão um estatuto especial. É no âmbito desta colaboração, que se realiza no dia 11 de Julho a última apresentação no anfiteatro ao ar livre, com o espectáculo de “spoken word” Palavras na Cidade (com direcção artística de Carla isidoro e Chullage).
Reserve estas datas!
Recomenda-se o Tate Channel, com uma série de vídeos onde se incluem conferências (em diferido) organizadas pela instituição, com destaque para After Post-Colonialism: Transnationalism or Essentialism? - Part 1 (08.05.2010)
Published15 Jun 2010
Tags cuba
A propósito da libertação do prisioneiro político Ariel Sigler no último sábado, regressemos ao blog Generación Y, da cubana Yoani Sánchez, residente em Havana.
METROPOLIS
18 de Junho, sexta-feira, 21:30
Anfiteatro ao ar livre da Fundação Gulbenkian
Música de Martín Matalon para 16 instrumentistas & electrónica
Direcção de Martín Matalon
Músicos da Orquestra Gulbenkian e convidados
Projecção do filme de Fritz Lang (1927), na versão de 1995 (Cinemateca de Munique)
140’
Metropolis de Fritz Lang foi um marco nos primórdios do cinema fantástico e de ficção científica. A produção exuberante, com um estilo art déco ultra-moderno, as suas legiões de figurantes, e efeitos especiais que envolviam tecnologia de ponta, fizeram com que se tornasse um dos filmes mais visualmente assombrosos da sua era. Foi também a produção mais cara feita até então. As imagens da tecnologia dominam o filme e são tão importantes quanto a narrativa. Mas é sobretudo o Maschinenmensch (máquina-humano), o celebrado robô de Lang, que representa de forma mais expressiva a crítica à tecnologia que estava na agenda cultural daquela época.
O filme é mudo, prestando-se naturalmente ao acompanhamento musical. Ao longo dos anos, vários compositores escreveram música para Metropolis, mas a banda-sonora do argentino Martín Matalon é uma das mais brilhantes e pungentes. A sua visão plástica do som torna os elementos musicais quase tangíveis, correspondendo perfeitamente às exigências da sétima arte. Desde a primeira encomenda que lhe fizeram para cinema – a partitura para Metropolis de Fritz Lang –, que o compositor soube tecer um contraponto entre imagem e música, com base na estrutura rítmica que a montagem proporciona.
A componente electrónica contribui muito para o mundo sonoro que Matalon cria. Este espectáculo implica um sistema de som altamente sofisticado, de que os espectadores irão usufruir no Anfiteatro ao ar livre da Fundação Gulbenkian e que permite efeitos espaciais de cortar o fôlego. Os instrumentos são amplificados e os sons instrumentais e electrónicos misturam-se até se tornarem indistintos, criando um efeito desorientador que costuma ter um impacto dramático considerável. O compositor também se aproxima muitas vezes do Jazz, com os saxofones ou os trompetes em surdina, recorrendo igualmente a uma variedade de instrumentos de percussão não-ocidentais.
Bilheteira online
Um depoimento de Alan Pauls (Buenos Aires, 1959) em quatro partes: 1. Las mujeres / 2. El amor y las palabras / 3. El amor como enfermedad / 4. El olvido
ALAN PAULS vai estar a 2 de Julho na Fundação Gulbenkian (Aud. 2, 18h30) para falar sobre:
Possibilidades de vida: literatura e poéticas existenciais«Todo o escritor fabrica uma personagem conceptual para escrever sem escrever, para continuar a fazer literatura, onde não há outro suporte para além do ‘aqui e agora’ da experiência o que, à falta de uma palavra melhor, chamamos ’vida‘. Essas personagens conceptuais não são circunstanciais. São o próprio resultado daquilo que escrevem: a verdadeira obra das suas obras e, frequentemente, a obra-prima. Na invenção dessas máscaras estratégicas, espreitam formas inovadoras de colocarem a literatura e a vida em pé de igualdade.»
Alan Pauls publicou ensaios sobre cinema, literatura e artes visuais. É autor dos romances “El pudor del pornógrafo”, “El colóquio”, “Wasabi”, “El pasado” (prémio Herralde 2003), “Historia del llanto" e "Historia del pelo”, e dos ensaios “Manuel Puig. La traición de Rita Hayworth”, “Lino Palacio: la infancia de la risa”, “El factor Borges. Nueve ensayos ilustrados e La vida descalzo”. Os seus livros foram traduzidos para mais de doze idiomas.
«(...)Estive dia desses numa dessas "mega store" que fantasiam os shoppings centers da capital. Diante da estante de literatura estrangeira, perguntei ao vendedor onde eu poderia encontrar o romance O fantasma da prostituta, de Norman Mailer. Como os livros estavam dispostos por assunto, a resposta ficou difícil para o atendente. Depois de consultar seus colegas, o gerente, o caixa, ele me veio com esta: "prostituição... deve estar na secção de sociologia, mas como tem fantasma no meio, veja na seção de autoajuda, ou de religião, ou de espiritismo".(...)»
As estantes das livrarias e a Comunicação, no blogue de José Salvador Faro, professor da UMESP e da PUC-SP (via Indústrias Culturais)
Em vésperas do início do Mundial de Futebol na África do Sul, relembramos que nos dias 23 e 24 de Junho, às 22h, o Próximo Futuro vai projectar, em duas partes, no Anfiteatro ao ar livre da Fundação Gulbenkian, o filme WHEN WE WERE BLACK.
Filme composto por uma série de quatro episódios, de 48 minutos cada, apresentados em dois dias, dada a sua extensão. O realizador sul-africano Khalo Matabane (n.1975) conta, nesta mini-série, a história verídica de um adolescente negro que, apaixonado por uma jovem activista política e para ganhar a sua afeição, entra no mundo da luta revolucionária contra o apartheid. Este seu envolvimento político terá, como consequência, a sua morte precoce a 16 de Junho de 1976, uma data simbólica para a comunidade negra sul-africana. Através desta narrativa, a série conduz-nos tanto ao ambiente da luta anti-apartheid, como ao ambiente social e político, da moda e do pensamento sul-africano, expressos nas ruas do Sowetto por jovens de sapatos brilhantes, de verniz, e calças reluzentes, dançando ao som dos Teenage Lovers, The Beaters, The Movers e dos Flaming Souls, assim como de Stevie Wonder, Marvin Gaye e Aretha Franklin, com penteados afro e com a palavra de ordem «I’m Black and I’m Proud». A série foi seleccionada como Special screenings de INPUT 2007, na Suíça, e foi ganhadora de sete prémios, incluindo o de melhor série dramática de Televisão e de Realização pela South African Film and TV awards.
(...)Many people wonder if it is possible to characterise the African game in the same way that, for example, we characterise South American football. The answer is no.
The African continent is so big. There are individual countries, such as Nigeria, that geographically, as well as demographically, would cover large parts of Europe. And that is the most common mistake we make, to regard Africa as a unity. Its football has as many variations as Europe.(...)
Now and then I go and watch a game of football in Maputo. What is remarkable is that the atmosphere among the supporters never seems aggressive. I have not seen a fight break out among fans. The mood at the stadium is marked by joy and incredible noise, almost like being at a carnival. Drums, pipes and whistles; dancing, jumping, cheering and sighing. It seems to me that the seriousness of the game has never been able to take control of the more playful parts. That, I believe, is Africa’s greatest gift to international football so far.(...)
Excertos do texto no Financial Times do escritor sueco Henning Mankell, que vive e trabalha metade do ano em Moçambique, onde dirige o Teatro Avenida, em Maputo.
No estacionamento subterrâneo da sede da Fundação Gulbenkian, continua a crescer o mural O Brilhante Futuro da Cana-de-Açúcar de Kilian Glasner. Já faltam poucos dias para a inauguração: 18 de Junho.
Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.
Os cães bolorentos de livros judeus
e a água suja do Sena escorrendo sabedoria.
O pulo da mancha num segundo.
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
Tarifas bancos fábricas trusts cracks.
Milhões de dorsos agachados nas colónias longínquas
formam um tapete para Sua
Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.
Submarinos inúteis retalham os mares vencidos.
O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos
arruinados.
Hamburgo, umbigo do mundo.
Homens de cabeça rachada cismam em rachar a
cabeça dos outros dentro de alguns anos.
A Itália explora conscienciosamente vulcões apagados,
vulcões que nunca estiveram acesos
a não ser na cabeça de Mussolini.
E a Suíça cândida se oferece
numa coleção de postais de altitudes altíssimas.
Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.
Não há mais Turquia.
O impossível dos serralhos esfacela erotismos
prestes a
declanchar.
Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam
o filme bolchevista
e no túmulo de Lenine em Moscou parece que um
coração enorme está batendo, batendo
mas não bate igual ao da gente....
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos,
minha boca procura a 'Canção do Exílio'?
Como era mesmo a 'Canção do Exílio'?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!
Carlos Drummond de Andrade
apr
The Festival Belluard Bollwerk International and the Migros Culture Percentage are looking for artistic projects that are dealing with hope.
At the beginning of the second decade of the 21st century hope seems to occupy centre stage on the political and cultural scene. Though a lot of the time no more than a rhetoric strategy to get people in line on issues like ecological doom, global confusion or political terror, a contemporary understanding of hope might prove to be a useful strategy in constructing a different perspective on our social and artistic attitudes.
Hope in this age is no longer projected upon a distant utopia, a far-away future. We no longer believe in the big ideologies, since we seem to have been sucked up head-over-heels by the all-encompassing musings of capitalism. Instead of dreaming about a bloody revolution, hope situates itself today in the eternal now: in every situation, relation, ethical set-up you commit to.
In other words: hope is about rethinking space and relations, about daring to allow change to happen, however small, in whatever kind of way. A hopeful gesture is one that alters the situation: between me and you, between me and my environment, and in that moment changes both of us.
As candidaturas podem ser enviadas até 18 de Outubro de 2010. Mais informações aqui.
De Ferreira Gullar é imperioso que se recorde - pelo menos o início - de Poema Sujo (1975):
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
(...)
apr
O brasileiro Ferreira Gullar foi esta semana anunciado como vencedor da mais importante distinção literária de língua portuguesa. Para além de ser um poeta extraordinário, é dramaturgo, contista e autor de ensaios sobre arte. Deixamos aqui um pequeno comentário a uma obra sua a propósito de Arte:
De Ferreira Gullar, Uma luz no chão é um manual de história das artes plásticas do século XX, acessível e abrangente. Trata das artes plásticas, da criação, dos mecanismos de produção, do mercado, das vanguardas, das bienais como feiras de arte (“montam-se e desmontam-se como as feiras”), das contradições da arte contemporânea. Excelente como introdução às teorias da arte moderna e contemporânea e com histórias de artistas e familiares. Como a história de Hortênsia, mulher de Cézanne, que passava longas horas a posar para o marido, situação que não lhe agradava e que porventura estará na raiz dos seu comentário, já como viúva, de que Cézanne demorava tanto tempo a pintar porque não sabia acabar os quadros. Verdade ou não, este comentário permite a Ferreira Gullar desenvolver uma teoria da obra que parece inacabada como obra perfeita.
apr
Paul Cézanne, Madame Cézanne in the Conservatory, 1891
The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque
Durante o ciclo de Lições do Próximo Futuro, que irá decorrer no Auditório 2 da Fundação Gulbenkian, entre 18 de Junho e 2 Julho, será disponibilizado ao público o serviço de wi-fi (tecnologia sem fios de acesso à internet) gratuito.
Neste artigo defende-se que "segregar artistas em nome da 'diversidade' é prestar-lhes um mau serviço". O ponto de partida para o debate é o trabalho de Yinka Shonibare, a powerful reminder that cultures are almost never "pure", but rather made from a messy entanglement of influences.
Para quem tem acompanhado as iniciativas anteriores ao Programa Próximo Futuro na Fundação Gulbenkian, o nome do tailandês Apichatpong Weerasethakul - que ganhou há poucos dias a Palma de Ouro na 63ª edição do Festival de Cannes com o filme "Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives" - não é desconhecido. Lembram-se de O Estado do Mundo: um filme em 6 partes? Um dos realizadores que integrava o colectivo era precisamente Apichatpong Weerasethakul, com a sua curta-metragem Luminous People (2007).
Um grupo de pessoas viaja num barco ao longo do rio Mekong, na fronteira entre a Tailândia e o Laos. Viajam contra o vento, antecipando uma despedida. A meio do rio, a matriarca da família lança as cinzas à água. Luminous People é a recriação de uma cerimónia que comemora a presença dos mortos e as memórias decadentes dos vivos, do cinema. Apichatpong e a sua equipa viajaram para Nong Khai, uma pequena vila perto do rio Mekong, e convidaram os seus habitantes a participar neste projecto. Durante os dois dias que passaram no barco, a equipa e o elenco recriaram uma cerimónia e encontram uma narrativa. Mais tarde, alguns dos elementos da equipa visionaram as imagens e as suas conversas foram gravadas. Durante o processo, um deles recuperou uma história do seu falecido pai que o teria visitado em sonhos. Apichatpong pediu-lhe para cantar para o filme.
«Ninguna de las pequeñeces políticas de los últimos días, ninguna desazón, contrariedad o humillación contra los valores esenciales de la nacionalidad y de las instituciones que la expresan pueden ser hoy más fuertes que la voluntad de festejar el destino compartido por generaciones de hombres y mujeres a lo largo de 200 años.»
Começa assim o editorial de hoje do jornal La Nación, a propósito das comemorações do Bicentenário da Independência da Argentina.
BUALA, o primeiro portal multidisciplinar de reflexão, crítica e documentação das culturas africanas contemporâneas em língua portuguesa, com produção de textos e traduções em francês e inglês, já está online. A partir de hoje, a equipa do Buala apresenta este projecto (ainda em fase experimental) a um grupo de pessoas, instituições e organizações com interesses afins, para que possam participar activamente, estando abertos a comentários, sugestões e novas colaborações.
Andrea Mohin/The New York TimesThe troupe Urban Bush Women at the Brooklyn Academy of Music.
Hoje, Dia Mundial de África, deixamos os nosso leitores com um link para o artigo do New York Times sobre o festival DanceAfrica, onde se desconstroem alguns clichés sobre a "dança africana".
Propriedade de um português, a cadeia de restaurantes Nando's é famosa pelo seu frango com piri-piri, inspirado na receita portuguesa "Galinha à Africana" e disseminada pelo mundo a partir do sucesso obtido na África do Sul. O Nando's - que goza de um enorme capital de simpatia pela sua comida e serviço prestado - tornou-se num dos locais de predilecção dos jovens e comunidades multi-raciais das cidades britânicas. Um caso de estudo de uma receita viajante, a fazer lembrar a reflexão de Amartya Sen no seu "Identidade e Violência" sobre as "viagens" do vindaloo ou do curry pelo mundo. O artigo completo aqui.
Entretanto, no estacionamento subterrâneo da Fundação Gulbenkian já estão a ser preparadas duas instalações que inauguram a 18 de Junho:
Foto de Jorge Martins Lopes
As "canas" de Kilian Glasner (Recife, 1977) começam a crescer na parede poente da garagem... O artista brasileiro iniciou hoje a pintura do seu mural de grande dimensões intitulado O Brilhante Futuro da Cana-de-Açúcar.
«Desenho com 5 metros de altura por 42 metros de largura (aproximadamente), a pastel, onde se equaciona de um modo particularmente subtil a actual cadeia de produção da cana-de-açúcar e a escala da sua economia, nomeadamente no que diz respeito à produção de etanol. Mas, de uma forma ainda mais subliminar, podemos ver nesta obra uma referência ao passado, onde se cruzam as histórias do Brasil, de Portugal e de África. Por outro lado, a tradição de intervenção social da história das artes latino-americanas, feita através do muralismo, é um aspecto fulcral desta opção artística.» (in Jornal Próximo Futuro nº4)
Também na garagem, numa oficina preparada para o efeito, o artista Barrão trabalha na sua instalação Natureza Morta, que estará exposta a partir de 18 de Junho, no Jardim Gulbenkian, junto ao lago, do lado nascente.
«Há muito que Barrão (Rio de Janeiro, 1959) desfuncionaliza os utensílios e os torna portadores de um gozo especial, criando objectos que transportam uma capacidade de sonho, de delírio, de fantasia. As peças de louça, que recentemente tem produzido, resultantes da colagem das mais diversas formas e utensílios de porcelana ou de barro, são construídas com humor, com elegância e com delicadeza. Há uma vontade lúdica nestas obras, a par de um desejo de que tudo possa ser combinado e recombinado, tal qual faz o grupo carioca Chelpa Ferro, do qual o artista é membro. A fantasia é mais que um tema, uma possibilidade da arte no universo de Barrão. A peça escultórica criada expressamente para o jardim, a partir de loiças portuguesas, expõe essa graça das suas obras coloridas, sendo ao mesmo tempo um jogo muito subtil entre fabricação e natureza, entre ordem e caos, entre ordem e acidente.» (in Jornal Próximo Futuro nº4)
Fotos de Márcia Lessa