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Kamel Daoud sobre o tempo e a política na Argélia

Kamel Daoud, jornalista e escritor convidado do Próximo Futuro em Junho de 2015, onde marcou presença no debate sobre os 4 anos da Primavera Árabe, assina uma crónica sobre o tempo e a situação política da Argélia. 

Le temps tuera mais jamais avec ses mains. On ne peut pas le tuer. On enfonce le couteau, le vieux tigre à chiffres abroge la lame, l’entoure de rouille et la transforme en feuille morte puis se relève et va glissant de peau en peau. La prière est une recette ancienne pour perforer la peau du temps : lancer la main suppliante vers la berge du ciel, essayer de se traîner hors de l’écoulement, ramper vers le Dieu choisi comme amarre, puis lentement se faire absorber par le sable mouvant et revenir vers la broyeuse insonore. Les drogues aussi perforent le temps. Mais ne le tuent pas. Il s’y adapte et finit par en investir les alvéoles creuses, imposer ses chiffres distendus comme des caoutchoucs puis réimposer le décompte. Au sein même de la rime. La littérature aussi : créer contourne l’éternité. Les dieux en usent puis s’enferment déçus. Reste le sommeil. Une façon de flotter dans une horloge mais cela ne dure pas.

Tuer le temps. Toute la journée. Puis se tuer en lui. Elever les livres en colonnes pour le vaincre. Construire et ériger. Dessiner de lourdes peintures ; mais il finit par vaincre.

O texto completo em Chronique anachronique

Kamel Daoud na Antena 2

Published29 Jul 2015

Tags Kamel Daoud Mersault contra investigação

O argelino Kamel Daoud, convidado do Próximo Futuro em Junho, onde marcou presença no debate sobre os 4 Anos da Primavera Árabe, deu uma entrevista a Luís Caetano no programa "A Ronda da Noite", onde fala do seu livro, recentemente editado em Portugal  Meursault, contra-investigação (Teodolito, tradução de Inês Pedrosa), vencedor do Prémio Goncourt, narrativa a partir da obra de Albert Camus, O Estrangeiro. A justiça, deus, o absurdo, a condição de estrangeiro como parte do que define o humano, a(s) língua(s), a colonização e a descolonização, a Argélia actual, o radicalismo religioso: eis alguns dos temas desta conversa que pode escutar a partir do minuto 9:46, aqui



"The Mersault Investigation", de Kamel Daoud, convidado do Próximo Futuro no Verão

Kamel Daoud, jornalista e escritor, é o autor do romance The Mersault Investigation, publicado na Argélia em 2013 e em França no ano seguinte. Distinguido com o Prix des Escales Littéraires d’Alger 2014, Prix des Cinq Continents de la Francophonie 2014, Prix François Mauriac 2014 e finalista do Prix Goncourt 2014, o livro esboça-se em forma de resposta a O Estrangeiro de Albert Camus, a partir da personagem do irmão do jovem árabe assassinado pelo anti-herói de Camus.

Kamel Dadoud estará em Lisboa, no Verão, no Próximo Futuro.

My basic idea was to start with Albert Camus’s “The Stranger,” to question the work, but to move on from there—to question my own presence in the world, my present and today’s reality. It was also a matter of analyzing Camus’s work, of “rereading” it, of having it reread by an Algerian and by contemporary readers. Camus still provokes polemics in Algeria. I wanted to pay tribute to his work and his thinking, but also to provide another version of the story. “The Stranger” is Camus’s character, but also a symbol of the philosophical and human condition. It was valid in 1942, the year the novel was published, and it’s still valid today. I wanted to take another look at that strangeness. I’m not responding to Camus—I’m finding my own path through Camus.

A entrevista completa, na New Yorker